segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Eleições 2006

A vitória da alternância!


Só agora, às 2 da manhã, começo a colocar a cabeça em ordem, para digerir esse turbilhão e afastar o sentimento de irrealidade.

Creio que todos nos sentimos assim: vencedores e vencidos.

Nós, porque sabedores da dificuldade de chegarmos lá, contra a máquina rica e azeitada. Eles, por confiarem em demasia no peso dessa mesma máquina.

Mas, para além dessa vitória improvável, pesa nos ombros, também, a responsabilidade que essa conquista nos traz.

As dificuldades que teremos de enfrentar, para melhorar, de fato, as condições de vida do nosso povo, num país e numa região tão desiguais.

Tomara que consigamos construir essas melhorias, na velocidade que o nosso povo espera, precisa e merece.

Que sejamos, de fato, a tão sonhada mudança da realidade paraense, especialmente, para a dona Maria e o seu José.

Não há como negar, porém, o ponto mais positivo dessa vitória: a alternância.

Na democracia, poder algum pode estender-se por décadas, sob pena de viciar comportamentos e corromper as instituições.

A alternância e o respeito às oposições são componentes essenciais à democracia. E esta é, sem sombra de dúvida, uma das maiores conquistas da humanidade, nestes quase sete mil anos de civilização.

Precisamos avançar – não regredir. Precisamos tornar a democracia, de fato, massiva, inclusiva, digna desse nome.

Mas, em nome disso, não podemos eliminar-lhe elementos essenciais, como a tolerância e a renovação. Porque, sem isso, ela não será nada além de um grande circo romano.

É claro que estou feliz (e ponha feliz nisso!) com a vitória da Ana Júlia. Como disse, mais cedo, a um amigo, estamos, todos, de parabéns.

Esta foi, de fato, uma vitória coletiva, como reconheceu a própria governadora eleita. A vitória de uma equipe que jogou no estádio do adversário, contra o juiz, os bandeirinhas, os comentaristas e um time poderosíssimo.

Mas que encontrou, na camaradagem de seus integrantes e no carinho das arquibancadas, a força e a fé para seguir em frente.

Que equipe maravilhosa, essa, que conseguimos construir! E que conquista extraordinária, essa, que, pingando de suor, conseguimos alcançar!

Que, no entanto, só não me deixa mais feliz porque tenho muitos e bons amigos entre os tucanos. E eu imagino como eles devem estar se sentindo: exatamente como eu me sentiria, se estivesse a falar não da vitória, mas da derrota.

Todos apostamos alto nestas eleições. Vencedores e vencidos, demos a cara à tapa; o pescoço à guilhotina. Neste pleito acirradíssimo, nenhum de nós pôde colocar-se à margem, fingindo neutralidade. Todos fomos à luta. E é claro que a vitória traz, também, um certo alívio: afinal, seríamos levas e levas ao cadafalso...

No entanto, mesmo estando ao lado dos vencedores – e tendo feito aqui preciosos companheiros - não posso esquecer de quem sou.

Trabalhei vários anos com os tucanos, por acreditar no projeto tucano e por ter um coração amarelinho.

Fiz, também, entre os tucanos, alguns dos melhores amigos que jamais sonhei conquistar ao longo da vida.

Por isso, não posso deixar de apresentar a minha solidariedade aos vencidos.

E de manifestar a esperança de que o governo de Ana Júlia seja, de fato, um governo pacificador.

Por não querer ver sofrer pessoas a quem amo. Mas, também, porque acredito visceralmente na democracia.

Mas, principalmente, porque não perco de vista que a política é feita por gente de carne e osso; por pessoas iguaizinhas a mim. Com os mesmos sonhos e esperanças. Pessoas que amam e são amadas...

E agora, me dêem licença, que preciso bebemorar em paz.

Parabéns, camaradas, companheiros, queridinhos! Vocês não imaginam o orgulho que sinto por ter lutado ao lado de cada um de vocês!

Vejam só: as lágrimas, finalmente, estão começando a escorrer...

sábado, 28 de outubro de 2006

Que vença o eleitor!

Chegou a hora que todos aguardávamos: a hora da decisão.

Creio que não há mais nada a fazer, a não ser desejar boa sorte a todos.

De qualquer partido, de qualquer lado...

Afinal, todos fizemos o melhor que poderíamos; demos o melhor de nós.

Todos merecemos, enfim, a alegria da vitória.

Em ambos os lados, há guerreiros valorosos, extraordinários.

Gente que luta, com garra e muita fé, por aquilo em que acredita.

É da democracia que seja assim: que existam os prós e os contras.

E é preciso, portanto, que saibamos nos respeitar mutuamente.

Apesar das bicudas que, como acontece em toda guerra, é preciso desferir...

É claro que torço pela vitória da Ana Júlia e acredito nisso, sinceramente: acredito que vamos chegar lá.

E que o Pará, de ponta a ponta, nessa noite de domingo, será uma grande estrela vermelha!

Mas tenho a certeza, também, de que, qualquer que seja o resultado, o grande vencedor terá sido o povo do Pará.

Afinal, ao longo desses meses, lutamos batalhas memoráveis. Mas conseguimos mantê-las dentro dos limites do jogo democrático.

É claro que não faltarão queixas de um lado e de outro. Mas o fato é que nenhum de nós terá feito alguma coisa, que o outro também não fizesse, se surgida a oportunidade.

E, o mais importante: conseguimos conter nossas “tropas”, a fim de evitar episódios complexos.

Estamos todos, portanto, de parabéns – o “sarampo” e a “febre amarela”. E só espero é que consigamos manter tal postura nesse domingo, quando os nossos corações estarão pra lá de acelerados.

E espero, também, que, terminada a guerra, seja quem for o vencedor, saiba tratar com dignidade, com respeito, com espírito verdadeiramente democrático, o lado vencido.

Porque, em toda guerra, há o tempo de desembainhar, mas, também, o tempo de guardar as espadas, para que possa vicejar o tempo da negociação.

É só assim que conseguiremos, de fato, construir uma vida melhor para o nosso povo: com equilíbrio, com respeito às oposições, com visceral apreço pelo direito de divergir.

E porque, também, há, nas vidas de todos nós, muito mais que disputa política.

Há as alegrias do cotidiano. As pessoas que amamos. A esperança daquilo que buscamos ser e realizar.

Há todo um universo à espera dos nossos corações, quer estejam vermelhos ou amarelos.

Há toda a beleza que a vida nos oferece e que ansiamos abraçar.

Esta guerra, portanto, não é um nem um fim, nem um começo: mas, uma partícula de poeira cósmica no infinito que somos.

A todos, vermelhos ou amarelos, boa sorte. Que Deus esteja conosco e que
vença o eleitor!



Vermelho


Vermelhou o curral, a ideologia do folclore avermelhou.
Vermelhou a paixão, o fogo de artifício da vitória vermelhou.

A cor do meu batuque tem o toque e tem o som da minha voz.
Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante, vermelhão!
O velho comunista se aliançou ao rubro do rubor do meu amor.
O brilho do meu canto tem o tom e a expressão da minha cor (vermelho!).
A cor do meu batuque tem o toque e tem o som da minha voz.
Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante, vermelhão!
O velho comunista se aliançou ao rubro do rubor do meu amor.
O brilho do meu canto tem o tom e a expressão da minha cor.
(Meu coração!)

Meu coração é vermelho!
De vermelho vive o coração!
Tudo é garantido após a rosa vermelhar!
Tudo é garantido após o sol vermelhecer!

Vermelhou o curral, a ideologia do folclore avermelhou.
Vermelhou a paixão, o fogo de artifício da vitória vermelhou.
Vermelhou o curral, a ideologia do folclore avermelhou.
Vermelhou a paixão, o fogo de artifício da vitória vermelhou.

A cor do meu batuque tem o toque e tem o som da minha voz.
Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante, vermelhão!
O velho comunista se aliançou ao rubro do rubor do meu amor.
O brilho do meu canto tem o tom e a expressão da minha cor (vermelho!).
A cor do meu batuque tem o toque e tem o som da minha voz.
Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante, vermelhão!
O velho comunista se aliançou ao rubro do rubor do meu amor.
O brilho do meu canto tem o tom e a expressão da minha cor.
(Meu coração!)

Meu coração é vermelho!
De vermelho vive o coração!
Tudo é garantido após a rosa vermelhar!
Tudo é garantido após o sol vermelhecer!

Vermelhou o curral, a ideologia do folclore avermelhou.
Vermelhou a paixão, o fogo de artifício da vitória vermelhou.
Vermelhou o curral, a ideologia do folclore avermelhou.
Vermelhou a paixão, o fogo de artifício da vitória vermelhou.

(Chico da Silva)

(Não é casuísmo, não. É que adoro essa música...)



Redescobrir


Como se fora brincadeira de roda, memória
Jogo do trabalho na dança das mãos, macias
O suor dos corpos na canção da vida, história
O suor da vida no calor de irmãos, magia
Como um animal que sabe da floresta, memória
Redescobrir o sal que está na própria pele, macia
Redescobrir o doce no lamber das línguas, macias
Redescobrir o gosto e o sabor da festa, magia
Vai o bicho homem fruto da semente, memória
Renascer da própria força, própria luz e fé, memória
Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós, história
Somos a semente, ato, mente e voz, magia
Não tenha medo, meu menino povo, memória
Tudo principia na própria pessoa, beleza
Vai como a criança que não teme o tempo, mistério
Amor se fazer é tão prazer que é como fosse dor, magia
Como se fora brincadeira de roda, memória
Jogo do trabalho na dança das mãos, macias
O suor dos corpos na canção da vida, história
O suor da vida no calor de irmãos, magia

(Luiz Gonzaga Jr.)



Aquarius



When the moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars
Then peace will guide the planets
And love will steer the stars

This is the dawning of the age of Aquarius
The age of Aquarius
Aquarius!
Aquarius!

