Para Almir
Almir precisa se aposentar. Constatar que está velho; que ninguém controla a vida, o tempo...
Por mais que queiramos, o mundo vai além de nós.
Ficamos no que fizemos ou não fizemos. E ponto.
Não há, doutor, segundo tempo neste jogo...
Temos, infelizmente, de nos habituar à idéia da finitude...
Jatene, quer ou o senhor queira ou não, é o melhor dentre nós.
De raciocínio rápido – e isso é fundamental – inteligência e QUASE a sua compreensão do mundo.
É o seu herdeiro...
O senhor não gosta dele? Que pena!... Foi o senhor quem nos legou...
Ou o senhor, birrentamente, prefere o bicheiro?
O que o senhor esperava? Que ele vivesse eternamente a sua sombra e não buscasse o próprio espaço?
Que fizesse como todos fazem? Quer dizer, que, simplesmente, se abaixasse?
Mas, que diabo de legado o senhor pretendia deixar a nós?
Gostaria, um dia, de poder conversar com o senhor, do jeito que o senhor diz gostar: olho no olho...
Mas, o senhor foge, não é mermo? ...
Neste jogo, doutor, não dá para ficar ou deixar ficar em compasso de espera.
Como sabe o senhor, mais que ninguém, há que decidir...
E não dá para decidir em cima de considerações subjetivas; de eventuais raivinhas.
Há que fazer o que é preciso, sempre!...
Lhe admiro profundamente e morrerei lhe admirando.
O senhor é para mim, acima de tudo, uma inspiração.
Um ser que me guia. E que sempre me guiará, mesmo quando se for...
Mas, para além do senhor, existe a vida, a necessidade imediata.
A capacidade de ver o estágio em que o nosso povo se encontra.
Isso, doutor, não é nenhuma missão: é política.
É a capacidade de conversar com todo mundo.
A possibilidade de falar com todas as pessoas, sem essa coisa da pré-concepção.
O senhor, sem querer, sem pensar, nos ensinou isso.
Somos, todos, os seus herdeiros. Quer o senhor goste ou não...
2 comentários:
Sou leitor habitual do blog e, hoje pela primeira vez, tenho que concordar com tudo o que você escreveu sobre Almir Gabriel.
Mas, cá pra nós, você tomou uma(s) para inspirar-se?
Adorei o que escrevestes, é de uma clareza, profundidade e verdade incrível.
Penso o mesmo que tu, mas não sei escrever com tanta lucidez!
Parabéns,
Dulce
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