quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Navegadores I




Vira Virou

Vou voltar na primavera
E era tudo que eu queria
Levo terra nova daqui
Quero ver o passaredo
Pelos portos de Lisboa
Voa, voa que eu chego já

Ai se alguém segura o leme
Dessa nave incandescente
Que incendeia minha vida
Que era viajante lenta
Tão faminta da alegria
Hoje é porto de partida

Ah! Vira virou
Meu coração navegador
Ah! Gira girou
Essa galera.

(Kleiton e Kledir)




Os navegadores I

É preciso ouvir o horizonte que bate à porta.
E tão docemente, misteriosamente, convida a dançar.
A descobrir-se pele e sangue nas mãos do infinito.
A amanhecer em cada céu, embriagados de amanhã.
Ser a alma que se abre ao mundo.
Os sonhos que se deleitam nas nuvens.
O olhar de Deus a cobiçar a vida.
A mergulhar na vida, para explodir em luz.
Ser na terra, o ventre da terra.
O bicho encantado na imensidão da floresta.
Um caçador. Um eterno caçador.
Como um espírito que buscasse a própria essência.
A poesia que rasgasse a carne, para traduzir-se em coração.
Ver além da tempestade como quem desenha estrelas. A parir estrelas. Incessantemente.
Ver o pó. Sem medo de voltar ao pó.
Ver a vida. Ser a vida. Ser em vida. Ser.

(Belém 25/01/2007)

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Catullo




Ontem ao Luar


Ontem, ao luar, nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste o que era a dor de uma paixão.
Nada respondi, calmo assim fiquei
Mas, fitando o azul do azul do céu
A lua azul eu te mostrei
Mostrando-a ti, dos olhos meus correr senti
Uma nívea lágrima e, assim, te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer
De ver a lágrima nos olhos a sofrer

A dor da paixão não tem explicação
Como definir o que eu só sei sentir
É mister sofrer para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
Pergunta, ao luar, do mar à canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão

Se tu desejas saber o que é o amor
E sentir o seu calor
O amaríssimo travor do seu dulçor
Sobe um monte à beira mar, ao luar
Ouve a onda sobre a areia a lacrimar
Ouve o silêncio a falar na solidão
De um calado coração
A penar, a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal
A dor silente, universal
E a dor maior, que é a dor de Deus


(Catullo da Paixão Cearense e Pedro Alcântara)

domingo, 21 de janeiro de 2007

Um debate necessário!


Jornalismo sem diploma


I

Esse debate em torno da exigência do diploma para o exercício da profissão de jornalista não é novo. Já existia, há 27 anos, quando comecei a trabalhar em jornal. No entanto, ao longo dessas quase três décadas, não me lembro de perseguição tão implacável aos jornalistas sem diploma.

O objetivo, aparentemente nobre - a regulamentação profissional – catalisa importantes apoios sociais. Mas, como quase tudo na vida, por trás dessa nobreza aparente, há interesses bem mais comezinhos.

Ninguém imagine que essa discussão é baseada nos interesses societários. Para garantir a qualidade e a democratização da informação; pessoas mais bem preparadas para servir ao conjunto dos cidadãos; para tratar a informação como a condição sine qua non que é às transformações sociais – e não como um sabonete, um rolo de papel higiênico, uma “mercadoria” qualquer, ou, até, como mero “apêndice” da publicidade.

Tudo conversa fiada, lári-lári, para quem não conhece os meandros dessa categoria despolitizada, corporativista e arrogante – mas, na qual, eu, apesar das bicudas, orgulhosamente me incluo, mesmo que sem-diploma...

O que se quer, no fundo, é apenas e tão somente garantir mercado de trabalho. Porque jornalista, com ou sem diploma é, em geral, um profissional aprisionado no próprio umbigo, que sequer tem noção do próprio papel social.

Para começar, acredita piamente nesse tatibitati da “imparcialidade” jornalística. Sequer participa politicamente, exercita a cidadania, simplesmente porque se considera “apolítico”. Aliás, não consegue nem “se ver” como trabalhador. E nem consegue compreender que essa “visão imparcial” é ideologicamente determinada. E que a informação nunca foi, é ou será “inocente”: sempre servirá aos interesses das forças em disputa, no âmago da sociedade. E que o importante é termos perfeita consciência do lado em que estamos.

Eis a categoria dos jornalistas, nua e crua, como era há 27 anos e como é, ainda hoje. Há 27 anos, lembro que alguns de nós, no sindicato, bem poucos é verdade, já discutíamos isso. E não me consta que a despolitização dominante tenha se reduzido sensivelmente. Muito pelo contrário.

II

Na verdade, a questão central desse debate é crucial para a sociedade, embora nem apareça nos monólogos apologéticos que predominam nos espaços corporativos.

A questão central é: pode um bem social como a informação – e a formatação dela, o tratamento que se lhe dê - transformar-se em “propriedade”, em monopólio de uma categoria profissional?

Informação é direito básico de Cidadania. É propriedade de todos e de cada um de nós. E todos, temos, sim, o direito de fazer uso dela, na luta pelos nossos ideais.

Se só jornalistas com diploma podem produzir notícia – de impressos, rádios, tvs – como ficam o cidadão e o conjunto de cidadãos desprovidos de meios para pagar esses profissionais?

Como ficam os sindicatos, as associações de bairro, as rádios comunitárias? Como ficam até mesmo as entidades religiosas? E como fica o fumado do cidadão que, simplesmente, quer repartir aquilo que pensa, a sua opinião, com os vizinhos, os amigos, os familiares, através de um informativo, um boletim?

E como ficam os governos, as prefeituras em cidades distantes. Quer dizer: onde não houver jornalista diplomado, não pode haver nem mesmo a mera prestação de contas à sociedade, na forma de uma publicação ou de um programa de rádio ou tv? Ou de uma assessoria de comunicação que pense formas alternativas e sistemáticas de informação aos cidadãos, apesar da falta de veículos tradicionais?

Mas será que não se percebe logo que esse é um atentado despudorado até mesmo a direitos constitucionalmente garantidos?

E qual será o próximo passo? A exigência da assinatura de um jornalista nos sites e blogs – e ao que me lembre já se tentou algo assim, recentemente, não é mesmo?

Mas, desde quando, uma sociedade inteira, milhões de pessoas, pode ficar refém de alguns milhares?

Mal comparando, isso parece a questão dos camelôs. Mil e quinhentos, três mil, sei lá quantos, tomaram as ruas, as vias públicas de Belém, porque precisam sobreviver. E, para 1,5 milhão de cidadãos, lá se foi o direito de ir e vir...

III

Na defesa do diploma de jornalista não faltam argumentos falaciosos

O mais recorrente deles – e novamente nobre – é o da defesa de melhor remuneração para esses profissionais.

É claro que ninguém é contrário à melhoria salarial dos trabalhadores. Mas, novamente, é preciso passar a lupa na argumentação.

Não é verdade que os “sem-diploma” depreciam os salários da categoria. Pelo contrário: muitos jornalistas que nunca passaram nem perto de um curso de comunicação estão entre os mais bem pagos e respeitados do mercado.

Na verdade, o que deprecia o valor da mão de obra são as levas e levas de jornalistas despreparados que, todos os anos, são jogados no mercado - justamente pelos cursos de comunicação, que, em geral, têm qualidade para lá de sofrível.

E como a notícia, a informação, virou apêndice da publicidade, essa mão de obra, abundante, desqualificada e barata, serve muitíssimo bem ao cotidiano das empresas jornalísticas.

Afinal, com qualquer dois neurônios se produz um “calhau” - que vai tapar o buraco na página de um cansado e mal pago editor...

IV

Outro argumento dos “com-diploma” – que, aliás, se incluem na elite dos 7% de brasileiros que concluíram um curso superior; mas isso eles não dizem, é claro – chega a ser risível.

Decomposto, espremido, vai dar no seguinte: a ética profissional é decorrência do diploma. Ou, o diploma é condição sine qua non, necessária, da ética profissional.

E por que é que eu digo que isso é até risível? Porque existe aqui, claramente, uma confusão conceitual.

Ética e conhecimento são coisas bem diferentes. Eu até posso ser ético por conhecer. Ou até conhecer, para que isso me ajude a ser mais ético – forcemos a barra, assim. Mas, sinceramente, onde é que está a relação de necessidade? Ou, até, a “essência” em que essas coisas se misturam, para se tornar uma só?

Se eu tomar como verdadeiro esse raciocínio - e radicalizá-lo - chegarei, forçosamente, à conclusão de que éticos só podem ser os 7% de brasileiros que concluíram uma universidade, ou seja, que se apropriaram do conhecimento formal.

E nem esses 7% de brasileiros, mas, possivelmente, apenas o 0000000000,1% que concluiu um curso de Filosofia, estudou exaustivamente a ética e, em decorrência disso, é, necessariamente, ético.

