quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

O "Caso Pix"

 


Esse recuo, no “Caso Pix”,  foi a pior das medidas que poderiam ser tomadas pelo governo.

Isso empoderou ainda mais a rede de fake news bolsonazista e passou a impressão de que essas mentiras eram verdades.

Deixou, também, a impressão de um governo fraco, "emparedável", ou até "derrubável", a qualquer momento.

Houve, claramente, um erro de cálculo político.

Como li em alguns comentários por aí, o Lula poderia ter entrado em rede nacional, usando o seu carisma, o seu cacife, para desmentir isso.

Ou a Receita poderia ter dado o papo reto, mais ou menos assim: "Não estamos atrás de quem ganha 5 ou 6 mil reais. Estamos atrás é da bandidagem do tráfico, da corrupção, das redes de apostas, dos milionários sonegadores, que movimentam milhões através do Pix. A gente não está atrás de peixe miúdo, mas de tubarão".

Tudo isso teria custo político? Claro que teria.

Mas um custo muito menor do que o desse recuo.

Para mim, temos dois grandes problemas que precisamos resolver urgentemente, ou 2026 irá pro beleléu.

O primeiro é que não dispomos de uma estrutura centralizada, com capacidade de unificação do discurso, captação de recursos e agilidade, para combater a rede de fake news desses nazifascistas (https://pererecadavizinha.blogspot.com/2024/05/sem-organizacao-e-proatividade.html ).

O segundo é que o Lula, infelizmente, ainda não percebeu a importância vital, estratégica, da propaganda e das redes sociais nestes nossos tempos.

Tanto assim, que perdemos dois anos com o Paulo Pimenta à frente da Secom.

A questão é que o Lula é um político "das antigamente".

Por isso, deve achar que esse monstro que temos diante de nós poderá ser derrubado apenas com as armas clássicas da política: discursos, acordos, etc e tal.

Quando, na verdade, temos é de aliar esse armamento às modernas técnicas de propaganda política, para uma atuação eficaz nas redes sociais e na sociedade como um todo.

Entendo a dificuldade do Lula: tenho 64 anos, sou mais "jovem" do que ele.

E, mesmo assim, às vezes sou surpreendida pelas ações desses nazifascistas e pelas técnicas, cada vez mais avançadas, de produção de fake news.

Temos diante de nós uma estrutura bilionária, coordenada, estratégica, com enorme capilaridade e focada no uso da psicologia das massas.

E que, muitas vezes, ainda atua em "parceria" com grandes veículos de comunicação.

Então, é crucial que o Lula acorde para a importância da propaganda e das redes sociais.

E não é passando pano para essa incompreensão dele, como estão fazendo alguns, que iremos ajudá-lo nesse sentido.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Opinião: Resolução do Conselho de Educação do Governo Temer ameaça graduações de deficientes, idosos, mães solteiras e trabalhadores pobres. E pode deixar milhares de estudantes sem os seus diplomas.



É uma medida elitista, perversa, antidemocrática, e talvez até inconstitucional.

Porque pode impedir o acesso de milhares de cidadãos em situação de vulnerabilidade a um diploma de nível superior: idosos, deficientes físicos, mães solteiras, trabalhadores pobres com extensas jornadas de trabalho.

É, também, uma "bomba-relógio", com potencial de prejudicar até mesmo estudantes da classe média, que iniciaram seus estudos desconhecendo essa medida.

Estou a falar da Resolução CNE/CES Nº 7, aprovada em 18 de Dezembro de 2018, no apagar das luzes do Governo de Michel Temer, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).

Ela obriga à realização de centenas de horas de extensão PRESENCIAL, pelos estudantes de todos os cursos de graduação, mesmo do ensino à distância (EAD), como é o meu caso.

E como sempre acontece, diz-se cercada de boníssimas intenções.

Como, por exemplo, aproximar as universidades da sociedade, devolvendo-lhe parcela do Conhecimento que produzem.

Ou até que os projetos de extensão incentivarão o contato dos estudantes com a realidade do País.

No entanto, essa medida mais parece concebida para manter o ensino superior como privilégio de uma casta.

Hoje, apenas 11% do eleitorado brasileiro (cidadãos com 16 anos ou mais) possui uma graduação; mais de 60% dos eleitores possuem, no máximo, o Fundamental completo; os demais, no máximo, o Ensino Médio.

São desses 11% os melhores cargos, salários e aposentadorias, cabendo aos restantes apenas a condição de serviçais.

Uma desigualdade tão impressionante que afasta de pronto essa história de “meritocracia” e “mindset”, discursos cínicos do neoliberalismo.

E que obriga a olhar para o nascedouro dessa concentração, ainda nos primeiros séculos da colonização do Brasil.

Obriga a olhar para as fatias da sociedade desde sempre postas à margem do desenvolvimento econômico e social: negros, pardos, pobres, idosos, deficientes, mães solteiras.

Que poderiam, quem sabe, “macular” esses “Templos do Saber” e escapar (que ousadia!) das condições de sobrevivência a que estão “destinadas”...