Harmony and understanding
Sympathy and trust abounding
No more falsehoods or derisions
Golding living dreams of visions
Mystic crystal revalation
And the mind's true liberation
Aquarius!
Aquarius!

When the moon is in the Seventh House
And Jupiter aligns with Mars
Then peace will guide the planets
And love will steer the stars

This is the dawning of the age of Aquarius
The age of Aquarius
Aquarius!
Aquarius!

Harmony and understanding
Sympathy and trust abounding
No more falsehoods or derisions
Golding living dreams of visions
Mystic crystal revalation
And the mind's true liberation
Aquarius!
Aquarius!


(Hair – Trilha Sonora)

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Sobre o palanque paraguaio da bondade

A Honestidade de R$ 1,99


Sinceramente, não sei se rio ou se choro dessa mania tucana de satanizar os adversários. Quem não conhece os meandros do tucanato paraense, acaba até acreditando que está diante da quintessência da Moralidade: é tudo querubim ungido!

Mas, no que consiste, de fato, essa “ética” tucana?

É fato que o palanque paraguaio da bondade deles tem bem poucos algemados. Mas também é fato que eles ergueram, em 12 anos, uma autêntica muralha de impunidade, a impedir a investigação de inúmeros escândalos.

Veja-se o exemplo de Eduardo Salles, o sobrinho do governador Simão Jatene, com a fortuna que acumulou à sombra do tio – e cuja reportagem completa, aliás, está arquivada neste blog.

Vejam-se os mais de 20 parentes de Jatene, nomeados para o Governo do Estado, num autêntico “condomínio de contracheques”, como classificou um advogado.

Veja-se a Prev Saúde, a empresa da mulher e do filho do secretário de Saúde, Fernando Dourado, com os quase R$ 8 milhões que já faturou junto ao Executivo, justamente, na área da Saúde.

Vejam-se as denúncias de superfaturamento de remédios pela Sespa – e só a Controladoria Geral da União, na única inspeção realizada ali, flagrou um rombo de cerca de R$ 14 milhões.

Vejam-se os R$ 10 milhões adquiridos pela mesma Sespa junto a KM Empreendimentos, uma empresa enrolada até o pescoço, nas investigações sobre a máfia dos sanguessugas.

Vejam-se as inúmeras denúncias de superfaturamento de obras públicas, como a Estação das Docas e o Centro de Convenções – cujo metro quadrado, a R$ 3.400,00, é seis vezes mais caro que o mais alto custo do metro quadrado do país.

Veja-se o Hospital Metropolitano, cuja construção consumiu R$ 28 milhões, o dobro do inicialmente previsto, e onde só uma pracinha ficou em quase R$ 1 milhão.

Veja-se o caso Cerpasa – e só aí “sumiram” R$ 45 milhões em dívidas fiscais.

Veja-se a Clean Service, ligada a Marcelo Gabriel, filho do ex-governador Almir Gabriel, que já faturou, pelo menos, R$ 15,1 milhões junto ao Governo do Estado.

Veja-se o autêntico “laranjal” do empresário Chico Ferreira e os contratos milionários que abocanhou, nos últimos 12 anos, também do Governo do Estado – e que ultrapassam, largamente, os R$ 50 milhões.

Vejam-se os R$ 450 milhões da venda da Celpa, que até hoje os paraenses se perguntam onde foram parar.

Mas, de quanto é que estamos falando, mesmo? Qual o total de recursos públicos que desapareceram em tais escândalos?

Será que o saque se torna “menor” porque praticado pelo “Midas da Moralidade”?

Será que a impunidade torna o infrator menos rapace?

Ou será que falta é a Justiça agir, de fato, como Justiça?

Quantas algemas os “mocinhos”, os querubins ungidos desse palanque paraguaio da bondade estão a merecer?

Mas permanecem, todos, livres, leves e soltos, não é mesmo? A apontar o dedão acusador para tudo e todos, acionistas que são da Perobal S/A.

E seguem assim porque a “ética” que apregoam é, simplesmente, a da varrição da sujeira para debaixo do tapete. É o amordaçamento das instituições que têm a obrigação de acabar com essa festança.

No fundo, a “ética” do tucanato tem por alicerces a censura, o aliciamento e a perseguição. É um autêntico Bataclan, no qual se corrompe, até, o chefe de polícia. Daí inexistirem, entre os tucanos, as algemas que tanto aplaudem nos pulsos alheios.

Falam em despreparo de Ana Júlia. Mas, quem tem preparo? Valéria Pires Franco? Vic?

Falam em palanque da maldade. Mas, quem são os mocinhos deles? Marcelo Gabriel? Chico Ferreira? Eduardo Salles? Fernando Dourado? Raimundo Santos? Duciomar Costa? O algemado cidadão Flexa Ribeiro?

É engraçado. Nesse palanque paraguaio da bondade, nessa honestidade de R$ 1,99, há gente acusada de ligação com o crime organizado, de envolvimento no escândalo dos sanguessugas, de receptação e até de estupro e de corrupção de menores. Há bacanagens para todos os gostos: todo tipo de fraudes licitatórias e de malversação do dinheiro público que se possa imaginar.

No entanto, dizem eles, os bandidos somos nós. Vai ver que é porque se esqueceram de olhar de perto a própria latrina.

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

The Lest

De volta ao começo



Como chegaram a esse ponto? Ela tentava, mas não conseguia compreender. Parecia que não havia palavras. E quando as havia, elas morriam no peito sufocado.

Não, não havia gestos, nem olhares. Eram muros e muros de pedra, erguidos, sabe-se lá por quem.

Desertos? Antes fossem!... Pois, que haveria esperança de chuva. Mas era o desespero puro e simples. Um frio que se impunha, entre abismos e abismos e abismos que os olhos não conseguiam alcançar...

Procurou um tempo passado. Mas os pretéritos se perderam no presente e no futuro.

De que morrera, afinal, tal sentimento? O mais profundo do coração não saberia dizer. Certo dia foi-se, simplesmente. Quem sabe, rendeu-se ao ciclo da vida. Esperando que, lá adiante, houvesse quem o compreendesse. Os filhos, os netos, os bisnetos, enlevados por essa coisa que, distante do chão, convidava a voar sobre todos os universos.

Mas isso seria, quem sabe, o futuro. A recompensa havida, mas que não se veria, afinal. Seria os genes, o sangue, que espalhara pelo mundo. Mas e ela? Viveria em função disso, seria, apenas isso? Uma promessa? Um futuro incerto? Um desejo irrealizado por gerações?

Queria abraçar-se à noite. Novamente, abraçar-se à noite. Como coisa que ouvisse, impunemente, todos os segredos. Queria arder em vida. Ser um átomo decomposto em zilhões de gentes. Queria sangrar por todos os poros, mas indo adiante.

Ao invés de se acabar em desespero, nessa estação enlouquecida, queria recuperar as rédeas da própria vida. Domá-la, como já a domara um dia. Ser além.

Ousar, mais que todas as mulheres do mundo, por gerações. Erguer-se, como quem, de fato, jamais se verga. Ser o rio, jamais um afluente.

Não, não: quem nasceu pra sol, jamais será a sombra, por mais que tente. O adjetivo, por mais que se busque, será sempre no feminino. Impossível tentar não ser.

E o que vier, além disso, será o “ia”: o que poderia, o que haveria, o que seria.

Não, como ele haverá outros homens – sempre os há. E se não houver, haverá, por certo, outras gentes.

Afinal, a mão que corre o corpo, que afaga os cabelos, é, simplesmente, a mão...

Mais importante é ser o que se é, enfim. Olhar-se ao espelho e amar-se, não pelos olhos alheios, mas pelos próprios.

Mas, depois de tanto discurso, continuo pensando: caralho, o que foi que aconteceu?!!!

domingo, 22 de outubro de 2006

Festa no Apê III

Festa no meu Apê III


(Abrem-se as cortinas. E o Príncipe Clean, de topete e roupa branca justíssima, tendo em uma das mãos uma vassoura, e na outra, um aspirador de pó, desata a dublar:

It's now or never/come hold me tight/Kiss me my darling/be mine tonight/Tomorrow will be too late/
it's now or never/My love won't wait./When I first saw you/with your smile so tender/My heart was captured/
my soul surrendered/I'd spend a lifetime/waiting for the right time/Now that your near/the time is here at last./It's now or never/come hold me tight/Kiss me my darling/be mine tonight/Tomorrow will be too late,
it's now or never/My love won't wait.)
(aplausos)