Quer dizer: do lado oposto, terei 93% de brasileiros, a massa empobrecida mantida na ignorância, que, agora, para além de não ter condições mínimas de sobreviver dignamente, também nem pode ter um comportamento ético, porque desconhece o que isso significa...

Ou seja: deve ter muito canalhocrata, com anel de doutor, rindo à beça desse raciocínio...

V

Mas os “com-diploma” também argumentam o seguinte: novamente movidos pelas mais nobres intenções, dizem que a falta de regulamentação profissional, via diploma específico, interessa aos patrões.

Ora, dizem eles, sem a exigência do diploma, os patrões vão poder contratar quem bem entenderem para as redações – o amigo, a mulher, a mãe, o filho, cachorro, periquito, papagaio...

E, novamente, esse “argumento” terrorista, de tão triste, chega a ser risível.

Mas, desde quando, essa ou aquela exigência legal é impeditivo, no Brasil, para empresário contratar quem quer que seja?

Tenho 27 anos de profissão – mais da metade da minha vida. E não me lembro de uma única ocasião em que isso tenha se configurado.

E novamente essa “crença”, essa mera opinião, advém da prepotência, da arrogância dos jornalistas, que, ao invés, de se reconhecerem como trabalhadores, acreditam, piamente, que detêm, isoladamente, espécie de poder.

Poder de trabalhador não advém de um pedaço de papel, mesmo que seja do Direito – que, aliás, é conseqüência, não causa. Poder de trabalhador, qualquer que seja a categoria, ou conjunto delas, advém é da união, das lutas coletivas.

Ademais, para que, meu Deus do céu!, o dono de uma empresa jornalística vai querer colocar numa redação, nessa fábrica de loucos mal pagos, os seus parentes? Só se for para se livrar deles...

Vai é colocá-los em situações melhores, em outras empresas, ou em assessorias.

E desde quando, os jornalistas, temos esse controle tão extraordinário do que é produzido nas redações, que seja necessário, aos patrões, colocar lá “agentes infiltrados” consangüíneos?

E desde quando o simples fato de ser jornalista diplomado torna alguém sublime, imune a qualquer “influência”?

A conclusão necessária de tal premissa é que, no dia em que todos os jornalistas brasileiros formos especificamente diplomados, teremos não mais os jornalões que temos. Mas, milhares, milhões de Pravdas, a defender, incessantemente, os interesses do proletariado...


VI

É claro que não estou aqui defendendo que a porcaria dessa profissão vire um bordel.

E digo porcaria porque, se pudesse voltar no tempo, jamais teria entrado numa redação de jornal. Sei que tenho talento para isso. Mas, sinceramente, não é isso, exatamente, o que eu gostaria de ter feito na vida.

Jornalismo é desgastante, cansativo. E, de certa forma, vai desconstruindo, aos poucos, toda a capacidade de crer.

O bom jornalista nunca será “crente”. Sempre se perguntará o que está por trás da declaração do entrevistado. O que ele não diz, porque não quer ou não pode dizer.

E vai, também, considerar, sempre, o contexto do dito e do não-dito, na hora de escrever. Para não servir de inocente útil, nas mãos de quem quer que seja.

Vai considerar, em primeiro lugar, os interesses da sociedade em que vive, e não os seus ou os do entrevistado.

Terá sempre em mente que tem um compromisso com o seu tempo, que é a base de um tempo que está por vir.

Vai aprender a cultivar a curiosidade de uma criança. A perguntar e perguntar e perguntar, mesmo aquilo cujas respostas parecem óbvias. Porque, do aparentemente óbvio, advém, muitas vezes, o inusitado.

Vai aprender a lutar pelo furo, pela notícia exclusiva, a par da instantaneidade dos meios de comunicação.

E vai sofrer, que nem cachorro de pobre, até o dia seguinte, para ter a certeza de que a notícia que trouxe foi exclusiva de fato. Ou, ao menos, que ninguém o furou.

E vai suar para fazer o melhor, sempre o melhor, para o leitor. E vai gastar horas a fio, desgastando a vista, para ler, sofregamente, sobre tudo, para nunca ser confundido pela ignorância, na hora de tomar como verdadeira uma informação ou de a escrever. E para que o leitor, mesmo que com parcas condições de leitura, consiga compreender o que ali foi informado.

Contra a orientação dos editores e até dos patrões – que pretendem a notícia cada vez mais leve, como se servisse, apenas, para a sala de espera de um consultório – vai escavar a fundo a informação.

Porque há que se deter a informação – mesmo que não seja de pronto utilizada. Para que ela ajude a pensar sobre outras informações que surgirão lá na frente. E porque ela pode ensejar o furo de amanhã.

Jornalismo não é certeza – nunca será. É dúvida permanente. Metodicamente cultivada.

VII

Quando digo que não estou defendendo que essa profissão se transforme num bordel é porque também defendo alguma forma de regulamentação.

Creio, sinceramente, que os jornalistas poderiam sair de qualquer curso da área das Ciências Humanas. E que a técnica, o específico, poderia ser uma complementação.

Assim, teríamos – e essa é uma esperança – jornalistas mais aptos a compreender a sociedade em que vivem e a agir sobre a realidade.

Porque hoje o que ocorre é uma inversão: a técnica adquiriu uma primazia que não pode ter, no caso específico do jornalismo, sobre conhecimentos que permitem, ao menos, uma mundivisão mais límpida.

Tais instrumentos, que existem em profusão na Sociologia, na Filosofia, na História, no Direito, na Economia, rareiam nos cursos de Comunicação Social. São tratados como adendo, quando, em verdade, são o principal.

Mas, mesmo nesse tipo de regulamentação, seria preciso excluir algumas áreas.

A comunicação popular (sindicatos, comunidades) por exemplo, deveria ser excluída de qualquer tipo de exigência profissional. Até para permitir que os cidadãos possam construir, coletivamente – e com os meios que efetivamente dispõem – as linguagens e formatos eficazes.

É claro que os jornalistas poderiam ajudar nisso. Mas isso seria uma possibilidade. E não condição para a existência disso.

Também teriam de ficar de fora sites, blogs de caráter pessoal. Porque isso tem a ver com a liberdade de expressão.

E, sobretudo, deveríamos, os jornalistas, acabar com essa história de monopólio das assessorias de comunicação. E embora isso pareça, simples interesse pessoal, a coisa é bem mais profunda.

Na verdade, as assessorias de comunicação não deveriam ser ocupadas por jornalistas, porque, simplesmente, não fazem jornalismo.

Sei que é um campo de trabalho mais bem remunerado que as redações e que se tem ampliado muito. Mas, tais espaços, para ser justa, deveriam ser ocupados por relações públicas, publicitários ou profissionais de marketing. Jamais por jornalistas.

Quero que aqui, sem hipocrisia, algum jornalista afirme que já fez jornalismo em assessoria de comunicação.

Vamos, agora, deixando o corporativismo de lado, responder a seguinte pergunta: quem, dentre nós, divulgou alguma informação que fosse contrária aos interesses do assessorado?

É claro que os mais tarimbados sabem bem que, às vezes, é melhor divulgar uma inevitável notícia ruim, para manter as rédeas, o controle sobre o impacto social disso.

Mas, isso é jornalismo?

É certo que há cada vez mais jornalistas e os veículos de comunicação vão se tornando cada mais incapazes de assimilar essa massa profissional.

Mas, isso nos dá o direito de avançar sobre áreas que não nos pertencem, e mais que isso, que são rigorosamente incompatíveis com o jornalismo?

Nessa área, no máximo, poderíamos trabalhar na elaboração de projetos, para ajudar na identificação de linguagens e formatos.

Mas, jamais, assumindo o comando disso.

Agora, me dêem licença que vou tomar uma. FUUUUIIIIII!

P.S.: Sim, eu vou fazer o tal do curso de comunicação que vocês tanto defendem. Depois de 27 anos, não tenho alternativa, não é mesmo? Só estou tentando arranjar dinheiro para pagar uma faculdade particular, já que o meu joelho não me permite encarar o guamazão. Vou me submeter, porque também não quero abrir uma guerra contra a categoria à qual pertenço. Mesmo não concordando, me submeto, democraticamente, às decisões coletivas. Mas, creio, sinceramente, que temos de ampliar e aprofundar esse debate. Afinal, para além dos interesses da categoria, é preciso olhar os interesses da sociedade como um todo.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Primeiro e derradeiro

Aviso aos Navegantes!




Agora, vejam só, entre tantos problemas, tenho de me preocupar com uma doida, recalcada, vaca louca, uma tal de diz-que jornalista de merda que resolveu me acertar. Que até telefona aos outros, para que eu seja demitida.

Uma sujeita que só tem emprego porque é de um tal partido. E porque é corporativista, como ela só.

Uma PORCARIA, que nenhuma empresa quer, porque não serve para nada. E cujo marido, ao que me disseram, só serve, mesmo, é para carregar a cadeira de eventual paraplégica....

