segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

nostalgia

Uma sessão bem intimista!



Velho Realejo



Naquele bairro afastado
Onde em criança vivias
A remoer melodias
De uma ternura sem par
Passava todas as tardes
Um realejo risonho
Passava como num sonho
Um realejo a tocar.


Depois, tu partiste
Ficou triste a rua deserta
Na tarde fria e calma
Ouço ainda o realejo a tocar
Ficou a saudade
Comigo a morar
Tu cantas alegre e o realejo
Parece que chora com pena ti!


(Custódio Mesquita/Sadi Cabral)



Modinha



Olho a rosa na janela,
Sonho um sonho pequenino...
Se eu pudesse ser menino
Eu roubava essa rosa
E ofertava, todo prosa,
À primeira namorada,
E nesse pouco ou quase nada
Eu dizia o meu amor,
O meu amor...

Olho o sol findando lento,
Sonho um sonho de adulto...
Minha voz, na voz do vento,
Indo em busca do teu vulto,
E o meu verso em pedaços,
Só querendo o teu perdão...
Eu me perco nos teus passos
E me encontro na canção...

Ai, amor, eu vou morrer
Buscando o teu amor...
Ai, amor, eu vou morrer
Buscando o teu amor...


(Sérgio Bittencourt)



Ave Maria no Morro


Barracão de zinco
Sem telhado, sem pintura
Lá no morro
Barracão é bangalô

Lá não existe
Felicidade de arranha-céu
Pois quem mora lá no morro
Já vive pertinho do céu

Tem alvorada, tem passarada
Alvorecer
Sinfonia de pardais
Anunciando o anoitecer

E o morro inteiro no fim do dia
Reza uma prece ave Maria
E o morro inteiro no fim do dia
Reza uma prece ave Maria

Ave Maria
Ave
E quando o morro escurece
Elevo a Deus uma prece
Ave Maria.


(Herivelto Martins)



A Perereca recomenda, vivamente: ouçam as duas primeiras com o grande Nélson Gonçalves (que vozeirão!) e a última com a maravilhosa e quase deconhecida (hoje!) Dalva de Oliveira – que “palitinho” fantástico era ela!...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Pensando, pensando...

As alianças






Para mim, em política, inexistem amigos ou inimigos definitivos.



Até porque julgo a todos, não como amigos ou inimigos, mas, como aliados ou adversários de ocasião - mais propriamente, “conjunturais”.


Daí que não tenho quaisquer problemas em estabelecer alianças.


Para mim, o importante é o "inimigo" comum, em determinada circunstância.


As palavras o vento leva.


E as pessoas, se quiserem de fato jogar nesta mesa, têm de se habilitar a isso.


É certo que continuaremos a nos estapear.


Mas, nada impede que nos sentemos, ali e acolá, para um majestoso café e uma conversa bacana de pé de ouvido...


Em política, nada é eterno.


Os ódios são devidamente mitigados e postergados.


A porta tem de estar aberta – quer dizer, escancarada!...


Sempre!

pesquisa2

Pesquisa II





Quero agradecer aos leitores as informações recebidas para a pesquisa que estou a realizar (leiam o post anterior).



Peço, apenas, que as pessoas que estão a colaborar, anonimamente, me dêem a chance de conversarmos pessoalmente, para que eu possa checar alguns dados importantes, especialmente as dúvidas que me ficaram sobre os episódios relatados.


Não adianta, queridinhos: só publico denúncias comprovadas.


E nem de leve vou mencionar, aqui, a pessoa citada por vocês, sem ter, antes, tudo “arrumadinho” – ou seja, sem ter tudo pronto para rebater, objetivamente, o desmentido dele...


Peço, também, que vocês utilizem, preferencialmente, o meu e-mail da globo.com (
anaceliapinheiro@globo.com), para evitar o risco de publicar, no blog, as mensagens de vocês.


E quero me dirigir, principalmente, a uma anônima que me relatou o assédio escabroso que sofreu.


Não, fique tranqüila, que não vou, de forma alguma, detalhar publicamente o seu caso - a não ser que você permita!...


Além disso, tenha certeza de que buscarei, por todos os meios, a comprovação do seu testemunho, para evitar que o canalha diga, simplesmente, que isso nunca aconteceu.



As pessoas falam, querida!... E eu, humildemente, creio que sei como chegar nelas...


Se informe, pergunte: quem me conhece sabe que eu sei como chegar nas pessoas...


Mas, gostaria que você se identificasse.


Creio que você não tem por que se envergonhar da situação que enfrentou – afinal, você é a vítima!...


Quem tem de se envergonhar é esse pilantra, que se aproveita de um cargo de chefia para obrigar garotas, como você, a manterem relações com ele!


Veja bem: isso é crime!... Há leis contra isso! – e você sabe disso!...


Tenho certeza de que muitos advogados que defendem direitos humanos e causas ligadas a mulheres defenderão você de graça!...


Eu me comprometo a ajudar você nessa empreitada: iremos, juntas, na SPDDH, na OAB e em todas as entidades que você quiser – ou que a gente pensar...


Você sabe que podemos acionar os veículos de comunicação, daqui e de fora.


Trabalhei longamente em assessoria de imprensa; tenho contatos.


E você, pelo seu relato, creio que os possui, também.


Recomendo que você converse com outras colegas, que, pelo que você me disse, foram igualmente vítimas desse canalha.


Isso é importante porque, se você decidir por um processo judicial, o fato de existirem várias vítimas influenciará, certamente, na decisão do juiz.


Não tenha medo, querida!... Há muita gente disposta a ajudar você.


Por favor, se identifique, para que possamos conversar!...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

pesquisa

Pesquisa



A Perereca – esta repórter investigativa que vocês já conhecem - está a realizar intensa e paciente pesquisa sobre assédio sexual nos locais de trabalho, especialmente focada em empresas de comunicação.


Em linha derivada de pesquisa, abordará, também, o assédio moral.


Daí que pede a colaboração dos leitores.


E dos advogados que freqüentam este blog, para que esclareçam as implicações judiciais às empresas que, eventualmente, acoitem tais práticas.


