sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O tiroteio no governo e na base aliada


Foi um qüiproquó raras vezes visto: os petistas, a bem dizer, chamaram uns aos outros “pra porrada” e, de quebra, ainda colocaram na roda o principal aliado, o PMDB.



Tudo ao longo do dia de ontem, com lances dramáticos de bastidores e cenas públicas de faroeste.



No primeiro ringue, se engalfinharam o PT e a Democracia Socialista (DS), a minúscula tendência da governadora Ana Júlia Carepa.



No segundo, o líder do PMDB na Assembléia Legislativa, deputado Parsifal Pontes, e o deputado federal Zé Geraldo, do PT pra Valer, uma das tendências majoritárias do PT local.


No centro do primeiro ringue, um decreto da governadora a deixar simplesmente "tísica" a Casa Civil - que a DS teve de entregar a Everaldo Martins, da Unidade na Luta, outra corrente majoritária.


No segundo ringue, o empréstimo de R$ 366 milhões que o Governo do Estado quer obter junto ao BNDES, e que o PMDB se recusa a ajudar a aprovar.


Tudo ao ritmo dos tambores de guerra, que começam a soar cada vez mais fortemente nos arraiais petistas e peemedebistas.


O primeiro tatame


No primeiro ringue, perdeu a DS e até a própria governadora Ana Júlia Carepa, que, à noite, acabou tendo de revogar o decreto publicado no Diário Oficial de ontem, que impunha à Casa Civil um esvaziamento sem precedentes.


O decreto transferia para a Secretaria de Governo o poder de nomear e exonerar cargos em confiança, como os DAS.

Nada de mais não fossem dois “detalhes”.

O primeiro é que a capacidade de nomear e exonerar DAS é, de fato, o maior instrumento de barganha da Casa Civil. Sem isso, como lembra um petista, o chefe da Casa Civil viraria um simples assessor.

O segundo é que a mexida na Casa Civil, com a saída de Cláudio Puty, da DS, e a ascensão de Everaldo Martins, da Unidade na Luta, foi negociada entre o Governo e o PT, para sinalizar aos aliados (especialmente o PMDB) a desconcentração do poder das mãos da DS.

No início da semana, conversei com vários petistas e eles não se mostraram muito preocupados com o chamado “esvaziamento” da Casa Civil. (Leia a matéria aqui http://pererecadavizinha.blogspot.com/2010/02/o-spa-da-casa-civil.html ).

Isso porque consideravam que programas como o Pró-Jovem e a regularização fundiária – que foram transferidos para outras secretarias, após o anúncio da saída de Puty – nunca deveriam ter estado na Casa Civil.


No fundo, os petistas pareciam querer, apenas, que Puty saísse de lá, mesmo que levando para secretarias ocupadas por pessoas de confiança todo esse “armamento” eleitoral – incluindo as aeronaves do Governo.

A reação dos petistas foi muito diferente, ontem, diante do decreto que transferiu a competência das nomeações e exonerações.

Em meio à queda de braço entre a DS e as correntes majoritárias do PT, sucederam-se reuniões (uma delas, à noite, entre a bancada federal e a direção local do partido) e houve até quem aventasse a possibilidade de Everaldo “renunciar” antes mesmo de assumir.


“Acho que isso vai requerer um novo exercício de entendimento, porque a coisa pode desandar”, disse um cauteloso petista.


Outro foi mais incisivo: “Qual a leitura que fica disso? É a de que ela (Ana Júlia) está desautorizando o cara (Everaldo) e, se eu fosse ele, nem assumia. A Ana está dominada por esse grupo e, se ela não romper com ele, vão enterrá-la. Isso é para dizer: ‘quem manda somos nós’, e ela acaba engolindo isso. Ela não consegue compreender o que isso significa publicamente”.


“Uma avaliação que há é de que isso não contribui com o propósito que havia quando se colocou o nome do Everaldo, que era o de abrir mais o cargo aos nossos aliados e até internamente”, disse outra liderança vermelha.


E acrescentou, mais adiante: “O Everaldo veio para conduzir a Casa Civil menos preocupado com a administração, e mais com a articulação. Mas, não pode ficar lá sem poder de nada. Se for para ser assim, ele mesmo vai tomar a decisão de não aceitar, e nós, também, não concordaremos com isso. Ele não vai querer conduzir 100%, mas não pode apenas fazer papel de assessor”.


Segundo a fonte, o próprio Everaldo teria dito “que, se não for para ser útil e fazer o trabalho proposto, não vale a pena ficar”.


O decreto, que caiu como uma bomba sobre as cabeças petistas, também agitou os arraiais peemedebistas.


