(Ilustração do blog Folha de Tucuruí) |
O advogado Inocêncio Mártires confirma: o prefeito cassado de Marabá, João Salame, ainda possui mais um vídeo e um áudio sobre a suposta venda de sentenças no Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE).
O próprio Salame disse à Perereca que vêm por aí “novas
revelações bombásticas”.
E afiançou: “não estou disposto a
recuar, a fazer qualquer tipo de composição. Vou até o fim. Não quero me
acalmar”.
Ele planeja, inclusive, uma
entrevista coletiva para esta semana.
E já se sabe que amanhã(12), ele
estará no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília, para falar sobre o
caso.
O CNJ, que é o órgão de controle
da Magistratura, já abriu investigação sobre a suposta venda de sentenças no
TRE.
Mas Salame garantiu ao blog que irá além: vai denunciar, também, a
“promiscuidade” entre o Executivo e o Judiciário no Pará.
“Pode ter isenção uma magistrada
cujo marido é assessor do governador, segundo afirma o Antonio Armando?”,
indaga o prefeito de Marabá.
Além disso, ao que se comenta,
dois outros prefeitos também já estariam dispostos a dar com a língua nos
dentes.
E os atingidos pelas denúncias já
começam a se movimentar: no último dia 8, o advogado Sábato Rossetti protolocou
interpelação contra Antonio Armando na Justiça Estadual, em Marituba.
Segundo Rossetti, as afirmações
de Armando são “fantasiosas”.
Esses, em suma, os últimos e próximos
capítulos de uma novela que possui todos os ingredientes para eletrizar o
distinto público: intrigas, dinheiro, poder - e até algumas pitadas de sexo...
Leia
a reportagem da Perereca “4 juízes citados em gravação que revelaria
pagamento de propinas a juízes do TRE Pará. Ouça a gravação feita pelo prefeito
cassado de Marabá, João Salame, que teria se recusado a comprar sentença
favorável naquele tribunal. Venda seria intermediada pelo ex-prefeito de
Marituba Antonio Armando. Propinas pagas por Duciomar teriam custado R$ 800
mil. PF abriu inquérito para investigar o escândalo: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/4-juizes-citados-em-gravacao-que.html
E
leia também: “Justiça Federal rebate
acusações de Antonio Armando contra magistrado. Juiz federal Ruy Dias de Souza
Filho nunca atuou em processos envolvendo ex-prefeito de Belém Duciomar Costa e
só assumiu lugar no TRE em junho de 2013, diz nota enviada ao blog. Ofício
comprova que Ruy Dias só foi eleito membro efetivo do TRE em maio deste ano”: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/justica-federal-rebate-acusacoes-de.html
O
que é a verdade?
No entanto, caro leitor, o terreno
é pantanoso, por envolver algumas das categorias mais complicadas do Planeta:
políticos, juízes, advogados e jornalistas, todas habituadas a lidar com as
matérias-primas do poder moderno – a informação e as leis.
Tudo gente boa, com cartão Gold
da Yamada...
Além disso, Marabá é um município
estratégico para as eleições ao Governo do Estado, no ano que vem.
Daí que todo o cuidado é pouco,
para não acabar manipulado.
E a primeira providência contra isso é
esquecer o simplismo maniqueísta que divide as criaturas em “boas” e “más”e repetir,
feito um mantra, a frase atribuída a Pôncio Pilatos: “O que é a verdade?”
Quem
vende o quê?
Não é de hoje que se ouvem
histórias tenebrosas acerca de um suposto esquema de venda de sentenças nos
tribunais paraenses.
Fala-se até mesmo de um filho de
desembargador (a) que ficava sentado, no plenário de um tribunal, à
espera das ofertas de políticos enrolados com a Justiça.
Em várias ocasiões, notas
cifradas em colunas de jornal e comentários de bastidores atribuíram valores
milionários a esta ou aquela sentença.