Desde já, agradeço as informações recebidas e os depoimentos prestados (mesmo que sob o manto do anonimato).


O blog, obviamente, garante o sigilo de todas as fontes.


E, é claro, divulgará, nacionalmente, o resultado de tão paciente pesquisa, devidamente calcado nos documentos e depoimentos obtidos.


Até em respeito às vítimas e aos leitores.

A besta

A Besta do Apocalipse



Pegou régua, caneta, papel. Desenhou diagramas. Somou, multiplicou. Consultou a Bíblia, o altar de São Jorge, as profecias de Nostradamus e até a Astronomia asteca:
_Estás vendo, Juliana! Eu bem que disse: dá 666! É a besta do Apocalipse!...
_Ô Juvenal, você não tem o que fazer, é? Besta do apocalipse é o diabo que te carregue!
_Mas, meu amor, isso é matemática pura!...
_Vem cá, ô Malba Tahan do Ver o Peso, será que não podes usar essa tua “habilidade” em algo mais construtivo? Tipo, GANHAR DINHEIRO?!!!...
_Você está é chateada porque eu descobri o segredo da sua família!...
_Mas que segredo, Juvenal? Tá ficando doido, é? Aliás, mais doido, né “mermo”? Bem que a minha mãe me disse: “minha filha, por que é que vais te casar com esse psicopata?... Já não bastam os doidos daqui de casa?... Tás querendo criar uma griffe de camisa de força,é?”...
_Ah, é? Mas até parece que era eu quem andava doido pra casar... Que eu me lembre, “queridinha”, era você quem se arrastava, de Círio em Círio, atrás de “moá”!...
_Agora, o homem surtou!... Deve de estar pensando que é algum George Clooney!... Só se for o George Clooney depois de um intensivão de Antarctica!...
_Ah, agora eu sou feio, é? E aquelas cenas de ciúmes que você fazia por causa da vizinha do 305, hem?...
_Aquilo, “queridinho”, foi antes de você virar esse clone piorado do Faustão!...
_Até parece!... Só pro seu controle, “queridinha”: na semana passada, uma colega do jornal me chamou de... Gostoso!...
_Mano, das duas uma: ou a sujeita tava bêbada, ou é uma baranga querendo aliviar a mixaria da tua carteira... Ah, pera lá, que tem uma terceira alternativa!... A mocréia tem vocação pra arqueóloga: adora uma múmia!...
_Pode debochar, “queridinha”!... Mas nada do que você disser vai mudar este fato: “A Besta do Apocalipse!”...
_Ô Juvenal, você quer parar com essa doidice?
_Mas, meu amor, eu posso provar o que estou dizendo!... Quantos irmãos você tem?...
_Você tá careca de saber, Juvenal: SEIS!!!... Aliás, desculpa pela careca, viu?: eu sei que você tem um trauma danado desse seu aeroporto de mosquito...
_Pode me provocar, “meu amor”!...Mas, eu não vou permitir que você desvie o foco da discussão!...Quantos sobrinhos você tem, “mermo”?...
_Ó Senhor, Senhor!... Por que logo comigo, SENHOR?!!!...
_Ô Juliana, pode parar com o melodrama!... Vamos lá: quantos sobrinhos você tem?...
_Sete, Juvenal, SETE!!!...
_E quantos filhos?
_Dois, Juvenal, DOIS!!!...
_Logo, “queridinha”, são sete na primeira geração e mais nove, na segunda. Ou seja, 16, “né mermo”?...
_Juvenal, pela última vez: ME DEIXA DORMIR!!!...
_Mas ainda temos a terceira geração: os filhos dos teus sobrinhos! Quantos eles são, “mermo”?
_Ô diabo de homem ENJOADO!!!...
_Vamos lá!... Quantos?...
_Quatro, Juvenal, QUATRO!!!...
_Que temos de somar a mais um, que é o teu neto!...
_Que neto, Juvenal?!!!... Que neto?!!!... Quem tem neto és tu... E bisneto e tataraneto, porque és que nem aqueles zumbis da Volta dos Mortos Vivos: é só a gente assoprar que sai caindo aos pedaços!...
_Então, vejamos: quatro mais um – que é o teu neto... Ah, me desculpe, o seu “sobrinho”!... Dá cinco, “né mermo”?
_É Juvenal, É!!!...
_Logo, temos sete descendentes da tua mãe na primeira geração, nove na segunda e cinco na terceira...
_E DAÍ?!!!...
_Isso dá 21. Mais três...
_Três do que, já?...
_Ora, meu amor, dois que, certamente, nascerão dos seus sobrinhos e mais um - que virá de você!...
_Tá ficando doido, é, Juvenal? Desde quando eu vou ter mais um filho? E logo com você!... Só se for pra eu batizar o coitado de Desgosto!... Ademais, desde quando os meus sobrinhos terão, “necessariamente”, mais dois filhos?...
_Querida, isso é uma questão biológico-matemática: os nove só tiveram cinco filhos. Quer dizer, ainda não reproduziram o suficiente!... E o mesmo se pode dizer de você...
_Tá bom, Juvenal, já entendi: você tá querendo trepar, né mermo?
_Mas por que será que vocês, mulheres, têm essa mania de reduzir tudo a sexo?
_Juvenal, você tá ficando goiaba, é?
_Na, na, ni, na, não!... Esses são os “argumentos” prediletos de vocês, sempre que percebem que vão perder uma discussão!... Primeiro, esfregam a calcinha na cara da gente... Depois, se a gente recusa, vão logo dizendo que a gente é boiola... Não, “queridinha”, nada de desviar o foco!... Então, temos 24 descendentes da tua mãe, o que dá seis...
_Como é que é?
­_Ora, meu amor, essa é uma redução numerológica básica: dois mais quatro!... Bom, se pegarmos esses seis e multiplicarmos pelo número de gerações envolvidas - que são três – teremos, então, 666, que é o número da besta...
_Ô Juvenal, pera lá!... Desde quando que três vezes seis dá 666? Dá dezoito, sua anta!...
_Anta é você, “queridinha”, que não percebe a sutileza dessa conta: três vezes seis dá dezoito, de fato. Só que 18 contém três vezes o número seis. Ou seja: 666!
_Tá bom, Juvenal!... Vamos supor, seu goiabão metido a Houdini das matemáticas, que o número de descendentes da minha mãe dê 666... O que é que isso tem a ver?
_Mas não está claro, ó inteligência rara? Isso quer dizer que um de vocês é a Besta do Apocalipse!!!...
_Não vem não, Juvenal, não vem não, que agora você está passando dos limites!... Desde quando eu sou a besta do Apocalipse, já?
_E quem foi que disse que é você, “queridinha”?... O seu mal é achar que o mundo gira ao seu redor até no final dos tempos...
_Então, quem seria, já, essa besta, seu jumento enlouquecido?
_Ora, não está claro, meu amor? Obviamente que é a sua mãe...
_É a tua, Juvenal, é a tua!... Besta do Apocalipse é a tua mãe, aquela anciã metida à cocota!...
_Agora você ofendeu deliberada e injustificadamente a minha mãe!...
_Você ofendeu a minha primeiro, seu goiabão!!!... Matemático de araque!!!...
_Eu não ofendi ninguém: apenas, revelei a verdade!...
_Que verdade, já? Você fez aí foi uma gambiarra místico-matemática, só pra ofender a minha mãe!... Mas, eu mereço, EU MEREÇO!!!...Quase duas da manhã, e esse sujeito, em vez de estar me fodendo, fica aí com essa Escatologia DE MERDA!!!...
_Você tá a fim, é?
_Do que, já?
_De botar a perereca pra coaxar?...
_Égua, Juvenal, como você é indecente...
_Safada... Vadia... Cachorrona...
_Para, Juvenal...
_Põe a mão aqui, no teu falso profeta, põe...
_Safado... Me deixa ser a besta do apocalipse, deixa!...