Vamos lá, "sindicalismo do agachamento", da gentalha apegada ao cabide, que só se manifesta diante de quem, aparentémente, não representa perigo.

E eu estou desafiando, para deixar bem claro, o Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará.

Tal sujeitinha, que me faz quase descer ao nível do Baratão, diz-que vai me barrar. Quero é ver! Quem enfrenta Tsunami, maninha, não desfalece em marola!...

Venham todos! De uma vez. Vamos lá ver, não é isso?

Até agora eu estava calada. Até ia fazer o curso como vocês querem, não é mesmo? Mas, será que vocês preferem uma voz ecoando nacionalmente? Vamos lá!

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Lindo!



Não ia postar nada tão cedo, mas, não resisti: fui obrigada a roubar esse postal belíssimo do blog do Parsifal Pontes, cujo link, Parsifal.org, você encontra nesta página.

Como não tenho blogado muito ultimamente, confesso que só agora vi essa imagem lindíssima da Belém de outrora. Tivesse visto antes, antes a teria surrupiado, para, quem sabe, prestar homenagem a Belém.

Me perdoe, prefeito - melhor dizendo, deputado - mas uma raridade dessas não pode ficar restrita a apenas um blog.

Assim, fico lhe devendo esse furto...E grata, de coração!

P.S. Dêem um pulo lá. Há outras imagens sublimes!

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

A única coisa na vida que gostaria de ter feito!

Cântico negro



"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

(José Régio)

sábado, 13 de janeiro de 2007

Alea jacta est

O Futuro aos deuses pertence!



Ao fim (última estrofe de Fortuna Plango Vulnera) há referência a uma história de que gosto muito. Trata-se da rainha Hécuba, mulher do rei Príamo.

A história de Hécuba é mais ou menos assim: durante 50 anos, ela foi rainha da rica e poderosa Tróia.

Aquando da guerra contra os gregos contava mais de 70 anos.

Velha, portanto, e depois de uma vida inteira “abençoada”, viu morrer Príamo e todas as dezenas de filhos que tiveram.

Além de ver morrer todos eles, inclusive Heitor, o mais bravo, também viu morrer o filho deste, atirado de um penhasco.

Viu, ainda, a amada Tróia em chamas.

A “coroar” tais infortúnios, ainda foi levada como escrava, para passar os últimos anos de vida a servir quem lhe havia tirado tudo.

Trágica Hécuba, como só os gregos sabiam ser! Com as parcas a tecer o inelutável destino, sempre sujeito a toda uma anterioridade, e no qual, por vezes, era a deusa Éris a imperatriz do mundo...

“Gira, roda da fortuna”, “eis meu dorso nu exposto a tua crueldade” e “eis o bravo, derrubado pela sorte, chorai comigo!”, são algumas das frases dessa preciosa criação.

Divagando, a Perereca retorna a Carmina Burana. E, mais uma vez, faz girar a Roda da Fortuna.



Carmina Burana

(Fortuna e Fortuna plango vulnera)

I

O Fortuna
Velut luna
Semper statu variabilis,

Semper crescis
Aut decrescis;
Vita detestabilis
Nunc obdurat
Et tunc curat
Ludo mentis aciem,
Egestatem,
Potestatem
Dissolvit ut glaciem.


Sors immanis
Et inanis,
Rota tu volubilis,
Status malus,
Vana salus
Semper dissolubilis,
Obumbrata
Et velata
Michi quoque niteris;
Nunc per ludum
Dorsum nudum
Fero tui sceleris.


Sors salutis
Et virtutis
Michi nunc contraria,
Est affectus
Et defectus
Semper in angaria.
Hac in hora
Sine mora
Corde pulsum tangite;
Quod per sortem
Sternit fortem,
Mecum omnes plangite!

II

Fortune plango vulnera
Stillantibus ocellis
Quod sua michi munera
Subtrahit rebellis.

Verum est, quod legitur,
Fronte capillata,
Sed plerumque sequitur
Occasio calvata.

In Fortune solio
Sederam elatus,
Prosperitatis vario
Flore coronatus;

Quicquid enim florui
Felix et beatus,
Nunc a summo corrui
Gloria privatus.

Fortune rota volvitur:
Descendo minoratus;
Alter in altum tollitur;
Nimis exaltatus

Rex sedet in vertice
Caveat ruinam!
Nam sub axe legimus
Hecubam reginam

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Festa VI

Festa no Meu Apê VI



(Abrem-se as cortinas. No meio do salão estão o Barão, o Jujuba, o lorde Balloon e o Barão dos Cadeados vestidos de pais de santo, junto com umas seis mães de santo. Há tambores e outros instrumentos de percussão. Eles cantam e dançam a “Festa de Umbanda”, de Martinho da Vila: “O sino da Igrejinha/Faz belém blem blam/Deu meia-noite/O galo já cantou/Seu tranca rua/Que é dono da gira/Oi corre gira/Que ogum mandou/Tem pena dele/Benedito tenha dó/Ele é filho de Zambi/Ô São Benedito tenha dó/
Tem pena dele Nana/Tenha dó/Ele é filho de Zambi/
Ô Zambi tenha dó/Foi numa tarde serena/Lá nas matas da Jurema/Que eu vi o caboclo bradar/Quiô/Quiô, quiô, quiô, qiera/Sua mata está em festa/Saravá seu mata virgem/Que ele é rei da floresta/Quiô/Quiô, quiô, quiô, quiera/Sua mata está em festa/Saravá seu cachoeira/Que ele é rei da floresta/Vestimenta de caboclo/É samambaia/É samambaia, é samambaia
Saia caboclo/Não me atrapalha/Saia do meio
Da samambaia”)


_Só me faltava essa!Agora, já tem até macumba no meu apê!
_Ô comadre, num si avexe! Vamo mais é costurá a boca do sapo, pra modo de amarrá os inimigos!
_Eu chamo é a Sociedade Protetora dos Animais, pra ti, animal! Mas desde quando eu vou já virar macumbeira?
_Mas tem reza forte, comadre! Dá certo ‘mermo’! Tem uma simpatia pra mantê marido que se, você assoubesse, não tinha aperdido o seu...
_(...)
_A gente apega um bocado de leite de mulhé parida e alava as partes com ele – sabe aquele banho tcheco básico? Aí, acoloca na geladeira, pra modo do corno abebê.
_Mas, não é melhor misturar um pouco de café, “pra modo” de disfarçar o gosto?
_Égua! Como é que eu não pensei nisso antes?... Ah, e tem também aquela pra Santo Antonio, que você adevia fazê, comadre, pra modo de arranjá outro otário! Acompre uma imagem do santo e arranque o minino do braço dele. Aí, abandone o bichinho numa igreja e arreze uma novela pro santo. Mas apoquente o santo, comadre, apoquente! E só adevolva o minino quando arranjá marido!
_(...)
_E tem uma mais fácil, comadre. Você apega o leite de mulhé parida...
_Serve o outro?
_Não, comadre, não amisture macumba que apode dá errado. Apegue o leite de mulhé parida, acoloque num copo e aí amergulhe o santo de cabeça pra baixo. Afogue o santo, comadre, mas afogue! E diga pra ele: só te atiro daí quando eu conquistá o meu amô”. Quero é vê se o santo num ajuuuuda!..
_Querida correspondente você me chamou?
_Ah é, seu Barão, eu já tinha até asquecido! É que eu queria que o sinhô ensinasse a comadre a fazê água sanitária!
_A senhora está interessada em abrir o próprio negócio, dona Perereca?
_Eu?...
_Num ascute ela não, seu Barão. Que a comadre aprecisa é de um guia espiritual! Num ata nem desata deste Ap velho! E olhe só pra ela, seu Barão, toda descabelada!
_É verdade, dona Perereca! A senhora anda necessitada de uma guaribada na infra-estrutura!...
_(...)
_Eu já disse pra ela, seu Barão. Tava até ensinando uma reza forte, pra modo de espantá a urucubaca. Mas como o sinhô virô macumbeiro, apodia me ajudá...
_É verdade, seu Barão! O senhor entrou aqui Hare-Khrisna. Depois, virou uma mistura de Fred Astaire e Frank Sinatra. E, agora, vai virar macumbeiro?
_São tempos difíceis, minha senhora, são tempos difíceis! Sempre mantive a ética e a dignidade e nunca – nunca! – menti ao povo do Brejo! A senhora é testemunha, aliás, desse meu modo novo e extraordinário de fazer política! De todos os sonhos que tornei realidade!
_Comadre, eu vô me desfazê em lágrimas...
_Eu também, cumadizinha, eu também!...Mas, seu Barão, sabe, é que eu não estou entendendo o que é que isso tem a ver com macumba...
_Ah! É que nos resolvemos agregar riqueza aos nossos talentos naturais. Eu, o Jujuba, o Balloon e o Cadeados resolvemos implantar um novo e extraordinário empreendimento. Vai se chamar Terreiro do Caboco Fok you...
_Mas, não é um nome meio esquisito pra um terreiro de macumba?
_Absolutamente, minha senhora! Decidimos dar um certo charme ao nosso negócio. Até porque, como a senhora bem sabe, as elites do Brejo adoram um nome exótico! E depois, fok you é o que vamos fazer...
_E vocês vão abandonar a política?
_É claro que não, minha senhora! Vamos é formar grandes cadeias produtivas de cabocos...
_ Me desculpe, é que não estou entendendo...Como é que isso vai funcionar?
_É muito simples, minha senhora: cada um de nós vai ficar responsável por uma etapa produtiva. O Jujuba, por exemplo, vai cuidar da farofa e da galinha preta. Já o Barão de Cadeados vai construir o terreiro...
_Vixe Maria! Num adeixe não, seu Barão! Que aí vai sê caboco da Alemanha, pai de santo de Paris, preto velho da Dinamarca...E nunca mais que acaba, viu, seu Barão? É tanto aditivo que dá pra enrolá os States!
_Sim, seu Barão, e o lorde Balloon vai fazer o quê?
_Isso não lhe parece óbvio, minha senhora? O Balloon vai cuidar dos efeitos especiais...
_Vixe Maria! Que vai tê até exu suspenso na Babilônia!
_E o senhor, seu Barão, o que é que vai fazer?
_Eu, minha senhora, vou invocar os cabocos!
_É... O que não vai faltar é “caboco” invocado...
_Além disso, vou incorporar os santos. É só tremer assim, ó!...
_Com licença, minhas senhoras!
_Ô, seu lorde Sudão eu já tinha até me asquecido do sinhô!
_Pois é! E está todo mundo impaciente lá atrás, certo? Querendo saber, certo?, a que horas vamos entrar, certo?...
_Eu já não lhe disse, seu Sudão? É só no próximo ato!
_Mas já estamos, certo?, no próximo ato, certo?
_O que é que você acha, comadre, a gente amanda o seu Sudão entrá agora?
_(...)
_Ô comadre! Por que é que você ta aí com essa cara de paisagem?
_É que ta um vento!...A gente não ouve nada!...
_Faz o seguinte, seu Sudão: avorte lá pra trás, que daqui a pouco a gente lhe achama.
_Mas é que eu tenho um problema, certo? Eu tenho trauma de bastidores, certo?
_Não me adiga, seu Sudão! E quando foi que isso acomeçou?
_Quando eu tinha oito aninhos, certo?, e perdi a minha primeira rã...
_Vixe, Maria! Apere lá que eu vô pegá as minhas agulhas novas! Se adeite aí nesse sofá, seu Sudão, e me aconte tudo!...
_Querida correspondente, será que eu também poderia participar dessa sessão?
_Com certeza, seu Barão! Adeite nesse outro sofá e vamô fazê um coletivo de psicanálise. Comadre, apegue meus óculos e meu cachimbo e vá anotando tudo! Num aperca nada, viu!

