É verdade que política internacional não é o meu forte.
Mas, a cada dia que passa, maior a minha impressão de que Trump não terminará o seu mandato.
A não ser que recue, e muito, na sua postura terrorista.
A meu ver, tudo pode ser resumido em uma palavra: anacronismo.
Quanto mais toca o terror, com ameaças ou concretizando-as, mais se revela um personagem perdido no tempo e no espaço.
Porque, aparentemente, não consegue entender as grandes e velozes transformações deste nosso “admirável mundo novo”...
Assim, as suas ameaças, inclusive a aliados, geram é revoltas e desaforos, em vez de assustar, como há alguns anos.
O que, aliado ao seu negacionismo climático e desrespeito à Democracia e aos direitos humanos, tende a levá-lo a um isolamento, dentro e fora dos EUA.
Não por acaso, com menos de uma semana de governo, ele amargou a primeira derrota judicial: a suspensão do decreto que acabava com a cidadania automática de crianças nascidas nos EUA, filhas de imigrantes ilegais.
Mas talvez ainda pior, do ponto de vista dele, é a insatisfação que já começa a surgir dentro da sua própria base de apoio.
Como no caso do perdão que concedeu aos invasores do Capitólio, incluindo agressores de policiais.
Alguns policiais morreram, mais de 100 ficaram feridos, naquele episódio.
Pesquisas mostram que 60% da população é contrária a esse perdão indiscriminado, que revoltou policiais e encontra resistência até de senadores do partido dele, o Republicano.
Infelizmente, não encontrei notícia sobre a repercussão dessa medida entre os conservadores magistrados da Suprema Corte estadunidense.
Mas o que ocorreu no Brasil nos dá pistas de como tudo isso poderá acabar.
Em 2019, quando assumiu a Presidência da República, Bolsonazi surfava em uma onda reacionária, movida a ódio – ao PT e a todas as esquerdas.
Na época, ele tinha o apoio da maioria da população, dos grandes veículos de comunicação, dos governadores, do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF), das Forças Armadas.
Mas ainda em 2019 esse quadro começou a mudar. E ficou ainda pior, do ponto de vista dele, com a pandemia.
Assim, em 2022, Bolsonazi já tinha contra ele boa parte dos governadores, do Congresso, dos ministros do STF e, é claro, a maioria da população.
E o que foi que aconteceu, em apenas quatro anos, para mudar tão radicalmente a situação dele?
Basicamente, o mesmo que ameaça Trump: a percepção do seu anacronismo.
O xis da questão é que quando o nazifascismo arranca a máscara de simples estratégia eleitoral e, já no poder, revela-se em toda a sua inteireza maligna, acaba por atrair a repulsa da direita democrática.
Também provoca medo na classe média, e no cidadão comum em geral.
A isso se junta um sentimento de absurdez, diante das ideias e comportamentos tresloucados das hordas nazifascistas, e das performances imitativas de Hitler e Mussolini.
Os dois personagens, é verdade, fizeram “sucesso de público”, por algum tempo, no século passado.
Mas hoje, até pelas atrocidades que cometeram, parecem exatamente aquilo que foram: ditadores ridículos e sádicos.
A chave, para entender esse “antes” e “depois” na cabeça do eleitor, é a maneira como a população encara as campanhas eleitorais.
Para ela, essas campanhas são espetáculos que não se deve levar muito a sério: os candidatos prometem mundos e fundos aos eleitores, e o inferno em vida ao “satanás” da ocasião.
Prometem, ameaçam, mas apenas para se eleger, já que não pretendem realizar nem 10% disso.
Assim, mesmo que um candidato diga “vamos metralhar a petralhada”, como fez Bolsonazi, muitos rirão e pensarão que isso é apenas parte do espetáculo.
O problema é que a coisa toda não funciona assim, em se tratando dos nazifascistas.
Eles realmente querem cumprir as monstruosidades que prometem.
Porque creem na mitologia de um “paraíso perdido”, habitado por seres “superiores”.
E se veem como os “heróis” que trarão de volta esse “paraíso”, a partir do extermínio dos “diferentes” ou “inferiores”, que “degeneram” a espécie humana.
Essas crenças na própria heroicidade e em uma “missão” para “purificar” a espécie estão na base do desprezo nazifascista pela Democracia e os poderes republicanos.
As instituições que garantem os direitos dos segmentos sociais que eles pretendem eliminar: negros, gays, imigrantes pobres, dentre outros.
Assim, o confronto, mesmo com a direita democrática ma non troppo, torna-se inevitável.
E exemplo disso é o que ocorreu entre Bolsonazi e o STF.
Aquela Corte nunca foi um “ninho” esquerdista.
Pelo contrário: seus integrantes sempre foram de direita.
Uns menos, outros mais conservadores.
Mesmo assim, a relação entre eles e Bolsonazi rapidamente se deteriorou.
Tudo devido ao anseio absolutista de Bolsonazi, ao seu menosprezo à vida humana e a tantos valores caros aos liberais.
Por isso, não me parece improvável que o mesmo ocorra com a Suprema Corte norte-americana, em relação a esse personagem medieval, que é o Trump desse segundo mandato.
Penso, também, que duas outras aberrações que vimos aqui podem se repetir nos EUA, e complicar a situação dele.
