sexta-feira, 6 de novembro de 2020

A Tomada de Belém

 


Com uma reprovação recorde de 83% até no amigo Ibope, o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, virou uma espécie de encosto: ninguém o quer por perto, já que causa um estrago danado ao coitado de quem se aproxima...

Mas como desgraça só quer começo, pode ficar ainda pior.

Caso se confirmem as pesquisas, o segundo turno das eleições de Belém será entre dois candidatos de oposição ao prefeito (Edmilson Rodrigues e José Priante), o que será um fato inédito, pelo menos na história recente da capital.

É verdade: Duciomar não conseguiu colocar o seu candidato no segundo turno.

Mas havia Zenaldo, das fileiras tucanas, então comandadas por Jatene, de quem Duciomar foi a criatura mais impressionante...

Assim, nem tudo estava perdido para Dudu.

Naquele segundo turno de 2012, havia a possibilidade de eleger um “sucessor amigo”, que não submeteria a sua administração a um pente-fino, ou jogaria todos os seus apoiadores na rua da amargura.

Bem diferente, porém, será a situação de Zenaldo, se confirmadas as pesquisas: a quem ele poderá chamar de “sucessor amigo”?

Ao seu arqui-inimigo ideológico Edmilson Rodrigues?

A José Priante, integrante da família Barbalho, cujo coração “é um pote até aqui de mágoa”?

Pode-se até imaginar, diante de um quadro desses, que o prefeito acabe obrigado a um movimento em direção a Priante.

Em primeiro lugar, porque as diferenças com Edmilson são bem mais difíceis de ultrapassar.

Edmilson representa um projeto de poder popular, que é a antítese da manutenção do poder pelas elites políticas e econômicas, das quais o atual prefeito já foi o representante mais promissor.

Além disso, bem vistas as coisas, não há diferenças tão grandes assim entre Zenaldo e os Barbalho.

Todos foram talhados nos valores conservadores da classe média.

Politicamente, podem até fazer um remendo aqui e acolá, melhorando a assistência social, a saúde, a educação.

Mas, com a cidade sob o comando deles, as grandes massas populares sempre estarão excluídas do poder.

O problema de um movimento em direção a Priante é que Zenaldo precisaria ter muito a oferecer, o que não é caso.

Ele já não possui nem mesmo popularidade.

Além disso, os Barbalho nem sequer precisam da máquina da Prefeitura.

Têm a máquina do Governo do Estado, grupo de comunicação próprio e uma militância que se assemelha a um exército guerreiro (e valoroso): entra coesa no campo de batalha, e não foge e nem se desvia, sempre obediente às ordens de seus comandantes.

É uma militância que faz uma diferença danada em qualquer eleição. E que só se encontra semelhante no petismo.

Daí que seria preciso que essa batalha por Belém, cujo pano de fundo, para todos os partidos, é 2022, assumisse contornos dramáticos no segundo turno, para que Zenaldo pudesse ser acolhido por Priante como uma espécie de “filho pródigo”...

Uma dramaticidade que não acredito que venha a se configurar.

Afinal, seria muita burrice de Helder procurar mais inimigos, além dos poderosos inimigos que já possui, e que tentam, de todas as formas, arrancá-lo do poder: entre eles, o MPF e a PF, sob o comando de um vingativo presidente da República; e o MP-PA, com a sua indisfarçável militância tucana.

Além disso, o PSOL não possui capilaridade no estado. Quem possui essa capilaridade é o PT. Mas o PT é aliado do governo. E nos planos do Edmilson, creio eu, não está uma candidatura ao governo, em 2022.

Daí que, em uma disputa entre Edmilson e Priante, é possível que tenhamos um segundo turno como há muito tempo Belém merece e não vê: razoavelmente civilizado.

E a única situação dramática será, em verdade, a do prefeito, que terá de lutar como um bicho, para ao menos sobreviver politicamente.

A colocação de dois oposicionistas ferrenhos no segundo turno será um recado inocultável de que o eleitorado de Belém, desde sempre, talvez, o maior eleitorado de Zenaldo, só deseja mesmo é que ele rasgue, desapareça.

Será uma derrota acachapante, raras vezes vista até no resto do Brasil, já que o “normal” é que o prefeito consiga colocar o seu candidato no segundo turno, ou que ao menos consiga ter uma alternativa que possa apoiar sem maiores problemas.

E de quem é a culpa desse “encalacramento” do prefeito? Da RBA e o do Diário do Pará, como ele tantas vezes afirmou?

Não. A culpa é dele, e somente dele, como até já escrevi.

Zenaldo foi burro desde o começo; um autêntico perna-de-pau.

Primeiro, porque aceitou assumir uma prefeitura problemática como a de Belém logo depois da passagem de um huno como o Duciomar, e ainda por cima na condição de “sucessor amigo”, o que impossibilitou até empurrar as heranças a quem de direito.

Como se isso não bastasse, ainda resolveu comprar brigas que não eram suas, mas daquela mamba-negra que é o Jatene.

Mas o principal é que não conseguiu nem ao menos mitigar os impactos de sua incompetência administrativa, com a escolha de uma equipe de boa qualidade.

A vaidade e os puxa-sacos de que se cercou não lhe permitiram nem enxergar as suas limitações, nem reconhecer e consertar os seus erros.

E o resultado é este: uma cidade destroçada e uma população que vai até soltar foguete, quando ele deixar o cargo.

A 9 dias do primeiro turno, é claro que ainda há muita água para rolar debaixo dessa ponte.

A reta final de uma campanha pode, sim, surpreender e mudar o rumo de uma eleição.

Mesmo assim, é difícil uma ascensão meteórica (e teria de ser realmente meteórica) do candidato do prefeito, ou de algum candidato que pudesse ser um “sucessor amigo”.

Em primeiro lugar, porque os tucanos não estão a lidar com a Ana Júlia e aquela turma da universidade, mas com o MDB e as suas raposas políticas.

Em segundo lugar, porque a pandemia e a proibição de ajuntamentos dificultam ainda mais a situação dos candidatos menos conhecidos pela população.

No entanto, é nestes 9 dias que acontecerão as lutas mais ferozes, os lances mais ousados e empolgantes desta provável Tomada de Belém, pelas oposições aos tucanos.

Caso se concretize a perda do caixa de Belém para alavancar a campanha de 2022, assistiremos à rápida fragmentação dos tucanos e à acelerada desmontagem de suas estruturas de duas décadas de poder.

Será, como se diz, um salve-se quem puder.

FUUUIIII!!!!!!

 

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Pros tucanos entrincheirados em Belém:

 

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