Em 2006, como todos sabem, apoiei a candidatura da minha xará, Ana Júlia Carepa.
E senti enorme alívio com o resultado das urnas.
Afinal, todos os que estávamos na linha de frente daquela batalha sabíamos o inferno que nos aguardava, caso Almir Gabriel tivesse conseguido vencer as eleições.
O pavor que sentiam os tucanos era, portanto, o mesmíssimo que sentíamos - sem tirar nem por.
Lembro, no entanto, que nem todo esse alívio permitiu que a minha alegria fosse completa.
Tive de andar a confortar – e até a defender – amigos tucanos que estavam atarantados com aquela derrota.
Emprestei o ombro a muita gente. Tentei levantar o ânimo de tantos outros. E sei que muitos dentre nós agiram assim, também.
Afinal, é humana essa empatia diante da dor alheia...
Estranhamente, porém, em meio ao desespero que se abateu sobre os arraiais tucanos, em 2006, não se ouviu uma só palavra de consolo, vinda, justamente, de quem mais deveria consolar: o grande líder Almir Gabriel...
Pouco depois da derrota nas urnas, Almir deixou o Pará a bordo de um silêncio acachapante.
Em sua dor – que lhe parecia, talvez, a única do universo... - não se lembrou de dizer um simples obrigado aos eleitores que depositaram nele o voto e a esperança.
Não disse um mísero obrigado aos militantes tucanos que se mantiveram nas ruas até o fim.
Almir, simplesmente, se foi.
Como se não tivesse nada a ver com a tristeza de seus companheiros.
Como se a incerteza que muitos sentiam em relação até mesmo à sobrevivência não lhe dissesse respeito.
Como se não tivesse nada a ver com o sonho que, uma vez, os fez sonhar...
Almir, simplesmente, se foi.
Feito um comandante que resolvesse ir plantar flores na Martinica, deixando seus exércitos exangues, no campo de batalha.
Mas, com o passar do tempo, os tucanos paraenses foram conseguindo, ainda que aos trancos e barrancos, se reorganizar.
Ao longo de três anos, recolheram os feridos, consolaram os desesperados, se ajudaram como podiam!...; com o quase-nada que havia a repartir...
Dividiram-se em núcleos de ação, definiram estratégias – algumas delas verdadeiramente impressionantes do ponto de vista de um partido que nunca caminhou com as próprias pernas...
E, a partir de todo esse esforço, de toda essa solidariedade, conseguiram apoquentar, todo santo dia, a governadora petista...
Não deram trégua um só minuto a minha xará!... – num jogo limpo, democrático, de altíssimo nível, diga-se de passagem.
E quem acompanha esse jogo fica com a impressão de que o PSDB amadureceu muito mais, como partido, nestes três anos de deserto, do que em doze anos de Poder...
Neste final de semana, um deputado tucano contou-me que o partido já vem até discutindo o próprio papel.
Não como mero apêndice de um governo – mas, como uma legenda, integrada por milhões de cidadãos, que têm as suas propostas, os seus anseios, as suas críticas e querem fazer valer isso, em qualquer governo que seja.
E eu confesso que senti um orgulho danado dos tucanos paraenses, que, em tão pouco tempo, conseguiram conquistar esse “plus” em relação aos democráticos companheiros petistas, com seus trinta anos de luta partidária...
Por isso, creio que o PSDB se prepara para representar, no ano que vem, uma verdadeira ruptura histórica no estado do Pará.
Para congregar, de fato, todos os que querem transformar, de verdade, este estado.
Sem ódio, sem perseguições, com o livre e salutar funcionamento das instituições; com o apoio de militantes de todas as cores – eis que esse partido, geneticamente democrático, visceralmente democrático, tem de ser, de fato, um brilhante arco-íris...
Lamento, profundamente, que o nosso líder, doutor Almir Gabriel, tenha preferido as suas orquídeas em Bertioga, a todo esse processo de amadurecimento do PSDB paraense.
Talvez até porque as orquídeas não se movem, nem falam.
Enquanto que nós, nem tão belos, mas tão humanos, somos capazes de dizer: não senhor!...
Lamento, como disse um anônimo neste blog, que Almir, que concebeu um projeto de desenvolvimento para este estado seja o mesmíssimo a enterrá-lo.
E só posso é me lembrar do que dizia, há uns 10 anos, a alguns amigos: que o final do doutor Almir seria idêntico ao de Antonio Lemos – sozinho e amargurado...
A Almir restou, apenas, o ódio – e o ódio que ele sequer consegue enxergar...
Apesar da enorme sapiência, o nosso maior líder tornou-se um cego da amargura.
Pois, que outra explicação se pode encontrar para que alguém que pregou tanto a ética e a honestidade possa, de repente, querer eleger o Mário Couto?
Por que, então, não eleger logo o Jader?
Não é para aloprar?...
II
Só quem é cego, doido ou mal intencionado não admite que o Pará e o Brasil avançaram – e muito – ao longo destes vinte anos de revezamento entre tucanos e petistas.
