quarta-feira, 9 de março de 2022

Eleições 2022: podemos, sim, vencer o monstro. Mas desde que tenhamos maturidade política.



 

Incrível como muitos oposicionistas parecem não perceber as gigantescas dificuldades que enfrentaremos, para derrotar Bolsonaro e o seu exército de reacionários, nestas eleições.

O primeiro turno ocorrerá em 2 de outubro, ou seja, em menos de 7 meses.

Mesmo assim, ainda há dirigentes e militantes petistas tentando melar a escolha do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para vice de Lula.

Militantes de esquerda também criticam alianças com governadores que são adversários de Bolsonaro, como é o caso de Helder, aqui no Pará.

Para completar o desastre, grande parte das oposições parece desatenta à importância da disputa pelo Congresso Nacional, apesar de tudo o que já vimos acontecer naquele puxadinho do inferno.

O xis da questão é que alguns companheiros não compreendem, ou não querem compreender, que estas eleições, muito mais do que todas as anteriores, terão de ser regidas pelo pragmatismo, e não pelo ideal.

Sonhar não resolve nada, só atrapalha: induz a um preocupante clima de “já ganhou”, que nos impede de enxergar a real dimensão dos desafios que temos pela frente.

Temos de lutar pela eleição de Lula, mas também pela eleição de um Congresso Nacional que lhe permita articular um mínimo de governabilidade, caso seja eleito.

Mas não é “apenas” isso: temos também de ter um plano B, para o caso de ele não ser eleito.

E aí precisaremos, desesperadamente, não apenas de governadores que continuem a fazer frente a Bolsonaro.

Mas, sobretudo, de bancadas, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, suficientemente fortes, confiáveis e coesas para que consigam, ao menos, barrar o avanço das propostas desses reacionários e de seu projeto de destruição do Brasil.

Entre outros motivos, para que ainda existam condições legais, em 2026, para a reconquista do poder, pela via eleitoral.

No entanto, o que é que podemos enxergar, numa rápida olhada, quanto aos exércitos do lado de lá?

Bolsonaro estará sentado na máquina federal, em cujo orçamento, de R$ 4,7 trilhões para este ano, cabem umas quatro vezes os orçamentos, somados, de todos os estados brasileiros.

É muita, muita grana... Incluindo uma milionária verba de propaganda, para distribuição a milhares de veículos de comunicação.

E isso sem falar na estrutura própria de comunicação do governo federal, que, sozinha, atinge 70 milhões de pessoas, nas localidades mais distantes deste país, através do programa A Voz do Brasil.  

Além disso, Bolsonaro terá à sua disposição uma verdadeira fábrica de canetas, para a distribuição de cargos e a contratação de cachorros, periquitos e papagaios, em todo o Brasil.  

Aos candidatos apoiados por ele, estão sendo liberados bilhões de reais, para a campanha eleitoral e obras eleitoreiras.

Ele também detém, faça chuva ou faça sol, pelo menos 20% do eleitorado. Ou seja, mais de 30 milhões de eleitores, milhares deles, incluindo milicianos, fortemente armados.

Conta, ainda, com uma poderosa rede de fake news e com o apoio do nazifascismo internacional, que já realizou, e ainda realizará, vários ataques “de fora pra dentro”.

Conta, também, com a militância de magistrados e promotores e procuradores de Justiça, que criarão vários factoides, para delírio da grande imprensa; com o apoio de militares e policiais, capturados por essa histeria coletiva que atinge parte da população; com grandes empresários que passarão dinheiro por baixo dos panos para os seus candidatos; com evangélicos aterrorizados por fakes que vão surgindo a cada momento, como é o caso recente, e anterior à Guerra da Ucrânia, da “iminência” do arrebatamento e do fim do mundo.

Será que deu para entender o tamanho do poder, belicosidade e histeria das forças que enfrentaremos, e para as quais estas eleições serão um jogo de vale-tudo, e de tudo ou nada?

Essa não será uma batalha para sonhadores ou para quem tem “nervos fracos” e se assusta com o primeiro urro. Tampouco será uma batalha para quem acredita que os seus ideais são o centro do mundo.