(As luzes diminuem. Foco nos quatro: a correspondente, sentada numa poltrona, de óculos e cachimbo; o Sudão e o Barão deitados nos sofás; a Perereca, numa cadeira atrás, anotando tudo. Em BG: “Boi da Cara Preta”.)

(Continua)

(P.S.: escancarada aos leitores, amante das criações coletivas, a Perereca aceita sugestões)

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

fragmentos IV

Fragmentos Biográficos IV


O coração navegante ansiava lançar-se ao mar. Sempre adiante, sempre adiante... A mergulhar nas ilhas inexploradas, para encontrar-se, quem sabe, no infinito.

Quieta, trancava portas e janelas. Em vez do sol, o negrume. Em vez dos pássaros, das ondas, do vento, era o silêncio. Tão denso e profundo, que calava a alma. E o horizonte desmanchava em dor...

Por que ficaria ali – ali ou em qualquer lugar? Por que criar raízes, se gente foi feita para andar? Se o oculto, o encoberto, promete sempre mais que o que se tem?

Ainda que os pés sangrassem, que se fizessem desertos os campos do mundo, ainda assim, queria seguir.

Para buscar, entre espinhos, a flor. O oásis. A face do deus que se esconde em cada deus.

Não fosse assim, de que adiantaria viver? Para arrastar-se como se arrasta toda a gente, a temer a morte que já é?

Queria o coração acelerado. O olhar brilhante da descoberta. Os sentidos escancarados ao mundo. A vida em zilhões de tempestades. O caos primordial.

Lembrou da primeira vez em que partiu. A mochila nas costas, uns vinte e poucos anos.

Os rios, as matas. E a casinha branca emoldurada pela imensidão da floresta. Quem viveria ali, tão possuído e distante? Quem seria a parte que se fez todo?...

As gentes, que olhara com a curiosidade das gentes. Como a procurar o liame, o elo. A essência por trás das palavras, dos sonhos, dos gestos.

A quantos amara e matara, em palavras, gestos e pensamento? E em quantos resistiria, na alegria e na dor?

No coração, eram tantos os perfumes, que se embriagara deles. Já não tinham rosto. Eram alma e cheiro entranhado nos poros. Pele sob a pele.

E os castelos, os rios, as casas, as matas eram o universo que se fez retina. O Verbo a conceber a luz.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Pra sangrar o coração...



Caravela


Segue o teu caminho,
Minha caravela.
Vai por outros mares,
Outras terras.

Eu sou marinheiro
E revirei o mundo,
Pra descobrir o exílio
No coração.

Pelos sete mares,
Enfrentei quimeras.
Mas não sei domar
As minhas feras.

Fui sem oriente,
No rumo de outras Índias,
Perdido nas neblinas
Da ilusão.

Minha caravela,
Aprendi a ver estrelas
Onde o céu andava escuro
De paixão.

Tive uma sereia
Que me alucinava,
Que me amava e socorria
Nas batalhas contra o vento.

Vi a lua branca
Refletida n’agua.
Naveguei por tantas
Nicaráguas.

Embarquei num sonho,
Perdi minha fragata.
Fiquei a ver navios
Na imensidão.

(Geraldo Carneiro/Egberto Gismonti)

domingo, 7 de janeiro de 2007

Debate I

Um debate tucano I

A tática e a estratégia

I

Enquanto escrevo – e nem sei por que escrevo – vou ouvindo Amália, em “Foi Deus”, e Elizeth, em “Três Apitos”. Vozes e canções tão diferentes, mas, belíssimas, quais as sensações que despertam, no corpo e na alma.

A música é um aprendizado. Não no sentido de claves, pautas. Mas, no sentido de conhecer e amar a harmonia por trás da diversidade aparente. Ou, como diria certo filósofo, essa convivência necessária e extremamente bela entre o arco e a lira.

O começo “divagatório”, por incrível que pareça, vai dar em política.

Simplesmente, não consigo odiar ou desrespeitar quem pensa diferente de mim.

Já fui o oposto, é verdade, mas, na juventude. Na época, admirava os paredões a que mandaríamos toda a burguesia. E tomava o proletariado por angelical. Enxergava no Estado um Leviatã. Não fazia a mínima idéia do significado da sociedade civil.

Rezava, sem saber, rezava. E foram necessários muitos anos para compreender, afinal, essa promiscuidade insistente (e nefasta) entre política e religião.

É por isso que me vejo, às vezes, boquiaberta, diante do ódio que alguns tucanos cultivam em relação a mim.

Se publicasse todos os comentários ofensivos e anônimos que recebo, praticamente todos os dias, as pessoas minimamente equilibradas ficariam, certamente, tão espantadas como eu.

Essa coisa de satanização é pequena demais. Revela ignorância, intolerância e até uma certa ingenuidade: a incapacidade de compreender o que significa o poder e, sobretudo, a conquista do poder.

Nenhum de nós – tucanos, petistas, peemedebistas, pefelistas – somos anjos ou demônios. Mas, simplesmente, agentes políticos. Pessoas exercendo a Cidadania, como, aliás, todos deveriam fazer.

Parece tatibitati. E é. Mas, às vezes, é preciso ser pedagógico. Até no sentido primordial da palavra: aquele que conduz o menino pela mão.

É fato que os sentimentos interferem na possibilidade de escutar o outro. Assim, ouvimos, atentamente, as pessoas com quem simpatizamos. E nos fechamos ao discurso daqueles com quem antipatizamos. Mas, quem sabe, agindo didaticamente, consigamos obter da platéia a necessária atenção.


II

Partido é um ajuntamento de cidadãos que caminham na mesma direção; que pensam, interpretam o mundo, da mesma forma. E querem, ao fim e ao cabo, a mesmíssima coisa.

É claro que, em meio a isso, há divergências. Mas não posições estratégicas - de fundo, de horizonte, de futuro, de objetivo - diametralmente opostas. Até porque isso resultaria, fatalmente, em outro partido.