Poucas vezes, no entanto, alguém
ousou vir a público, para escancarar essa possibilidade.
E em nenhuma ocasião tantos
juízes foram envolvidos em tais suspeitas ao mesmo tempo.
No entanto, é preciso perguntar:
estariam, de fato, os juízes paraenses a vender sentenças, ou haveria cidadãos,
e até quadrilhas, a enganar pessoas, dizendo “vender” sentenças em nome de
magistrados?
Além disso, se existirem juízes
paraenses que vendem sentenças, os magistrados citados por Antonio Armando
estão, de fato, entre eles?
Quer dizer: são muitas e graves
as perguntas existentes nesse caso.
Mas, justamente por serem tantas,
elas já nos trazem pelo menos duas certezas.
Benefício
da dúvida
A primeira é que é preciso
garantir o benefício da dúvida aos magistrados paraenses, e em especial, aos
quatro juízes citados naquele áudio.
Por mais decepcionados, e até
enojados, que estejamos em relação ao Judiciário paraense; por piores que
sejam as histórias que já tenhamos ouvido, há, sim, que garantir aos acusados o
benefício da dúvida.
Um deles, aliás, já comprovou que
não tem nada a ver com essa história: o juiz federal Ruy Dias não atuou em
qualquer processo contra o ex-prefeito Duciomar Costa. Aliás, nem estava no TRE
naquela época (veja aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/justica-federal-rebate-acusacoes-de.html).
No entanto, isso significa que
todo o conteúdo daquele áudio é mentiroso?
Não. Até porque o sujeito
identificado como Antonio Armando diz, acerca do juiz federal: PARECE que foi o
Rui, já que teria sido o advogado Sábato Rossetti a repassar o dinheiro ao
magistrado.
Mas, de igual forma, as simples
declarações de Antonio Armando podem ser consideradas verdadeiras?
Também não.
Até porque Antonio Armando pode
ser apenas um espertalhão, a tentar vender uma coisa que não
possui, mas cuja não-entrega jamais será denunciada, já que envolve o
cometimento de um crime.
É por isso que até mesmo o áudio e o
vídeo que Salame possuiria, a corroborar o conteúdo da gravação já divulgada, têm de ser olhados com muita cautela.
As
novas gravações
O vídeo, de acordo com
informações fornecidas à Perereca, é
das câmeras de segurança do prédio onde mora Salame.
Ele mostraria Antonio Armando
entrando (ou saindo) naquele local (e até descendo no andar do apartamento de
Salame) em companhia de um cidadão de nome Francisco, que seria o marido ou
namorado da juíza Ezilda Pastana Mutran, a relatora do processo de cassação do
prefeito de Marabá.
Já o áudio seria de uma conversa
entre Antonio Armando e uma pessoa ligada a Salame, que teria sido procurada
para ajudar a convencê-lo a pagar a propina.
Esse segundo áudio, aliás,
conteria ainda mais detalhes do que o primeiro, sobre a transação.
E a ordem para gravar a conversa
teria partido de Salame, ao ser informado previamente daquele encontro.
Não há dúvida que, se de fato
existirem, essas novas gravações são elementos de peso.
Em primeiro lugar, o que é que o
marido ou namorado da juíza relatora de um processo contra Salame foi fazer no
apartamento dele e, ainda por cima, em companhia de um sujeito que garante
intermediar a venda de votos e sentenças produzidas por ela?
Dá o que pensar, não é?
Mas essas novas gravações, se de
fato existirem, são provas suficientes do envolvimento da juíza nessa
transação?
Não. Não são.
Ouça novamente o áudio, leitor.
Repare na maneira jocosa como
Antonio Armando se refere ao relacionamento entre Ezilda Mutran e esse rapaz de
nome Francisco.
A ideia que passa é que não se
trata de um marido de verdade, mas, de um amante ou namorado.
E relações prazerosas, que não
envolvem necessariamente confiança, eu mesma já tive muitas – e creio que você
também.
