Crise na Santa Casa era questão de tempo
Perereca: Como é que o senhor avalia o atual governo do Pará?
Jatene: O governo cometeu – e continua cometendo – alguns erros muito graves.
A gente precisa ter claro que governar um estado como o Pará é um permanente – e, certas horas, frustrante – exercício de optar entre coisas que não se pode fazer opção.
Como é que você faz opção entre gastar em Saúde ou em Educação, onde a Saúde e a Educação são precárias? Como é que você faz opção entre gastar em Educação ou em Segurança?
O que a gente precisa ter claro é que nos foi imposto um padrão de ocupação que criou uma enorme desordem, numa ordem precária pré-existente, a partir da chamada corrida rumo ao Norte.
Com isso, os governos vivem numa permanente corrida atrás do prejuízo.
Quando você pega o orçamento e compara às demandas, ele é absolutamente insuficiente.
Então, é irresponsável você chegar numa televisão e dizer que vai resolver tudo, porque não há qualquer chance de fazer isso.
É absolutamente irrealista você chegar numa campanha e prometer: “vou acabar com isso!”.
Você tem de ter a humildade de compreender que, se conseguir colocar algum tijolo nessa construção – e é preciso fazer isso – já estará dando uma contribuição importante.
Vamos pegar algumas coisas concretas. A questão da saúde, por exemplo.
Por que partimos para a construção dos hospitais regionais? Porque, quando andava pelo interior, percebia essa demanda verdadeira, real.
Ah, mas é fácil levar média e alta complexidade ao interior? Claro que não. Mas, num estado de dimensões continentais como o Pará, temos de ter a coragem de ousar.
Mas, não ficamos só nisso.
Paralelamente à construção dos hospitais, criamos dois programas. Um deles era o Médico no Município – também chamado Médico 24 Horas.
Sabe o que é que era esse programa? Como percebemos que os municípios não tinham recursos para pagar uma remuneração que garantisse a fixação do médico, fizemos convênios com mais de 70 municípios. E repassávamos recursos, todo mês, para a contratação de dois médicos.
O outro programa era de entrega de medicamentos básicos.
Com isso, havia, nos municípios, o médico e o medicamento, o que segurava um pouco o deslocamento para a capital.
Além disso, tínhamos, aqui em Belém, convênios com vários hospitais, o que garantia uma retaguarda, sempre que acendia a luz vermelha na Santa Casa, em termos de superlotação.
Mas – e por isso eu disse que o governo cometeu alguns equívocos – acabaram com esses convênios, tanto para a contratação de médicos, nos municípios, quanto para esses hospitais de retaguarda, em Belém.
Também acabaram com a distribuição de medicamentos básicos, no interior.
Então, era só uma questão de tempo ver o drama que se viveu na Santa Casa, por exemplo.
Perereca: Mas, em vez de investir nos hospitais regionais, não teria sido mais produtivo, para a saúde, investir maciçamente na Atenção Básica, inclusive com a reforma das unidades existentes?
Jatene: Espere um pouquinho, porque aí é que eu acho que está a história.
Tais desafios não têm uma seqüência tão aritmética como essa que você está querendo.
Trabalhamos com a Atenção Básica, nos municípios, e criamos os hospitais regionais até para facilitar.
Aliás, eles foram escolhidos espacialmente, de forma a contemplar as várias regiões do estado. E onde tínhamos uma demanda um pouco maior... Por exemplo: deixamos um hospital quase pronto em Tailândia, que, embora não seja de média e alta complexidade, é grande.
Por quê?
Porque, nesse eixo da PA-150, havia uma demanda crescente, pela própria dinâmica da região.
Então, fizemos outro hospital. Ele ficou praticamente pronto – e até hoje não entendo por que é que não foi inaugurado.
Então, não pense que houve descuido com isso.
Outro ponto importante é que, no caso de Santarém, por exemplo, não apenas fizemos o hospital regional: também levamos a Faculdade de Medicina, para formar quadros na própria região.
Isso, aliás, já começa a dar bons frutos, apesar da atrapalhação, quando tentaram colocar aquele hospital para funcionar.
Também preciso dizer outra coisa: sempre disse que a escolha das OS não se deu por uma questão ideológica, mas, absolutamente pragmática.
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