terça-feira, 5 de maio de 2020

Coronavírus: só restringir circulação de pessoas não funciona. É preciso enfrentar a Máquina da Morte do bolsonarismo.



 

Há uma coisa muito importante que os nossos governadores e prefeitos precisam entender: a guerra para salvar a nossa população de uma mortandade por esse coronavírus é, sobretudo, uma guerra de informação. 

De nada adiantarão medidas cada vez mais restritivas à circulação de pessoas, se não conseguirmos fazer frente a essa Máquina da Morte que são as redes de notícias falsas do bolsonarismo. 

Porque as pessoas continuarão a driblar essas medidas, seja promovendo festinhas e churrascadas em suas casas, para amigos e vizinhos; seja não usando máscaras, ou utilizando-as de maneira incorreta, a exemplo do “mito”; seja não respeitando o distanciamento social em uma feira livre ou supermercado; seja mentindo e até “molhando o pé da planta”, quando quiserem se deslocar a algum lugar... 

Comportamentos como esses (cervejadas, churrascadas, falta de máscaras, desrespeito ao distanciamento) têm sido observados na periferia de Belém, e provavelmente em toda a Região Metropolitana.  

Eles demonstram que o problema não é “apenas” a necessidade de sobrevivência econômica da maioria da população, como muitos insistem em pensar. 

Em verdade, estamos diante é de uma enorme descrença em relação à gravidade dessa doença e à possibilidade de uma superlotação sem precedentes das nossas unidades de saúde. 

Há pelo menos quatro fatores a contribuir para isso. 

O primeiro é o “exemplo que vem de cima”: os constantes discursos e atitudes do presidente da República para minimizar essa pandemia, e até para sabotar o isolamento e o distanciamento sociais. 

O segundo é a Máquina da Morte, as redes de notícias falsas do bolsonarismo, que disparam toda sorte de mentiras contra toda e qualquer tentativa de alertar a população e proteger-lhe a saúde e a vida. 

Há alguns dias, por exemplo, um vídeo no Facebook mostrou a recusa de uma senhora, uma pessoa simples, do povo, em receber uma máscara que alguém lhe oferecia. 

E qual o motivo dessa recusa? 

Segundo essa senhora, as máscaras vieram da China e estariam contaminadas por esse vírus. 

E de onde veio mais essa mentira? 

Das redes de notícias falsas do bolsonarismo, como é possível constatar em várias postagens no Facebook e, provavelmente, também no WhatsApp. 

O terceiro fator é o conjunto de mitos do brasileiro acerca de si mesmo. 

Não por acaso, Bolsonaro disse, no final de março, que “o brasileiro precisa ser estudado” porque, segundo ele, até pula no esgoto “e não pega nada”. 

Não, não se trata de uma afirmação “inocente”, ou fruto da ignorância sobre as doenças e mortes provocadas pela falta de saneamento. 

O que Bolsonaro quis foi reforçar esse mito, extremamente difundido entre as pessoas mais pobres, e até entre a classe média, de que o nosso povo possui uma super imunidade, já que sobrevive às condições subumanas das favelas e periferias. 

Foi, em suma, mais uma de suas tentativas de sabotar o isolamento social, através da minimização dessa doença. 

O quarto fator é o sucateamento e eterna lotação da nossa rede pública de saúde.  

Ora, para quem já adoeceu e ficou gemendo em uma maca no corredor de um pronto socorro, ou viu alguém nessa condição, custa a crer que a situação dos mais pobres pode ficar ainda mais aflitiva. 

E no entanto, essa situação já se tornou, sim, infinitamente mais aflitiva, em várias cidades brasileiras, que já não conseguem oferecer nem mesmo uma simples maca no corredor, a milhares de doentes. 

Então, o que fazer, se até mesmo medidas cada vez mais restritivas à circulação de pessoas tendem a não funcionar nesse cenário? 

Em primeiro lugar, temos de entender que apenas o uso dos grandes meios de comunicação já não é suficiente para combater essa Máquina da Morte. 

Isso porque a grande imprensa foi alvo de um trabalho de “desacreditação” pelo bolsonarismo, levando à prevalência das mentiras fabricadas por essas redes, apesar da enorme quantidade de informações sobre os perigos desse vírus, em todos os jornais, rádios e TVs. 

Assim, parece-me que seria muito eficaz o uso de algumas estratégias de propaganda política, nessa guerra da informação. 

Quem já trabalhou em campanhas eleitorais conhece muito bem a força do corpo a corpo: a luta de convencimento de cada família, em cada rua, em cada bairro. 

Conhece, também, a força do trabalho de formiguinha das lideranças e pessoas bem relacionadas dessas áreas. 

E conhece, ainda, a necessidade de segmentação do discurso e da escolha de ganchos regionalizados. 

Devido ao isolamento social, não há como contar com as “conversas de padaria” e com batalhões informativos a invadir cada rua. Talvez, aliás, não seja possível nem mesmo pesquisas de opinião. 

Mas dá, sim, para adaptar algumas estratégias a este momento. 

Uma possibilidade é utilizar rádios comunitárias e quaisquer sistemas de som, para rodar, nos pontos de maior aglomeração e em grandes áreas residenciais, não apenas mensagens educativas à prevenção dessa doença, mas, principalmente, mensagens de lideranças locais, comunitárias, sindicais e religiosas, além de entrevistas com pessoas que ficaram muito doentes, ou que perderam familiares; entrevistas com médicos e policiais que estão na linha de frente da guerra contra o coronavírus; e até mensagens de artistas conhecidos.  