Além disso, quantas vezes já não
confiamos em alguém que simplesmente nos atraiçoou?
E veja bem: tantas perguntas já
partindo do suposto de que existe esse vídeo e de que o rapaz do vídeo é mesmo
marido ou namorado da juíza – coisa que, também, será necessário provar.
Então, é preciso juntar elementos
mais consistentes a essas declarações e gravações.
E isso nos leva à segunda certeza
desse mar de indagações.
Doa
a quem doer
No último dia 8, a Associação dos
Magistrados do Pará (Amepa) divulgou uma nota simplesmente lamentável sobre
todo esse episódio (Veja em Nota de
Repúdio, no site http://www.amepa.com.br/).
Em nenhum momento, em nenhuma só
linha, a Amepa reclama a apuração de denúncias tão graves: a suposta venda de
sentenças por magistrados do TRE.
É como se os nossos meritíssimos
estivessem se lixando para os cidadãos que lhes pagam os salários e até para a própria
Dignidade da Magistratura (sim, porque são os crimes perpetrados por bandidos
togados, se de fato existirem, a emporcalhar a Dignidade da Magistratura).
Ora, o conteúdo do áudio já
divulgado é gravíssimo.
Os fatos ali narrados, se
verdadeiros, significam um atentado ao próprio estado democrático, porque
solapam elementos básicos, como o direito à Justiça e à vontade dos cidadãos.
Ele envolve não um, mas vários
magistrados; aponta sentenças supostamente vendidas, valores envolvidos e até a
atuação do “marido” da juíza Ezilda Mutran, em transações comerciais.
É claro, como já dito, que tudo o
que está naquele áudio tem de ser visto com muito cuidado.
Mas daí a ignorar tal conteúdo
vai enorme distância.
E é isso o que faz a Amepa.
A entidade se limita a defender a
juíza Ezilda Mutran e a atacar o prefeito João Salame, por ter divulgado a
suposta tentativa de extorsão.
Pergunta-se: o que é que têm a
ver as motivações de Salame, e até a conduta dele e da juíza Ezilda Mutran, com
a veracidade ou não de tais denúncias?
Acaso tais motivações e condutas
comprovam ou negam taxativamente a venda de sentenças por magistrados paraenses?
É claro que não.
O objeto da apuração não é se
Salame e Ezilda são ou não são padrões de moralidade, ou até candidatos a miss
ou mister simpatia.
O que está em causa é: são
verdadeiras ou não as declarações de Antonio Armando naquele áudio? Há ou não
há venda de sentenças nos tribunais paraenses e, sobretudo, nesse caso
específico?
Então o que vem a ser a nota da
Amepa? Nada além de falácias, ameaças veladas e corporavitismo.
A entidade chega a afirmar: “Permitir
que tal imputação absurda grasse os meios de comunicação é por demais
temerária. Apenas por ilustração, se dois presos mantiverem semelhante diálogo
no cárcere, poder-se-á creditar veracidade e macular a honra de um magistrado?”
Pergunta-se: quer dizer, então,
que se amanhã um homicida condenado denunciar que está sendo vítima de tortura
não se deve apurar, já que ele é um criminoso e o diretor do presídio é um
cidadão “acima de qualquer suspeita”?
Quer dizer que a única
providência será atacar (ou até retirar do ar) o áudio no qual o homicida fez
tal acusação - e deixar tudo por isso
mesmo?
Ou será que só não devem ser
apuradas as denúncias que envolvam os nossos doutos magistrados?
Que é mais importante: a honra (minha,
sua, de 100, mil cidadãos ou juízes) ou o interesse social?
Por que é que a sociedade não tem
direito de tomar conhecimento de denúncias tão graves, que dizem respeito a
supostos crimes de servidores públicos?
A Amepa também diz ser “evidente”
que Ezilda Mutran “sequer tinha conhecimento de que terceira pessoal alegava
exercer influência sobre seus votos”.
