segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Debate da Band: Lula pasteurizado não consegue rebater Bolsonaro. Mas presidente é desmascarado pelas mulheres, as estrelas da noite.




Lula foi muito melhor na entrevista ao Jornal Nacional do que no debate da Band.

Deve ter sido convencido pelos marqueteiros a ser menos Lula, a não ir pra cima de Bolsonaro, o que é um equívoco.

É claro que Lula precisava falar sobre as medidas anticorrupção de seus governos.

Mas deveria, sim, ter citado os muitos escândalos de corrupção de Bolsonaro.

Como a propina em barras de ouro e as Bíblias profanadas, com fotos do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro.

Como o bilionário “Orçamento Secreto”, talvez o maior escândalo de corrupção deste país.

Como o superfaturamento até de vacinas, durante a pandemia.

O “Lulinha Paz e Amor” não cai bem nessas horas: é insosso, não fede nem cheira, soa falso.

Deixa a impressão de que o ex-presidente foi anestesiado ou abduzido, para lhe retirarem algumas das suas melhores qualidades.

Como a capacidade de emitir respostas firmes, certeiras e destemidas.

Mas o pior é que ignorar os casos de corrupção do atual governo, é como que passar um atestado de bons antecedentes a Bolsonaro.

E se não fosse a senadora Simone Tebet, que denunciou principalmente os escândalos ocorridos na pandemia, Bolsonaro sairia do debate como se nada houvesse a desaboná-lo; como se as denúncias contra ele não passassem de fake news.

Já na primeira pergunta do debate, Bolsonaro indagou sobre as acusações de corrupção contra os governos de Lula.

Um samba de uma nota só totalmente previsível.

Um flanco que o ex-presidente não quis ou não soube aproveitar.

Ele poderia ter dito a Bolsonaro: “Mas que moral o senhor tem pra acusar alguém de corrupção?”

E aí, poderia ter falado sobre os principais escândalos de Bolsonaro.

E fecharia, com chave de ouro, lembrando as medidas anticorrupção de seus governos, os sigilos de 100 anos decretados por Bolsonaro e os constantes afastamentos de delegados da PF.

No entanto, Lula se limitou a falar sobre as suas medidas anticorrupção.

Mais tarde, lembrou dos sigilos de 100 anos.

De resto, nada.

Ou melhor: também levantou a bola dos escândalos da CPI da Covid, para Tebet chutar.

Mas ela, depois de falar da corrupção apurada pela CPI, engatou críticas às acusações de corrupção contra os governos do ex-presidente, dos quais o partido dela fez parte, aliás.

Um dos principais equívocos da campanha de Lula foi acreditar na possibilidade de se esquivar de determinados temas.

Um equívoco que atrasa a concepção de uma estratégia correta, até porque persistente, apesar dos choques de realidade.

É o caso das denúncias de corrupção, cuja explicação já deveria estar clara, concisa e na ponta da língua, até para servir a eventuais contra-ataques.

É o caso, também, da pauta dos costumes, da qual a campanha de Lula só agora está descobrindo o peso, ao não conseguir virar votos entre boa parte dos evangélicos.

Não fossem os ataques de Bolsonaro à jornalista Vera Magalhães e à Simone Tebet, o atual presidente teria até conquistado alguns votos nesse debate.

Tanto por causa do desempenho de um Lula pasteurizado, quanto devido às mentiras que ele, Bolsonaro, contou em profusão, os números absurdos que citou, sem que fosse contestado devidamente.

É verdade que Ciro Gomes também poderia ter feito essa contestação.

No entanto, ele preferiu colocar Lula e Bolsonaro no mesmo patamar e atacar os dois, de forma até mais incisiva do que fez Tebet.

Uma típica tentativa cirista de se equilibrar em um centro inexistente, em uma disputa entre a Democracia e o nazifascismo.

De qualquer forma, penso que caberia é a Lula esse papel de desconstrução de Bolsonaro.

E não apenas porque se trata de seu principal oponente, mas porque a capacidade de comunicação de Lula torna compreensíveis mesmo os temas mais complicados.

Um brinde, portanto, às mulheres, as grandes estrelas desse debate.

Ao atacar Vera Magalhães de forma asquerosa, apenas porque ela cumpria a sua função jornalística, Bolsonaro mostrou, mais uma vez, e ao vivo e em cores para milhões de brasileiras, todo o seu desprezo às mulheres, cujos votos vinha tentando conquistar.

E ao cerrarem fileiras em defesa da jornalista, as senadoras Simone Tebet e Soraya Thronicke responderam à altura, a esse comportamento troglodítico.

Tebet lembrou os ataques que sofreu, por parte de aliados do presidente e das redes de fake news bolsonaristas, quando integrava a CPI da Covid.

E além de enfrentar Bolsonaro com um sonoro “eu não tenho medo do senhor”, ainda perguntou: “por que é que o senhor tem tanta raiva das mulheres?”

Mas foi de Soraya Thronicke a melhor resposta ao presidente.

“Quando homens são tchutchucas com outros homens, mas vêm pra cima da gente (das mulheres) feito Tigrão, eu fico realmente braba”, disse ela, lembrando o apelido de Bolsonaro de “Tchutchuca do Centrão”.

Espera-se que a campanha de Lula corrija os equívocos que vimos, no debate da Band.

Ele é o único com chances reais de derrotar Bolsonaro. 

Mas o Lula pasteurizado é que nem o rapaz da Bombril: todo mundo conhece e acha um amor.

Só que ninguém apostaria nele nem sequer um tostão furado, para comandar um país como o Brasil.

Já o Lula verdadeiro, o líder das pesquisas, fala com honestidade e destemor, responde à altura às provocações, empolga quem o escuta. 

Fala também sobre a fome, a inflação, a situação desesperadora dos brasileiros, muito mais do que falou nesse debate.

Uma pena que tenha sido anestesiado ou abduzido.

FUUUIIIII!!!!!

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