(Pano...RÁPIDO!!!... )


(Belém, 21/02/2008)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A lembrar, a lembrar...



O Bêbado e A Equilibrista



Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...

A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil.
Meu Brasil!...

Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...

Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...

Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...

Asas!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...


(João Bosco e Aldir Blanc)

domingo, 10 de fevereiro de 2008

exclusão de postagem

Excluí a postagem "A gente ama porque ama' por excesso de vacilação - e de álcool, é claro

Pensando, Pensando



Eternamente “Foca”




I


No final de abril, completarei 28 anos de profissão.

Mas, o esquisito, é que, mesmo depois de quase três décadas, continuo uma espécie de “foca”: continuo a sentir a mesmíssima ansiedade de um iniciante, em relação ao “furo”, à notícia exclusiva...

O “furo”, para mim, é meta cotidiana. E não importa o esforço envolvido em obtê-lo: se terei que disparar mil telefonemas, implorar a um e outro, conchavar, ou até me deslocar aos confins do inferno...

Não importa se levará um dia, dois, uma semana, um mês: ao farejar a notícia, obtê-la se transforma em obsessão.

E a ansiedade só cessa, quando, ao ler o jornal do dia seguinte, constato que o adversário “dançou”: quer dizer, foi “furado”. E, de preferência, em letras garrafais, na manchete do dia...

Creio que todos os repórteres, dignos dessa qualificação, somos assim: uns “escavadores militantes e juramentados”...

Vamos fundo na notícia, a tentar obter a informação exclusiva e a tentar abordá-la sob todos os ângulos possíveis, para não deixar espaço de manobra ao adversário.

Creio que a notícia é, para nós, uma espécie de encantamento: o amor que não envelhece, jamais...



II


Estive a vagar, dia desses, pelo site do STF. E, aparentemente, a tendência é que o Supremo venha, de fato, a abolir a obrigatoriedade de diploma específico, para o exercício da profissão de jornalista.

Nada mais correto, frente às exigências democráticas e constitucionais.
Deverá prevalecer, enfim, a Lei. E não, simplesmente, os interesses corporativistas, numa área tão importante para a sociedade, como é o jornalismo.

Mesmo assim, não sou contra os cursos de comunicação per si. Sou contra a obrigatoriedade do diploma, o que é bem diferente.

Creio que os cursos de comunicação são importantes – e eu mesma, apesar de todo esse tempo de jornalismo, na primeira oportunidade que tiver, vou fazer um.

Confesso que, até agora, só não fiz o curso por falta de dinheiro, já que a UFPa está descartada da minha vida, pelas dificuldades de locomoção que tenho.

Mas, essa é uma das metas em minha vida: até porque não quero levar para o túmulo, só para mim, tudo o que aprendi nesta profissão.

Quero ajudar a formar novas gerações de jornalistas. E acho, sim, que a teoria é importante para isso.

Mas, também creio que é preciso que esses cursos não sejam meros caça-níqueis.


III


Todo santo dia eu me pergunto o que é ser jornalista.

E eu fico pensando que esta profissão tem um “quê” de Filosofia.

Afinal, quem se forma em Filosofia é “filósofo” – ou não?...

Jornalista que é jornalista tem de ter “faro” – e essa é condição sine qua non, seja para ser repórter, seja para ser editor, assessor de imprensa, ou o que quer que seja.

“Faro” é a capacidade endógena, genética, para “intuir” o que é notícia.

Mas que, como toda capacidade genética, pode ou não ser desenvolvida, a partir da existência ou não de uma estimulação adequada.

Mas, que é notícia? Que é essa res, essa coisa, capaz de, não apenas “vender” jornal, mas de transformar a realidade?

Que é essa res, essa coisa, que interessa viva e igualmente ao cidadão de Batista Campos e ao “cidadão” do Tucunduba – e que oferece “n” desdobramentos, “n” possibilidades de reflexão societária?

Que é essa res, essa coisa, esse “espelho” que permite à sociedade “se ver” – e corrigir erros e avançar?

Obviamente, os patrões da comunicação diriam que, hoje, essa coisa, essa res, tem a ver com um tripé básico: crimes, esportes e mulher nua.

Porque, no fundo, tudo aí, com a abordagem que é dada, se resume à produção de “apêndices jornalísticos”, para a venda da publicidade.


