No site do jornal O Globo:
SÃO PAULO (Reuters) - O governador em exercício do Distrito Federal, Paulo Octávio, não resistiu à falta de apoio de seu partido e de aliados e renunciou ao cargo nesta terça-feira, logo depois de ter se desfiliado do Democratas.
Após quase três meses do início da crise do Distrito Federal que envolve acusações de corrupção, o DEM perde seu único posto de governador em todo o país. Sem partido, Paulo Octávio, há 12 dias no governo do DF, fica impedido de concorrer às eleições deste ano. Há cinco dias, ele havia ameaçado renunciar e voltou atrás.
Paulo Octávio substituiu o titular, José Roberto Arruda, que se licenciou do cargo depois de ter sua prisão preventiva decretada em consequência do escândalo, chamado de mensalão do DEM. Arruda também deixou o partido.
A carta de renúncia de Paulo Octávio foi lida na Câmara Legislativa do DF e em seguida o presidente da instituição, Wilson Lima (PR), assumiu o posto.
"Por intermédio deste documento, comunico ao presidente da Câmara Legislativa minha renúncia ao cargo de vice-governador do Distrito Federal", disse na carta.
Paulo Octávio esclareceu que buscou o apoio junto a líderes partidários de várias siglas, mas não conseguiu garantir a governabilidade. Lamentou também ter perdido o respaldo de seu próprio partido, o DEM, que pediu a seus integrantes que deixassem o governo.
"Sem o apoio do DEM, legenda que ajudei a fundar no Distrito Federal, e a qual pertenci até hoje, considero perdidas as condições para solicitar respaldo de outros partidos no esforço de união por Brasília", afirmou.
"Sem que existam condições políticas, torna-se impossível permanecer à frente do Poder Executivo local, sobretudo, repito, em circunstâncias tão excepcionais", acrescentou.
DESLIGAMENTO DO DEM
Antes de anunciar a renúncia, Octávio enviou documento de desligamento do DEM ao presidente da sigla, deputado Rodrigo Maia (RJ).
Uma reunião da Executiva do partido na quarta-feira deveria concluir pela expulsão de Paulo Octávio, depois que integrantes da cúpula da legenda -o líder no Senado, José Agripino (RN), o senador Demóstenes Torres (GO) e o deputado Ronaldo Caiado (GO)- defenderam sua saída.
"Não se consegue diferenciar, dentro da crise do DF, as responsabilidades do governador e do vice. É por isso que eu o aconselhei, há uma semana, a renunciar", disse Agripino.
Para Rodrigo Maia, "o partido fica sem o governo, mas fica com os princípios".
Octávio substituiu José Roberto Arruda (sem partido), que se licenciou quando foi preso pela Polícia Federal em 11 de fevereiro, autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça.
Arruda é acusado de obstrução na apuração de investigação de um suposto esquema de divisão de propina entre integrantes do primeiro escalão do governo distrital, mesmo escândalo no qual Paulo Octávio é citado. Há fartas imagens de Arruda e parlamentares recebendo maços de dinheiro, gravadas por um colaborador.
"É o segundo que se desfilia", disse Paulo Bornhausen (SC), líder na Câmara, referindo-se também a Arruda, que deixou o DEM em dezembro. "Mas o Democratas faz o que é preciso. Não tenta esconder."
Dono de um conglomerado de empresas que atua em diversos setores -desde o imobiliário e hoteleiro, até o de comunicação-, Octávio elegeu-se deputado federal pela primeira vez em 1990, por uma coligação do antigo PFL, hoje DEM.
Ele também ocupou uma cadeira no Senado e em 2006 foi eleito vice-governador de Arruda. Durante três anos chefiou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do governo Arruda.
INTERVENÇÃO
Na quinta-feira, o Supremo Tribunal Federal julga o pedido de habeas corpus de Arruda. O STF também analisará, ainda sem data marcada, o pedido de intervenção no Distrito Federal, que atinge o Executivo e também o Poder Legislativo local.
No pedido, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, defende a intervenção no DF como necessária para o restabelecimento dos princípios constitucionais, resgatando a normalidade institucional e a credibilidade das instituições e dos administradores públicos.
Deputados distritais se manifestaram contra a intervenção após a renúncia de Paulo Octávio.
"Eu tenho dito que a intervenção é um golpe na democracia, nós temos uma linha sucessória", disse Raimundo Ribeiro (PSDB).
O deputado Chico Leite (PT) disse que "a intervenção é um remédio doloroso" e que pode ser afastada se as autoridades cumprirem suas funções.