_É só comigo que acontecem essas coisas, é só comigo!... Parece que eu tenho o dom de atrair maluco! Agora, fica o Príncipe Clean, limpando o meu apê. E ainda por cima imitando o Elvis Presley...Só pode ser macumba mal feita, só pode...
_Adeixe o ômi, mais é, comadre, que a limpeza vai ficá belezuuuuura! O Príncipe é o maior especialista do Brejo! Varre pra cá, aspira pra lá, ajunta pra acolá! E quando a gente vê... Some tuuuuuuudo! E é próprio Houdini, comadre: não tem algema que lhe assegure!
_Xiiiiiiii! Ele vai ligar o aspirador. Ai, meu Deus, não vai dar pra ouvir mais nada!
_Pere lá que eu vou falar com ele. Ô seu Príncipe, ô seu Príncipe, achegue aqui!
_Boa noite, minhas senhoras! Dona Perereca! Querida correspondente! Muito obrigado pelo convite para esta festança. Que apartamento maravilhoso! Confesso que estou até emocionado!
_Ué, por que seu Príncipe?
_É que nunca encontrei tanta sujeira!
_Pera lá!... Tá certo que o meu apê é bagunçado... Mas, sujo, não!!!
_E como é que a senhora explica essas toneladas de papéis por todo canto? E que papéis! Tem de tudo: superfaturamento, pagamento em duplicado, dispensa de licitação, contratos ilegais. Tem até o lorde Comissário comprando passagem aérea por debaixo do pano! Tem pracinha a R$ 1 milhão!!!... É bem verdade que eu já fiz melhor que isso: já vendi banana a preço de salmão... Mesmo assim, há armações magníficas aqui! Quem diria, né, dona Perereca! A senhora engana direitinho...
_Ê, pere aí, seu Príncipe: isso daí não é da comadre, não! É que ela trabalha com esses trecos de reportagem investigativa!
_Quer dizer que a senhora não fez nada disso? E eu pensando que havia encontrado a minha alma gêmea!...
_Que é isso, seu Príncipe? Isso daí é tudo do pessoal da Corte, que a comadre investigou! Tem coisa do conde de El Dorado, da Barbie Princesa e até, sabe, do “D”...
_Do “D”???!!!... Bem que eu fiquei desconfiado! Veja isso daqui!... Não é coisa de amador?
_Ué, quem é o “D”? É o Duzinho?
_Aaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!
_Vixe Maria, que o ômi pirou! Ô comadre, não fale nesse nome perto do Príncipe!
_O quê? Duzinho?
_Aaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!
_Credo, comadre! Se cale, mais é, senão o ômi acome os papéis todinhos! Adeixe comigo que eu vou falar com ele! Seu príncipe, seu príncipe... Inspire, expire e diga: AUUUUUMMMM!
_AUUUUUMMMM!
_Vamo lá de novo: AUUUUUMMMM!
_AUUUUUMMMM!
_OOOOMMMM!
_OOOOMMMM!
_Acenda, rápido, uns incensos, comadre, e vá tocando a sinetinha! E agora, seu Príncipe, arrepita comigo: eu sou o maior!
_Eu sou o maior!
_(triiimmmm)
_Eu sou espetacular!
_Eu sou espetacular!
_(triiiimmmm)
_Comigo ninguém pode!
_Comigo ninguém pode!
_(triiimmmm)
_Alimpo o meu, o seu, o nosso!
_Alimpo o meu, o seu, o nosso!
_(triiimmmm)
_Papai!
_Papai!
_(triiiimmmm)
_Amém!
_Amém!
_(triiimmmm)
_Tá melhor, seu príncipe?
_Muito melhor, querida correspondente! A senhora, como sempre, é fundamental! Uma hostess! E quanto à senhora, dona Perereca, fique sabendo que só não lhe expulso do Brejo, por causa dessa lady extraordinária. Você, querida, é maior que a eternamente Marilda! Beijos!
_Obrigada, seu Príncipe! Vá pela sombra, viu! E não alimpe as ruas! O lorde Tirésias aprecisa também!!!...
_Mas será que eu não dou uma dentro?
_Ô comadre, o problema é que você só fica fechada neste seu apê! Você precisa aprender a linguagem da Corte! Arrepita comigo: Bufunfa!
_Bufunfa!
_Inexigibilidade!
_Inexigibilidade!
_Superfaturamento!
_Superfaturamento!
_Sou venal, mas quem não é?
_Ei, ei, ei, ô animal? Que história é essa? Sessão de auto-ajuda pra riba de muá? E ainda por cima nesses termos?!!!...
_Ô comadre, é só pra relaxar!...
_E como é que eu posso relaxar, com esse bando de doidos no meu apê? Já vomitei duas vezes. O Barão acabou com os peixes do meu aquário. E, agora, estou até ameaçada de expulsão do Brejo! Pra completar, ainda tem aquele maluco do Inri...
_ Xi, comadre! Falou no Diabo, apareceu o rabo!
_O quê?
_Olhe lá quem ta entrando, de novo, no seu apê!...

(As luzes começam a piscar. Trovões. As luzes estabilizam, mas a iluminação é especial. Começa a tocar a Aleluia, de Handel. Mas, súbito, aparece o lorde Balloon, no meio do palco, que faz gestos irritados para o DJ e manda parar tudo. Sempre por meio de gestos, manda trocar o fundo musical. Descem do teto equipamentos de discoteca. O DJ ataca “Dancing Queen”, com os Abba. Aparece o Inri, sem barba e de cabelo vermelho, vestido a drag queen, cercado por quatro moças, também, com roupas coladas, brilhantes e penacho, como o dele. Os cinco dublam “Dancing Queen”. Todos dançam no apê:

You can dance, you can jive
having the time of your life
see that girl, watch that scene
dig in the Dancing Queen

Friday night and the lights are low
looking out for the place to go
where they play the right music
getting in the swing
you come to look for a king

Anybody could be that guy
night is young and the music’s high
with a bit of rock music
everything is fine
you’re in the mood for a dance
and when you get the chance

You are the Dancing Queen
young and sweet only seventeen
Dancing Queen
feel the beat from the tambourine, oh yeah
you can dance, you can jive
having the time of your life
see that girl, watch that scene
dig in the Dancing Queen

You’re a teaser, you turn ’em on
leave ’em burning and then you’re gone
looking out for another
anyone will do
you’re in the mood for a dance
and when you get the chance

You are the Dancing Queen
young and sweet only seventeen
Dancing Queen
feel the beat from the tambourine, oh yeah
you can dance, you can jive
having the time of your life
see that girl, watch that scene
dig in the Dancing Queen).

(continua)

domingo, 15 de outubro de 2006

Deu chabu! I

O Pará merece uma eleição como esta: sentida, sofrida, suada. E que só será decidida, de fato, no último minuto do segundo tempo.

Para mim, não apenas jornalista, mas, sobretudo, cidadã, este é um momento extraordinário. E estamos, todos, de parabéns: tucanos, petistas, peemedebistas, pefelistas... E os mais que compreendam o significado da política, no cotidiano social.

Não acredito que estejamos separados por muitos pontos percentuais. Para mim, estamos embolados. E assim seguiremos, até o final. Daí a emoção desta partida, tão inusitada, diga-se de passagem.

Enquanto escrevo, tenho a informação de que, na cidade, há carreatas de petistas, a comemorar o Ibope, e de tucanos, a comemorar o Vox Populi. Quer dizer: deu chabu!

E é muito bom que seja assim. Porque demonstra, que, todos os que estamos na linha de frente, temos uma percepção muito correta da realidade. E que lutaremos até o fim, por aquilo em que acreditamos. Com a agilidade que uma “guerra” como esta requer.


Mais que isso, porém, é preciso considerar o recado da sociedade paraense nestas eleições: está dividida, é plural, evoluiu muitíssimo e espera de nós – todos – justamente essa compreensão.

Se Almir ou o PT entenderão isso, são outros quinhentos. Porque, nós, caro leitor, (e que ninguém nos ouça) sabemos bem o quanto eles são semelhantes na intolerância, na arrogância, nessa incapacidade perniciosa de conviver com o diverso.

Tenho para mim, porém, que o poder vem sendo uma experiência pedagógica considerável, aos companheiros petistas. Está lhes mostrando que, entre o branco e o preto, existe a imensa zona cinzenta. Humana. Intrínseca e despudoradamente humana. E com a qual, para além do sonhado paraíso, é preciso lidar.

Já Almir tem contra ele a cristalização do que é. O tempo que formatou comportamentos e certezas, que dificilmente serão modificados. Em relação a Jatene, representa um claro retrocesso, em termos de convivência democrática.

Já admirei – e quem sabe ainda admire – profundamente, o “velho”. Mas, não perco de vista o Eclesiastes: tudo tem seu tempo sobre a Terra...

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Deu chabu! II

Deu chabu, e aí? Bem, podemos nos quedar, perplexos, diante de tudo isso. Ou considerar mil teorias conspiratórias. Ou, ainda, buscar uma compreensão mais fria desse baralho, aparentemente, enlouquecido.

Por sorte, passei umas boas horas, na tarde de hoje, conversando com um bom amigo, de lucidez estonteante. Que, igual a mim, é claro que joga. Mas busca, sobretudo, observar e compreender os diversos jogos.

Depois de muito conversar, chegamos à premissa do embolamento. Estabelecida, pelo que estamos vendo. Muito além dos números, que sabemos de “pronto a servir”.

De um lado, o desespero, para superar o prejuízo, que o salto alto deixou atrás. Do outro, a tentativa, igualmente desesperada, da transferência de votos.

Nenhum dos lados cantando vitória, mas batendo e se defendendo, como Deus possa permitir. E até apelando. Uns, para o descolamento do picolé de “chuchumbo”, no dizer do Zé Simão. Outros, a depoimentos de chorosos “iludidos”.

Ambos, certamente com base em pesquisas internas, evitando perpetrar milímetro de erro. Pau a pau. Enquanto preparam, é claro, a tão esperada caixinha de maldades, para a reta final. Mas se estudando, para perceber onde dá para quicar.

Vale salientar que é nos programas eleitorais que desembocam as certezas. Ainda que restritas a uma ou duas pessoas da produção. Ou que cheguem em linguagem cifrada...

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Deu chabu! III

É claro que o primeiro ponto a considerar - manifesta aquela premissa - é a hipótese de um “acordo nacional”, digamos assim. Mas, mesmo em tal caso, é impossível não pensar, também, em “afagos” locais. Afinal, a “nossa dama” não se deixa levar por acordões. Quer o michê taludo depositado na própria conta. Vai daí que o noivado já pode ir de vento em popa. Sem, necessariamente, o conhecimento de muitos...

Mas, nos coloquemos em ângulo diferente: sejamos, a mulher traída.

Bem, se quiséssemos detonar o indigitado, bastaria trair – publica, ou, restritamente, a quem nos interessasse.

Mas, se quiséssemos detonar a amante, faríamos dela a infiel, com provas, aparentemente, cabais.

O problema é que a segunda hipótese é um jogo perigosíssimo: e se a amante conseguisse comprovar a inocência e, entre a profusão de lágrimas, despejasse, sobre o “marido”, todo o seu ardor?