Uns criam indicadores sociais, os mais enlouquecidos possíveis.
Mas, o fato que está na nossa cara, quando abrimos a porta das nossas casas, é que a pobreza diminuiu, o latifúndio já não tem o poder que tinha e a questão social da segurança pública é tratada, exatamente, como questão social.
A preservação do meio ambiente transformou-se em pauta estratégica dos governos.
A democracia é debatida, no dia a dia, pela sociedade. Exemplo: o financiamento público de campanha.
Hoje em dia, já nem discutimos as cotas nas universidades públicas – mas, o corte dessas cotas; se racial, ou se por rendimentos.
Já não discutimos a eventual necessidade de doar cestas básicas ao miserável – mas, o retorno, para aquela família e para o corpo social, de tal doação.
Já superamos umas quantas discussões tremendas entre nós.
Outras, é verdade, ainda estamos no caminho de superar.
Sem que nos esqueçamos do respeito que tem de haver entre todos nós.
E eu creio que é até por isso que a sociedade brasileira está polarizada entre o PT e o PSDB.
A sociedade brasileira se vê em nós; se sente, verdadeiramente, representada por nós.
E é por isso que nunca me esqueci daquela frase do grande Fernando Henrique Cardoso – que vocês, petistas, chamam de FHC: a gente briga é pelo comando da massa atrasada.
Todos sabemos aonde queremos chegar – possivelmente, ao mesmíssimo lugar.
Não queremos – tucanos e petistas – esse desamparo do nosso povo.
Não queremos esta bestialidade que tomou conta do Brasil – em todos os sentidos: da ética até à sobrevivência mesma.
Queremos é a solidariedade, a paz, a igualdade: afinal, todos tivemos a mesmíssima matriz.
E é por isso, companheiros, que não me conformo com a postura do companheiro Almir Gabriel.
E eu estava até pensando hoje: os irmãos petistas devem estar se abrindo e dizendo: “Vocês pensavam que só a gente é que tem uma DS, é?”
É... A gente encontra esses calos, né mermo?...
Mas, companheiros, o Almir representa para nós o que o Lula representa para vocês.
E o que é que vocês fariam com o Lula se, de repente, ele pirasse?
Pois é... É nessa situação que a gente se encontra!...
Como administrar uma liderança desse porte que, de repente, perdeu o senso?
Eu, de minha parte, gostaria de ver a Ana e o Jatene se enfrentando em 2010.
Porque, qualquer que seja o resultado, e apesar dos erros de um e de outro, estarei mais tranqüila.
Recuso-me é a pensar na possibilidade de vitória do Mário Couto.
Porque, aí, penso, só restará a todos nós o caminho do aeroporto.
E, nessas horas, eu só queria era ter um paraíso em Bertioga, né mermo?
E, entre orquídeas e mais orquídeas, não estar nem aí para este cu de mundo que é o Pará.
Mas, voltei das “oropas”, depois de sete anos nas “oropa”.
E até hoje a minha filha me cobra: “por que me trouxeste pra cá?”
E eu tenho de explicar pra ela, todas as vezes, que entre as ruelas do Bairro Alto e de qualquer outro lugar só o que eu me lembro de sentir é um cheiro inebriante a tucupi...
E até hoje, quando tomo um tacacá, sinto como que se me recompusesse daquela falta, daquela ausência...
Nunca poderei ir-me embora daqui. Sou uma branca “acabocada”: não vivo sem tucupi, sem maniçoba, sem açaí.
E estou aqui a pensar no que é que a gente vai fazer para administrar aquele velho doido.
Que não assume culpa alguma.
Afinal, ele pensa, não foi culpa dele Eldorado; não foi culpa dele o Marcelo, não foi culpa dele a derrota de 2006.
Nunca é culpa dele.
Nunca!
E o pior é que a gente ama esse velho do fundo do coração.
O doutor Almir é alguém que nos deu um Norte, em termos da coisa pública, da administração da coisa pública.
Daí que a gente nem pode falar com ele cruamente.
A gente não pode nem ser mal, cruel com ele.
Porque a gente o ama.
Sabem, às vezes eu penso como seria bacana uma fusão ou uma aliança do PT com o PSDB.
Ás vezes eu acho que aí, sim, a gente avançaria, nesta droga de país, uns 500 anos em cinco.
Mas, aí eu me lembro da “massa atrasada”.
E do que ela representa eleitoralmente.
Com o seu ódio aos homossexuais, aos negros, ao aborto. Com o seu apreço pelos quartéis. E a vontade de dominar, a tudo que não seja considerado “normal”...
E aí eu penso que é melhor que a gente esteja separado, mesmo, porque damos a ilusão, a essa gente, de que pensamos diferente.
Vocês não imaginam, companheiros, a dor que é se livrar de um Lula.
Vocês não imaginam, companheiros, a dor que é se livrar de um Almir Gabriel!