O que há são diferentes compreensões táticas; visões diferentes de uma determinada conjuntura, de uma realidade, e da ação que sobre ela é preciso exercer, para alcançar aquele objetivo comum.

Esse é, pois, o primeiro ponto a fixar: a diferença entre tática e estratégia. A diferença entre o que se pretende, de fato, lá adiante, e o que se faz, aqui e agora, diante do que está posto, para se chegar ao fim pretendido.


III

E como é que isso se traduz no dia a dia? É mais ou menos assim: você e eu queremos chegar a Roma. Ou porque amamos a História; ou porque temos Roma como “o” roteiro turístico. Ou porque, talvez, acreditemos na propaganda da “Roma, Cidade Eterna”. Não importa o porquê. O fato é que eu, você e tantos outros queremos chegar a Roma.

Pois, muito bem. Como somos “companheiros” ou, quem sabe, amigos, decidimos viajar juntos. Sonhamos, planejamos juntos. E até parece que nunca nos separaremos, não é? Em nossa imaginação, já até organizamos a festança em Roma – a nossa Roma. Nossa e só nossa! Sem cristãos a arrombarem a nossa alegria pagã. Onde inexiste pecado – original ou adquirido.

Mas, lá pelas tantas, nós, apesar de mantermos o mesmo amor pela mesma Roma, começamos a divergir. Você diz que é melhor pegar um avião até Recife e daí se mandar para Madri ou Barcelona. E, por barco, trem, ônibus ou avião, chegar, afinal, a Roma.

Mas, eu digo que assim fica mais caro e distante. Que o melhor é pegar o avião em Belém até Lisboa. E, a partir daí, pegar outro avião. Ou, quem sabe, comprar a passagem direta, com escala no Rio ou em São Paulo. Mas, o certo, é que, também, continuo querendo chegar a Roma.

É claro que o dinheiro e o tempo que cada um de nós gastará dependerá da realidade que vemos – e, também, dos meios à nossa disposição.

E o que é essa realidade? Nada além das informações que possuímos – ou não possuímos – e que nos fazem pensar assim ou assado.

E o que são os meios? O dinheiro, o cacife, que possuímos – ou que possui um amigo, um parente, um aliado – e até os aviões, barcos, trens, ônibus e tudo o mais que existe no lugar em que nos encontramos. Ou seja, tudo o que podemos usar, para vencer a distância entre o “aqui” e o lugar aonde pretendemos chegar.

É claro que o resultado da decisão que tomamos - em função dessa “realidade compreendida” e dos meios disponíveis - dependerá de vários fatores. Pode ser que, objetivamente, a decisão mais respaldada, advinda, oriunda, “parida” de dados concretos me leve a chegar mais barato e rapidamente.

Mas, é possível, também, que uma greve, uma tempestade, um defeito no avião, no trem, no barco, ou qualquer outro acidente, me leve a ficar retida em algum lugar, dias, semanas a fio, enquanto você chega a Roma, todo bacana – e saboreia um sorvete, depois de comer uma bela macarronada e apreciar o Coliseu...

E, é claro, que, entre tantos companheiros que se dispuseram a ir conosco, haverá sempre aquele (ou aqueles) que ficará especado em Belém. Porque não entendia nada de geografia. E imaginava que Roma era logo ali. E que bastava apanhar o Icoaraciense...

Mas, ao fim e ao cabo, fazemos parte, todos, do mesmo balaio. Você, que chegou tão depressa; eu, que fiquei tempos, perdida em algum lugar; e o sujeito que nunca chegou – até porque o ônibus demora à beça e o motorista, embora carcamano, nem é capaz de dizer: “Vê se te manca, ô meu! O busão só vai até Icoaraci”...


IV

Bom, já vou na sexta ou sétima dose de vodka. E, definitivamente, estou escrevendo outras coisas. Hoje, já escrevi um poema, cheguei à metade do “Festa no Meu Apê VI” e estou, aqui, tentando traduzir alguns dos conceitos mais difíceis de compreender na política: tática, estratégia, imponderabilidade. Mas, que são, rigorosamente, fundamentais, qual o conceito de “areté”. Por isso, peço vênia aos leitores para beber em paz, neste final de noite, ouvindo, depois de Amália e Elizeth, um excelente pagodão.
Volto a esse assunto mais adiante. Amanhã, vou concluir a Festa no Apê. Ciao!

sábado, 6 de janeiro de 2007

Ao pó

Ao pó



Não me convidem para enterros.
Não me convidem a velar os mortos.
Permitam que chore na solidão de meu quarto,
Os risos e as histórias de quem partiu.

Enterros existem para esquecer.
Cemitérios, para visitar.
Há coisa mais impessoal que aquele amontoado de sepulturas?
Há anonimato maior que o da terra a receber um corpo?

Cemitérios são monumentos à finitude.
Avivam a consciência de que tudo retorna ao pó.
Não apenas em materialidade.
Mas nos confins do que chamamos tempo.

A cada era, apaga-se um coração.
E embora renasça em luz, entre as estrelas,
E embora respire no corpo, no cheiro, de quem ficou,
Cala, aos poucos, na lembrança,
Até que a pequenina lembrança - e aquele que lembra
Também se acabem em pó.

E a alma que torna ao criador
Daqui, nem o corpo a levar,
Também já não é aquele coração
Pois que os corações são feitos de sangue, esperança e suor.

Enterro é a morte vívida do coração que se amou.
Um filho, um amigo, o pai...
Cobre de luto a imensa vida ali tão perto.
E que se fez mais amada que a vida que ficou.

A paixão atiça o calor daquele corpo,
Mas o choro que se levanta
É a realidade do frio que se tornou.

E não há força que possa animá-lo.
Nem música, nem poesia que o vão buscar às profundezas da terra.

Não, não me convidem para enterros,
Nem esperem que a eles compareça.

Prefiro a memória em festa,
A lembrança que cheira, ri, salta, acaricia...
Que arde no peito em carne e osso
Até que o peito em outro peito retorne
À luz, ao tempo, ao pó.

Belém, 06 de janeiro de 2007

domingo, 31 de dezembro de 2006

A resposta necessária!


Habanera


L'amour est un oiseau rebelle
que nul ne peut apprivoiser
et c'est bien en vain qu'on l'appelle
s'il lui convient de refuser.

Rien n'y fait; menace ou prière,
l'un parle bien, l'autre se tait
et c'est l'autre que je préfère,
il n'a rien dit, mais il me plaît.

L'amour est enfant de Bohême,
il n'a jamais, jamais connu de loi;
si tu ne m'aimes pas, je t'aime;
si je t'aime, prends garde à toi...

L'oiseau que tu croyais surprendre
battit de l'aile et s'envola...
L'amour est loin, tu peux l'attendre
tu ne l'attends plus...il est là...

Tout autour de toi, vite, vite,
il vient, s'en va, puis il revient...

Tu crois le tenir, il t'évite;
tu crois l'éviter, il te tient.

L'amour est enfant de Bohême,
il n'a jamais connu de loi;
si tu ne m'aimes pas, je t'aime;
si je t'aime, prends garde à toi!...

(Bizet)





Não está pronto. Mas é mais ou menos isso.


Tudo o que é vai dar em ti.
Os mundos, os submundos, o universo que há.
A alma que suspira nas sombras.
O começo que se esconde em todo lugar.

E eu retorno aos teus braços, os braços em cruz.
O navegante à procura de um sinal dos céus.

Em ti, as pedras resplandecem.
Transbordam os átomos,
As folhas jamais envelhecem.

O que havia antes de ti?
E depois de ti o que haverá?

Se a voz que escuto é a tua,
se o cheiro que exalo é o teu,
Em que tempo, em que mundo te acharás?

E as muralhas havidas, são muralhas a derrotar.
A estrada que se estende ao peregrino,
O horizonte em que se oculta a face de Deus.

E eu vejo toda a vida como se fosse a tua.

Belém, 30 de dezembro de 2006.

domingo, 24 de dezembro de 2006

Feliz Natal!

Um Natal grandioso a vocês!

Pensei em colocar aqui White Christmas, Adeste Fidelis e tudo o mais. Até Tannhauser pintou, magnífico que é. E o Réquiem, do Mozart, num estilo bem down. O problema é que estou matutando bem mais longe: no suposto em mim. Por isso, leitores de longa data, desculpem se me repito. Mas é que gosto muitíssimo da música abaixo. É a minha cara – talvez, porque me “alembre”, recorrivelmente, de quem sou. Pena que não a compus - foi o Chico, como sempre. De qualquer forma, um feliz Natal a todos vocês! E até a próxima função!!!