Somadas às atividades complementares já exigidas nas graduações, essas atividades de extensão resultarão em cargas adicionais de 400 a 500 horas.

Que, de tão excessivas, seriam suficientes para uma Especialização.

Ainda pior é a exigência paleolítica de que essas atividades extensionistas sejam realizadas PRESENCIALMENTE, mesmo no EAD, como consta no artigo 9º dessa Resolução.  

Assim, um projeto de extensão que totalize 40 horas, por exemplo, com carga máxima diária de 8 horas, consumirá 5 dias, ou praticamente uma semana, PRESENCIALMENTE.

O que, no entanto, representará apenas uns 10% do necessário, a depender da graduação.

E a pergunta que não quer calar é: como é que nós, idosos e portadores de deficiências locomotoras, conseguiremos enfrentar todos esses deslocamentos e trabalhos presenciais, que podem incluir visitas a comunidades, reuniões, entrevistas, organização de palestras e seminários?

E quem pagará os nossos custos de transporte e alimentação, e dos eventos propriamente ditos?

Idem para as mães solteiras.

Muitas realizam graduações à distância porque trabalham durante o dia e, à noite, não têm com quem deixar seus filhos.

Então, como é que poderão simplesmente abandoná-los sozinhos em casa, para a execução desses projetos?

Ou, em arranjando alguém para tomar conta deles, quem pagará tal despesa?

E quanto aos trabalhadores pobres, que precisam se virar entre dois empregos ou “bicos”?

Eles praticamente perderão o direito ao convívio familiar e ainda terão de suportar os custos de toda essa carga adicional das suas graduações?

Sim, porque a propagandeada “devolução de saberes” à sociedade ocorrerá, em muitos casos, só através dos estudantes, vez que muitas instituições privadas “lavam as mãos” diante da execução desses projetos.

Ao fim e ao cabo, nós, os estudantes, é que teremos de levar a extensão à comunidade, gastando tempo e dinheiro.

Por vezes, com o auxílio de muletas e bengalas, ou até carregando crianças de colo.

E ainda “badalando” de graça o nome dessas instituições privadas, em uma espécie de trabalho compulsório não-remunerado.

Outro problema é a maneira como a integração curricular da extensão vem sendo implantada: sem qualquer discussão com os estudantes; sem uma ampla campanha de esclarecimento; e, aparentemente, sem nem mesmo uma pesquisa acerca do perfil do alunado de EAD.

A Resolução CNE/CES 7/2018 foi editada “na calada da noite”, bem ao gosto do presidente da República de então...

Em 24/12/2020, durante o desgoverno Bolsonaro, o MEC prorrogou até dezembro de 2022 o prazo para a implantação dela.

Diz-se que em função da pandemia.

Mas, talvez, em razão do seu potencial de PREJUÍZOS POLÍTICOS.

Como tudo foi realizado sem a ampla e necessária publicidade, só no segundo semestre de 2023 é que muitos estudantes COMEÇARAM a tomar conhecimento dessa Resolução.

E ainda assim, em meio a informações desencontradas.  

Isso significa que poderemos ter, nos próximos anos, milhares de estudantes surpreendidos com a impossibilidade de obtenção do diploma, por inexecução dessas atividades.

Além de milhares que terão de abandonar os seus cursos, por falta de tempo e dinheiro para essa carga excessiva de horas complementares e de extensão.

É uma típica manobra do Estado-Bandido, que é o Estado brasileiro, Robin Wood às avessas, que rouba dos pobres para dar aos ricos.

Ora, basta uma busca no Google para se deparar com uma verdadeira “indústria” de cursos complementares.

Muitos anunciados como “gratuitos”, mas que cobram pelo certificado a ser apresentado à universidade.

Instituições privadas de ensino superior também oferecem um leque desses cursos, muitos igualmente pagos.

Então, o que impedirá o surgimento de “indústria” semelhante em torno da extensão?

E quem serão os beneficiados?

Certamente, não os estudantes pobres, que, muitas vezes, só conseguem cursar uma universidade graças ao FIES.

Mas sim, além dos empresários da Educação, aqueles estudantes mais “abonados”, que não precisam trabalhar e podem pagar por cursos e projetos.

O que os burocratas do MEC precisam entender é que NÃO podem tratar da mesma maneira os desiguais; é esse o ponto central dessa discussão.

Bem vistas as coisas, é como colocar um homem branco, jovem, em boa situação financeira e sem nem sequer uma unha encravada, para competir com um idoso de bengala, ou com uma mulher negra, pobre e mãe solteira.

Onde a Justiça?

Onde a equanimidade?

Onde a Democracia?

Onde o combate às desigualdades sociais?

Penso que também é preciso acabar com todo esse preconceito em relação ao EAD, para o qual muitos desses burocratas, carentes de reciclagem, ainda torcem o nariz.

Aparentemente, desconhecem as grandes universidades do mundo que oferecem cursos complementares, e até de graduação, totalmente à distância.

Além das grandes empresas, inclusive de Tecnologia, que estão formando seus futuros quadros através de EAD.