Valerá, mais do que nunca, uma velha máxima remasterizada: o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Desde que não seja um nazifascista, é claro.

Porque se não somarmos forças à esquerda e à direita, construindo uma ampla e vigorosa frente contra esses reacionários, seremos fragorosamente derrotados, inclusive em um plano B.

E aí, prepare-se para uma mortandade nunca vista de pretos, pobres, gays, mulheres, idosos e doentes, os alvos desses fascistas.

Prepare-se, também, para muitas perseguições, espancamentos, prisões e assassinatos de oposicionistas. Ou seja, para um patamar de luta muito mais opressivo.

E prepare-se para viver, depois de Bolsonaro, uns 20 anos de generais-presidentes, tipo um Braga Netto, já que eles controlarão o Congresso, a PGR e o STF e criarão todas as leis que quiserem.

Se tudo isso se concretizar, como até já escrevi aqui (https://pererecadavizinha.blogspot.com/2021/11/um-projeto-de-desurbanizacao-do-brasil.html), o Brasil que veremos, já na década de 2030, parecerá saído de um pesadelo.

Mas apesar de todas as dificuldades, acredito, sim, que podemos vencer essa batalha, contra a máquina, contra o dinheiro, contra o terror.

Ao longo de tantas décadas de luta política, não será a primeira vez que vi isso, e nem será a última.

No entanto, essa vitória só será realmente possível se mantivermos os pés no chão.

Pesquisas eleitorais apontam tendências do eleitorado e nos ajudam a perceber os acertos e a corrigir os erros.

Mas elas não representam uma vitória antecipada: muitas vezes, aliás, o resultado eleitoral é o oposto do que anunciavam.

Então, tenha em mente que embora Lula detenha uma vantagem expressiva e boas chances de chegar à Presidência, a vitória dele só se concretizará após a contabilização dos votos.  

Além disso, tal vitória terá de ser por uma bela margem de votos, devido às fakes news contra a urna eleitoral e às ameaças de reações armadas.

E terá de abranger, também, uma parcela significativa do Congresso, que, tenha certeza, será alvo de uma disputa ainda mais dramática do que a Presidência da República.

Sinto muito pelos sonhadores, mas não há outro caminho para chegarmos à vitória, a não ser através da construção de todas as alianças possíveis, em todos os estados, agregando todos aqueles que se opõem a esses fascistas.

Uma ampla frente, com a junção de recursos humanos e materiais, permitirá que montemos a grande estrutura de que precisaremos, para chegar às localidades mais distantes deste país, a fim de disseminar informações, realizar propaganda política, combater fake news e incentivar doações à campanha do Lula e dos nossos candidatos.

Aqui no Pará, confesso que até me emociono ao ver companheiros como Ana Júlia, Paulo Rocha e Úrsula Vidal se preparando para disputar cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. E só lamento é que não tenhamos nessa batalha histórica também o Edmilson, outro grande puxador de votos.

Todos esses cidadãos e cidadãs serão importantíssimos para construção da governabilidade, caso Lula seja eleito. Mas não só.

Pelo perfil corajoso e comprometido com as lutas populares, todos eles serão fundamentais, caso percamos estas eleições e precisemos de uma barreira para conter esses reacionários, até as eleições de 2026.

Também tenho certeza de que Helder e tantos outros companheiros do MDB, de perfil progressista, como é o caso de Jader e Elcione, estarão conosco nessa batalha.   

Afinal, todos eles foram moldados na luta pela redemocratização do Brasil; no seio desse grande partido que é o MDB, que gerou verdadeiros gigantes da política nacional, como é o caso do inesquecível Ulysses Guimarães.

Espero que você que me lê reflita sobre tudo isto: podemos, sim, vencer esse monstro, desde que tenhamos a necessária maturidade política, para manter os pés no chão.

Que Deus esteja conosco, a iluminar os nossos caminhos.

E que Ele abençoe esse nosso arco multicolorido de alianças, como desde sempre multicoloridas são as esquerdas.

FUUIIIII!!!!!!

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