segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Criminosos falsificam vídeo com Renata Vasconcellos e pesquisa eleitoral, para colocar Bolsonaro à frente de Lula. Cuidado: as falsificações de áudios e vídeos, com avançadas técnicas de computador, estão apenas começando. Por incrível que pareça, essas técnicas permitem até “ressuscitar” pessoas. E as fraudes são tão perfeitas que podem até enganar você.




Na semana passada, um vídeo que circulava nas redes sociais assustou políticos e jornalistas.

Nele, a apresentadora do Jornal Nacional, Renata Vasconcellos, anunciava uma pesquisa do Ipec na qual o presidente da República, Jair Bolsonaro, teria 44% das intenções de voto, contra apenas 32% do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Motivo do susto: o vídeo é falso.

Na pesquisa verdadeira do Ipec, é Lula quem tem 44% das intenções de voto, contra 32% de Bolsonaro.

Mas o vídeo falsificado ficou tão perfeito que deixou muita gente de cabelo em pé, com medo das notícias falsas (fake news) que ainda aparecerão nesta campanha eleitoral.

Foi assim: os criminosos gravaram um pedaço do Jornal Nacional, do último 15 de agosto, no qual Renata Vasconcellos falava sobre a nova pesquisa do Ipec.

E aí, no pedacinho em que ela anunciou o resultado da pesquisa, eles substituíram a voz dela por uma voz parecida, lendo o resultado falso.

Também trocaram o gráfico verdadeiro, que apareceu no Jornal Nacional, por um gráfico falso, para mostrar Bolsonaro na frente.

Tudo usando técnicas tão avançadas de montagem de vídeos, que até os pais da Renata Vasconcellos podem ter acreditado que aquela voz falsa era dela.

Essas técnicas são chamadas de “deepfake”, uma expressão inglesa que significa “mentiras profundas”.

E você precisa saber o que é “deepfake”, para não acabar enganado.

Porque, com essas técnicas, é possível fazer com que qualquer pessoa apareça fazendo ou dizendo coisas horríveis.

Como, por exemplo, que é “adorador de satanás” ou “a favor da pedofilia”.

E o pior é que tudo parece tão real, tão verdadeiro, que você pode acabar acreditando.

Por incrível que pareça, com deepfake dá até para “ressuscitar” pessoas.

E até “conversar” com o morto.


O que é deepfake?


Sabe aqueles aplicativos dos smartphones, que trocam a cara e a voz de um famoso, pela sua cara e voz?

A técnica é a mesma.

Só que os vídeos e áudios feitos com deepfake, para campanhas eleitorais, têm uma aparência muito mais verdadeira, para que consigam enganar o eleitor. 

Funciona assim: o falsificador pega um computador “poderoso” e coloca nele um monte de vídeos daquele político.

Aí, pega um programa de deepfake, para manipular, ou seja, “mexer”, nessas imagens de vídeo.

Um programa é uma espécie de “pacote de instruções”, para que um computador faça determinadas coisas.

Tá ligado no Word, que você usa para escrever seus trabalhos da escola, um hino da igreja, ou o seu currículo?

Pois é: o Word é um programa que “diz” ao computador como escrever tudo isso.

Os programas de deepfake examinam todo o rosto do político, que está nas imagens colocadas no computador: o formato, a cor, os movimentos de seus olhos, a maneira como ele movimenta a boca.

Também examinam a maneira como ele fala, como ele diz as coisas.

Aí, o falsificador grava um vídeo, no computador, falando as coisas que ele quer botar na boca do político. Faz até os gestos que ele quer que o político apareça fazendo.

O programa de deepfake mistura, então, todos esses materiais, e cria uma imagem do político, repetindo, com a voz e o corpo dele, tudo aquilo que o falsificador falou e fez naquele vídeo que gravou.

Ou seja: o deepfake cria uma espécie de “fantasma de computador”, uma coisa que só aconteceu no computador.

Aí, o vídeo falso é espalhado nas redes sociais.


Deepfake até “ressuscita” pessoas


Com deepfake dá até para “ressuscitar” pessoas.

Em 2019, um museu da Flórida, nos Estados Unidos criou, com deepfake, mais de 100 vídeos do pintor espanhol Salvador Dali, que morreu em 1989.

Os vídeos foram espalhados em várias áreas do museu e, segundo reportagens na internet, dava até para “bater papo” com o pintor: https://www.youtube.com/watch?v=faKicQeLHuo

Isso acontece porque as técnicas de deepfake usam “inteligência artificial”, que é quando a máquina aprende e toma decisões, com base nas informações que recebeu.

Sabe quando você faz uma pesquisa no Google e ele lhe sugere um monte de sites?

Ou quando um aplicativo do seu smartphone mostra o caminho que você deve seguir, para chegar a um lugar?

Tudo isso usa inteligência artificial, como vários outros programas que a gente utiliza no dia a dia. 


Deepfake é usado também para piadas


Há gente que usa deepfake apenas para fazer vídeos de humor.

É o caso do jornalista Bruno Sartori, que fez aquele vídeo famoso, com as caras e as vozes de Lula e Bolsonaro, nos corpos das atrizes da novela “A Usurpadora”: https://www.youtube.com/watch?v=H9iB1Jzq8Ac

E é o Bruno quem mostra como um áudio falso pode enganar direitinho as “tias do zap”, ou seja, aquelas senhoras que acreditam em tudo que é notícia falsa, que elas recebem no WhatsApp e Telegram.

Ouça o áudio falso da ex-presidenta Dilma Rousseff, que o Bruno fez com deepfake e mandou para a tia dele: https://www.youtube.com/watch?v=EUz9E-geuz8


Com deepfake, todo cuidado é pouco


Acho que já deu para entender que deepfake, quando usada para o mal, pode ser muito perigosa, já que engana direitinho as pessoas.

Coisa que é ainda mais preocupante porque já existe, no Brasil, uma grande fábrica de notícias falsas, contra a Democracia e as eleições.

Então, fique esperto, para não ser enganado.

Veja, nesta reportagem da TV Cultura de São Paulo, como se defender desses áudios e vídeos falsos: https://www.youtube.com/watch?v=uSSTPSWg8Jk

Veja, também, este vídeo muito bom, de 2020, da Justiça Eleitoral, sobre deepfake: https://www.youtube.com/watch?v=K_FNhNIM9JY

Aqui, um vídeo de 2019, do Gilmar Lopes, do E-Farsas, com 8 dicas para identificar notícias falsas:https://www.youtube.com/watch?v=ep6BabAPOwU

Aqui, notícia do UOL sobre o vídeo falsificado com a Renata Vasconcelos e a pesquisa do Ipec: https://www.youtube.com/watch?v=X3tU01FDPhA

Aqui, notícia do G1 sobre o caso: https://g1.globo.com/fato-ou-fake/eleicoes/noticia/2022/08/17/e-fake-video-que-mostra-bolsonaro-com-44percent-das-intencoes-de-voto-na-pesquisa-ipec-divulgada-em-15-de-agosto-de-2022.ghtml

 

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Boa parte dessa matéria foi extraída de reportagem publicada pela Perereca da Vizinha, em 11 de maio deste ano, e que pode ser lida aqui: https://pererecadavizinha.blogspot.com/2022/05/voce-viu-um-video-em-que-o-seu.html

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