Xingu Vivo rebate afirmações da Norte Energia e aponta contradições da empresa. Movimento cobra destruição das ensecadeiras e indenização às comunidades atingidas pelas obras de Belo Monte: danos econômicos, morais, ambientais e culturais.
Foto:telmamonteiro.blogspot.com.bt
e ascriasdaelba.blogspot.com
Do blog do Movimento Xingu Vivo Para Sempre:
“Nota
pública
Belo Monte parou: as mentiras da Norte Energia e as
demandas de reversão de danos
Na última semana, a 5ª turma do
Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) votou pela nulidade do decreto
legislativo nº 788, de 2005, que permitiu o licenciamento de Belo Monte e o
início das obras da usina antes mesmo da realização de estudo de impacto
ambiental (EIA).
O projeto foi paralisado até que os indígenas sejam
consultados pelo Congresso Nacional – com poder de veto -, e todo o processo de
discussão da viabilidade e autorização da hidrelétrica seja reiniciado em
conformidade com a lei.
A decisão do TRF acatou
parcialmente um recurso do Ministério Público Federal e anulou um dos maiores
atropelos da Constituição Federal e da Convenção 169 da Organização Internacional
do Trabalho (OIT) cometidos pelo governo brasileiro nos últimos anos, como
esclareceu o desembargador Antonio de Souza Prudente, relator do processo.
Ainda na última semana, em
resposta à decisão da Justiça – classificada como “inadmissível” pela Norte Energia S.A -, a empresa divulgou
uma nota em que desfia um rosário de incongruências:
- Afirma que norteia suas ações
pelo respeito à Constituição, o que foi evidentemente desmentido pela decisão
do TRF1.
- Afirma ter cumprido
rigorosamente todas as exigências legais de Belo Monte, enquanto é alvo de
multa de R$ 7 milhões do Ibama e várias ações do MPF por descumprimento das
condicionantes das licenças prévia e de instalação da obra.
- Afirma que nenhuma terra
indígena será diretamente afetada pela hidrelétrica, enquanto negocia – e não
cumpre – medidas de minimização de impactos. Incoerentemente, na mesma nota em
que diz que os indígenas não serão afetados, afirma que “durante as reuniões
nas aldeias, foram prestadas todas as informações sobre o projeto, o que
incluiu seus impactos, mitigações e compensações estabelecidas no componente
indígena, aprovado pela Funai”.
- Afirma que prestou todos os
esclarecimentos necessários aos indígenas, enquanto seus funcionários foram
retidos na aldeia Muratu por uma semana exatamente por falta de clareza sobre
os mecanismos que alegadamente iria adotar para possibilitar a navegação do
Xingu após o barramento completo do rio.
- Afirma que os povos indígenas,
por livre arbítrio, apóiam Belo Monte, enquanto durante todo o processo de
implantação das obras multiplicaram-se manifestações indígenas contrárias à
hidrelétrica, que culminaram numa ocupação de semanas da barragem provisória da
usina, entre os meses de junho e julho.
- Afirma que a paralisação de
Belo Monte deixará mais de 20 mil desempregados, enquanto seus próprios números
contabilizam 12 mil funcionários, sendo 9 mil empregos diretos e 3 mil
indiretos.
- Por fim, faz ameaças de
retaliação ilegal ao afirmar, como se estivesse falando em nome do governo, que
o financiamento público do Plano de Desenvolvimento Regional Sustentável do
Xingu (PDRSX), que visa o atendimento das populações de 11 municípios da área
de impacto de Belo Monte, será suspenso.
Posto isso, e diante da realidade
da paralisação da hidrelétrica, o
Movimento Xingu Vivo para Sempre publicamente demanda agora da Norte
Energia e do governo os seguintes esclarecimentos:
Visto que o decreto que
ilegalmente autorizou as obras de Belo Monte foi anulado, e junto com ele as
licenças prévia e de instalação, em que prazo serão encaminhadas as seguintes
medidas emergenciais de reversão dos principais impactos sobre as populações
afetadas e o meio ambiente:
- destruição das três
ensecadeiras (barragens provisórias) já construídas no Xingu e restauração do
livre fluxo do rio e de sua navegabilidade.
- recomposição da mata nativa dos
238 hectares desmatados para a construção de canteiros da usina e das demais
áreas degradadas pelas obras, como os igarapés do Paquiçamba.
- restituição das áreas de
pequenos agricultores compulsoriamente desapropriadas.
- recomposição dos plantios de
culturas, principalmente de cacau, das áreas desapropriadas.
- restituição das áreas e
reconstrução das casas de ribeirinhos compulsoriamente desapropriadas e
demolidas, como as da Vila de Santo Antonio.
- Indenização das comunidades
rurais, ribeirinhas, indígenas e de pescadores por danos econômicos, morais,
ambientais e culturais.
O Movimento Xingu Vivo para
Sempre cumprimenta, parabeniza e honra a decisão da 5ª turma do TRF1 e do desembargador
Antonio de Souza Prudente, de devolver ao país um pouco de fé na Justiça e na
premissa de que a Constituição há que ser respeitada à revelia de interesses
econômicos e políticos.
Comemoramos a paralisação de Belo
Monte como uma reafirmação da justeza da nossa luta e da de milhares de
defensores do meio ambiente e dos direitos humanos no Brasil e no mundo.
Estaremos mobilizados para apoiar e defender esta decisão histórica da Justiça,
a Constituição Federal e os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil
contra todos os ataques que venham a sofrer.
Mas consideramos que não basta
parar um crime; é necessário sanar e curar todos os males que causou.
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