E basta dar uma olhada na plataforma Coursera e em outras semelhantes, para constatar o que estou a dizer.

O EAD é, sim, um extraordinário meio de aprendizagem e de democratização do ensino superior.

E, assim como o ensino superior presencial, não pode virar boi de piranha das mazelas da Educação brasileira, cujas raízes estão, em verdade, no Ensino Fundamental.

Isso significa que o EAD brasileiro é divino e maravilhoso? Não.

Ele carece, sim, de melhorias, investimentos, nos polos, materiais didáticos, professores e tutores, por exemplo.

Mas as cobranças nesse sentido têm de ser direcionadas às universidades, em vez de transformar os estudantes em uma espécie de Judas em Sábado de Aleluia.

Quero deixar claro que não discuto a importância da extensão para a aprendizagem, pesquisa e interação com a comunidade.

O que questiono é a maneira como isso está sendo feito (sem maiores discussões, sem levar em conta as limitações de grandes fatias sociais e com preconceitos da Pedra Lascada), além da dimensão dessa carga extra que vem sendo agregada aos cursos de graduação.

Ao que li, o MEC estaria modificando essa Resolução, para permitir que uma pequena parcela da extensão seja realizada online.

Mas isso não resolve o problema.

O que resolve é esse ministério observar a equanimidade que tem de nortear tal exigência.

Além de perceber o quão excessiva é toda essa carga.

Bem como, o potencial das novas tecnologias, para tornar o extensionismo até mais criativo e abrangente.

Mas isso só ocorrerá se os estudantes se mobilizarem contra tamanho abuso.

É preciso recorrer à Defensoria Pública, Procuradoria Geral da República (PGR), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e a todas as instituições que possam auxiliar no ajuizamento da competente ação contra essa norma, por inconstitucionalidade e prejuízos, talvez irreparáveis, a milhares de cidadãos.

E eu só lamento é que lei não retroaja para prejudicar.

Porque eu gostaria de ver a reação desses burocratas diante das exigências que hoje colocam a milhares de estudantes, para a obtenção de um diploma de nível superior.


FUUUIIIII!!!!

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Viva Pedro Veriano!




É incrível como pessoas do porte de Pedro Veriano têm a capacidade de nos fazer sentir íntimas delas

Quase como se fôssemos da família.

Quase como se tivéssemos rido e chorado juntos.

Diante de um belo filme, ou de uma bela música.

Ou, simplesmente, a caminhar pelas ruas desta Belém que tanto amamos.

Mas que é, cada vez mais, como diria o poeta, apenas uma fotografia na parede, a doer no fundo da alma...

Creio que não há ninguém que se interesse por arte e cultura, em Belém e no Pará, que nunca tenha ouvido falar do Pedro Veriano.

Que nunca tenha lido as suas críticas de cinema, antes de assistir a um filme.

Ou até depois de assistir, como que para corroborar as próprias impressões.

Foram várias as gerações que Pedro Veriano inspirou com o seu amor ao cinema.

Ele e Luzia Álvares. Duas almas que sempre nos pareceram uma só, como nos amores cinematográficos.

Imagino a dor da Luzia, com a partida do seu companheiro, do seu grande amigo, de uma vida inteira.

Não é apenas a casa e a cama que ficam vazias: é o próprio coração.

Sei que a morte não é nada além de mais um recomeço, nessa longa jornada de cada um de nós.

E por mais dolorosa que pareça aos que ficam, a verdade é que todos iremos nos reencontrar.

Mas eu rogo a Deus que abrace a Luzia e a console, nessa hora tão difícil.

Pedro Veriano é um espírito de tanta luz que, mesmo na morte, consegue nos embalar os sonhos.

A nos conduzir a um reencontro com a nossa adolescência e juventude, e com uma Belém que já não há...

Foram-se muitos dos casarões e mangueiras; vão-se, mais e mais.

Foram-se as crianças a brincar nas calçadas.

Foram-se as famílias a conversar nos batentes das portas, até quase a madrugada.

Foi-se a Belém pequenina... E ela, sim, é que não volta mais!...

Mas nossos corações e retinas são repositórios de toda essa beleza que vimos passar diante de nós, e que aprendemos a reconhecer e a apreciar.

Para muitos de nós, o cinema foi a porta de entrada dessa aprendizagem.

Ele nos abriu os olhos para esse tango entre o tempo e a vida.

Ele nos conduziu às veredas do sonho e da imaginação.

Ele nos fez refletir sobre nós e o mundo.

De filme em filme, também nos atirou nos braços do teatro, música e literatura.

E assim ganhamos esses olhos e asas que nos ajudam a não perder o rumo, mesmo na noite mais escura.

Obrigada, Pedro Veriano, por teres conduzido tantos de nós a essa grande aventura, que são a arte e a cultura.

Que Deus te abençoe muito na tua nova jornada.

E que Ele ampare a Luzia, essa grande mulher, esse grande ser humano, essa brilhante companheira de tantas lutas.

Segue em paz, Pedro.

Não és luz apenas agora, alma sem corpo.

Em verdade, sempre foste luz.