Na Carreira

Pintar, vestir
Virar uma aguardente
Para a próxima função
Rezar, cuspir
Surgir repentinamente
Na frente do telão
Mais um dia, mais uma cidade
Pra se apaixonar
Querer casar
Pedir a mão

Saltar, sair
Partir pé ante pé
Antes do povo despertar
Pular, zunir
Como um furtivo amante
Antes do dia clarear
Apagar as pistas de que um dia
Ali já foi feliz
Criar raiz
E se arrancar

Hora de ir embora
Quando o corpo quer ficar
Toda alma de artista quer partir
Arte de deixar algum lugar
Quando não se tem pra onde ir

Chegar, sorrir
Mentir feito um mascate
Quando desce na estação
Parar, ouvir
Sentir que tatibitati
Que bate o coração
Mais um dia, mais uma cidade
Para enlouquecer
O bem-querer
O turbilhão

Bocas, quantas bocas
A cidade vai abrir
Pruma alma de artista se entregar
Palmas pro artista confundir
Pernas pro artista tropeçar

Voar, fugir
Como o rei dos ciganos
Quando junta os cobres seus
Chorar, ganir
Como o mais pobre dos pobres
Dos pobres dos plebeus
Ir deixando a pele em cada palco
E não olhar pra trás
E nem jamais
Jamais dizer
Adeus

(Chico Buarque e Edu Lobo)

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Festa V

Festa no meu Apê V

Abrem-se as cortinas. No salão, estão os convidados – todos em cadeiras de rodas, inclusive a Perereca. Olham para o topo da escada (um hall, uns seis degraus acima). Lá se encontram a Beijoca (em cadeira de rodas), o lorde Sudão (vestido a Obi-Wan Kenobi) e o lorde Ki-Nem (de barba e óculos trotsquistas, mas vestido a Luke Skywalker). O DJ ataca “Guerra nas Estrelas”. De ambos os lados da escada, um coral vestido de anjos entoa:

_“Livre! Agora sou livre! Agora sou livre! Livre eu sou! Livre! Agora sou livre! Agora sou livre! Livre eu sou!”.

Súbito, aparece a correspondente, no meio do salão, que interrompe a entrada triunfal.

_Aparem aí, apodem pará, que vocês não vão entrá agora!
_Ué, ficou maluca, cumadizinha? Como é que você quer expulsar a Beijoca, o lorde Sudão e o lorde Ki-Nem? Tá querendo me ver na rua da amargura?
_Que nada, comadre! Aconfie no meu taco! (virando-se e caminhando na direção da escadaria). Avortem, avortem, que vocês só vão entrar no próximo ato! Até! Até! E alevem os anjos junto! E não empurre a cadeira com muita força, viu, lorde Sudão, que a Beijoca apode caí! Comadre, você nem imagina o que aconteceu!!!
_Imagino sim, animal! Acabo de perder o blog, o emprego e vou vender pupunha no Ver o Peso.
_Mas aooooonnnde! Você é que anda muito estressada, comadre!... Deve de ser a tal da menopausa, ué!...
_Menopausa é o *&^@#+%!
_Credo, comadre! Que palavrões tão feios você tem!
_É pra melhor te xingar, animal!
_Ô comadre, se acalme! Veja pelo lado positivo: assim, a gente acria mais suspense pros leitores!
_ E eu sou algum Conan Doyle, agora? Égua, só pode ser carma!!! Só pode, só pode!...
_Ô comadre, sabia que você fica muito bem de cadeira de rodas?
_(...)
_É sério, comadre! É a nova moda no Brejo! Esgotou tudo: não tem mais imobilizadô, cadeira, andadô...Muleta, então, nem se fala! É todo mundo querendo, comadre! E o conde de Eldorado licitando, licitando...Diz que já tem 20 cadeiras pra cada moradô do Brejo! Só o Barão é que continua, a bem dizê, “de pés”... Pra modo de empurrá a cadeira, quando o lorde Sudão cansá...
_É ‘mermo’!... Eu bem que vi o Barão, todo amável, acenando pra Beijoca...
_É um querubim ungido, comadre!...A imagem do desprendimento...
_Um São Francisco de Assis, perseguido pelas pombas do destino...
_Um esmoléu, comadre, um esmoléu...
_Acho até, cumadizinha, que a gente devia mandar construir uma estátua à humildade do Barão!...
_Com um dispositivo pra fazê: arru, arru...
_O Barão de Cadeados podia ser o grande arquiteto!...
_Vixe Maria, comadre! Aí vai ser o Gold-Kong. Aleva todo o orçamento do Brejo! Até tambor vai ser superfaturado!... E ainda sai correndo no meio da multidão!...
_Podia era dançar um xote, né, cumadizinha?
_Que nada, comadre, você ta é por fora! É valsa. É “Artist’s Life”, regada a Dom Perignon...
_Puxa! E eu pensando em açaí com jabá!...
_É porque você é pobre, comadre! E, pra mais, intelectual! Com uma adoração por esse tal de povo, de deixá urubu do Ver-o-Peso de pena em pé!...Se amire na Maria Antonieta, comadre! A gente aperde a cabeça, mas não aperde a pose!...
_Panis et circensis!
_Tá vendo? Lá vem você com língua morta! O negócio é o biquinho! Arrepita comigo: l’amour, toujour, abat-jour, abrecour!
_Ué, cumadizinha, você também fala francês?
_Oui! Aprendi com o Barão: Pompadú? Zulu. Manjei toa bocú!...
_Isso é João Bosco e Aldir Blanc, animal!
_Bem que adesconfiei que já tinha ouvido isso em algum lado!...
_Mas o que é que você ia me contar, que até expulsou a Beijoca e o lorde Sudão daqui?
_Pois, comadre, e não é que eu já ia me esquecendo...Pois não é que aprenderam o Príncipe Clean!...
_Não brinque, cumadizinha!!!...Mas por que, já?
_Transtorno Obsessivo Compulsivo, comadre!...
_Ué, como assim?
_Pois não é, comadre? O ômi não podia ver escola, que queria alimpá! E era rua, remédio, papel, o que viesse o Príncipe traçava. Aí o Sindicato das Mãos Limpas e da Cara Lavada deu queixa, ué!...
_Mas só por que o coitado sofria, a bem dizer, de excesso de limpeza?
_Mas, comadre, assim não sobra nada pra ninguém! Já pensou no resto dos Mãos Limpas? É concorrência desleal, comadre! O negócio é solidarinosc: migalhas para todos!
_E quando é que ele vai ser solto?
_Ah, já assortaro o ômi, comadre. To até aqui com uma foto dele, na Gazeta de Arribação. Olhe só!
_Égua, mas ele ta muito puto!...
_E com razão, comadre, e com razão!
_É... Encarar o xilindró deve ser barra!...
_Mas aoooooonde!... Ele não gostou foi da produção!
_Quê?!!!
_Pois, veja só, comadre! O Príncipe ta com uma camiseta rasca, um short brega e uma sandália que parece até a do Barão! Esqueceram de chamá o lorde Balloon, pra modo de ajeitá o Clean! Jogá uma pupurina ali, arranjá um smoking acolá! Assim, como é que vão chamá de colarinho branco? É uma vergonha pra catigoria!
_Puxa, coitado do Clean! O pai deposto e, agora, a prisão. Desse jeito, vai acabar “alimpando” a rua da amargura...
_Mas aooooooooonde! Diz que ele já até comprou uma carrada de aspiradô! Abandonô esse negócio de rodo, vassoura, paninho e balde, num sabe? Agora, é a limpeza do milênio! Com self service e tudo...!
_Ué, quer dizer, então, que a prisão dele vai dar em nada?
_E não é, comadre? Diz que o lorde Sombra, que é sócio dele – os dois são assim, ó, ó – tem a corte inteira na mão. Si abrí a boca, com alicença da palavra, avoa merda pra tudo que é lado!
_E a gente aqui, ralando neste blog, né, cumadizinha?
_Mas eu bem que lhe avisei, comadre: acompre uma basculante! Mas você não quis me ouvi...Ficou, aí, toda cheia de luvas...Mas, num si avexe não, que a gente vai abri uma indústria de água sanitária. Apere aí, que eu vô chamá um especialista. Ô seu Barão, ô seu Barão, achegue aqui!

Na cozinha

(O lorde Balloon está vestido a Darth Vader – tem grandes avisos, no peito e nas costas, com uma setinha indicativa de que é o Balloon. Pode-se colocar até um adesivo na testa da máscara, com a legenda “lorde Balloon” e uma setinha. O lorde Ki-Nem é meio Trotsky, meio Luke Skywalker. Está se empanturrando de salgadinhos, das bandejas colocadas em cima do grande balcão da pia. Toca a música do Darth Vader e o Balloon entra).