Uma, as milícias nazifascistas, que devem tocar o terror nas ruas, principalmente após o perdão aos invasores do Capitólio.
Outra, os ataques terroristas com fake news contra adversários.
Ambas devem assumir intensidade ainda maior nos EUA.
E não apenas pelo apoio das Big Techs a Trump.
Mas porque se trata de garantir-lhe plenos poderes.
E, se possível, mantê-lo no poder para além dos quatro anos de mandato, como teriam feito os bolsonazistas, se Bolsonazi tivesse sido reeleito.
O problema, do ponto de vista de Trump, é que a violência nazifascista, nas redes e nas ruas, tende a “acordar” a população e até a muitos conservadores.
Afinal, discursos nazifascistas têm, para muitos, bem menos impactos emocionais do que a sua concretização ao vivo e em cores.
É possível, aliás, que comecemos a ver tais impactos ainda nos próximos dias, caso a Justiça não suspenda a ordem de Trump para trancafiar mulheres trans em prisões masculinas, expondo-as a toda sorte de violências.
Ou com a continuidade da deportação em massa de imigrantes.
Porque uma coisa é bradar contra simples conceitos, abstrações.
Outra, é presenciar imigrantes sendo arrancados até de igrejas, escolas e hospitais, nos moldes da perseguição nazista aos judeus, na década de 1930.
É se deparar com a deportação da sua cozinheira, da sua vizinha, da babá do seu filho, do pedreiro que estava reformando a sua casa, ou do “irmão” da sua igreja.
Em tais situações, e ainda mais neste século, a corporeidade, a humanidade do outro e o sofrimento dele movem as nossas emoções.
No entanto, o que mais poderá desgastar Trump é o isolamento a que está levando os EUA, aliado ao provável agravamento da crise econômica interna.
Vídeos nas redes sociais mostram a paralisação de canteiros de obras e de estabelecimentos comerciais nos EUA, porque os imigrantes estariam evitando sair de casa e faltando ao trabalho, com medo de serem presos e deportados.
Tudo isso terá efeitos negativos na economia norte-americana.
Os piores, talvez, na Construção Civil, locomotiva econômica.
Mas, também, nos preços dos alimentos e na inflação.
Isso porque, diz Gabriel Monteiro, analista de Economia da CNN, os imigrantes ilegais representam 42% da mão de obra do agronegócio, nos EUA.
E quando a eles são somados os imigrantes legalizados, essa força de trabalho chega a 70%.
Daí que a expulsão em massa deverá aumentar os custos de produção dos alimentos.
Também poderá encolher a economia, já que apenas os imigrantes latinos (os alvos preferenciais de Trump) respondem por mais de 10% do PIB dos EUA.
Segundo o estudo “Fast Facts: Latinos in the United States 2024”, eles geraram 3,6 trilhões de dólares do PIB norte-americano de 2022, que atingiu 25,7 trilhões de dólares, segundo o Banco Mundial.
As condições desumanas da expulsão dos imigrantes e a postura imperial de Trump também já provocam embates com lideranças políticas da América Latina, e ameaças de retaliações alfandegárias.
Na Europa, a França também já propõe retaliações alfandegárias, caso Trump concretize a ameaça de aumentar a taxação dos produtos daquele continente.
Ao fim e ao cabo, a encrenca internacional contribuirá, provavelmente, para que a China e os Brics conquistem ainda mais parceiros comerciais, na Europa e América Latina, sem falar no Canadá, sob ameaça de invasão pelos EUA, devido aos seus recursos energéticos.
Há quem diga que os discursos Trumpistas são apenas bravatas, para esconder o medo da possível derrocada do Império Americano.
Apesar dos rosnados e arreganhar dos dentes, não creio que seja medo.
A meu ver, trata-se realmente de ódio supremacista, arrogância, narcisismo, a autolatria de um personagem em busca de “fazer história” com armas medievais.
E que de fato acredita que todos se curvarão a ele.
Ou porque transtornos de personalidade o impedem de perceber as transformações mundiais.
Ou porque, em as percebendo, quer girar a roda do tempo para trás, como é característico do nazifascismo, em relação aos costumes e a “Eras de Ouro” inexistentes, por exemplo.
Também não acredito que estejamos assistindo ao fim do Império Americano.
Mais provável, para mim, é que Trump acabe apeado do Poder, com a ajuda até de correligionários e grandes grupos econômicos, justamente para impedir essa derrocada.
Também penso que uma das nossas tarefas fundamentais, neste momento, é desmascarar esses nazifascistas, em todo o mundo, impedindo-os de negar o que de fato são e pretendem, como vêm fazendo.
E, para isso, é essencial refrescar a memória da população, acerca dos horrores que cometeram no século passado, além de mostrar as semelhanças dos horrores contra os seus alvos atuais.
Outra tarefa, ainda mais importante, é a luta contra as desigualdades sociais, que fazem sangrar a Democracia, por torná-la apenas formal para bilhões de cidadãos.
Junto com a crise climática, é esse o principal desafio que temos diante de nós, neste século.
Porque as hordas nazifascistas seguirão a empoderar outros Trumps e Bolsonazis, ao redor do mundo.
E, quem sabe, acabem por encontrar líderes mais antenados e inteligentes.
FUUUIIII!!!!
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