quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Empresários financiam campanha de Eguchi a prefeito de Belém. Quase 60% das doações para o candidato vieram de sócios ou donos de empresas da capital e do interior. Entre os doadores do delegado há até gente envolvida em acusações de trabalho escravo, crimes ambientais e fraude fiscal. Um quarto das doações para a campanha dele são de origem não identificada, mesmo problema que levou à rejeição de suas contas da campanha de 2018, pelo TRE. Veja a relação dos empresários que doaram acima de R$ 2 mil.

 


Empresários de Belém e de outros municípios, alguns deles milionários e até envolvidos em acusações de trabalho escravo e crimes ambientais, estão entre os maiores doadores de dinheiro para a campanha do delegado da Polícia Federal Everaldo Eguchi, que concorre à prefeitura com o apoio do presidente Jair Bolsonaro.

Entre as 163 doações que o candidato declarou até a última segunda-feira (23/11) também existem 41 de origem não identificada, o que representa um quarto do total. 

A irregularidade é a mesma que levou à desaprovação das contas de campanha de Eguchi pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), nas eleições de 2018, quando concorreu a deputado federal.

A decisão, que transitou em julgado no último 31 de outubro, determina que ele devolva R$ 16 mil aos cofres públicos.

Já a campanha de Edmilson Rodrigues, também candidato a prefeito Belém, recebeu mais de 90% das doações do partido dele, o PSOL, e do PT. Nas contas de campanha dele, há apenas dois doadores não identificados. 

 

Pelo menos 59% vieram de empresários

 

Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até a última segunda-feira o dinheiro de empresários já representava pelo menos 59% das doações de origem identificada para a campanha de Eguchi. Outros 7% vieram da Direção do Patriota.

Mas como a Perereca pesquisou nome a nome apenas as 53 maiores doações (aquelas iguais ou acima de R$ 1.000,00), não há como afirmar se os 34% restantes eram apenas de cidadãos comuns.

Até a última segunda-feira, Eguchi havia declarado apenas R$ 235.315,00 em doações. Desse total, R$ 21.170,00 eram de origem não identificada.

Dos R$ 214.145,00 restantes (doadores identificados), pelo menos R$ 125.545,00 vieram de empresários e R$ 15.900,00 da direção partidária, restando R$ 72.700,00 que poderiam ou não ser apenas de “cidadãos comuns”. 

 

Acusações de trabalho escravo...

 

O maior doador da campanha de Eguchi é Reinaldo José Zucatelli, que doou R$ 20 mil. Em maio de 2002, uma fiscalização da Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e da Polícia Federal constatou várias irregularidades em uma fazenda pertencente a ele, no município de Marabá, no Sudeste do Pará.

Segundo a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), mais de 70 trabalhadores viviam ali há anos, mas não possuíam contrato de trabalho. As condições de vida eram degradantes: a água para beber, tomar banho e preparar a comida vinha de um igarapé, também usado para dar de beber ao gado. Os alojamentos eram barracos no meio da mata, com piso de chão batido e cobertos com lona, sem cozinha ou banheiro.   

O caso só foi sentenciado, em primeira instância, em 2009, ou 7 anos depois. O fazendeiro, o gerente e testemunhas negaram as acusações. O juiz entendeu que Zucatelli e o gerente não poderiam ser condenados por trabalho escravo, por falta de provas. Mas o principal, a seu ver, é que Lei 10.803/03, que descreveu as práticas trabalhistas enquadráveis nesse tipo de crime, só entrou em vigor em dezembro de 2003, ou depois do fato. 

No entanto, o juiz condenou cada um a mais de 3 anos de reclusão por outros crimes. Basicamente, falsificação de documentos públicos, devido à falta de anotações nas carteiras de trabalho. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região negou os recursos do fazendeiro, do gerente e do MPF. Mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde o caso só chegou em 2015, declarou as punições extintas, devido à prescrição pelo tempo decorrido. 

 

...Crimes ambientais...

 

Sediado em Marabá, o grupo empresarial de Zucatelli é um dos mais poderosos do Norte do país: além de fazendas de gado e plantio de eucalipto, também atua nas áreas de Seguros, pavimentação asfáltica e comércio de veículos, máquinas e implementos agrícolas, inclusive para prefeituras do Pará e de outros estados. 

Mas ele não foi o único rico e poderoso empresário a contribuir para a campanha de Eguchi. Outro grande empresário é Arnaldo Betzel, ex-presidente do Sindicato Rural de Paragominas, que declarou ter doado apenas R$ 5 mil. Ele é o patriarca de um grupo cujas empresas localizadas pela Perereca somam cerca de R$ 8,5 milhões em capital social declarado. 

Boa parte das empresas está concentrada no município de Benevides, como a EBL – Exportadora Benevides, a Hadex Comércio e Indústria de Madeira e a Benevides Madeiras. Mas há também uma empresa sediada no Acará, a Goola Indústria Comércio e Exportação de Alimentos (antiga Angus), e uma filial da Benevides Madeiras em Melgaço, na Ilha do Marajó. 