E, no primeiro caso, se não quiséssemos afastar o indigitado de vez, por que o trairíamos publica ou restritamente, antes de um compreensível e firme recado?

Parece-me mais lógico, então, o “acordo nacional”. E com juras de amor eterno, a nível local...

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Deu chabu! IV

Se for assim, o jogo se torna mais complicado. Suponhamos que a mulher traída nem suspeite. E lá continue, com todas as forças, a acarinhar animal. Crente de que, através dele, alcançará todos os sonhos possíveis. Mesmo que eles incluam, lá para a frente, descartar-se de criatura tão complexa.

Novamente, teremos, pelo menos, dois cenários hipotéticos. Mas, adivinhem leitores? Novamente, já bebi muito – e quero beber em paz. Além disso, cansei de dar uma de pastor: pensem vocês! Mas, não esqueçam dos outros jogos: do Barão de Inhangapi e do Comendador das Àguias. E da Barbie Princesa, que é bem mais esperta do que parece. Virem-se. FUUUUUUUIIIIIIIIIIIII!!!!!!

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Em tempo: a cidade foi agitada por boatos sobre a apreensão do jornal oficial, por força da liminar que impedia a divulgação da pesquisa do Ibope – liminar solicitada, vejam só, pela União pelo Pará. A boataria foi afastada, por advogados e repórteres que correram a cidade, sem encontrar vestígio disso. Mas permanece a dúvida acerca do que acontecerá, ao fatal encontro das carreatas amarelas e vermelhas. Espero, sinceramente, que todos consigamos manter o principal: juízo.


E para comemorar! Ou: eles pegam e depois a gente ajeita!



Vermelho


A cor do meu batuque tem o toque e tem o som da minha voz
Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante,
Vermelhão!
O velho comunista se aliançou ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom e a expressão da minha cor: vermelho!
A cor do meu batuque tem o toque e tem o som da minha voz
Vermelho, vermelhaço, vermelhusco, vermelhante,
Vermelhão!
O velho comunista se aliançou ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom e a expressão da minha cor
Meu coração!
Meu coração é vermelho!
De vermelho vive o coração!
Tudo é garantido após a rosa vermelhar
Tudo é garantido após o sol vermelhecer
Vermelhou o curral, a ideologia do folclore
Avermelhou.
Vermelhou a paixão, o fogo de artifício da vitória
Vermelhou.
Vermelhou o curral, a ideologia do folclore avermelhou.

sábado, 7 de outubro de 2006

Dominum

Um excelente Círio a todos vocês!



A Perereca, em clima de Círio, presta homenagem à Divindade. E se curva, como todos devem fazer, enfim.

Mais, ainda, porque já passou pela experiência de quase morte. E sentiu a mão Dele, a resguardá-la.

Aliás, antes daquele acidente, eu nem acreditava em Deus. Depois, soube, constatei, que, de fato, Ele existe.

Este é, enfim, o tributo necessário Aquele que me protegeu na hora mais difícil da minha vida.

E que decidiu me conceder mais alguns anos de vida.

Não sei bem o porquê. Mas Ele sabe, não é mesmo?


Adeste Fideles

Adeste, fideles, laeti triumphantes;
Venite, venite in Bethlehem.
Natum videte Regem angelorum.

Venite adoremus, venite adoremus,
Venite adoremus, Dominum.


Salmo 91

Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente descansará.

Direi do Senhor: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nEle confiarei.

Porque Ele te livrará do laço do passarinheiro, e da peste perniciosa.

Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas estarás seguro: a sua verdade é escudo e broquel.

Não temerás espanto noturno, nem seta que voe de dia, nem peste que ande na escuridão,

nem mortandade que assole ao meio dia.

Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido.

Somente com os teus olhos olharás, e verás a recompensa dos ímpios.

Porque tu, ó Senhor, és o meu refúgio, o Altíssimo é a tua habitação.

Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará a tua tenda.

Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.

Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra.

Pisarás o leão e o áspide, calcarás aos pés o filho do leão e a serpente.

Pois quem tão encarecidamente me amou, também Eu o livrarei.

Pô-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o meu nome.

Ele me invocará, e Eu lhe responderei.

Estarei com ele na angústia, livra-lo-ei e o glorificarei.

Dar-lhe-ei abundância de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Do front

Uma Perda Tremenda!



A Perereca presta homenagem sentida a duas guerreiras extraordinárias: Araceli Lemos e Sandra Batista.

O fato de não terem sido eleitas é uma perda imensa para as oposições, o Pará e o Brasil.

Divirjo tanto do PC do B, quanto do PSOL. Mas respeito o que projetam para o mundo. Pela sinceridade e idealismo de seus militantes.

E penso que Araceli e Sandra são guerreiras honradas, destemidas e fundamentais. Pena que o Pará seja este atraso que todos conhecemos.

Mas, tenho certeza, vocês continuarão em frente. Até porque não é um percalço desses que vai derrubar os mulherões que são vocês!



O Bêbado e a Equilibrista


Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos
A lua tal qual a dona dum bordel
Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel
E nuvens lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas, que sufoco louco
O bêbado com chapéu coco fazia irreverências mil
Prá noite do Brasil, meu Brasil
Que sonha com a volta do irmão do Henfil
Com tanta gente que partiu num rabo de foguete
Chora a nossa pátria mãe gentil
Choram marias e clarisses no solo do Brasil
Mas sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente
A esperança dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista tem que continuar

(João Bosco e Aldir Blanc)

domingo, 1 de outubro de 2006

Dividindo Angústias II

Uma noiva perereca



Após a totalização dos votos, não há dúvidas que, em se confirmando o segundo turno, o PMDB terá sido o grande vencedor das eleições paraenses. Passe ou não para o segundo. Porque será a noiva mais cobiçada dos últimos 12 anos. Com direito a toda sorte de denguinhos. E a questão é saber se essa noivinha perereca conseguirá não apenas parecer, mas, principalmente, ser honesta...

Dividindo Angústias

E vamos nós, outra vez!


Se o Ibope e as ORM confirmam segundo turno, quem sou eu para duvidar? Vou é relaxar e tomar mais uma. Porque esses 29 dias serão cruéis.

No segundo turno, a máquina será levada a pleno vapor. E por um comandante cerebrino. Capaz de bancar, no perobal, todos os michês.

Todas as capacidades serão acionadas, mesmo em outras esferas de poder. Vai correr sangue, muitos cairão.

Mas quero é ver como ele vai solucionar a questão mais complexa: a indisfarçável, inelutável, insofismável incapacidade de o “velho” terminar o mandato. E de assumir, no lugar dele, quem, todos sabemos...

Com mais quatro anos pela frente, a partir de 2010, diga-se de passagem. Queira ou não o cerebrino comandante da máquina. Até porque, certamente, será o primeiro a enfrentar o exílio...


Priante ou Ana Júlia, quem seria o melhor, pelas oposições? Confesso, que nesse sentido, permaneço na legião dos indecisos. Logo eu, que formo opinião...E que detono de meia dúzia pra cima. Sorrindo...

De um lado, Priante, talvez, possua maior capacidade de agregar forças ao centro e de debater com o “velho” – se conseguir dosar a agressividade.

Mas Ana é do PT. E não, apenas, do PT. É de corrente minoritária, que amarga essa condição porque inflexível a determinados comportamentos, digamos assim. E que, também, tem trânsito e jogo de cintura.

E eu fico pensando até que ponto essa história de a Ana ser despreparada e “fraquinha” não é puro machismo. Afinal, ela não é filha de sicrano, nem mulher de beltrano. É Ana Júlia e ponto. Uma mulher que cavou o próprio espaço político, numa sociedade historicamente dominada por homens.

Os gaúchos e paulistas têm heroínas avassaladoras. Mas, nós, paraenses, que heroínas temos, afinal? Bom, se alguém gritar Severa Romana, eu vou ali e já volto...

Por que se exige das mulheres uma capacidade infinitamente superior a de qualquer homem? Por que temos de ser semidivinas, sempre que tentamos alcançar o espaço amplamente dominado pelo grande macho branco?

Por que não podemos aparentar medos, inseguranças, absolutamente normais a todo e qualquer ser humano?

Se um homem gagueja, é porque se confundiu. Mas, quando gaguejamos, é como se o mundo viesse abaixo.

Se um homem não tem resposta imediata, bem que pode culpar a própria assessoria. Mas, se nós, mulheres, cometermos um erro assim, seremos carimbadas como despreparadas...

Ana Júlia é uma pessoa. Como toda e qualquer pessoa.

Amanhã, decido se lhe dou ou não um crédito.
E sei que há muito tucano por aí pensando, exatamente, do mesmo jeito...


Uma Experiência



Vou repartir com os companheiros tucanos uma experiência.

Trabalhei com Valéria, por mais de um ano. Não me posso queixar de sua amabilidade, educação, simpatia. É uma dama.

Lembro que Valéria chegou a me dizer, certa vez, que eu pertencia a equipe dela – e não do governo.

E lembro das tentativas dela e de vários assessores – com efetivo poder de mando – para que nos aproximássemos.

Mas nunca me permiti isso. Porque sempre compreendi que, um dia, estaríamos em campos opostos.

Gosto de Valéria. Acho que é uma pessoa extremamente sagaz, gentil, educada – e essa é uma qualidade que aprecio muito. A capacidade de dizer obrigada, sempre. De tratar bem à senhora do cafezinho e de não descontar nela os males do mundo.

Mas há, aqui, um problema de fundo. De compreensão da realidade. Que não nos faz nem melhores, nem piores. Nem anjos, nem demônios. Mas que é um problema de concepção a considerar.

Para Valéria e o PFL, de um modo geral, distribuir óculos e cestas básicas é algo meritório. É bom. Para além da sagacidade política, existe uma espécie de cumprimento do dever. É, talvez, uma certa mentalidade cristã. De ajudar o “pobrezinho” porque, de alguma forma, culpado dessa condição.