Que me perdoe a Amepa, mas isso é
uma inverdade.
Não nada de “evidente” nesse caso
– ainda.
Como já dito, é preciso dar o
benefício da dúvida à juíza e receber com cautela até o suposto vídeo que
mostraria o namorado ou marido dela a entrar no prédio em que reside João
Salame.
Mas, é só.
Não dá para afirmar ou negar a
priori que houve ou não houve essa tentativa de venda de sentença e, muito
menos, se a magistrada conhecia ou ignorava a transação.
Só o que poderá evidenciar o que
quer que seja são as investigações.
E é esta a segunda certeza desse
mar de perguntas: é preciso apurar, e apurar com rigor.
...........
Em tempo: A Advocacia Geral da
União (AGU) no Pará, por meio do procurador-chefe, Leonardo Sirotheau, também já
entrou com interpelação contra Antonio Armando e João Salame, para que prestem
esclarecimentos sobre o teor da gravação encaminhada pelo TRE.
O processo foi autuado no último
dia 5, tem o número 0030939-78.2013.4.01.3900 e está nas mãos do juiz federal
Rafael Lima da Costa.
4 comentários:
Será que nas novas gravações aparecerá as negociações do Antonio Armando e o prefeito de Tucuruí, Sancler Ferreira? Se investigarem direitinho, vão descobrir coisas do arco da velha.Alias, quando é que a Policia Federal vai desembarcar na Tucuruí, uma das mais ricas do Estado do Pará e por isso, uma das mais roubadas.
Vou repetir:
"O assunto vai morrer fácil, fácil...
Como um dos "acusados" no diálogo era um Juiz Federal que sequer trabalhava no TRE à época dos fatos a ele imputados e como os Juízes Federais têm notoriamente boa fama de serem sérios e não-corruptos - enfim, por isso a pecha de denúncia desmiolada, abilolada e porralouquice do tal do ANTONIO ARMANDO vai ser fácil de pegar na história...
ASSIM COMO UMA FRUTA PODRE CONTAMINA O CESTO TODO DE FRUTAS, na vida, o inverso causa um efeito semelhante: a fruta boa beneficiará todos os envolvidos porque enfraquecerá a denúncia.
Uma pena, porque algumas coisas devem ter um fundo de verdade.
Só tem uma coisa extremamente burra feita pelo tal de ANTONIO ARMANDO: ele negou, PEREMPTORIAMENTE, que a voz seja sua nas gravações.
Acho que uma perícia desmente isso facilmente.
E aí ?!?
Se a perícia constatar que é mesmo de Sua Excelência ?!? Ele manterá as acusações ?!?
Ou dirá que estava apenas se jactando ??"
Perereca,
Quero parabeniza-la pelos textos de qualidade que são publicados no blog. Sou marabaense e acompanho através de "A Perereca da Vizinha" toda essa movimentação acerca do governo municipal. Assim como você, tenho me mantido na neutralidade, aguardando o desenrolar dos fatos dessa "novela mexicana". Parabéns mesmo!!!
Wagner Jr
Primeiro gostaria de parabenizar pela matéria e dizer que o benefício da dúvida é direito irrevogável de qualquer cidadão e fez bem e expor isto. É oportuno dizer que a frase o CRIME NAO "COMPENSA" na prática é uma inverdade. Quero deixar bem claro que não estou fazendo apologia ao crime. No entanto tem estudo que mostra que nem todo crime é investigado e uma minoria e punido. Como cidadão falo que o judiciário não me passa confiança da justiça dos fatos. Lembram do áudio do Daniel Dantas? E é claro que não é apenas o judiciário do Pará. Que tal fazer uma operação pente fino da receita federal na compatibilidade de bens de todos os servidores públicos? Aposentadoria compulsória é um prêmio...
nada disso e novidade para nós cidadãos.
Então parem com esses alardes mediático!!
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