É como se os leitores comprassem os encartes publicitários – que, aliás, obtêm gratuitamente, em qualquer loja de departamentos...

E que a notícia, que abre “as páginas de anúncios”, fosse um mero “detalhe”...

Mas, será que nós, os jornalistas, que temos de ter um compromisso visceral com a sociedade – pois, que essa também é condição sine qua non para que sejamos jornalistas – podemos pensar assim, também?

Que nós, que somos como que os “portadores” desse “objeto místico” que é o espelho social podemos nos dar ao desfrute de encarar a informação, a notícia, como uma espécie de “moldura” da propaganda?

Acredito que não. E no dia em que pensar diferente deixo essa profissão – sem a necessidade de pressão de quem quer que seja, aliás...

Virarei empresária, enriquecerei. Usarei meu talento, como já me recomendou até a minha filha, para, simplesmente, ganhar dinheiro...

E passarei, certamente, uns dias bem bacanas... Com os meus cinco ou seis menininhos, de 20 aninhos, lá pras bandas de Algodoal...


IV


Há uns anos, na guerra de mercado das empresas de comunicação, começou-se a enfatizar, sobremaneira, uma coisa chamada de “projeto gráfico”.

Lembro da primeira vez que tive contato com isso, há uns 15 anos.

Como todos os companheiros jornalistas, fiquei extasiada: afinal, era uma coisa lindinha, perfeita. E até – por que não? – “científica”...

O leitor de fora desse universo, certamente, não imagina o que é isso. Mas eu, da baixa da minha incompetência, tentarei descrever.

Era assim: o neto do bisneto do cachorro do primo - em décimo grau - da empregada do Galileu Galilei teve a idéia de dividir, perfeitamente, as páginas dos jornais.

Nada de mais contra isso. É bacana colocar Economia em Economia, Política em Política, Cidades em Cidades, como já fazíamos de há muito, aliás.

O problema é que os projetos gráficos, para além de lindinhos, eram uma espécie de camisa-de-força da informação.

Vamos definir, para melhor entendimento. Informação é a matéria bruta: alguma coisa que aconteceu, acontece ou acontecerá – o fato, pois. Notícia é o formato, a “embalagem” disso. A forma como se repassa o fato ao leitor.

Claro está, portanto, que a notícia tem de condizer com a informação. Ou seja, que o invólucro tem de ser compatível com o que está dentro.

Até para não ofender quem recebe o “presente” - que é o todo.

E nem diminuir a festa que poderia ser feita ao se receber uma mansão em Aruba, embalada em imundície, por exemplo...


V


Lembro da primeira vez que vi um projeto gráfico.
Quem o trazia para Belém era um sujeito do Sul – como sempre acontece, aliás.

Aliás, penso, hoje, que qualquer desses projetos “inovadores”, no Brasil, deveria ser submetido, em primeira mão, a essa “indiaiada braba” daqui.

Afinal, como temos o “nariz furado” e nada das mesuras das bandas de lá, certamente que detonaríamos, sem qualquer problema, com as imbecilidades que surgem neste país.

As imbecilidades que, pela “finíssima educação” dos nossos irmãos do Sul e Sudeste, acabam, infelizmente, por fazer escola...

De sorte que me lembro daquela ocasião.

Lembro que o sujeito chegou diante de nós que nem o patenteador da roda e do fogo, diante de um punhado de ugas-bugas.

As pessoas – vaticinou o indigitado – compram jornal pela beleza.

As pessoas – ensinou o mestre da tapiocaria – não querem ter essa “problemática” de ler: querem o resumo do resumo, que tempo é dinheiro, na “moderna civilização”.

Logo, num raciocínio dedutivo básico, cometeu ele: notícia tem de ser um “pirão” enxuto. No máximo, dois mil toques (qualquer coisa, leitor, como um terço de uma página de papel A4, totalmente preenchida).

Isso porque, argumentava aquela coisa, as pessoas não gostam de ler.

Aliás, depois daquela palestra “brilhante” eu só fico é pensando por que é que jornais e editoras ainda sobrevivem. E, mais que isso, os blogs, que são a nova onda da comunicação.

Para mim, confunde-se um fato ( o analfabetismo strictu ou latu sensu da sociedade brasileira; é assim que se escreve?) com outro fato: a ânsia de saber, que é intrínseca ao animal humano.

Óbvio que esse saber não é o saber científico. Mas, vai além do mero intuir...

As pessoas querem saber por que é que o posto de saúde não funciona. Por que é que as ruas enchem, se transformam em rios, em dias de chuva. Querem saber por que é que a vizinha ou os vizinhos se comportam dessa ou daquela forma – e por que isso é certo ou errado e por que é que elas não podem, talvez, se comportar assim, também.

Muitas vezes, quando não sabem ler, ou quando não possuem “competência” para decifrar aquilo que lêem, pedem a um amigo ou vizinho que leia.

E compreendem, pois – que a inteligência, no mais das vezes, permanece intacta; falta é a possibilidade de decifrar os signos que chamamos “comuns”.

Mais ainda: o público dos jornais e dos blogs tem, sim, competência lingüística.


VI


Égua, manos, vou parar por aqui, que estou enchendo a cara.

Que, nos últimos tempos, tenho enchido muito a cara.

É que estou sem ter o que fazer. E isso me faz um mal danado...

Pra mim, esse negócio de férias é pra doido, ou pra quem tem muito dinheiro.

Pra uma fumada como eu, inatividade é castigo.

Mas, maninhos, quem gosta de geladeira é pingüim...

Daí que vou começar uma nova fase na minha vida.

Já calcei as chuteiras e tenho passado os últimos dias a experimentar a camisa – que, certamente, vou honrar!...

Mas, hoje, caí na rede, no fundo da rede. Dormi, de dia, coisa que não me acontece.

Durmo umas quatro ou cinco horas – não consigo dormir, mais do que isso.

E nem sequer cochilo: da feita que acordei só vou dormir, novamente, no dia seguinte.

Mas, hoje, dormi, e enrolada no lençol e quase que em posição fetal.

Mas, fiquei a racionalizar: o pior da guerra é o silêncio que a precede.