Daí o Presença Viva, um programa essencialmente assistencialista, ter se tornado o carro-chefe da Seeps. Ele dava consultas médicas, óculos, certidões, sei mais o quê. E, certamente, nunca passou pela cabeça de Valéria questionar se tudo isso que se estava “dando” não era, simplesmente, um direito...

Nós, tucanos – e também o PT, se quiser sobreviver – temos de ter infinita capacidade de compreensão diante de tal raciocínio. Nós, tucanos e petistas, já estamos muito pra cá da Revolução Francesa e do nascimento do Cidadão: já discutimos a factibilidade democrática; os desvãos da democracia; os limites da tolerância.

Mas a direita brasileira permanece, ainda, no tempo do direito divino dos reis. Distribuem-se “favores”, simplesmente. Não há impostos, direitos, deveres, bens socialmente produzidos – e que precisam, portanto, ser socialmente repartidos. Há uma riqueza magicamente produzida por capacidade solitária. Inexiste, enfim, o pressuposto societário daquilo que pode vir a ser considerado humano.

Mas a direita representa uma fatia considerável do pensamento brasileiro. Então, não é possível, simplesmente, excluí-la: é preciso lidar com isso. Porque, a alternativa, é o autoritarismo.

É preciso, então, uma ação pedagógica. Que começa pela sociedade. Para empurrar essas pessoas, esses cidadãos, a uma outra compreensão do mundo.

Sinceramente, já bebi muito – até comemorando o segundo turno. Raciocinem vocês, daí pra frente. Vou mais é encher a cara. FUUUUUIIIIIIII!!!!!!

PS: Viva Aécio!!!!!!

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Sobre o Debate


Raimundo para Presidente!



Depois de assistir ao debate de ontem à noite (forçada, diga-se) cheguei a uma conclusão determinante em minha vida: vou votar em Edmilson Rodrigues. Para que participe de todo e qualquer debate, seja ou não candidato, ao que quer que seja. Ed roubou a cena. Nunca esquecerei o olhar do Raimundo, chamado a mediar o debate. Era o olhar do sofrido retirante nordestino diante de um novo Conselheiro: não sabe se estrangula ou se estapeia...

Edmilson é um intelectual enlouquecido: leu tanto, conhece tanto, que não consegue concentrar-se no específico. Daí o olhar desesperado do Raimundo, ante às divagações do candidato. Ed é o orador que acredita no próprio discurso. Mas, com tal veemência, que colocaria Cícero para correr – de vergonha ou de medo, sabe-se lá... Pobre Raimundo, que prometeu firmeza! Os padins Cíceros deles, nunca foram páreo aos nossos Angelins....Nem aos Baratas que nós, paraenses, insistimos, tão ciosamente, em acalentar...

Almir está velho. Tem indisfarçáveis falhas e confusões de memória. Passa credibilidade, é verdade. Mas deixa a “sensação de insegurança” acerca de quem terminará o mandato. Ao vê-lo, tem-se a impressão de que acabará como o rei George, a vagar ensandecido pelos corredores do poder, amparado por eminentes membros da Corte. E o problema é que não vivemos, exatamente, numa Monarquia, apesar de tudo o que os tucanos já intentaram nesse sentido...

Almir é a prova viva de que o tempo é, de fato, o grande senhor do mundo. De nada adianta nos projetarmos mais, nos querermos mais: o físico tem limitações que a mente jamais conseguirá superar. É o ciclo da vida cobrando o seu quinhão. Principalmente, daqueles que viveram intensamente...

Por isso, é claro, que, aos tucanos que assistiram o debate, faltou a agilidade mental e ironia do Barão, capaz de transformar água em vinho, pedra em pão...Jamais se deveria ter permitido que Almir participasse de debates. Ficou claro que a sua vice assumirá, se ele for eleito, cada vez maior projeção, com vistas a 2010. Mesmo que o “velho” e os tucanos de puro-sangue não o desejem. Ela será a nossa Roseana! E eu, a cada dia que passa, me convenço de que tenho, de fato, uma boa estrela...

Priante precisa parar de assumir a postura de galinho de briga, a cada vez que olha para Almir. Precisa compreender que, se armar para a guerra diante de um Príamo, não revela, exatamente, coragem. O contraste requer certa doçura e condescendência. Especialmente, de quem se orgulha de ter criado passe livre, nos ônibus, para os idosos...

Priante precisa aprender a controlar a impaciência e a ira, que o levam a remexer-se na tribuna. Nem que tenha de tomar uma tonelada de Lexotan. Agressividade é muito bem-vinda, diante de ameaças concretas ao povo que se pretende defender. Mas, para além do concreto, existe o aparente. E um ancião – por mais astuto que seja – nunca passará, a quem assiste, tal capacidade ameaçadora. A cara nova precisa demonstrar, enfim, maior equilíbrio emocional...

Ana Júlia é fashion. É a nossa Ciccareli guaribada. Apanhada na praia, tem savoir-faire para gritar: “andaram me clonando!!!”. Ou, para jurar de pés juntos que foi a gêmea – apesar de ser filha única... Tem ensaiado o que significam 10 ou 30 segundos. E que sorrir, sempre, vale mais que dez granadas. Agradabilíssima e certeira, a nossa senadora. E, quem sabe, futura governadora...

E mais não digo, nem me foi perguntado. E eu vou é tomar em paz essa duas que me restam – se é que vão me deixar tomar, ao menos, essas duas em paz... FUUUUUIIIIIII!!!!!!!!!!!

domingo, 24 de setembro de 2006

Desabafo


Resposta à gentalha



Sinceramente, ando me sentindo algo que, indignada, com alguns comentários que tenho recebido.

Apesar do meu espírito democrático – e, quem me conhece, sabe da enormidade da minha tolerância – creio que há sorte de gentalha extrapolando.

Tais excrementos insinuam, de todas as maneiras, que devo algo a alguém. Mas, a quem, afinal?

Ao que me recordo, vi-me em uma cadeira de rodas, durante sete meses, levando bicudas de todos os lados. Porque essas coisinhas imaginavam que, em cadeiras de rodas, eu estaria indefesa. Avalie! Nem dormindo...

Lembro-me de bater à porta de colegas e de amigos e de não obter, sequer, resposta aos telefones que dei.

Lembro-me de pedir, implorar, contemporizar, como é, aliás, desse meu infeliz feitio.

Lembro da minha filha, então com 13 anos, angustiada.

Lembro de não saber como pagar o aluguel do apartamento onde moro.

Lembro das panelas e panelas de comida que tive de aceitar de minha mãe, para não passar fome.

Lembro do medo, da angústia que me consumiam, diante do fato de não ter como conseguir emprego, em tais condições.

Porque as ameaças eram permanentes: eu seria atirada, literalmente, na rua da amargura, em cadeira de rodas.

E não havia porta que se me abrisse. Nem sombra de misericórdia. Porque todos os caminhos haviam sido fechados por um encosto, uma espécie de exu das sete encruzilhadas...

É engraçado: eu, muitas vezes, ao disparar um míssil, senti pena. Confesso que, em várias ocasiões, minha mão quase tremeu...

Mas, não me parece que essas criaturas “angelicais” tenham sentido o mesmo.

Pelo contrário: se não fizeram mais, foi porque EU jamais permitiria que fizessem mais!

Contemporizo, peço, imploro, deixo até pisarem em mim, quando se trata de manter a paz.

Mas, em declarada a guerra, não esperem de mim a mínima piedade.

Agora, choram. Esperavam o quê?

Vivo do meu trabalho e sei que tenho um talento nato para fuçar, para investigar. Não preciso de muito: bato os olhos em uma informação e sei o quanto é importante. Tenho o faro que todo o repórter deveria ter em relação à notícia.

Esperavam o quê?

Estão se queixando de quê?

Noticiei alguma coisa errada? Por favor, se for assim, me digam – e comprovem. Porque eu provo. Com carradas de documentos oficiais.

Queriam o que, as santas, as puras, as donzelinhas de beira de cais?

Queriam que passasse quatro anos me fingindo de morta, como fizeram tantos?

Mas, por quê?

Sou, por acaso, alguma imbecil ou incompetente, que precise apelar a tal coisa?

Desde quando a minha integridade, a minha honra, foi posta nas rifas da canalhada?

Traí a quem? Escalei o poço sozinha! E ainda hoje estou tentando reconstruir a minha vida; retomá-la do ponto em que se encontrava, quando sofri aquele acidente, em outubro de 2002.

Até hoje, vejam só a enormidade do estrago!

Não pedi emprego a ninguém do Governo: quando me preparava para deixar o governo – porque havia recebido proposta de trabalho do Diário do Pará e de mais duas assessorias – fui CONVIDADA a permanecer. E, burra que sou, com essa minha mania de conciliação, aceitei.

E vêm essas bestas-feras, esses protozoários que se imaginam gente, essas aberrações da natureza tentar me impingir defeitos de que jamais padeci: trairagem e covardia.

Logo eu – e essas peças sabem bem –, que abomino linchamentos. E que, se vivesse nos tempos da Inquisição, teria sido, certamente, queimada viva, por defender quem estava sendo mandado à fogueira.

Logo eu, que sempre dei a cara à tapa, quando a ratalhada se escondia.

Logo eu, que padeço de fidelidade canina, pelas causas que abracei ao longo de toda a vida e que não tenho um palmo de terra no cemitério.

Logo eu, que tive a coragem de sustentar ser tucana, mesmo me abrigando entre petistas e peemedebistas, ou me filiando ao PSB.

Quem, dentre esses cacetes, tem tal cacife?

Quem tem essa coragem, vamos lá!

Mas, não esperem pena; não me venham com apelo à piedade: esqueçam o chororô. Aliás, recentemente, troquei meu 38 por 50 bazucas. Levo, agora, 25 delas em cada mão...

