Bem vistas as coisas, não teria muitos motivos pra me meter na mobilização dos jornalistas paraenses.
Até para obter a minha filiação
ao Sindicato, tive de ameaçar processar essa entidade, inclusive, por danos
morais e materiais.
É que diretores do Sindicato
relutavam em me “conceder” a filiação, já que não possuo diploma de Jornalismo,
embora possua mais de 33 anos de profissão, registro na DRT e exista decisão do
STF contrária à exigência desse diploma para o exercício profissional.
Também nunca recebi qualquer
solidariedade do Sindicato dos Jornalistas, nem mesmo quando este blog foi
vítima de vergonhosa censura judicial – um atentado não contra mim, mas contra
a Liberdade de Informação.
Além disso, em 2007, uma diretora
do Sindicato chegou ao cúmulo de telefonar para o órgão público onde eu
trabalhava, para “informar” que eu não possuía registro profissional, e assim
obter a minha exoneração.
Entendo, porém, que tudo isso é
resultado de um corporativismo exacerbado, que além de revelar profunda
despolitização só serve é para dividir a categoria.
É o tipo de visão que interessa
ao sistema, porque contribui para que o jornalista não se veja como aquilo que
realmente é: trabalhador, operário da Informação – e, portanto, solidário aos
trabalhadores de todo o mundo.
E eu espero, sinceramente, que
este movimento ajude na politização dos jornalistas: que os ganhos não sejam
apenas econômicos, mas, sobretudo, políticos, para que a categoria possa
compreender, enfim, o importante papel que possui na luta pela transformação
social.
Quero, portanto, manifestar a
minha solidariedade aos jornalistas paraenses, da mesma forma que tenho sido
solidária a todos os movimentos sociais, aqui e no Facebook.
E quero, também, dividir algumas
considerações sobre esse importante movimento.
I
No final da década de 1980 (1987,
salvo engano), os jornalistas paraenses realizamos um movimento histórico: uma
greve geral que conseguiu praticamente parar as redações dos principais
veículos de comunicação de Belém.
Organizamos piquetes nas portas
das empresas; fomos pras ruas, pros ônibus, pedir que a população não comprasse
os jornais (eles continuaram circulando com a ajuda de “fura-greves” e das agências
de notícias).
Não me lembro direito, mas creio
que obtivemos o maior ganho da Região Norte, entre várias categorias de
trabalhadores.
E já naquela época, os salários
dos jornalistas eram uma indecência, uma ofensa, e as condições de trabalho,
simplesmente, inacreditáveis.
Saíamos vários repórteres (3,4) dentro
de uma Kombi caindo aos pedaços.
Aí, esse carro deixava cada
repórter no local onde seria realizada a
entrevista.
Mais tarde, ele passava pegando
todo mundo de volta, pra deixar novamente em outros locais.
Porque, caro leitor, cada um de
nós saía com três, quatro “pautas”, reportagens pra fazer. Sobre os mais
diferentes assuntos: da limpeza do Ver-o-Peso aos índices inflacionários. E isso, embora cada pauta merecesse bem mais do que uma
simples entrevista.
Além disso, quando enfim
voltávamos para a redação do jornal, para escrever essas reportagens, tínhamos
de disputar à tapa as poucas máquinas de escrever existentes – e todas
igualmente caindo aos pedaços.
Ainda não havia internet e quando
precisávamos complementar uma informação, tínhamos de recorrer aos telefones da
redação – na verdade, 3 ou 4 aparelhos,
só 1 com linha direta.
Assim, a maioria das chamadas
tinha de passar pela telefonista - e a espera era longa.
É claro que tudo isso nos deixava
estressados, cansados.
Até porque tínhamos de correr
contra o tempo, para entregar as matérias ao editor, que ficava nos
pressionando porque também tinha um horário a cumprir.
Como você já deve ter deduzido, tudo isso acabava por se refletir na qualidade do que produzíamos. Simplesmente,
porque era desumano.
Aliás, é desumano.
Por incrível que pareça, pouca coisa mudou.
Saíram as máquinas de escrever, mas entraram computadores também caindo aos pedaços e disputados à tapa.
Vários repórteres continuam saindo no mesmo veículo e com uma quantidade absurda de pautas.
E linha direta de telefone, nas redações, continua a ser uma raridade.
Ou seja: persistem as deficiências que interferem na qualidade da notícia produzida.
Por isso, as condições de trabalho
dos jornalistas interessam, sim, a todos os cidadãos.
As pessoas costumam criticar
notícias incorretas ou mal escritas, que veem todos os dias, nos grandes
jornais.
Mas não conseguem perceber que essa
quantidade de erros seria infinitamente menor se os jornalistas tivessem
melhores condições de trabalho.