_Luke!
_Credo, cruz! Quer dizer, foice! Martelo!...Quem é você?!!!
_(Mas é mesmo um despreparado! Nem infância teve!) Vamos tentar de novo: DJ, BG, por favor!...Luke!
_Camarada! Você é um equivocado! Não sou esse tal de Luke! Eu sou o lorde Ki-Nem!
_Ó exílio, a quanto obrigas!... Mas será que esses neo marqueteiros já nem ensaiar, ensaiam? Cadê o seu script?
_Hem?
_Aquele papelzinho, com as suas falas...
_Ah, espere lá!...Eras, mano, será que eu usei como guardanapo?...Ah, não, ta aqui, ó! Eras, mano, mas ta todo borrado!...
_Por que é que você não tira esses óculos?
_Ah, é!...Eras, ficou bem melhor, mano! Ué, lorde Balloon, é você?
_Não!...Eu sou uma imagem virtual!...
_O que é a natureza!...O que a gente não faz, hoje em dia, com esses efeitos de computador!...Mas, deixa eu ver esse script!...Hum...Hum...Não, não...Aqui diz...Hum, hum...Não, não...Hum, hum...Não, não! Camarada!... Sinto lhe informar, mas não posso encenar isso!...
_E por quê?
_É propaganda de classe, camarada! Busca, claramente, iludir o povo! Quer reduzir a luta de classes a meras ilusões subjetivas, num discurso tipicamente burguês! É claro que esse tal de Darth Vader não passa de um grande capitalista! A máscara e a Estrela da Morte são – claramente - os tentáculos dos grandes conglomerados, nesta fase superior do capitalismo! O Darth Vader é a vanguarda dos interesses do capital! Não sofre qualquer angústia, camarada! E o filho dele não pode ser o herói do proletariado, porque tem interesses de classe - também! Temos é de pregar a revolução entre os operários da Estrela da Morte! Proletários do universo, uni-vos!
_Lorde Ki-Nem, isso está se tornando cansativo. Então, por que não fazemos o seguinte: vamos até um bar e socializamos o whisky. Aí, aproveitamos pra socializar um papo e o tira-gosto. Mas, para isso, temos de terminar, primeiro, a porcaria desta peça! Ou você vai querer que a platéia peça o dinheiro de volta? Aí, camarada, sinto informar, mas a dona Perereca não vai socializar o cachê!...
_E ela faz isso, camarada?
_É claro, camarada! Ela é uma típica representante burguesa! A vanguarda do capitalismo!...
_Então, camarada, pelo bem dos atores proletários e dessa nossa platéia proletária, é melhor socializarmos o script!...
_Com certeza, camarada! Camarada DJ! BG, por favor!... Luke!
_Daddy!

(Os dois se abraçam. As luzes mudam. O DJ ataca “Pai Herói”, do Fábio Junior. O Filho Pródigo canta: Pai, pode ser que daqui a algum tempo/
Haja tempo pra gente ser mais/ Muito mais que dois grandes amigos, pai e filho talvez/ Pai, pode ser que daí você sinta, qualquer coisa entre esses vinte ou trinta/ Longos anos em busca de paz..../Pai, pode crer, eu tô bem eu vou indo, tô tentando vivendo e pedindo/ Com loucura pra você renascer.../ Pai, eu não faço questão de ser tudo, só não quero e não vou ficar mudo/Pra falar de amor pra você/ Pai, me perdoa essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criança/Que um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredo/ Nos teus passos você foi mais eu/ Pai, você foi meu herói meu bandido, hoje é mais muito mais que um amigo/ Nem você nem ninguém tá sozinho, você faz parte desse caminho, que hoje eu sigo em paz !).
_Pai!!!
_Filhinho!!!

(Os dois se abraçam, novamente. As luzes se apagam. De volta à sala. Lá, estão o Inri de Indaial, vestido de drag queen (em pé, no meio), e umas dez crianças em cadeiras de rodas. Eles cantam e dançam (elas nas cadeiras, empurradas por outras pessoas) A Noviça Rebelde:

Let's start at the very beginning
A very good place to start
When you read you begin with A-B-C
When you sing you begin with do-re-mi

Do-re-mi, do-re-mi
The first three notes just happen to be
Do-re-mi, do-re-mi

Do-re-mi-fa-so-la-ti
(Let's see if I can make it easy)

Doe, a deer, a female deer
Ray, a drop of golden sun
Me, a name I call myself
Far, a long, long way to run
Sew, a needle pulling thread
La, a note to follow Sew
Tea, a drink with jam and bread
That will bring us back to Do (oh-oh-oh)

(Os dois juntos; depois só as crianças, como no filme)

Doe, a deer, a female deer
Ray, a drop of golden sun
Me, a name I call myself
Far, a long, long way to run
Sew, a needle pulling thread
La, a note to follow Sew
Tea, a drink with jam and bread
That will bring us back to Do

Do-re-mi-fa-so-la-ti-do
So, Do

(Continua)

sábado, 16 de dezembro de 2006

Nélio

Vamos boicotar
o blog do Barata!

Tenho imensas divergências com o Nélio – e ele sabe disso muito bem. Aliás, nem nos falar, falamos. Mas, garanto o direito de ele se manifestar nessa polêmica.

Por deferência ao Paulo, tentei tolerar o Nélio. Também sei que ele é marido de uma pessoa maravilhosa, a quem prezo muito - a Ritinha (Queridinha!) Mas, o fato, é que nossos espíritos nunca se cruzaram.

Entendo, porém, que o Nélio é um cidadão. Por isso, tem direito líquido e certo a manifestar opiniões. E fico-lhe grata, sinceramente, por escolher este espaço.

Sigamos conversando, debatendo, discutindo democraticamente. Racionalizemos o coração. Só assim, quem sabe, conseguiremos nos ver - e ao mundo – de forma mais equilibrada.

Obrigada, Nélio, pela sua importante participação neste debate. Até porque, a par das nossas divergências, reconheço em você um intelectual de fôlego:


“Tenho boas razões para somar meus comentários aos muitos que estão circulando contra o blog desse rapaz. Tenho bons motivos para engrossar a campanha contra o acesso ao blog do tal barata, o qual nunca visitei. E muito menos, agora, vou visitar.

Nunca fiz nada para esse rapaz; não lembro ter dito uma vírgula. Nem contra, nem a favor ao tal. Mas ele vive também me maltratando, segundo o que me contam, talvez só porque ocupo um cargo público.

Não me importo que me critiquem, mas não posso aceitar a ofensa, a humilhação e as acusações gratuitas.

O blog do tal barata é uma espécie de bate-pau de aluguel para os mais diversos interesses, onde se abrigam, também, desafetos que a gente nem sabe que existem, ou interesses políticos inconfessáveis. Barata (o bicho) presta-se para isso, para conduzir porcaria de um lado para o outro e contaminar tudo. Enfim, trabalho de inseto.

Maltratar o Paulo é mexer comigo também. Mais do que um companheiro de profissão, o Paulo é um irmão com quem firmei, sem palavras, um pacto de saudabilíssima convivência, fundada no que de mais sagrado pode construir uma sólida amizade: a ética.

Mais do que isso, minha relação com o Paulo é de irmão que permite o choro mútuo no ombro. Só a ética e a decência, a humildade e a sabedoria aprendidas na simplicidade da vida permitem isso.

Então, mexer com o Paulo Roberto Ferreira é mexer com o Nélio Palheta também. Principalmente porque no mesmo balde de maldades o tal barata inclui nós dois. Logo, sou a favor de uma campanha para que, pelo menos os jornalistas que se dão respeito, deixem de visitar esse blog.

Nélio Palheta"

In Memoriam

Luto de sanfoneiro



Diz que Gonzagão e Sivuca se encontraram no Céu. Rolou o maior arrasta-pé. Foi anjo dançando xote, baião. Flocos de nuvens, se alevantando ao infinito. Até São Pedro resfolegou no cangote de Santa Maria Carolina. E Jesus, cansado dessa cruz que é o mundo, gritou à sanfona e sanfoneiro: Fiat Forrus!

Aliás, diz que nunca se viu melhor forrozeiro que Jesus. Vai de par em par, dum lado a outro do salão. Ta raquítico. Não de sofrer, mas de dançar...

Bandeira largou de mão a sua Pasárgada, que era, a bem dizer, uma mosca morta. Juntou-se a Pessoa e foram baforar na tabacaria do beco. Aí compraram um retrato de Drumond. Que o retirara da parede, pra modo de pendurar uma sanfona. Oswald disse que era um gesto antropofágico. O Sardinha reclamou: quem entende de antropofagia sou eu, ó pá!...

Deram que faltava mulher. Aí chamaram a Tarsila, a Pagu, a Berta, a Clarice, a Clara, que chegou toda vestida de maré cheia... “Mulher não paga, mulher não paga!”, gritava Santo Agostinho. Até a Marília apareceu. Mesmo que suspirosa. E sem gostar de tais festanças.

Nós, cá embaixo, sofrendo à beça. Eles, lá em riba, se divertindo.
Vamos dançar! Luto de sanfoneiro é forró... E égua do forró arretado! Alevanta, defunto!!!!!!!!!!!!