O tempo em que pensamos as estratégias, enchemos o “paiol” e estabelecemos as linhas de abastecimento.

O tempo em que tratamos de “desumanizar” o outro, o adversário.

Pois, que desde os primórdios da Humanidade é preciso estabelecer o território do “nós” e do “eles”...

É o básico da antropologia.

E eu estou a tentar meter isso na cabeça...

Porque, numa guerra, a gente não pode mirar a perna: a gente mira – e acerta! – o fígado...

E não há esse negócio de “laços” de “emocional”: a gente faz o que é preciso fazer, sem pestanejar.

Porque, pestanejar, numa guerra, significa, quase sempre, derrota.

A gente bate, bate e bate, até o sujeito cair...

Não tem piedade. Não tem essa coisa de dizer: “somos amigos!”.

Quem não tem estômago, não deveria entrar nessa coisa de política.

Mesmo eu, que evito criar laços, como se fosse um mero “condottieri”, agora, fraquejo...

Então, política é para os fortes. A gente faz o que é preciso. Sempre!...

E eu penso: a equipe se partiu. Agora, vamos ver quem é quem...

Vamos, eu contra vocês, né mermo?, meninos...

Eu, novamente, com a minha baladeira velha. E vocês, agora, com “todo o poder”...

Vejamos!... Vamos ver!...

FUUUIIIII!!!!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Afonso




Nem li, nem corrigi direito. Vai, pelo Afonso...





Para Afonso







Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Exclusão":

ak diz:
Ana Célia, um pedido pessoal que, se você não puder atender, eu vou entender.
Conte seu período de dor física - sete meses na cadeira de rodas - e o antes e depois disso.
Não precisa citar nomes - cite, se quiser, claro - mas conte seu sofrimento.
Vai fazer bem a muita gente.
Afonso Klautau



I



Considero Afonso um jornalista brilhante. E mais que isto: uma figura rara; um sujeito simples, humano. Um “pizidim” – um “menino bom”...


Apesar de termos trabalhado anos a fio do mesmo lado – entre os tucanos – poucas vezes nos vimos ou falamos.


Mas, até hoje me lembro de uma rara ocasião em que sentamos, a conversar.


Era uma dessas confraternizações dos jornalistas que trabalhávamos na Assessoria de Comunicação do Governo.


Afonso era um dos donos da produtora dos programas oficiais e tinha sido convidado.


Foi bacana papear com ele. E interessantíssimo o papo que rolou.


Entre outras coisas falamos de depressão, dessa “problemática” da serotonina e da dopamina, que coloca a gente a lutar contra o nosso pior inimigo: a gente mermo...


Conheço, desde a infância, esse mar que quer naufragar Afonso – pois, que é o mesmíssimo mar que me quer naufragar também...


Lembro de uma crise braba, que tive há uns dez anos, uma das piores, por sinal.


Na época, eu morava no oitavo andar de um prédio no centro de Belém.
Passava os dias no fundo de uma rede; não conseguia ânimo nem para comer, nem para tomar banho.



E, quando me levantava, encostava na janela e olhava para baixo. E ficava pensando que bastariam uns segundos para acabar com toda aquela dor...



Felizmente, tenho dentro de mim uma força, que não sei exatamente de onde vem. Talvez, que seja de Deus...



E o fato é que sobrevivi e passei, na época, a tomar medicamentos antidepressivos.


E até hoje me lembro da primeira vez em que senti o efeito de um remédio assim, após duas semanas, ou um pouco mais, de uso regular.

Olhei através da mesmíssima janela. E o mundo, dantes sempre cinzento, adquiriu cor.


Cores vivas, brilhantes – as cores do mundo!... E eu comecei a rir e a rir, ao constatar que o mundo não é, simplesmente, cinzento...



Sei que jamais vou me curar – pois, que depressão é doença crônica. A gente faz o que pode, que nem os alcoólicos e narcodependentes, para ir vivendo um dia de cada vez; um passo, depois do outro...



Às vezes, estamos bem, com um pique enorme; rindo à toa, de forma que ninguém, em sã consciência, diria que padecemos de algo assim. Às vezes, porém, o nosso peito é uma tempestade só...



E a gente procura alívio no álcool, nas drogas, no sexo e em tudo que a gente acredita que pode provocar alguma descarga miraculosa no cérebro, para fazê-lo funcionar como deve de ser.



E a gente aprende como que a vencer a gente mermo... A lutar, com uma força gigantesca, contra um gigante que existe em nós, que quer nos empurrar para o vazio...


Por que estou a escrever tudo isso? Porque Afonso me pediu para contar da minha experiência na cadeira de rodas; dos sete meses que passei naquela condição.



E eu tenho pra mim que foi essa luta de uma vida inteira contra a depressão, que me permitiu atravessar aquele período.



Afinal, quando a gente aprende a lutar e a vencer, todo santo dia, a nós mesmos, todo o resto do mundo se torna fichinha...



Nesta guerra, aprendi alguns truques básicos – como quem vai pro front, e sabe que tem de levar, ao menos, um canivete e uma caixa de fósforos...



Aprendi, por exemplo, a não me dar muito crédito; a rir de mim mesma, sempre que sinto que estou a tentar a me puxar pra baixo.



Penso comigo: Ana Célia, como és melodramática!...Égua, que darias uma excelente novelista, de fazer chorar a Janete Clair!...



Não é, simplesmente, tentar evitar um pensamento – que tudo que é proibido se agiganta.


Mas, deixar passar... Pois, que tudo sempre passa... Tem de passar!...


Quando a dor é muito funda – e o pior é que a gente nem sabe o que é que dói e por que dói – apelo a uma psicoterapia básica: coloco um “disco” bacana na “vitrola” e transformo a dor em poema, em crônica, em romance, em canção... E sonho. E abro as asas sobre todas as montanhas da ilusão...


Curei-me? Compreendi-me um pouco mais? Certamente que não. Mas, lá se foi mais um dia, a que sobrevivi. E é isso o que conta, afinal...