“Esse pessoal (a DS) não dá espaço, não adianta. Quando cederam a Casa Civil já foi com a intenção de esvaziar. Eles fizeram isso conosco, com as nossas secretarias. Tudo era coordenado pelo gabinete civil e o Puty é que dizia a quem e quanto pagar. Eles controlam tudo e o que estão fazendo com a Casa Civil é exatamente o que se espera deles ”, disse o deputado Parsifal Pontes, que, na tarde de ontem, publicou, em seu blog, uma postagem onde se lia um sugestivo “Basta!” em letras garrafais.


Na postagem, Parsifal escreveu: “Este foi o tratamento que recebeu o PMDB: nomeamos secretários, mas cercaram-nos de leões de chácara, que rugiam ferozes a qualquer movimento que ousasse ultrapassar os ínfimos limites do bureau que lhes foi concedido”.


E acrescentou: “Este governo não tem salvação. Tentar retirá-lo da areia movediça em que se lambuzou, é residir no mesmo limbo que morou o PMDB, e que agora está sendo oferecido ao próprio PT”.


A postagem completa de Parsifal está aqui:
http://pjpontes.blogspot.com/2010/02/libelo-n-01.html

Na avaliação do deputado, “é difícil se relacionar com um governo amador desse jeito. Eles acham que ainda estão em porta de sindicato e que o negócio é no grito”.


E observou: “No fundo, eles fazem o jogo que queremos: nos dão a desculpa para dizer que não dá”.


À noite, a confusão era tão grande que Ana cedeu e revogou o decreto – e a decisão será publicada no Diário Oficial de hoje.

Há informações de que ela teria sido emparedada pelos petistas – inclusive com a ameaça de convocação de prévias partidárias.


O blog conversou com Charles Alcântara, que antecedeu Puty na Casa Civil.


Charles comentou: “Nunca vi uma coisa tão deprimente, tão incompreensível. Como é que pode a Ana, com a trajetória que tem, ter se permitido dominar dessa forma por um grupo prepotente, imaturo, arrogante. O PT tomou a única decisão que lhe restava, para não ser desmoralizado. Era difícil calcular a reação do PT? Eles (a DS) perderam a noção de realidade. Ela (Ana) não é maior que o partido - aliás, nunca foi tão pequena. Como governadora, ela conseguiu ser menor do que tudo o que foi na vida”.



O segundo tatame



À tarde, outro tiroteio, dessa vez em público: o deputado federal Zé Geraldo fez um duro pronunciamento contra o PMDB, porque o partido não estaria colaborando com a aprovação do empréstimo de R$ 366 milhões que o Governo do Estado tenta contrair junto ao BNDES, para fazer frente às perdas de arrecadação decorrentes da crise financeira internacional, no ano passado.


“O Pará e a sua população não aceitam esse tipo de conduta disforme e impeditiva do desenvolvimento, na medida em que recursos volumosos deixam de ser votados por meras vaidades políticas. A população espera de grandes líderes e dos grandes partidos, políticas inovadoras, sérias, comprometidas com o interesse comum de seu povo. Não podemos voltar ao passado em que as disputas políticas míopes conduziram o Pará ao atraso profundo”, disse o deputado.


A íntegra do discurso dele está aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com/2010/02/disputa-entre-pmdb-e-pt-do-para-chega.html


Pouco depois, Parsifal Pontes respondia em seu blog.


“O governo do Pará já deve ter satisfeito os interesses do deputado Zé Geraldo, pois, há duas semanas, a governadora Ana Júlia foi ameaçada, por ele, de prévias dentro do PT, pelo fato de lhe querer tirar as tetas do INCRA dos lábios”, ironizou.

Classificou como “chantagem” as acusações do petista e disparou: “O PMDB serve ao Pará e não ao PT e muito menos a Zé Geraldo que pode pensar que o PMDB é um agregado subalterno, pronto para votar qualquer coisa em troca de cadeiras vazias, como, aliás, vazia já está a cadeira que deverá sentar Everaldo Martins, o novo chefe do gabinete civil, tomado de assalto por Zé Geraldo, talvez achando que lá ficaria o cofre”.


E afirmou, mais adiante: “O PMDB ajudou substancialmente na aprovação de autorização de empréstimos que já somam mais de R$ 2 bilhões ao governo: onde estão as obras essenciais que este montante ergueria? O Pará continua sem ver o resultado do dinheiro e o PMDB não vai se pautar por discursos desta igualha para tomar decisões”.


Disse que falta a Zé Geraldo “autoridade moral” para chamar os deputados estaduais de irresponsáveis, pelo fato de “não quererem ceder aos caprichos do governo”.


E afirmou: “O que a governadora está dizendo a quem ela chama em gabinete é a promessa de pulverizar o numerário em prendas que não são essenciais ao Pará, mas apenas substanciais ao governo e ao PT. E os interesses deste incauto governo do PT não têm sido coincidentes com os interesses do Pará. É só ver a situação da saúde, educação e segurança pública no Estado, para constatar que o governo não usa de forma eficaz o que o povo lhe deposita nos cofres em forma de impostos”.