Então, façamos assim.

No fundo, no fundo, vocês têm de entender o seguinte: o pior caminho é tentar me ameaçar. Essa coisa de me ofender, só desperta o meu lado escorpiônico – contra o qual eu luto, desesperadamente, todo santo dia.

Portanto, eu não chamei vocês de protozoários, de aberrações da natureza e de donzelinhas de beira de cais – ou vocês querem mais do meu amplo repertório? E vocês não ficaram tentando me transformar em traíra e covarde.

Convivamos, não é mesmo? Civilizadamente.

Porque, se não, vocês vão ouvir. Mesmo no anonimato. E, tenham certeza, eu consigo ser mil vezes mais virulenta do que todos vocês reunidos. Principalmente, se resolver abrir a minha caixinha de recordações. Até porque não vou mirar NC. Vou mirar quem deveria controlar a troupe, não é mesmo? FUUUIIIIIIIIII!!!!!!!!!!

Uma pausa na guerra.



A todos os guerreiros no campo de batalha. Qualquer que seja o sonho! A fé! O partido!...
A tudo o que ansiamos, cada um de nós, no mais profundo dos nossos corações!
Não importa o revólver fumegante. A dor que deixamos para trás. A misericórdia que desejamos ter...
Nem esse frio no estômago – pois, que se anuncia a batalha final!...
Que Deus nos permita ser tudo o que imaginamos!
E, se for para cair, que saibamos cair de pé!
Pelo que acreditamos!
E que Deus abençoe cada um de nós!...


Carmina Burana


Fortuna, Imperatriz do Mundo


Ó Fortuna,variável como a lua!
Cresces sempre ou diminuis,
Detestável vida!
Hoje maltratas,
Amanhã lisonjeias.
Brincas com os nossos sentidos;
A miséria e o poder
Fundem como gelo em ti.
Destino cruel e vão,
Roda que giras,
A tua natureza é perversa,
A tua felicidade, vã,
Sempre a dissipar-se.
Pela sombra e em segredo,
Aproximas-te de mim.
Apresento o meu dorso nu
Ao jogo da tua perversidade.
Felicidade e virtude são-me,
Agora, contrárias;
Afecções e derrotas estão
Sempre presentes.
Nesta hora,
Sem demora, pulsai as cordas,
Posto que o bravo,
Derrubado pelo destino.
Chorai comigo!


Choro as feridas da Fortuna


Choro as feridas
Causadas pela fortuna
Pois, rebelde,
Retoma os seus dons.
Na verdade, está escrito
Que a cabeça coberta de cabelos
A maior parte das vezes revela-se,
Quando a ocasião se apresenta, calva.
No trono da Fortuna sentei-me,
Com orgulho coroado,
Com as flores variadas da prosperidade.
Floresci, então, feliz e abençoado.
Eis-me, agora, caído do cume
E privado de glória.
Gira, roda da fortuna!
Eu desço e pereço.
Outro é levado para cima;
No cimo de tudo senta-se o rei, no vértice:
Ele que se guarde de cair!
Porque, sob o eixo da roda, lê-se:
Rainha Hécuba.

(Carl Orff)

E essa é pra desanuviar os arraiais. Com uma recomendação expressa: ouvir com Dominguinhos, Sivuca e Oswaldinho, em “Cada um Belisca um Pouco”, da Biscoito Fino. Égua do forró arretaaaaaado!!!!! Alevanta defunto!!!!!


Feira de Mangaio


Fumo de rolo arreio de cangalha
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Bolo de milho, broa e cocada
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pé de moleque, alecrim, canela
Moleque sai daqui me deixa trabalhar
E Zé saiu correndo pra feira de pássaros
E foi pássaro voando em todo lugar

Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaieiro ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Joá

Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaiero ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Joá

Cabresto de cavalo e rabichola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Farinha rapadura e graviola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pavio de candeeiro panela de barro
Menino vou me embora tenho que voltar
Xaxar o meu roçado que nem boi de carro
Alpargata de arrasto não quer me levar

Porque tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem o Zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar

Mas é que tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem o Zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar

(Sivuca/Glorinha Gadelha)

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Festa no meu Apê II


_Comadre, vamo agitá, vamo agitá que a festa do seu apê tá muito pai d’égua! Me passe lá esse seu CD do Waldik Soriano!
_Que CD do Waldik Soriano? Eu tenho lá cara de quem ouve Waldik Soriano?
_Ué, nem Reginaldo Rossi?
_Só pode ser carma!... Eu sou o judeu errante, com certeza...
_Ê, comadre, olhe lá! O Jujuba tá dançando agarradão com a Barbie Princesa!
_Xiiii!!! Se o Conde de Bota-Bem souber, vai ficar uma arara!
_Mas aoooonde!... Ele vai achar é bom!...
_Por que já?
_Ô comadre, tem vez que você parece até um poço de desinformação!... Que nem esse seu blog velho que você nunca atualiza!
_Ê, animal! Olha que eu te demito...
_Pois pode ademitir! Ademita! Pra seu governo, já recebi convite até do Washington Post!...
_Pra contar as peripécias do Bill Clinton?
_Você quer os detalhes sórdidos do Salão Oval?
_Boa noite, dona Perereca!
_Ô, seu Jujuba, que prazer em lhe receber no meu apartamento! E o senhor, como sempre, elegantíssimo! E cheirosíssimo!...
_Ah, a senhora gostou? O perfume, é claro, é francês. E o terno, comprei na minha última ida a Madri. Onde, aliás, degustei uma Paella...
_Onde é o toalete? Onde é o toalete?
_O que foi, dona Barbie, a senhora tá se sentindo mal?
_É que eu comi uma azeitona!!!...
_Eu acompanho a senhora ao banheiro. Por aqui, por favor!
_Hum, o negócio tá bom, né, Jujuba?
_Hem?
_Vamo lá! Adeixe disso, mais é! Assopre tuuudo nos meus zuvidus!
_É que o Bota-Bem tem aquela dificuldade que você sabe, né?
_E que dificuldade, Jujuba! E que dificuldade!...
_Pois é! E a coitadinha da Barbie já nem consegue comer!...
_E como é que pode? Eu, também, no lugar dela, avirava vigilante do peso, ué!...
_Daí que estou tentando, sabe, convencê-la a saciar essa fominha...
_E que fome, Jujuba! E que fome!...
_Mas ela tá até com anorexia, bulimia, sei lá!...E olhe que eu já tentei de tudo: caviar, escargot, uma lagostinha básica...
_Por aí você não vai lá, Jujuba!
_Por quê?
_Ô ômi, até parece que você não é cria do Barão!... Adeixe disso, mais é: de frescura, já basta o que ela tem em casa!... Aconvide ela prum FAROFÃO! Com aquele cervejão quente, num copo de ‘prástico’, na ‘bera dum garapé!’ A bicha vai até acafungar!...
_Você acha mesmo?
_Agora, sou eu quem diz: Ó, meu Jesus Cristo, crucificado!
_Errrr...Ao seu disporrr, minha senhorra!
_Ô seu Inri, achegue pra lá, achegue pra lá, que ainda não é hora do senhor entrar! Apreste atenção, Jujuba: mulhé é tudo igual! Apare com esse negócio de caviar pra lá, escargot pra cá, lagostinha pra acolá...Aprochegue o bicho, mais é!... Pere aí, que eu vou chamar um especialista. Ô seu Barão! Ô seu Barão! Se achegue aqui!

____

(No Banheiro)

_Ah, graças a Deus! Vomitei pela semana inteira!...
_Mas a senhora tá melhor?
_Estou me sentindo leve!... A senhora também deveria fazer isso, dona Perereca! Olhe o seu tamanho!
_Ué, o que é que tem o meu tamanho?
_A senhora está fat!
_E velhete e neurotiquete!...
_A senhora sabia que o zinco combate os radicais livres?
_E eu que pensei que radical livre fosse o PSTU!
_O que é isso, dona Perereca!...A senhora é uma mulher tão nova, tão bonita...
_...E carinhosa. Isso é música do Zé Ramalho! Um Brad Pitt, que, por sinal, passou anos com a Amelinha...
_ Por que a senhora não se ajeita? Olhe essas suas calças?
_Ué, o que é que têm as minhas calças?
_São horríveis: sujas, desbotadas e folgadas! A senhora parece uma bêbada!
_Engraçado... Eu ia, agora mesmo, lhe oferecer uma 51!...
_ E essa sua camiseta, cheia de buracos remendados. E esse seu tênis, que não vê água há trezentos anos! Francamente, dona Perereca, a senhora tem um grave problema de auto-estima!
_Me dê licença, que agora quem vai vomitar sou eu!