II

Além da depressão, também padeço de uma série de manias. E eu sinto que quanto mais vou falando, mais vou me identificando com a gentalha que freqüenta este blog – tem até o AK, vejam só!...

E que gentalha!... Umas gentes que insistem em ver e entender o mundo, para transformá-lo, ao invés de se sentarem, como deveria de ser, para assistir à novela das oito ou a mais um desfile de carnaval...

Vocês tão pensando que vão fazer História, é?... Ô gentalha!...

Tenho mania de limpeza. Coisa do Jack Nicholson, no “Melhor, Impossível”.

Também tenho mania de verificação – do gás, das portas...
E, é claro, de doença. Não posso fazer matéria de saúde, mano, que saio de lá direto para o IML...

Consigo “desenvolver”, a um só tempo, os sintomas da caxumba, tétano, sarampo, hanseníase, febre amarela, dengue hemorrágica e bicho de pé...

Sorte é que aprendi a brincar com isso, também.

Umas duas vezes, é verdade, já tive de voltar do térreo, para ver se tinha fechado, de fato, a porta do meu apê.

Mas, nas outras ocasiões, numa conversa assim, digamos, de pé de ouvido comigo mesma, consegui me mandar às favas. Disse: fechaste a porta, sim, sua anta!... E, se quiseres, te consome, porque eu vou é pegar um táxi, mais é, e tratar da minha vida!...

O humor é uma arma poderosa. Mas, o conhecimento, também. Daí que, para convivermos com as nossas “compulsões”, é preciso conhecer um pouquinho de psicologia ...

E foi tudo isso que me ajudou a atravessar aqueles infindáveis sete meses que passei numa cadeira de rodas, em 2003.

Na época, diz-me, hoje, a minha filha, eu havia atingido o “limite maníaco”. Passava horas no banheiro, lavava as mãos sei lá quantas vezes, e sei lá quantas vezes verificava a porta. E ingeria, todos os dias, sei lá quantos comprimidos, pra tudo que é mal imaginário...

Mas, quando me vi presa àquela cadeira de rodas, tendo de lidar com situações que enlouquecem até a uma pessoa “equilibrada” – se é que existe esse espécime, digno de um zoológico, na espécie humana...



III



É difícil falar daqueles tempos em cadeira de rodas. Até hoje, acho que não superei, de todo, alguns daqueles “traumas”.

Tinha um shampoo, por exemplo – e até hoje não posso mais sentir o cheiro daquele shampoo, porque me lembra o “banho” a que eu tinha de me submeter, porque era o único possível.

Era assim: duas pessoas – a minha filha e uma empregada – me colocavam na “cadeira higiênica”, que era, então, ajustada sobre o vaso sanitário. Minha perna, com o imobilizador, ficava, então, em cima de outra cadeira.

E aí uma pessoa me ajudava com o sabonete e o shampoo – sim, porque a gente, numa condição dessas, acaba que nem preso: sem direito a um mínimo de privacidade.

E o banho era tomado com aquele chuveirinho, que a gente usa para lavar as partes íntimas. E a água, é claro, tinha de ser apenas o suficiente para tirar o sabonete e o shampoo.

Algumas horas depois, já de volta à cama, tinha de contar com a boa vontade de alguém para coisas simples, como, por exemplo, mijar.

Sim, porque era preciso ajustar um lençol, dobrado em quatro, debaixo de mim, para, em cima dele, colocar a escarradeira. E era preciso despejar a escarradeira, pois – não, apenas, pelo fedor do mijo, mas, também, porque poderia haver necessidade de usá-la novamente.

E notem, queridos, que essa já foi a fase bacana, digamos, assim.

Porque, nos primeiros tempos, logo após a operação dos meus dois joelhos, eu tinha de usar a escarradeira pra tudo que é necessidade.

E como o meu ritmo biológico era outro – antes do acidente, eu fazia umas três horas por dia, de academia, inclusive aos sábados – cheguei a precisar de usar fraldas higiênicas. Daquelas, sabem?, que a gente coloca nos velhinhos...

Foi complicado. Até porque eu quase nem podia sair de casa. Não tinha dinheiro nem pra comer, quanto mais para sair de casa.

Sim, porque para uma pessoa em cadeira de rodas, um “cadeirante”, sair de casa é preciso toda uma estrutura: um carro grande e pessoas que o ajudem a descer do carro e a sentar na cadeira de rodas. E a ir ao banheiro, se houver necessidade... E é preciso, também, não ter de andar por essas calçadas de Belém, se não a gente corre o risco de dar de cara no chão...

Foram dias de extrema solidão... Mas, eu juro para vocês, que, por incrível que pareça, aprendi até a gostar da Ana Maria Braga...

Todo santo dia, para me distrair – quando já estava de saco cheio de ler e de fazer palavras cruzadas – lá estava a “poderosa”, a me falar de tudo que é futrica e a me ensinar aquelas receitas maravilhosas...



IV


O que mais doeu? Não, não foi essa humilhação de nem poder tomar banho ou mijar sozinha – eu, que sempre fui tão independente...

Acho que nem foi aquela necessidade de ter de aceitar as panelas de comida que a minha mãe mandava – e eu agradeço a Deus o fato de nunca ter sido exatamente pobre; se fosse, teria sido cruel...

O que mais doeu foi constatar essa coisa ruim que algumas pessoas têm dentro delas, que não admite um mínimo de piedade, de comiseração...

E tudo por causa de política, maninhos, tudo por causa de política...

Na época, eu havia conservado um DAS daquelas bem mixurucas, frente ao que sempre ganhei ao longo da vida e até ao que ganho hoje.

Eram uns R$ 1.200,00, brutos. Mas, dava para pagar o aluguel, a luz, o telefone e a empregada, que eu tinha de manter – porque nem podia, eu mesma, limpar a minha casa, “despejar a escarradeira” ou até pegar um copo de água. Não dava para a comida, o fisioterapeuta, o plano de saúde, e até os materiais de higiene – tudo bancado pela minha mãe.

Sei que R$ 1.200,00 são uma “bênção”, para muitos brasileiros que sobrevivem com um quarto disso.