Leia aqui a íntegra da postagem de Parsifal:
http://pjpontes.blogspot.com/2010/02/quem-tem-medo-de-virginia-woolf.html


Parsifal afirmou à Perereca que, na próxima terça-feira, vai “sentar a pua” em Zé Geraldo, na tribuna da Assembléia Legislativa.

Como se vê foi um dia muito, muito quente, menos de 48 horas depois de uma reunião em Brasília, na qual a direção nacional do PT tentou recompor as relações entre a legenda e o Governo, no Pará.


Os fatos, aliás, acabaram desmentindo a nota publicada no jornal O Liberal de ontem, dando conta de que petistas e peemedebistas teriam fechado uma aliança e que ela seria anunciada brevemente.


O próprio Parsifal, aliás, desmentiu a informação em seu blog.


Como se vê a pancadaria vai longe.


Agora, é esperar pelos próximos capítulos.

3 comentários:

Osorio Pacheco disse...

Não te quero mais, vá de retro..s, vai cantar em outra freguesia



Primeiro a reunião do Deputado Jader Barbalho com os ilustres do PT não deu em nada, a não ser um bom jantar oferecido pelo Deputado e as portas se fecharam com a despedida dos visitantes, digo visitantes e não convidados.

A Lider do Governo Deputada Bernadete ten Caten vai a tribuna da Assembléia Legislativa e quer impor a oposição, especialmente o PMDB, aprovar a concessão do famigerado empréstimo de "366", dizendo que como os recursos são para recompor o caixa, não precisa dizer o que vão fazer com o dinheiro.
Mesmo que fosse real essa suposição da Deputada, a desobrigação fiscal de explicar o que vai ser feito com o dinheiro do empréstimo não obrigaria aos Deputados que têm a responsabilidade de apreciar a matéria aprovassem obrigatoriamente. Fosse assim, não precisaria votação. Na sua fala a Deputada cita veementemente que os Deputados têm a responsabilidade de aprovar o empréstimo, engana-se os Deputados têm a obrigação de apreciar e votar, depois de apreciado e votado nas Comissões de Constituição e Justiça e Finanças.

Hoje o Deputado Federal Zé Geraldo repete o mesmo discurso de Bernadete na Câmara dos Deputados, reafirmando a tal obrigação e atribuindo aos Deputados a responsabilidade de aprovar.


Esquecem os ilustres Deputados que a Assembléia Legislativa do Estado do Pará já aprovou mais de 2 bilhões de reais em emprestimos para esse governo que não teve capacidade de captar e o que captou, não se sabe onde aplicou.

Com tais discursos percebo que o tom está mudando, "a ficha está caindo", o PMDB não vai fazer parte da coligação que apoiará a Governadora Ana Julia a reeleição, até que enfim.

O PT no Pará tem se comportado como uma namorada safada, que meteu a mão na carteira do namorado, meteu chifre nele, se exibiu no bairro com comportamento impróprio, esnobou e fez vergonha ao namorado sempre comportado e fiel, que a certa altura, não a quer mais. Ela diz aos amigos comuns que o ama desesperadamente, que precisa dele, que não vive sem ele. O namorado, discreto e elegante, simplesmente não quer mais e pronto.

Me esquece, vá de retro, vá cantar em outra freguesia, seriam as suas colocações. caso não fosse elegante e educado.
Mas mesmo assim, a profiça ainda deve insistir mais um pouco, , , , , ,
Até meados de abril.

osoriopacheco.blogspot.com

Anônimo disse...

Infelizmente o PT tem se mostrado um partido cada vez mais parecido com todas as outras legendas: o que prevalece é o interesse mesquinho pelo poder em si. Não existe projeto, e Ana Júlia se deixou levar por um bando de incompetentes. Trocar Charles Alcântara por Puty foi o um erro de estratégia sem precedentes. Charles pelo menos é um idealista comprometido e ético, enquanto que Puty...

André Carim disse...

Vem cá... Não era esse Zé que semana passada estava ameaçando a Governadora por causa de uma nomeação no INCRA? Não era esse Zé que estava articulando uma candidatura alternativa para enfrentar a Governadora na convenção do PT? Se for o mesmo Zé, a bravata contribuiu com o atual processo político em que? Será que os membros do PMDB ficaram satisfeitos com a intromissão indevida nos assuntos do Partido? Será que o PMDB vai dar ouvidos ao apelo patético do Zé, votando a favor do misterioso empréstimo? Será que o discurso do Zé colaborou para melhorar o grau de confiabilidade do PT perante seus aliados? São perguntas que o Zé bem poderia responder... Mas será que é o mesmo Zé?