E não apenas melhores condições
de trabalho: salários realmente dignos, para poderem se dedicar a um só veículo
de comunicação, em vez de terem de se dividir entre dois, três empregos.
Assim, poderiam participar
bem mais da confecção do jornal; meter a
colher, dar piteco.
Debater com os colegas, com os
editores, os cortes, as alterações muitas vezes feitas nessas matérias.
E até explorar melhor as nuances de
cada pauta, aprofundando a abordagem.
Ou seja: o grande beneficiário
dessa luta dos jornalistas é você, leitor.
É por você, leitor, que os
jornalistas paraenses estão, no fundo, a lutar.
II
Essa profissão nos consome;
consome a nossa juventude, o melhor de nós.
Nos reduz a simples máquinas de
processar informação, em tempo integral.
Nos afasta daqueles a quem amamos
e até nos rouba o tempo precioso do sorvete, do passeio na praça, com os nossos
filhos...
Duvido que exista um só
jornalista que já não tenha deixado de ouvir algo importante que o filho lhe
dizia, porque estava “alucinado” pra terminar uma reportagem.
Duvido que exista um só
jornalista que já não tenha deixado de comparecer a uma comemoração importante,
pra um amigo, pra um familiar, simplesmente porque tinha de terminar aquela bendita reportagem.
Duvido que exista um só
jornalista que não tenha largado tudo o que estava a fazer, pra atender a um
chamado da redação.
Dedicação, portanto, não nos falta.
E muito menos amor a essa
profissão.
Embora, é verdade, esse amor nos
pareça, por vezes, uma brincadeira de mau gosto de algum espírito de porco, na
outra encarnação.
Nascemos meio masoquistas,
enlouquecidos por algo que, na verdade, vai é acabando com a gente aos poucos.
Cheios de tesão por uma coisa que
nem corpórea é: a informação.
E é esse amor que muitas vezes
nos leva a aceitar qualquer coisa pra exercer, ou pra continuar a exercer, essa
profissão.
Mas já passa da hora de nós, os
jornalistas, começarmos a nos ver, principalmente, como trabalhadores.
Trabalhadores que não podem
aceitar qualquer mixaria por sua força de trabalho.
Que não podem se submeter a tudo
e mais alguma coisa.
Que não podem simplesmente calar
diante do assédio moral, sexual; da censura à reportagem que custou tanto suor
e que é tão importante para a sociedade.
O jornalista precisa aprender a
se respeitar.
Até porque essa é a condição
primeira para que os outros nos respeitem também.
III
Não adianta querer modernizar
jornal, tornar jornal o maior, o melhor, se as condições de trabalho e os
salários dos jornalistas permanecerem na Idade Média.
Investir em modernização é também
investir na qualidade da mão de obra.
No entanto, isso não se resume a
realizar cursos de qualificação ou de atualização profissional.
É claro que essa é uma atitude
louvável.
Mas o melhor investimento
que se pode fazer em mão de obra é um salário digno, decente, que permita ao
trabalhador um mínimo de tranquilidade na hora de produzir.
É ilusão achar que quatro ou
cinco repórteres especiais muito bem pagos resolvem o problema de qualidade de
um jornal.
Pelo contrário: se a distância
entre a base e o topo for grande demais, você acaba é por colocar em risco um
dos maiores motores de crescimento de qualquer empresa: o espírito de equipe.
Repórteres especiais, sozinhos,
jamais conseguirão “carregar um jornal nas costas”.
Quem faz a maior parte do
trabalho é mesmo a redação; é ela, ao fim e ao cabo, a verdadeira linha de
frente de um jornal.
Por isso, lamento que os
empresários da comunicação do Pará não consigam enxergar algo tão simples: que
é preciso investir nos salários e nas condições de trabalho das redações.
Porque isso gera lucro - e sob
vários aspectos.
Em primeiro lugar, é marketing
gratuito.
Trabalhadores satisfeitos tendem
a falar bem das empresas onde trabalham.
E isso ajuda a captar a simpatia dos
formadores de opinião, das pessoas mais bem informadas, trazendo dividendos,
inclusive, no aspecto político.
Além disso, trabalhadores
satisfeitos tendem a permanecer mais anos em tais empresas, o que se traduz em
acúmulo de fontes de informação e de notícias exclusivas.
Trabalhadores satisfeitos também significam
melhor qualidade dos textos; menos gasto de tempo na edição e, portanto, maior
agilidade produtiva.
Significam, ainda, menos dores de cabeça para as empresas,
devido a erros na confecção desses textos, que podem até ensejar processos
judiciais.
E mais: acabam até mesmo por
evitar desperdício de dinheiro.