Mas, o fato é que eu esperava que o Estado não viesse à falência por causa dessa mixaria... Daí que fiquei espantada quando o governo do Jatene tentou me tirar até isso – esses R$ 1.200,00.

Foi assim. Eu tinha sido assessora do Jatene. Mas, resolvi aceitar um convite para ir trabalhar com o Hildegardo.

Pouco depois, saíram candidatos ao Governo o Jatene e o Hildegardo – e o primeiro levou a melhor: elegeu-se governador, como todos sabemos.

É engraçado: lembro que, no segundo turno turno daquela eleição, mesmo em cadeira de rodas, pedi votos para o Jatene.

Escondi da minha família o fato de que, se ele ganhasse, eu estaria, provavelmente, na rua da amargura.

E convenci meus irmãos e minha mãe. E até telefonei a muita gente da equipe do Hildegardo - alguns que até foram lá em casa, meio que perdidos, sem saber o que o fazer – e pedi que votassem no Jatene.

Naquela época, nunca vi o Hildegardo como uma “ameaça” aos tucanos. Hoje, com as mágoas que ele e a Zinda carregam, pode até ser...

Mas, na época, o Hildegardo era uma alternativa que precisava ser viabilizada à mala sem alça e sem rodinha, que sempre foi o Jatene, em termos eleitorais.
Continuo achando que o Jatene é o melhor, o mais brilhante dentre nós, os tucanos.
Apesar dessa mania nepotista, típica de árabe, o Jatene tem um brilho intelectual inigualável.

É um sujeito que pensa, de fato, o Pará e o Estado.

E, até onde é possível, é honesto...

E tem um raciocínio rápido, reluzente – e essa, maninhos, é uma qualidade fundamental na política dos tempos do palanque eletrônico.

Aqui, na bastam as bravatas do “bicheiro”. Aquela coisa do “eu te encho de porrada”. É preciso passar credibilidade!...

É preciso convencer o seu José e a dona Maria, que já estão fartos das bravatas que vivenciam todo santo dia, de que não estão diante de mais um doido ou de marginal.
Mas, de alguém que sabe e vai fazer...



V


Mas, apesar de tudo isso, o Jatene me fez quase que “beijar a lona”.

Se eu não fosse quem sou, tenho certeza de que teria ido lá, como ele esperava, bater à porta dele, a pedir perdão...

Avaliem – mas se eu sou mulher, já, de pedir arreglo a macho!...

Quando estava em cadeira de rodas, fumada, daquele jeito que já contei pra vocês, pois, que ainda me apareceram os puxa-sacos desse sujeito (o Jatene) a me encherem de bicudas...

Todo mês, vinha uma ameaça de demissão: de ser jogada, literalmente, na rua da amargura, com cadeira de rodas e tudo...

Sorte que eu tinha pessoas lá dentro, nos “gabinetes do poder”, para me relatarem tais movimentações...

E eu telefonava para um e para outro. E pedia, pelo amor de Deus!, a gente que eu conhecia há uns vinte anos, desde que comecei a andar em política.

E não havia uma alma, um sujeito, que se dispusesse a me ajudar...

Lembro de telefonar para gente que cansou de beber comigo nos bares da vida... E de até “chorar” no meu ombro, quando estava “desiludido”.

Pois, que não havia um único sujeito que me atendesse.

Como me disse um amigo – um amigo pra lá de bacana – não adiantava argumentar nada: a minha competência, a minha honestidade, a minha lealdade.

“Todo mundo reconhece isso; é a primeira coisa que me dizem” – relatou-me esse amigo. Mas, “Deus” estava zangado comigo. Fazer o quê?

E, só me dá vontade é de dizer: esta vida é bem irônica, né mermo, Jatene?...

Só sei é quando me levantei daquela cadeira de rodas, após aqueles sete intermináveis meses, a ratalhada, a bem dizer, “avoou”...

Não sobrou um rato, nem magrelo, pra me enfrentar...

Como me disse uma amiga, danada de bacana, rindo à toa: “Égua da avoação de barata!”. Porque era tanta gente telefonando, mano, pra saber o que é que eu ia fazer, que eu acho até que a Telemar deve de ter ficado congestionada...

Isso me magoou. O meu partido, o PSDB. Isso doeu fundo, na alma, mermo...

No post que apaguei, uma das coisas que dizia era isto: poucos serviram tanto ao PSDB. Poucos foram tão tucanos...

E bem poucos jornalistas assumiram que eram tucanos, quando a “moda”, o “bacana”, era ser do PT...

No entanto, fui tratada como “inimiga”, apesar de tudo o que já fiz por esse partido – e os tucanos, um dia, eu sei disso, ainda vão me agradecer...



VI



Para mim, a social-democracia implica, necessariamente, democracia.

O social, todos sabemos o que é. Todos – socialistas, comunistas, todos à esquerda, sabemos o que é essa preocupação com o nosso povo.

Sabemos da necessidade de superar as desigualdades. E, mais que isso, de fazer do Estado uma estrutura, uma ferramenta a serviço do coletivo, do conjunto dos cidadãos – e não, apenas, de uma classe social.

Creio que, todos, superamos essa coisa leninista de julgar o Estado, simplesmente, pelo uso que se fez dele – e não por uma nota essencial: a mediação dos interesses societários.

Não falemos disso, pois. Falemos, então, de democracia, que essa, até pela própria história deste Brasil escravocrata, é bem mais difícil de compreender.

Que é democracia e que é essa “democracia” que temos, hoje?

Democracia, como todos sabemos, pressupõe igualdade econômica e social.

Inexiste, como todos sabemos, essa coisa de “meio-cidadão”.

Ou existe cidadão – com o ato de “suprir” as necessidades básicas que lhe permitem pensar e participar – ou, simplesmente, inexiste Cidadania.

Ser cidadão é ter comida em casa – para si e para a família, toda. É ter água potável. É ter uma habitação digna. É ter emprego, trabalho, renda – condição de se tirar o sustento. É ter lazer. É ter esperança de melhorar e de fazer melhorar a prole.

Ser cidadão, enfim, não é, simplesmente, viver ao Deus-dará: com o pão que se coloca, hoje, na mesa, mas que, só os céus, sabem quando haverá, novamente.

