segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

A guerra dos macacos furiosos



 

Acho curiosa a defesa, por vezes apaixonada, ora dos Estados Unidos/Otan, ora da Rússia, na Guerra da Ucrânia, por parte de internautas.

O que muitos não parecem entender é que estamos diante de uma guerra capitalista, apenas e tão somente por maiores nacos de dinheiro e poder.

Isso significa que quem quer que seja o ganhador, os perdedores seremos nós, os trabalhadores, os bilhões de peões desse tabuleiro.

E não só pelos impactos econômicos desse conflito, mas pelas mortes de centenas ou milhares de irmãos russos e ucranianos, chamados a empunhar fuzis contra outros trabalhadores.

Já os verdadeiros vitoriosos serão os de sempre: os donos das grandes fortunas, que controlam as riquezas produzidas por nós, em todo o mundo.

Nem Rússia nem Estados Unidos/Otan estão preocupados com os nossos salários ou condições de vida.

Também não lhes preocupam os efeitos de uma guerra dessas para o planeta, e nem mesmo para a nossa humanidade, que sempre se esvai um pouco diante dessas carnificinas.

Tudo o que lhes importa são os lucros das várias empresas que representam, e como ficará a partilha do mundo, a partir de agora.

Por isso, é uma tremenda ilusão acreditar que exista alguma causa “nobre” nessa guerra.

Os senhores do mundo, que se utilizam de Biden e Putin como máximos representantes, nunca se importaram com as crianças que morrem de fome. Com os velhinhos cujas aposentadorias mal dão para comer. Com as mulheres que morrem sem atendimento na porta dos hospitais. Com as pessoas obrigadas a viver nas ruas, por falta de uma casa.

Então, por que é que se importariam com as centenas, milhares de pessoas que morrerão em mais essa guerra? Ou com a “liberdade” da Ucrânia, país que não passa de mero joguete nessa disputa?

Nem mesmo as imagens de mortos, feridos e refugiados, que exibem nos veículos de comunicação que controlam, têm finalidade humanitária: são apenas parte da estratégia para manipular a opinião pública, levando-a a se posicionar ao lado de um ou de outro.

Em busca de mais e mais dinheiro e poder, esses magnatas nunca se detiveram diante dos massacres de milhões de seres humanos, que provocaram ao redor do mundo.

E menos ainda se detêm diante da destruição ambiental, que coloca em risco a sobrevivência de toda a espécie humana, e de quase tudo o que vive neste planeta.

Habituados a mandar em tudo e em todos, eles realmente acreditam que sobreviverão à toda a miséria e devastação que semeiam, e até a um apocalipse, haja vista as fortunas que gastam na construção de abrigos nucleares e na tentativa de colonização do espaço.

Penso que a dificuldade de muitos entenderem que essa é apenas mais uma guerra do capitalismo, vem dessa insistência de se continuar a chamar a Rússia e a China de países “comunistas”.

Não, não são comunistas: são países capitalistas, onde os trabalhadores continuam a ser explorados, da mesma forma que acontece nos Estados Unidos, e talvez até um pouco mais do que em alguns países europeus.

E se a Rússia e a China escancaram, com os seus regimes autoritários, a falta de liberdade dos trabalhadores, a coisa não é muito melhor nos Estados Unidos, para boa parte da população.

Afinal, que liberdade tem, nos Estados Unidos, um trabalhador miserável, da base da pirâmide, a não ser a de trabalhar até a morte?

Na verdade, quando falamos, no Ocidente, de Liberdade e Democracia, estamos a falar apenas do topo e das classes intermediárias da pirâmide social.

Porque Liberdade e Democracia ainda são conquistas muito, muito distantes para a maioria esmagadora das nossas populações, cujas vidas giram em torno apenas da obtenção de um prato de comida, dia após dia, e não raras vezes em condições subumanas.

Não acredito que algum dia tenhamos um país verdadeiramente comunista, onde os meios de produção pertençam a todos, e onde todos vivam em tamanha harmonia que já não haja necessidade do Estado.