Feira de Mangaio


Fumo de rolo arreio de cangalha
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Bolo de milho, broa e cocada
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pé de moleque, alecrim, canela
Moleque sai daqui me deixa trabalhar
E Zé saiu correndo pra feira de pássaros
E foi pássaro voando em todo lugar

Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaieiro ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Joá

Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaiero ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Joá

Cabresto de cavalo e rabichola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Farinha rapadura e graviola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pavio de candeeiro panela de barro
Menino vou me embora tenho que voltar
Xaxar o meu roçado que nem boi de carro
Alpargata de arrasto não quer me levar

Porque tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem o Zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar

Mas é que tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem o Zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar

(Sivuca/Glorinha Gadelha)

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Rosaly

Publico o recado que recebi via e-mail, sem possibilidade de publicação na janelinha. Um comentário importantíssimo, diga-se de passagem:


Caros amigos,

Apóio inteiramente a campanha contra o blog do Barata. Quem militou no sindicato dos jornalistas nos anos 80 conhece muito bem os métodos inescrupulosos deste senhor, que já deveria ter se rendido ao ostracismo a que a história lhe relegou.

Também reforço a idéia de que não devemos lê-lo - para que perder tempo com infâmias de quem não tem a mínima autoridade moral?

Quanto ao Paulo Roberto, este sim, tem autoridade moral, ética e profissional que lhes são conferidas pela sua trajetória impecável em defesa dos interesses maiores da sociedade.

Todo apoio ao Paulo e toda a indiferença a Augusto Barata.

Grande abraço,

Rosaly Brito

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Em defesa do jornalismo!

Vamos boicotar o
blog do Barata!



Assino embaixo da sugestão da Simone Romero. Acho que chegou a hora de reagirmos a esse Silas de Assis da blogosfera. Divulguem este manifesto. E vamos, também, fazer uma grande corrente de solidariedade ao Paulo Roberto, um dos jornalistas mais respeitados deste estado. Justamente, a antítese do editor do Jornal Popular dos blogs.


Caros,


Até agora vinha adotando a – cômoda - atitude de simplesmente acompanhar o desenrolar dos fatos ligados à sucessão governamental na mídia. Mas acho que chegou o momento de todos falarmos, porque a omissão também é um crime.

A troca de governo e todo o burburinho, falso e verdadeiro, que a envolve têm sido material farto para alimentar os blogs.

A dança de cadeiras também serviu para fazer aflorar o que há de pior na natureza humana. É triste ver no que se transformaram os blogs.

Depósitos de todo o tipo de acusações, veículos de concretização de vinganças pessoais, abrigo para toda espécie de covardes que se escondem no anonimato para destilar venenos e mentiras.

Para esses anônimos, ou não, deve ter algum valor chamar as pessoas do que quiserem. Talvez renda uma vaga no próximo governo. Talvez reduza a raiva de saber de sua própria incompetência para falar qualquer coisa que seja levada a sério.

Soube pelo manifesto da Ana Célia Pinheiro que o jornalista e, antes de qualquer coisa, meu amigo, Paulo Roberto Ferreira, foi caluniado no blog do senhor Barata.

Não sei o que ele escreveu, nem me interessa saber. Não corri para saber o que aquele senhor escreveu sobre meu amigo. Tenho ética, me valorizo. Meu tempo é precioso demais.

Simplesmente não leio este senhor. Não lhe dou respaldo nem audiência. Porque é disso que ele precisa. Não alimento cobras.

Penso que devemos iniciar uma campanha de boicote ao Blog do Barata. As empresas de comunicação deste estado já o empurraram para o ostracismo! Vamos nós agora, como cidadãos, fazer o mesmo. Vamos relegá-lo ao esquecimento.

Apelo principalmente aos colegas jornalistas. Vamos colocar em prática a idéia de controle social da mídia. Se ninguém ler o blog ele simplesmente perderá força.

Não tenho medo de retaliações. Simplesmente não leio aquele senhor e tudo que ele disser sobre mim, realmente, não me interessa.

Vamos levar adiante a campanha de boicote ao Blog do Barata!

Divulguem a campanha para o máximo de pessoas que puderem.

Simone Romero
Jornalista

Desafio à mentira!

Basta!


Conheço Paulo Roberto Ferreira há muitos anos. É uma as pessoas mais dignas que já encontrei ao longo da minha vida – e olha que isso não é pouca coisa, não. É um intelectual extraordinário. Um jornalista brilhante que angariou credibilidade e respeito, por onde passou.

Foi, aliás, Paulo quem me despertou para a política, quando nos conhecemos, nos idos de 1981. Eu não sabia necas de pitibiriba. Ele me ajudou a ver o País e o mundo desigual em que vivemos. Devo a ele, enfim, a melhor parte da minha visão de mundo.

Nunca esquecerei da coragem de Paulo, aquando das primeiras eleições que este País viveu, em 1982, após a longa abstinência imposta pela ditadura. Lembro dos enfrentamentos que tivemos com o Sá Leal (um jornalista extraordinário!). E que, a par desses enfrentamentos, nunca deixou de nos respeitar. Justamente, porque nos fazíamos respeitar.

Porque se fazer respeitar implica não ser lambão; não render toda sorte de mesuras ao “senhor” que paga o osso; não desvirtuar a realidade, com toda sorte de mentiras, para alcançar uma sinecura qualquer.

Jornalismo não é destilar veneno. Isso, as víboras fazem com bem mais competência e precisão. Aliás, até rastejam melhor.

Fazer-se respeitar, jornalisticamente falando, quer dizer o oposto: é ser competente, doutor, não em puxa-saquismo, mas no ofício de reportar.

Paulo, sempre mais inflexível que eu, nunca transigiu em relação a isso. Eu, mais catita, sempre deixei claro que a servidão só existe, enquanto for conveniente ao “servo”, também.

Lembro de uma vez que Paulo, intransigente como ele só, me disse que eu nunca seria uma revolucionária de fato, devido a minha origem burguesa. Na cabeça dele, a dominação tinha a ver com genética e criação. É um direito dele pensar assim – ou ter pensado assim – como é um direito meu morrer de rir de tamanha simplificação.

Mas, apesar de tantas diferenças, seguimos amigos por todos estes anos. E eu prezo a amizade dele, mais do que a maioria das coisas que prezo neste mundo. Porque me orgulho de ser amiga de alguém tão íntegro. Faz-me bem saber que alguém dessa magnitude tem amizade a mim.

É por isso que, puxar briga com o Paulo, é puxar briga comigo. E eu não tenho a comiseração dele. Nem as papas na língua que ele tem. Para mim, como diria um político paraense, da cintura pra baixo tudo é canela.

Não acredito nem em céu, nem em inferno. Faço o que se pede, a quem necessitar. É barba, cabelo e bigode.

Ando meio irritada com essa coisa de estarem tentando acertá-lo. Tentei não me meter. Mas é impossível. Gosto do Paulo Roberto tanto quanto gosto de mim.

Nunca conheci um petista mais petista que ele – um petista, de fato, digno desse nome. Assim como nunca conheci tucana mais tucana que eu...

Mas, Paulo é da paz, enquanto eu vivo para a guerra. Venham quantas vierem. Quantos forem os exércitos que necessitarem disso.

Já combati mais de 50, sozinha. Pois, que venham três – isso é fichinha.

Não me importo, minimamente, de revirar os podres alheios. Até porque tenho treinando as minhas moscas para isso, a vida inteira. Sorrindo, revelo os bêbados, os canalhas, os lambe-botas. E o que disserem de mim, é sobejamente conhecido. Tal as moscas, educadíssima, sei quem sou e onde me é dado assentar.

De há muito, Paulo deveria integrar um governo do PT. Defendo-o, fervorosamente, para a Assessoria de Comunicação. Tal cargo, enfim, teria a dignidade que merece. Com um técnico competente e honesto que não viveria de propinas, para jogar na primeira máquina disponível, nem do ódio patológico que algumas pessoas (pessoas?) guardam em relação ao mundo.

Essas pessoas que, quando morrerem, é verdade, acharão quem lhes jogue, por cima, carradas de terra. Mas, pela certeza que querem ter de que uma abjeção como essa, tão cedo, não tornará ao mundo.

Paulo tem a capacidade de lidar com os Maiorana e com os Barbalho. E de aproveitar a estrutura existente para montar um sistema alternativo de comunicação de massa, independente dos jornalões.

Não deveria dizer isso, porque sobrevivo dos jornalões. Mas, enquanto os governos que vêm do povo (como a DS pretende ser) não conseguirem construir essa terceira via, vão penar, com certeza, nas mãos de quem detém o poder econômico e a capacidade de mobilização social.

É preciso um sistema de comunicação alternativo, ideologicamente comprometido, massivo e direto.

Mais não digo, nem me foi perguntado.

Neste momento solene, prefiro aguardar pelos leões. Que maravilha! Vou poder matar e esfolar novamente!