____

(De volta à sala)

_Hare Krishna, minha senhora! Hare Krishna!
_Ô seu Barão, explique aqui pro Jujuba como é que ele tem de fazer com a Barbie Princesa!
_Nem só de pão vive o homem...
_Tá vendo? Apare com esse negócio de ficar oferecendo comidinha pra ela.
_Ainda que eu fale a língua dos homens...
_Dê-lhe uns chupões, uns amassos! E uns arrochos a três por quatro!
_Olhai os lírios do campo!...
_ Arranque a roupa dela! Capriche nas preliminares!...
_E o Verbo se fez carne...
_Aí, aprochegue o bicho, mais é!
_Você está melhor, Barbie?
_Bem melhor, Jujuba, bem melhor! Vomitei três vezes!... E ainda dei uns bons conselhos pra dona Perereca... Fiquei tão feliz!... Ela vomitou duas vezes!!!...
_Credo, comadre, você tá passando mal?
_Nem me fale, cumadizinha, nem me fale!...
_Errr... Serrá que as senhorras poderriam me ajudarrr? Esse senhorrr ficarrr gesticulando parra mim, mas não dizerrr nada. E eu não entenderrr o que é isso...
_Ah, não se avexe, não, seu Inri! É que o lorde Balloon só fala através dos outros. Pere lá, que eu vou pedirrr pra ele assoprá nos meus zuvidus!
_(...)
_Ele tá dizendo que não gostou da sua entrada...
_(...)
_ Ele acha que o senhor devia de ter arranjado uns raios e trovões e um fundo musical do tipo...
_(...)
_ ...Ah! A Aleluia de Handel!...
_(...)
_Ele também não gostarrr dessa sua túnica velha e do seu cabelo desgrenhado...
_(....)
_Ele acha que o senhor precisa é de uma guaribada fashion!...
_(...)
_Que, se o senhor quiser, ele pode lhe deixar mais concorrido que a Prece Poderosa!...
_(...)
_E lançar vários produtos: o sabonete do Inri, a coroa de espinhos de Indaial, as sandálias do pescador...
_(...)
_Me adesculpe, seu Inri: as sandálias, não, porque elas já vão ser lançadas pelo Barão...
_(...)
_Ah! Se duvidar, o senhor se elege governador do Brejo News!...
(...)
_Mas o senhor tem de deixar ele assoprar nos seus zuvidus...
_Errr... E como eu fazerrr?
_Ué, como eu estava fazendo! É só encostar! E vá com Deus, seu Inri! Escute o lorde, viu, que o senhor vai looonge!
_Ei, cumadizinha! Não é o Príncipe Clean que tá entrando no meu apê?
_Em limpeza e fome, comadre, em limpeza e fome!
_Égua, cumadizinha, rápido! Me ajude a esconder a merenda e os papéis!

(Continua)

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Solidariedade a Lúcio Flávio

Recebi e publico, na íntegra, a seguinte carta aberta do jornalista Lúcio Flávio Pinto, à população paraense. Daqui a solidariedade da Perereca aquele que é, sem qualquer favor, o nosso mais brilhante e combativo jornalista.

Lamenta-se que a Justiça paraense, tão ciosa em condenar os "bandidos" que defendem os interesses do nosso povo, apresente "exemplar" frouxidão moral em relação aos "mocinhos" que protagonizam toda sorte de patifarias, inclusive o peculato a roldo.



À OPINIÃO PÚBLICA




Chamar o maior grileiro de terras do mundo de pirata fundiário constitui ato ilícito no Pará, obrigando quem utilizar a expressão a indenizar o suposto ofendido por dano moral. Com base nesse entendimento, a 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado manteve a condenação que me foi imposta no juízo singular. No ano passado, o juiz Amílcar Guimarães, exercendo interinamente a 4ª Vara Cível do fórum de Belém (é titular da 1ª Vara), acolheu a ação de indenização contra mim proposta pelo empresário Cecílio do Rego Almeida e me condenou a pagar-lhe oito mil reais, mais acréscimos, que resultarão num valor bem maior.


Meu “crime” foi uma matéria que escrevi no meu Jornal Pessoal, em 2000, comentando reportagem de capa da revista Veja de uma semana antes, que apontava o dono da Construtora C. R. Almeida como “o maior grileiro do mundo”. Com base em um título de terra que ninguém jamais viu e todos os órgãos públicos negam que exista, o empresário se declarava – e continua a se declarar – dono de uma área que poderia chegar a sete milhões de hectares no vale do rio Xingu, no Pará, região conhecida como “Terra do Meio”, na qual há a maior concentração de mogno da Amazônia (o mogno é o produto de maior valor da região). Se formasse um Estado, esse megalatifúndio constituiria o 21º maior Estado brasileiro.

C. R. Almeida propôs a ação em São Paulo. Mas como o foro era incompetente, a demanda foi transferida para a comarca de Belém, onde o Jornal Pessoal, uma newsletter quinzenal independente que edito desde 1987, tem sua sede. Durante mais de quatro anos a ação foi instruída na 4ª Vara Cível. A juíza responsável pelo processo, Luzia do Socorro dos Santos, se ausentou temporariamente para fazer um curso no Rio de Janeiro. O juiz Amílcar Guimarães a substituiria por apenas três dias, mas, de fato, só assumiu a Vara no último dia, 17 de junho do ano passado, uma sexta-feira.

Nesse dia ele pediu ao cartório que os autos, com quase 400 páginas, lhe fossem conclusos e os levou para sua casa. Só os devolveu na terça-feira, dia 21, quando a juíza substituta já estava no exercício da Vara. Junto com os autos veio a sua sentença condenatória, datada de quatro dias antes, como se a tivesse lavrado no último dia do seu exercício legal na função.

Representei contra o magistrado, mostrando que a sentença era ilegal, que o processo não estava pronto para ser sentenciado (estava pendente informação da instância superior sobre um recurso de agravo que formulei exatamente contra o julgamento antecipado da lide, que o julgador efetivo pretendia realizar), que os autos sequer estavam numerados e que a sentença revelava a tendenciosidade e o desequilíbrio do sentenciante. A Corregedora Geral de Justiça acolheu a representação, mas, por maioria, o Conselho da Magistratura decidiu não processar o juiz. Recorri em julho dessa decisão, mas o embargo de declaração ainda não foi apreciado.

No plano judicial, apelei da condenação. A relatora do recurso na 3ª Câmara Cível, desembargadora Maria Rita Xavier, manteve a condenação, apenas concedendo uma redução no valor da indenização. A revisora, desembargadora Sônia Parente, pediu vistas. Na sessão de hoje ela apresentou seu voto, discordando da posição da relatora.

Argumentou que a grilagem de terras da C. R. Almeida no Xingu é fato público e notório, comprovado por diversas matérias jornalísticas juntadas aos autos, além de pronunciamentos unânimes de órgãos públicos que se manifestaram oficialmente sobre a questão, incluindo a Polío, incluindo a Polm oficialmente sobre a questrras da C. R. Almeida no Xingu ealizarnso. O juiz Amcia Federal, o Ministério Público Federal e a Justiça Federal. Eu apenas aplicara ao autor da grilagem uma expressão de uso corrente nas áreas de confronto, conforme ela própria pôde constatar quando atuou como juíza numa dessas áreas, o município de Paragominas.

A desembargadora-revisora disse que a matéria do Jornal Pessoal estava resguardada pela liberdade de expressão e de imprensa, tuteladas pela Constituição Federal em vigor. O texto jornalístico expressava uma situação conhecida e lamentada pelos que se preocupam com o futuro da Amazônia, assolada por agressões como a devastação da natureza, a apropriação ilícita do seu patrimônio e até mesmo o trabalho escravo. Muito emocionada ao ler esse trecho do seu voto, a desembargadora disse que Castro Alves, se voltasse agora, encontraria um novo navio negreiro nos caminhões que trafegam pelas estradas amazônicas carregando trabalhadores como escravos. E manifestaria sua indignação da mesma maneira que eu, ao escrever no Jornal Pessoal.

Ela salientou que a expressão em si, de “pirata fundiário”, é apenas um detalhe e irrelevante, porque ela foi aplicada a um fato real e grave, noticiado em vários outros jornais. “Por que só este jornal de pequena circulação, que se edita aqui entre nós, é punido?”, indagou.

Suas judiciosas observações, porém, não tiveram eco. A desembargadora Luzia Nadja Nascimento, esposa de Manoel Santino Nascimento, que deixou a chefia do Ministério Público do Estado para ser secretário de segurança do governo, sem maiores considerações, apresentou logo seu voto, acompanhando a relatora. Nem permitiu que o presidente da sessão, desembargador Geraldo Corrêa Lima, apresentasse as observações que pretendia fazer. Sua decisão já estava tomada.

Como havia apenas as três desembargadoras no momento em que a votação foi iniciada, em maio, os dois outros desembargadores que se encontravam na sessão de hoje da 3ª Câmara Cível não puderam votar. Por 2 a 1, minha condenação foi mantida. Agora me resta apresentar o recurso que poderá provocar a reapreciação da questão junto ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília.

Esse entendimento, de que é ato ilícito aplicar a expressão “pirata” àquele que é proclamado “o maior grileiro do mundo”. é exclusivo da justiça do Pará. Cecílio do Rego Almeida também processou a revista Veja, seu repórter, um procurador público do Estado do Pará e um vereador de Altamira pelo mesmo motivo, mas todos foram absolvidos pela justiça de São Paulo. Ao invés de condená-los, como aqui se fez comigo, o juiz Gustavo Santini Teodoro, da 23ª Vara Cível, elogiou-os por defender o interesse público. Justamente no Estado que sofre a apropriação indébita do seu patrimônio fundiário, com a mais escandalosa fraude de terras, a grilagem é protegida e quem denuncia o grileiro é punido.

domingo, 10 de setembro de 2006


Festa no meu Apê (I)