Sim, porque de nada adianta
investir em campanhas de marketing para badalar a compra daquele maquinário
maravilhoso, ou a obtenção de um importante prêmio editorial, se de repente a
sociedade descobre que os trabalhadores da empresa recebem salários aviltantes
e são submetidos a condições de trabalho, simplesmente, pavorosas.
De repente, e não mais que de
repente, todo o marketing vai por água abaixo – simplesmente, vira pó. Ainda
mais nesses tempos de redes sociais...
É preciso, portanto, ultrapassar
essa mentalidade do arco da velha, que enxerga o lucro a partir apenas da
superexploração e que inclui até mesmo intimidações aos trabalhadores.
Esse tipo de tática (a
intimidação) nunca deu resultado diante de categorias extremamente
insatisfeitas e mobilizadas.
E muito menos dará resultado agora, nestes novos tempos da
comunicação.
É isso aí.
.................
Pros coleguinhas...
Um comentário:
O Tribunal de Contas dos Municípios - TCM entrou na jogada da terceirização em detrimento dos concursados que esperam ser chamados há 3 anos. No dia 17 de setembro o Diário Oficial publicou o aditamento de um contrato que existe desde 2009, botando terceirizados para fazerem o trabalho de controle externo das prefeituras, sem independência e técnica nenhuma. Olha aí:
TERMO ADITIVO A CONTRATO
NÚMERO DE PUBLICAÇÃO: 584466
TERMO ADITIVO: 4
Data de Assinatura: 01/09/2013
Valor: 505.227,05
Vigência: 01/09/2013 a 31/08/2014
Classificação do Objeto: Outros
Justificativa: Artigo 57, inciso II da Lei nº 8.666/93 e suas
alterações.
Contrato: 2011-006
Exercício: 2013
Orçamento:
Programa de Trabalho Natureza da Despesa Fonte do Recurso
Origem do Recurso
01122129745340000 339039 0101000000
Estadual
01122129745340000 339039 0101000000
Estadual
Contratado: MARCO COELHO SERVIÇOS LTDA-EPP
Endereço: Av Tavares Bastos, Bairro: Marambaia, 808
CEP. 66615-005 - Belém/PA
Telefone: 9132231227
Ordenador: CONSELHEIRO PRESIDENTE JOSÉ CARLOS ARAÚJO
O Ministério Público sabe disso e também do excesso de comissionados na área de controle externo e NADA FAZ, talvez porque o irmão do procurador Nelson Medrado seja diretor adjunto de lá.
Essa empresa “Marco Coelho Comércio e Serviços EPP” , empresa de pequeno porte que abocanhou, no Governo Petista, um contrato no valor total de R$ 25.913.540,16, que vigorou de 13/07/2010 a 12/07/2011. O objeto do contrato: “fornecimento” de agentes de portaria. É importante relembrar que essa empresa caiu de paraquedas na SEDUC, em 2010, por meio de uma dispensa de licitação que deu origem a um contrato no valor de R$ 764.701,87 mensais.
Mudou o Governo e a Marco Coelho-EPP continua firme e forte faturando alto: Em 2011, recebeu da SEDUC o montante de aproximadamente R$ 27.500.000,00 ( Vinte e sete milhões e quinhentos mil reais)!
Para 2012 a festa vai ser ainda mais animada: Foi celebrado Termo aditivo ao contrato aumentando o contrato para R$ 33.124.129,92. Agora olhem a vigência do contrato: De 16/02/2012 a 12/07/2012. Ou seja, em 5 meses a empresa vai faturar esse valor só “fornecendo” agentes de portaria. (confirmem abaixo no extrato de contrato publicado no DOEPA).
TERMO ADITIVO A CONTRATO
NÚMERO DE PUBLICAÇÃO: 344332
Termo Aditivo: 2
Data de Assinatura: 16/02/2012
Valor: 33.124.129,92
Vigência: 16/02/2012 a 12/07/2012
Classifi cação do Objeto: Outros
Justifi cativa: visando alterar os itens 2.1 e 2.2 da cláusula
segunda e termo de referência do contrato original, considerando
o reequilíbrio econômico fi nanceiro.
Contrato: 110
Exercício: 2010
Orçamento:
Programa de Trabalho Natureza da Despesa Fonte do Recurso
Origem do Recurso
12122129745340000 339039 0102000000 Estadual
12361134949630000 339039 0102000000 Estadual
12362134949640000 339039 0102000000 Estadual
Contratado: Marcos Coelho Serviços Ltda EPP
Endereço: Tv Peixe-Boi, Bairro: Marambaia, 95
CEP. 66620-180 - Belém/PA
Telefone: 9132231227
Ordenador: CLAUDIO CAVALCANTI RIBEIRO
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