Penso que esse sonho, essa utopia, desconsidera o principal: a essência do macaco humano.

É verdade: somos um animal extraordinário. O único com consciência de si e do mundo, capaz até mesmo de filosofar sobre toda a destruição que provoca...

Mas somos, inegavelmente, um animal perigoso, que precisa de contenção permanente, para não prejudicar, violar, agredir, matar outros macacos ao redor, ou até mesmo destruir a própria espécie, o que é um caso raro, talvez único, entre todas as espécies animais.

Essa periculosidade não nos vem apenas dos nossos muitos “bandos”, das nossas muitas sociedades, como defendem alguns.

Ela é biológica: somos animais predadores e territoriais. Primatas cuja organização social, como acontece também com outros primatas e outros mamíferos, tem a força bruta entre os seus elementos definidores.

E nós precisamos é compreender isto: quem realmente somos.

Em vez de continuarmos a atravessar séculos e mais séculos diante de uma imagem idealizada no espelho.

Muitos analistas não acreditam que o conflito na Ucrânia descambará para uma guerra mundial ou nuclear, até porque os macacos furiosos em disputa possuem armamentos suficientes para destruir várias vezes uns aos outros.

Permaneceriam, assim, apenas no eriçar de pelos, grunhidos e outras exibições ritualísticas.

Ao fim e ao cabo, só os pobres irmãos ucranianos é que acabariam sofrendo, diretamente, os efeitos devastadores dessa fúria, já que, para o resto de nós, as consequências seriam apenas econômicas.

No entanto, creio que há sinais preocupantes de que essa guerra pode, de fato, alastrar-se para o resto do mundo, ou se prolongar por muito, muito tempo.

Um deles é o envio de armas à Ucrânia, por vários países europeus, entre os quais a Alemanha, para delícia da indústria bélica.

Outro, também para delícia da indústria bélica, o fato de Putin ter colocado em alerta as equipes responsáveis pela utilização de armas nucleares, diante das várias retaliações dos Estados Unidos/Otan.

É preciso não esquecer que os Estados Unidos, que antes controlavam o mundo, perderam grandes espaços para a Rússia e a China, que diversificaram suas economias e hoje mantêm negócios, nas mais diferentes áreas, com vários países, além de terem se armado até os dentes, para poderem encarar os “cowboys”.

Daí que é uma incógnita até onde todos estarão dispostos a ir, para reconquistar o que perderam, ou para manter o que conquistaram, até porque, como já dito, vidas humanas e nada, são, para os envolvidos nessa disputa, uma e a mesma coisa.

Por isso, não perca seu tempo a defender a Rússia ou os Estados Unidos/Otan.

Em vez disso, precisamos é nos mobilizar, em todo o mundo, a fim de não continuarmos nas mãos de meia dúzia de macacos alucinados, cuja ganância e constantes ataques de fúria assassinam milhares de irmãos e colocam em risco a nossa própria sobrevivência como espécie.

Eles precisam ser contidos: seus lucros e suas fortunas têm de ser fortemente taxados; seus negócios têm de ser fiscalizados, investigados e até suprimidos, quando incompatíveis com os interesses sociais e ambientais. E aqueles dentre eles que cometem crimes, têm de ir para a cadeia, como acontece com qualquer cidadão.

Precisamos dar um salto evolutivo, rumo a um sistema econômico mais justo e à uma sociedade mais tolerante, mais democrática, mais solidária, mais respeitosa em relação ao ser humano, à Vida e ao planeta.

São essas as grandes tarefas, deste e dos próximos séculos, para o macaco humano e os seus muitos “bandos”, em todo o mundo.

Tarefas que podem parecer difíceis, ou até impossíveis, mas que acabam até parecendo pequenas, quando pensamos no quanto já caminhamos, desde que descemos das árvores, até chegarmos aqui.

E não se esqueça: ore pelos nossos irmãos ucranianos, colocados no meio desse horror por causa de disputas comerciais, que não valem nem sequer o dedo mindinho de um único ser humano.

Que Deus os console e proteja, assim como a todos nós.

FUUIIII!!!!!

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