_Aleluia! Aleluia! Hare Krishna!
_Cumadizinha, sinto lhe informar, mas você errou de endereço: o hospício é mais pra lá!
_Ô comadre, você não tava dormindo?
_Na-na-ni-na-não! São três da manhã! Eu estava a sua espera!
_Puuuuxa!... Mas assim perdeu a graça!
_Pois não é, cumadizinha? Meu lema agora é: se você não pode derrotar seus doidos cativos, una-se a eles!
_Ainda bem que você mora bem do lado do hospício, né, comadre?
_É... Dá pra te internar mais fácil, animal!
_Credo, comadre! Égua do mau humor! Mas, como diria o lorde Tirésias, eu “truci” a solução pros seus problemas!
_UM ESCRAVO SEXUAL?!!!
_Não, melhor... Muito melhor...
_DEZ?!!!
_Não. Eu “truci” Ele em pessoa!
_Quem já?
_Sua Santidade Reverendíssima, o Inri de Indaial!
_Pronto...Só falta soarem as trombetas...
_Piuíííííííí. Piuííííííííííííí
_Que diabo é isso, animal?
_A minha cornetinha, ué! É que não tinha clarim. Aí comprei essa daqui, de ‘prástico’, lá no arraial.
_Ai, meu Jesus Cristo crucificado!...
_Errr... Ao seu disporrr, minha senhorra!
_Eu mereço, eu mereço!...
_ Comadre, o seu Inri precisa de um grande favor do seu blog: Ele quer deixar a história Dele para a posteridade!
_Errr... Me desculparrr, minha senhorra. Mas eu apreciarrr muito a sua Perrerreca. Porrr isso rrresolvi lhe pedirrr um grrande favorrr: escrreva a minha biogrrafia!
_Eu sentirrr...Quer dizer, eu sinto muito, seu Inri! Fico lisonjeada com a sua lembrança, mas, infelizmente, já me comprometi com outro doido... Quer dizer, eu já me comprometi com o Barão!
_Pois, então, comadre! Fica tudo em casa, ué!
_Pera lá, caramba! Isso daqui ta virando a Casa Transitória!
_A trransitorriedade da vida, minha senhorra, é obrra de meu Pai. Parra que os homens comprreendam que há coisas mais imporrtantes na vida. De que adiantarrr ao Homem ganharr o mundo inteirro e perrderrr a prróprria alma?
_Ele não engasga com isso, não?
_Não, comadre! O seu Inri é um autêntico nazi-brasileirro!
_Ei, você aí! Quer parar de tentar pescar o peixinho do meu aquário? Deixa ele em paz, caramba! Mas quem, diabos, é esse sujeito?
_Ô comadre! Não ta reconhecendo? É o Barão!
_De cabeça raspada e túnica branca?
_Pois não é? O ômi virou Hare Hare!
_Hare Krishna, minha senhora! Hare Krishna!
_Mas é a cara de um, focinho do outro!
_Batman e Robin, comadre! Batman e Robin...
_Mas, então, Robin.. Quer dizer, Barão. Há quanto tempo, não é?
_Muitas luas, minha senhora, muitas luas!...
_E esse seu, como direi, new look, é... interessantíssimo...
_Estou me preparando para o deserto, minha senhora! Estou me preparando para um novo e extraordinário deserto!
_É impressão minha ou ele ta mais bilé?
_É o incenso, comadre!... O ômi tá cheirando muito incenso...
_Mas, então, Barão. Até hoje estou à espera das fitas que o senhor ficou de me mandar, para eu escrever a sua biografia...
_Já desisti de tudo isso, minha senhora. Abdiquei de toda e qualquer vaidade! Tudo no mundo é ilusão! Há tempo de plantar e tempo de colher. E eu, agora, estou me preparando, espiritualmente, para colher tudo o que plantei!
_Você tem razão, cumadizinha, é incenso do bom!...
_Pois não é, comadre, eu já até encomendei...
_E quem é esse que ta entrando aí? Não é o lorde Balloon?
_Pois não é? Eu esqueci de lhe avisar, comadre: convidei ele também...
_Mas o que é isso? Virou festa no meu apê, agora?
_Ô comadre, você precisa relaxarrr. Precisa manter a mente aberta, ué!
_E eu que pensei que fosse só a Perereca!...
_.....
_Mas que diabos é isso? Por que o lorde só abre os braços e não fala nada?
_Ô comadre, ele só fala através dos outros, ué?
_Como assim?
_Ele assopra nos ‘zuvidus’, comadre!
_E depois a doida sou eu!...
_É mais gostoso botar! É mais gostoso botar! É mais gostoso botar!
_Ué, não é a Barbie Princesa?
_Em Spa e osso, comadre, em Spa e osso...
_Ô cumadizinha, você devia ter me avisado que eu tinha encomendado um caviar...
_Pelo amor de Deus, comadre, nem fale em comida perto dela, que ela começa a vomitar...
_Égua, olha lá o Jujuba! Lindo, tesão, bonito e gostosão!
_Assossegue o facho, comadre!
_Posso não, cumadizinha. O Jujuba é must!
_Também vai virar Hare!
_Não brinque!
_Depois desse estágio básico no PeFeLê, o que é que a gente podia esperar, né, comadre?
_Tadinho do Jujuba! Vou dar pra ele uns três milhões de comprimidos de amoxicilina!
_Credo, comadre, assim você ‘amata’ o homem!

(continua)

Agradecimento

A Perereca agradece, sinceramente, todos os comentários tucanos que tem recebido – mesmo que desaforados. Faz-lhe muito bem, ao ego, saber que não é tão facilmente esquecida...
Eternamente, Pará!

(Ah, como é bom pescar! A beira-mar. Em noites de luar!- Verequete)


Dona Maria

Dona Maria chegou, chegou, chegou
Com a mandioca
Para fazer a farinha, farinha, farinha de tapioca.
Dona Maria chegou, chegou, chegou,
Com a mandioca
Para fazer a farinha, farinha, farinha de tapioca.
Para remexer, para remexer, para remexer
Mexer, mexer, mexer, mexer.

(Domínio Público)



Sinhá Pureza

Vou ensinar Sinhá Pureza
A dançar o meu Sirimbó
Sirimbó que remexe, mexe
Sirimbó da minha vovó
Vai dançando Sinhá Pureza
Rebolando, pode requebrar
Carimbó, Sirimbó é gostoso
É gostoso em Belém do Pará
Olelê, Olalá, te jurei Carimbó, Siriá
Carimbó, Sirimbó é gostoso
É gostoso em Belém do Pará

(Pinduca)


Carimbó no Mato

Eu fui no mato, morena
Fui tirar cipó
Muito longe ouvi um batuque
Parecido um Carimbó (bis)

Eu vou de banda, de banda, de banda
Eu vou de lado, de lado de lá
Eu fiquei só
Dançando no mato Carimbó.

(Domínio Público)


Bala de Riple

Maria, quem foi que te disse
Que bala de ‘riple’ não mata ninguém?
Maria, quem foi que te disse
Que beijo de amor não consola alguém?
Ai, Maria, Maria, meu amor!
Ai, Maria, eu quero é teu calor!

(Pinduca, Menezes de Carvalho)

sexta-feira, 8 de setembro de 2006

Roda de samba

Malandro Sou Eu!


Segura seu moço, que o teu santo é de barro
Que sarro dei volta no mundo e voltei pra ficar
Eu vim lá do fundo do poço e não posso dar mole
Pra não refundar
Quem marca bobeira engole poeira
E rasteira até pode levar
Malandro que sou, eu não vou vacilar
Sou o que sou, ninguém vai me mudar
E quem tem tentou teve que rebolar sem conseguir
Escorregando daqui e dali
Malandreando eu vi e venci
E no sufoco da vida foi onde aprendi (malandro!)
Vou eu vou por aí
Sempre por aí, esse mundo é meu
E onde quer que eu vá
Em qualquer lugar
Malandro sou eu!

(Arlindo Cruz/Franco/Sombrinha)

O Mar

Nunca entendeu por que amava tanto o mar. As ondas, o cheiro, o murmúrio... O mistério primordial. A força de empurrar-se adiante e espalhar-se infinitamente. As profundezas que nem a luz conseguia penetrar.

Não, nunca tivera medo ao mar. E até sentira como se pudesse, apenas, deitar-se, a deixar-se levar. Como se fora parte daquelas ondas, em eterno desassossego. Daquele coração – um imenso e selvagem coração. Que se abrisse não para a morrer, mas para ninar...

Costumava enxergar o mar mesmo nos desertos. A palpitar em pedra e em pó. Represado nas folhas que se entregavam à terra. Eternamente reproduzido. A erguer-se à procura dos céus...

Por vezes, se perdera a olhá-lo, para compreender-se nesse mistério. Das águas que mergulhavam urgentes e partiam mais depressa ainda. Que lhe arrastavam a terra, a casa, as árvores. Mas que semeavam tudo isso em algum lugar.

E imaginava que já fora esse mar. Em outra Terra, em outra vida, até. A embalar em cada barco todos os sonhos do mundo.

Quem sabe, até, se perdera naquelas águas. E amara tanto as tempestades que se tornara nelas. A onda revolta diante do raio, que lhe revela a escuridão...

E, no entanto, olhava, olhava, mas já não via o mar. Como que sorvido pelas próprias entranhas.

E mesmo os olhos lhe ficaram desertos.

Feito um pedaço daquela paisagem, que à coisa alguma permitia frutificar.

Quisera ir-se ao encontro dele. Nem que tivesse de atravessar o sol, o frio, a fome, a dor.

Mas, a encontrá-lo, o que encontraria, afinal? Seria o mesmo mar? E o mar que pensara mar seria, de fato, o mar? E se nunca houvera, enfim?

Quem sabe não passara de um desejo? A flor dessa angústia que lhe velava o peito. Um grito... Que não soubesse de onde vem nem para quê.

Talvez fora o medo. O medo de se perceber, ali, entre as pedras, à espera de um oceano que jamais viria.

Quem sabe quisera, apenas, sentir-se mais que um fantasma a vagar entre fantasmas. A purgar os pecados havidos, sabe-se lá onde.

O mar lhe trouxera vida. Mas e se toda essa vida estivera dentro dela, enfim? Quieta, escondida, nos abissais da alma?

Que lhe trouxera, então, o mar, além da própria partida? E da dor dessa ausência do que foi sem ter sido?

Para além dos desertos que floresciam e da vida a pulsar no pó, que lhe ficara dessas ondas que a embalaram, feito a menina que se aperta ao peito?

Mas lembrou-se do tempo, o grande senhor do mundo!... E de todo o infinito que correra, sempre mais longe, sempre mais longe, sempre mais longe...

E das flores que se deitavam na terra, para vivê-la.

E de todos os mares que passaram por seu corpo, feito as águas dos afluentes.

E da criança que lhe batia à porta, a cada manhã.

E nem o mar, nem o que partiu, nem o que deixou, mereceu uma lágrima.

E pôs-se a dormir, a pensar que era Deus.


Belém, 07/09/2006