Outro recurso é o uso dos sistemas sonoros dos estabelecimentos que oferecem serviços essenciais (supermercados, bancos, farmácias, lotéricas). 

Na semana passada, tive de sair de casa para comprar comida e me espantei com o silêncio no supermercado.   

Enquanto isso, muitas pessoas insistiam em não manter distância umas das outras. Algumas até me olhavam espantadas, quando me afastava. 

Presenciei até uma cena inacreditável: um homem comprou uns salgadinhos no balcão da lanchonete, tirou a máscara e saiu comendo. E quando protestei, ele também me olhou com cara de espanto. 

Também vi gente com a máscara abaixada, tapando malmente apenas a boca (aparentemente, a máscara foi usada só para se conseguir entrar no supermercado). 

E na fila do caixa, tive até de colocar o carrinho entre mim e a pessoa que estava atrás, porque ela insistia em não manter distância. 

Aí fiquei pensando em como tudo poderia ser diferente, se o sistema sonoro daquele supermercado estivesse rodando programas educativos sobre o perigo desse vírus, ou ao menos insistisse em mensagens sobre o porquê do distanciamento, da higienização e do uso de máscaras. (Que desperdício de espaço de esclarecimento, né não?) 

Outros recursos importantes são ônibus, táxis, Uber e mototáxis. 

Infelizmente, muitos taxistas e motoristas de Uber incorporaram o discurso bolsonarista, inclusive em relação à Covid-19. 

Mas é preciso dialogar com essas pessoas.  

Talvez através das lideranças deles. Talvez através de lives de colegas deles que adoeceram ou perderam parentes por causa desse vírus. Talvez até oferecendo algum tipo de ajuda, para que colaborem em uma grande campanha de esclarecimento à população. 

Há, ainda, outra providência urgente: invadir, e de forma concertada, as redes sociais hoje praticamente dominadas pela Máquina da Morte do bolsonarismo. 

Até onde vi, em trabalhos jornalísticos na internet, essa Máquina da Morte é sustentada por um punhado de portais e de grupos de WhatsApp, que produzem as notícias falsas compartilhadas por milhões de bolsonaristas e robôs. 

Ou seja, esses grupos e portais agregam a militância e articulam os ataques. 

O conteúdo mentiroso é, então, despejado em massa no WhatsApp, Twitter e Facebook (perfis, páginas e grupos) e também norteia a ação dos canais bolsonaristas no YouTube (e dialoga com eles). 

É a força da repetição, do contágio e de uma grande carga emocional, para atingir o sistema límbico, a área mais primitiva do cérebro humano.  

Daí o comportamento de manada de grande parte dos bolsonaristas. 

Daí a violência exibida por vários deles, tanto fisicamente quanto na linguagem, o que é muito mais observável em pessoas que se encontram em grupos ou em multidões (e as redes sociais funcionam como “multidões”), do que naqueles cidadãos que se encontram sozinhos e sem a proteção do anonimato. 

É claro que não podemos utilizar essas técnicas de lavagem cerebral, que são antidemocráticas e criminosas. 

Mas é possível, sim, usar estruturas semelhantes àquelas que foram montadas pela Máquina da Morte do bolsonarismo.  

Até onde sei, só a Prefeitura de Belém é que já possui um grupo de WhatsApp, embora desconheça o seu alcance. 

Já no Facebook, tanto Helder quanto Zenaldo possuem páginas oficiais e grupos de apoio. 

Mas é preciso bem mais do que isso, e no maior número possível de cidades. 

É preciso portais gerais e, também, localizados, para a produção de informações sobre essa doença.  

E tudo em linguagem e formatos simples, para que se possa alcançar milhões de cidadãos e transformar esses portais em referenciais.

Portais e canais com entrevistas de rádio e TV, com médicos, enfermeiros, policiais, lideranças religiosas, comunitárias, sindicais e até com shows de artistas locais, numa grande Corrente do Bem contra a Covid-19. 

Portais e canais que também sejam rápidos e eficazes (utilizando até o humor), para desmentir as notícias falsas da Máquina da Morte do bolsonarismo.  

E grupos e salas de vídeo em todas as redes sociais, além da militância de todos aqueles que têm compromisso com a Vida do nosso povo, para a disseminação apartidária, concertada e em larga escala, desses conteúdos. 

O que não se pode permitir é que essas fábricas de mentiras continuem a jogar sozinhas e de forma articulada, enquanto a nossa população adoece e morre por causa desse esquema criminoso. 

Aliás, não se pode permitir nem mesmo que continuem a jogar: é preciso pressionar o Ministério Público; colocar a polícia em cima; denunciar em massa ao Facebook, WhatsApp, YouTube e Twitter as postagens mentirosas sobre essa doença; processar e botar na cadeia aqueles que estão à frente dessa rede criminosa; identificar, denunciar e processar, em cada estado ou cidade, aqueles que continuem a distribuir essas imundícies que colocam em risco a Saúde e a vida de milhões de brasileiros. 

Que Deus ilumine nossos governadores e prefeitos e a parcela mais esclarecida da sociedade brasileira, para a necessidade de combatermos a desinformação de maneira muito mais efetiva. 

Nada, nem mesmo o lockdown, funcionará se não for assim. 

FUUUIIIII!!!!!

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