Se aprovado o pedido, caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicar o interventor.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/02/23/sem-apoio-paulo-octavio-renuncia-ao-governo-do-df-915922714.asp
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Na Folha:
Wilson Lima diz que assume governo do DF para evitar intervenção federal
MÁRCIO FALCÃO
da Folha Online, em Brasília
Em carta à imprensa, o novo governador interino do Distrito Federal, Wilson Lima (PR), afirmou que não pretende fazer "mudanças bruscas" nem aceitar "ingerência política" e que assume o Executivo para evitar a intervenção federal.
Presidente licenciado da Câmara Legislativa, Lima disse que pretende ser "um instrumento de transição democrática entre um governo eleito e outro governo eleito".
"Não serei empecilho à volta da normalidade. Não criarei um único obstáculo para a condução democrática de nossa cidade. Não farei mudanças bruscas, e não aceitarei nenhuma ingerência política", disse.
No texto, o novo governador interino afirmou ainda que decidiu assumir o comando da capital federal para garantir normalidade à capital federal, evitando a paralisia de obras, das ações sociais e para que as coisas não piorem ainda mais para a sociedade.
Lima é o terceiro governador do Distrito Federal em 12 dias. Ele assume após a renúncia de Paulo Octávio, anunciada na tarde de hoje. Paulo Octávio assumiu o cargo no dia 11 com a prisão e o afastamento de José Roberto Arruda (sem partido) determinado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O novo governador interino está reunido com os deputado distritais. No encontro, vai pedir apoio contra intervenção federal que é defendida pela Procuradoria Geral da República. Pelos corredores da Câmara, os deputados ainda estão divididos quanto apoiar ou não Lima no comando do Distrito Federal. "O nosso apoio é ao respeito da linha sucessória", disse o deputado Chico Leite (PT), relator dos pedidos de impeachment de Arruda.
Para o deputado Antonio Reguffe (PDT), o ideal seria que o presidente do TJ (Tribunal de Justiça) do Distrito Federal, Níveo Gonçalves, assumisse o governo. "Eu acredito que o melhor seria que todos abdicassem", afirmou.
Perfil
Conhecido como ursinho entre os colegas, Lima nasceu em 1953, em Ceres (GO). Desde os 15 anos, mora na cidade de Gama. O distrital está no terceiro mandato e, em 2006, foi reeleito com 8.983 votos.
Ele foi seminarista na década de 1960 e estudou música na UnB (Universidade de Brasília), segundo sua página na internet. O distrital costuma contar que trabalha desde a adolescência e já vendeu picolés, foi frentista, mecânico, lanterneiro, pintor, balconista e cobrador de ônibus.
No dia 2 de fevereiro, com a saída de Leonardo Prudente (sem partido), flagrado colocando dinheiro de suposta propina nas meias, Lima foi eleito presidente da Câmara Distrital por 15 votos. O deputado ocupava a Primeira Secretaria e recebeu o aval de Arruda para ocupar o comando. A ideia do governador afastado era que Lima trabalhasse em sua defesa. A prisão de Arruda mudou o cenário.
Confira a íntegra da carta de Wilson Lima:
"Assumo interinamente o governo do Distrito Federal no momento mais delicado de nossa ainda curta história política. Não escolhi estar nessa posição, não almejei, mas não posso fugir à responsabilidade e ao dever de assumi-la.
A missão que o destino colocou em minhas mãos deve ser enfrentada com serenidade, humildade e muita reflexão. Há um sentimento de desilusão na população. Há quem defenda como solução a ruptura política e a intervenção federal. Isso equivale a cassar a soberania do povo brasiliense, soberania conquistada no bojo da redemocratização do nosso país.
Sei do peso da responsabilidade que me é transferida neste momento. O compromisso que posso assumir, ao aceitar tão árdua missão, é com a normalidade democrática. E de não permitir a paralisia do governo, para que as obras e as ações sociais sejam levadas até o fim, não piorando ainda mais as coisas para o povo desta cidade.
Quero ser apenas e tão somente o instrumento para uma transição democrática entre um governo eleito e outro governo eleito.
Não serei empecilho à volta da normalidade. Não criarei um único obstáculo para a condução democrática de nossa cidade. Não farei mudanças bruscas, e não aceitarei nenhuma ingerência política.
E, Deus me permita, jamais darei um motivo sequer para aumentar a desconfiança que setores da sociedade nutrem não só em relação aos políticos quanto à política de modo geral.
O momento agora, para mim, é de reconhecimento e reflexão, antes de assumir de fato e de direito as responsabilidades de governar Brasília.
A todos aqueles que --como eu-- amam Brasília, afirmou que farei o que estiver ao alcance de minhas forças para, seja qual for o período em que o Governo do Distrito Federal estiver sob meu comando, honrar cada minuto de minha passagem por este posto.
Que Deus ilumine a todos."
Aqui, a carta-renúncia de Paulo Otávio:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u698040.shtml
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