Essa coisa da preocupação imediata com a sobrevivência é para os bichos. Até porque foi ao superarmos isso, que conseguimos evoluir.

Então, a superação da miséria e da pobreza é um marco social. Na medida em que nos permite exercitar os agentes que somos, em potencial.

Essa coisa é tão extraordinária que mexe em todo o edifício da dominação social.

Porque é difícil imaginar leis, juízes, policiais, a funcionar à revelia disso.
Afinal, se os cidadãos têm supridas as necessidades de sobrevivência e se podem pensar o “entorno”, difícil é acreditar que se contentem com leis injustas, juízes corruptos e parlamentares devassos.

Ignorância e dominação andam de mãos dadas – e isso, os tucanos sabemos bem.
Nós, os tucanos, compreendemos a necessidade de quebrar a espinha dorsal desse sistema: democracia é a condição, é a solução!

Nós, mais que qualquer outro partido, aprendemos a usar esse sistema, em favor do nosso povo.

Nós, mais que qualquer outro partido, sabemos que não existe essa coisa de “democracia proletária”: democracia é para todos e não simplesmente para alguns, seja a classe social à qual pertencem.

Parimos técnicos para isso. E até enfrentamos a burocracia, acostumada às benesses do bem-bom do Estado.

Sonhamos um Pará e um Brasil melhores. A democratizar o ensino básico – sem essa coisa de apenas beneficiar os “doutores”, quase todos provenientes das classes mais bem situadas socialmente.

Sonhamos em fazer o nosso povo a compreender o bê-a-bá: a saber que é gente e não bicho; que é cidadão e não escravo. Que é senhor do próprio destino.
E que não há força alguma – nem PFL, nem PT – que faça o nosso povo submisso a ser menos do que é!

Tenho orgulho em ser tucana. Mermo na maré baixa...

Temos, hoje, a chance ímpar de nos estruturarmos como partido.

Sem essa coisa nociva de vivermos pendurados no Estado.

Nós é que damos as cartas, nessa relação com o Estado – não o contrário.
Temos gente, temos quadros, temos idéias, temos sonhos, temos esperança, temos a sintonia com a História – e essa é fundamental.

Nada do que fizemos foi em vão!...

Mas, temos de compreender o significado dessa coisa chamada democracia.

De que é preciso fazer funcionar e deixar funcionar as instituições.

De que é preciso respeitar as oposições, as opiniões divergentes.

De que é preciso compreender a sociedade como essa coisa plural, esse caleidoscópio que é...

Fizemos muito e ainda haveremos de fazer muito mais...

Temos, com este Brasil e este Pará, um compromisso que não morre...

Queremos o nosso povo, de fato, liberto...

Para nós, não importa a cestinha básica, o cartãozinho da “bolsa-miséria”.

O sonho, o que nos sustenta, é um Brasil cidadão, um Brasil de iguais...
Desse ostracismo, no Pará, tenho certeza, nascerá um outro PSDB.

O PSDB que já existe em Minas e em São Paulo.

Sem esse coronelismo, esse personalismo, essa arrogância, esse autoritarismo, essa “impostura” que existia aqui.

Porque, como todos sabemos, no Pará, as “inovações” levam décadas para chegar aqui.
Mas, talvez que, com esse choque de “sobrevivência” o nosso partido, o PSDB, consiga, enfim, alcançar e até ultrapassar o restante.

Material humano para isso, nós temos. Basta é querermos, companheiros!

Mais não escrevo, embora devesse, porque já bebi demais.



Se estou feliz em voltar ao ninho?


Estou e não estou.


Tenho com o PSDB uma identidade orgânica, ideológica.

Mesmo que os tucanos não me queiram, continuarei tucana.

E já disse isso, várias vezes.

Acredito nisso: o que é que posso fazer?

Mas, criei laços, sem querer, com “esse pessoal” do PMDB.

Que jamais serão, para mim, “esse pessoal”. São pessoas, gente de carne e osso a quem aprendi a amar.

Eles me acolheram, maninhos, quando ninguém me queria; quando era “pecado” me acolher...

Quando eu era uma espécie de “pária”, eles escancaram as portas e as janelas para mim...

Sempre disse isso, aos meus amigos tucanos e petistas: negociar com o PMDB não é difícil; não tem frescura...

O PMDB é o que é; e o PMDB saber disso, dos interesses, bem claros, que possui...
A gente se debate porque temos essa mania de buscar alianças com iguais. Mas, os nossos iguais, em geral, não têm sustentação eleitoral.

O PMDB é a cara da classe média – e eu os entendo porque são a cara da minha família (eh, eh, eh!...)

Revolucionário jamais será. Mas, tem voto – e que quantidade formidável de votos!...
E que líder – reconheçamos, pois – eles têm.

Um político que seria formidavelmente político, em qualquer época e em qualquer lugar do mundo.

Reconhecer isso não faz com que eu concorde com ele.

Jamais!

Mas, simplesmente, que eu reconheço o valor do meu opositor.

Nunca me esquecerei da pena que senti, ao ouvir aquele discurso do Jader Barbalho contra o ACM.

Trabalhava, na época, na Setran. Li o discurso. E saí de lá, meneando a cabeça, pensando: que pena que esse sujeito não esteja do nosso lado!...

Que pena que não tenhamos alguém com essa capacidade; que o povo do Pará não tenha um defensor desse quilate...

Que pena que alguém com tal talento – um talento societário, diga-se de passagem, e ele sabe disso – tenha resolvido usar todo esse talento, essa capacidade, em função de si próprio e dos seus.

Jader Barbalho, para mim, é um tremendo desperdício de talento social.

É verdade, que, em seu talento, há muito de genético.

Mas, a maior parte é social; é acumulação cultural; vem de nós, ugas-bugas, em tudo o que conseguimos legar aos nossos filhos e netos.

O pior é que ele, certamente, por tão lido, sabe disso.

Mas, que preferiu tornar-se um organismo biologicamente comandado: aquele que “se preocupa”, tão somente, com a própria herança genética...

FUUUUIIIIIII!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008