FUUUIIIIII!!!!!!!
7 comentários:
A pobreza diminuiu? O Latifúndio perdeu a força? Onde é que tu moras pequena? Realmente Cego, doido e mal intencionado é quem insiste em dizer que nesses 20 anos de govero psdbistapetista o avanço mais evidente foi sobre os cofres públicos.
O único porém em uma aliança PSDB/PT é que não tem Estado do Pará suficiente pra que todos se locupletem.
Cláudio Teixeira
Prezada Ana Célia,
Gostei de tuas análises, mas fiquei um pouco pasmo em ver tua confissão de que votastes na Ana Júlia em 2006... Que diabo de tucana és? Estás feliz com o governo de tua xará?
Cara Ana Célia, me desculpe discordar, mas nos últimos 20 anos o Pará andou igual caranguejo...
Não sei com base em que dados fáticos você afirma que melhoramos.
Santarém continua a ser a única cidade brasileira com mais de 200 mil habitantes que não tem ligação rodoviária com a capital de seu estado.
As pessoas que fraturam um braço no interior, a quase mil quilômetros da capital, continuam precisando vir colocar gesso em Belém.
Nosso povo do interior continua desassistido. Nossas elites estão mais arrogantes do que nunca. Nossa intelectualidade continua sendo orgânica, não sobrevive sem um DAS...
E o PSDB não desiste de sua velha política de ódio contra servidores públicos de carreira, criticando contratações, aumentos de remuneração, concursos. Como dizer que um partido assim amadureceu?
Continuam com a política de faturar o que é bom e esconder o ruim. Insistem que suas Yedas Crusius são melhores que os Delúbios dos outros. Continuam produzindo factóides disfarçados de "choques de gestão".
Lamento discordar de tudo, mas parece que concordamos em duas coisas: antes fora do Pará do que governado por Mário Couto. E como político o Almir é o melhor orquidófilo que há - de preferência lá em Bertioga mesmo...
Perereca ,
Antes que me esqueça
pra dentro Marta Saré...
Querida Ana Célia,
Suas análises são simplesmente perfeitas. Pode ter certeza que vamos saber administrar o estado senil de nosso maior líder. Devemos carinho, afeto, atenção,cuidado e, principalmente, recomendação de repouso absoluto, tudo o que fazemos a quem verdadeiramente amamos e que se encontra nessa situação natural da existência humana, que para uns ocorre mais tardiamente, enquanto para outros vem como um surto, de tão repentino. Quanto ao Mário Couto, veremos vários de seus discursos no Senado, apontando os pecados do infeliz desgoverno da Ana Manicures Aero Santacasa Kitescolar Menorabaeté Benassuli Loyola Ortega Copamanauara MMXIV Setransburaco Eteceteraetal Júlia Carepa. Agora, com relação ao nosso verdadeiro e maior líder atual, aquele que sintetiza todos nossos anseios, esperanças, desejos, objetivos e opniões, que é o Dr. Jatene, saiba que já estamos trabalhando, ouvindo todos, construindo os princípios de sua plataforma de Governo, sua estratégia de campanha, mesmo que ainda sem o seu conhecimento e muito menos sua autorização. É que sabemos o que vamos encontrar pela frente no próximo governo, já que o PT dilacerou a máquina pública. Somos partidários e não podemos perder tempo, já que basta ir a qualquer lugar deste Estado para comprovar que a população clama sua volta. E ele voltará. Com a ajuda e empenho de TODOS, inclusive do Mário.
Falto incluir nas culpas do Almir o apoio ao falso médico Duciomar.
Senhorita Ana Célia, em quais dados de quais institutos de pesquisa e de quais áreas específicas da realidade social a senhora se ampara para afirmar que houve avanços na área social, ambiental e etc e tal neste estado? Sério, ou a senhora apresenta esses dados ou deve admitir que está fazendo mera propaganda política, pois até os animais irracionais (incluindo os políticos do próprio PSDB e do PT) sabem que a realidade foi de mal a pior nesses 20 anos de descaso e desgoverno no estado. Só para que a senhora fique um pouco antenada com a realidade, veja o que se tem publicado ano a ano pelo Ministério do Meio Ambiente e órgãos de pesquisa associados sobre desmatamento e meio ambiente no Pará. Mas, se não bastar, consulte os dados do IBGE e veja os índices gritantes de desemprego, miséria e pobreza que se mantém estagnados ou vem piorando há décadas no Estado e na capital. Realmente, não é preciso que a senhora se desgaste desinformando seus leitores para agradar seus amigos poderosos. O estado está no abismo e cai livremente sem que qualquer político irracional pense qualquer coisa ou movimente qualquer de seus membros para evitar o afundamento no subsolo. E essa estória de projeto de desenvolvimento criado pelo Almir é uma grande piada. Realmente, a senhora salvou minha semana com essa fantasia......Um abraço e parabéns pelas outras matérias e pela excentricidade.
Válber Almeida
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