Em 2018, Arnaldo Andrade Betzel, filho e sócio do Betzel doador da campanha de Eguchi, foi multado pelo IBAMA em cerca de R$ 2,2 milhões, por desmatamentos ilegais. Mesmo assim, o grupo segue exportando madeira para a Bélgica, Holanda, França e Dinamarca, e polpa de frutas, como o açaí, para a Alemanha.

Outro empresário acusado de crimes ambientais, que também doou dinheiro (R$ 6.295,00) à campanha do delegado, é Eduardo Yasuji Martins Eguchi, irmão do candidato. Em 11 de novembro, o juiz Raimundo Rodrigues Santana, da 5ª Vara da Fazenda e Tutelas Coletivas de Belém, determinou o bloqueio de R$ 3 milhões em bens de Eduardo, da Tecniflora Ltda, que pertenceu a ele, e de mais quatro pessoas, devido a um suposto esquema de fraudes para acobertar a extração e comércio de madeira ilegal.

(Leia aqui: https://pererecadavizinha.blogspot.com/2020/11/justica-bloqueia-bens-de-eduardo-eguchi.html).

 

...e apropriação de ICMS

 

Outro doador às voltas com a Justiça é o empresário Antonio de Abreu Lobão, que doou R$ 1.000,00. Sócio das empresas Super Luz Comércio e Serviços e Centro Elétrico Ltda, ele chegou a ser preso, em dezembro de 2014, durante a Operação Poraquê, deflagrada pelo  Ministério Público do Pará (MP-PA) e pela Secretaria de Estado da Fazenda (SEFA), para investigar fraudes licitatórias e sonegação fiscal que teriam ocorrido em prefeituras do interior. 

Lobão foi preso porque a polícia encontrou, na casa dele, duas armas (revólver e espingarda) sem registro. No último 19 de novembro, ele foi denunciado pelo MP-PA à Justiça por crimes contra a ordem tributária. Durante dois anos, diz o MP-PA, o empresário teria se apropriado de mais de R$ 3 milhões em ICMS, que o Centro Elétrico Ltda cobrava dos clientes, embutido nas notas fiscais, mas não repassava ao Fisco. O processo é o de número 0019896-28.2020.8.14.0401 e tramita na 13 Vara Criminal de Belém.

 

Veja outros empresários, além de Zucatelli, Betzel e Eduardo Eguchi, que doaram para a campanha do delegado (na lista, apenas as doações iguais ou acima de R$ 2 mil):

1-Geraldo Kohei Yamamoto, dono da Master Jeans Comércio e Confecção (aparentemente ligada ao grupo Yamcol). Doou R$ 18 mil; 

2-Francisco Nunes Viana Neto, seria sócio da construtora Perfil Engenharia Ltda. Doou R$ 12.200,00;

3-Cleomar Carneiro de Moura, produtor rural (e cartorário). Doou R$ 10 mil; 

4-Fabrízio de Almeida Gonçalves, sócio da construtora Santa Rita Engenharia Ltda. Doou R$ 7.500,00; 

5-Edison Pacheco Gonzales Junior, seria sócio da Indústria e Comércio de Conservas Alteroza Ltda, que fabrica palmito em conserva, no município de Anajás, na Ilha do Marajó. Doou R$ 5.000,00;

6-Acácio Antonio de Almeida Gonçalves, sócio da construtora GM Engenharia Empreendimentos Ltda. Doou R$ 5.000,00;

7-Roza Martinha Cabral Rebelo Vianna, sócia da Rebelo Indústria, Comércio e Navegação Ltda (Reicon) e da Fazenda Santo Ambrósio, no município de Chaves, na Ilha do Marajó. Doou R$ 4.500,00;

8-Armando Câmara Uchoa Junior, dono da construtora Engefix Construções Eireli, sediada em Ananindeua (no site do TSE, o nome está grafado “Armanda”, mas o CPF é dele). Doou R$ 3.000,00;

9-Alexandre Antunes Renda, seria sócio administrador da Veloz – Química, Derivados de Petróleo e Solventes Ltda (Veloz Tintas), sediada em Benevides. Doou R$ 3.000,00;

10-Maura Bringel Erse, dona da construtora Marquise Serviços de Construção Eireli (MG Construtora). Doou R$ 2.500,00;

11-Ivan Lopes de Carvalho, sócio da empresa de instalação e manutenção elétrica Carvalho’s Comércio e Serviços de Manutenção Ltda (Estrutura – Materiais de Construção). Doou R$ 2.400,00;

12-Walter Filizola da Silva Filho, seria sócio da WG Filizola Representações Ltda. Doou R$ 2.150,00;

13-Neuro Zortea, seria sócio das empresas J Evelin Comércio de Móveis Ltda (Vitta Ambientes Planejados) e NTZ Comércio de Móveis Ltda. Doou R$ 2.000,00;

14-Fábio Yamamoto Inagaki, seria sócio da empresa Yamamoto Comércio Ltda (Yamcol). Doou R$ 2.000,00;

15-Agnaldo Novaes de Lima, seria sócio da empresa M.J Novaes de Lima & Cia Ltda (Curtume Ideal). Doou R$ 2.000,00

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