quarta-feira, 19 de outubro de 2022

“Pintou um clima”: polícia e MP têm de investigar se Bolsonaro prevaricou, ou até se cometeu crimes ligados à pedofilia. O Brasil tem o direito de saber, sem sombra de dúvida, se o presidente da República possui ou não inclinações pedófilas. Basta de sigilos de 100 anos!




Não entendi a decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, que determinou a retirada, das redes sociais, do vídeo em que Bolsonaro afirma que “pintou um clima” entre ele, um homem de 67 anos, e meninas de 14 ou 15 anos, com idade de serem suas netas.

Segundo o portal Metrópoles, Alexandre considerou que as postagens veiculavam “fato sabidamente inverídico, com grave descontextualização e aparente finalidade de vincular a figura do candidato ao cometimento de crime sexual”: https://www.metropoles.com/brasil/eleicoes-2022/moraes-manda-pt-e-redes-sociais-tirarem-do-ar-fala-de-bolsonaro-sobre-venezuelanas

Mas qual o fato “sabidamente inverídico”, a que o ministro se refere?

No vídeo, quem diz que “pintou um clima” com aquelas meninas é o próprio Bolsonaro.

E se as pessoas entendem tal declaração como pedófila, é porque o único significado dessa expressão é o de atração romântica ou sexual.

No caso, atração de um idoso por meninas de 14 ou 15 anos.

A própria história que ele contou, para tentar se justificar, não explica que outro sentido teria essa expressão, e levanta uma série de questionamentos.

Tudo começou na sexta-feira, 14, quando ele concedeu uma entrevista ao podcast Papparazzo Rubro-Negro.

Lá pelas tantas, resolveu “contar um lance”, que estaria em uma das suas lives, para criticar a situação da Venezuela, uma das suas fixações.

Segundo ele, o “lance” teria ocorrido em um sábado, quando passava de moto pela comunidade de São Sebastião, na periferia de Brasília.

“Parei a moto numa esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas, 3, 4, bonitas, com 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, “posso entrar na tua casa?”. Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando. Todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos, se arrumando num sábado pra quê? Ganhar a vida. Você quer isso pra tua filha que tá nos ouvindo aqui agora? E como chegou a esse ponto? Escolhas erradas”, disse ele. 

Quer dizer: ele passava por lá, quando viu aquelas “menininhas”, bonitas e “arrumadinhas”. Calculou que tinham uns “14,15 anos”. Sentiu que “pintou um clima”. Voltou e pediu para entrar na casa delas.

As palavras são do próprio Bolsonaro.

E qual o objetivo delas?

Alguns acreditam que ele tentava provar a sua “atratividade” sexual.

O que, dado o cargo que ocupa, pode até incentivar outros homens a “provarem” o mesmo, à custa de menininhas.

Outros acreditam que se tratou de um ato falho: quando alguém diz ou faz por engano, “sem querer, querendo”, alguma coisa que está em seu inconsciente. Como quando você chama a sua esposa pelo nome da sua amante...

Bolsonaro já havia contado a mesma história, no mês passado, em outro podcast.

Mas sem a expressão “pintou um clima”, e com a observação de que as meninas “tinham tomado banho”:

“Parei numa esquina, tirei o capacete. Daí olhei pra trás e tinha duas ou três meninas bonitinhas, de 14, 15 anos de idade. Me chamou a atenção: menina bonitinha, sábado, né? Mas por que chamou a atenção? Eram parecidas. Eu vi que apareceu mais uma, mais outra. Eu desci da moto: “posso entrar?” Entrei. Tinha umas 15 meninas dessa faixa etária, 14, 15 e 16 anos. Todas muito bem arrumadas, tinham tomado banho, estavam fazendo o cabelo. Venezuelanas. Estavam se arrumando para quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Eu vou falar: para fazer programa”.

E quando foi que isso ocorreu? O que ele fez naquela casa? Ele denunciou à polícia ou ao Ministério Público aquele suposto crime de exploração sexual de adolescentes?

Bem, é aí que começa a parte mais nebulosa dessa história, que exige, sim, uma investigação da polícia e do Ministério Público.

É que a live que ele teria realizado, naquela casa, não bate com os fatos narrados nos dois podcasts. 

Segundo reportagens do UOL e do G1, a live ocorreu em abril de 2021 e ele estava acompanhado de uma comitiva.

Mas, na live, ele não fez nenhuma referência à prostituição daquelas adolescentes: apenas criticou a situação da Venezuela e, também, as medidas determinadas por governadores e prefeitos, para conter a disseminação do coronavírus.

Além disso, os jornalistas descobriram que não havia, naquela casa, adolescentes se “arrumando” para se prostituir, aquando da visita de Bolsonaro.

Na verdade, o que havia era uma ação social: um curso de estética (corte de cabelo, design de sobrancelhas), para refugiadas venezuelanas.

Veja no UOL: https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/10/16/venezuelana-diz-que-casa-abrigava-acao-social-durante-visita-de-bolsonaro.htm

E no G1: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/10/16/bolsonaro-nao-mencionou-prostituicao-em-visita-a-venezuelanas-em-2021.ghtml

Então, cabe perguntar: a que se deve a diferença entre o que ocorreu na comunidade de São Sebastião, no ano passado, e as histórias que ele contou, nos dois podcasts?

Trata-se, “apenas”, de mais uma das suas mentiras, para associar as esquerdas à situação da Venezuela e meter medo nos eleitores?

Ou estamos diante de dois episódios distintos, que ele embaralhou: a visita que fez a uma casa, na comunidade de São Sebastião, no ano passado; e outra visita, àquela ou à outra comunidade, quando “pintou um clima” com adolescentes exploradas sexualmente?

Em sendo verdadeira a segunda alternativa, onde, quando e por que isso aconteceu?

Foi a única vez, ou ocorreram outras visitas?

E depois que “pintou um clima” e ele entrou na casa, o que foi que aconteceu?

São muitas as dúvidas, que apenas a polícia e o Ministério Público podem, de fato, esclarecer.

Até porque tudo vai ficando cada vez mais estranho.

Devido ao escândalo que se seguiu à divulgação do vídeo, no sábado (15), Bolsonaro fez uma live, na madrugada de domingo, na qual disse que suas declarações foram deturpadas e tentou minimizar o episódio.

No entanto, agentes de segurança de seu governo estiveram na comunidade de São Sebastião, para localizar as adolescentes venezuelanas.

A esposa dele, Michelle, e a senadora eleita Damares Alves, sua fiel escudeira, mantiveram um encontro sigiloso, na tarde de segunda-feira (17), com venezuelanas.

Aqui: https://oglobo.globo.com/blogs/malu-gaspar/post/2022/10/michelle-bolsonaro-e-damares-se-encontram-em-segredo-com-venezuelanas-citadas-no-episodio-do-pintou-um-clima.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=malugaspar

E aqui: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/10/michelle-encontra-venezuelanas-apos-video-de-bolsonaro.shtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=twfolha

Michelle também tentou minimizar o episódio, afirmando que o maridão tem a mania de falar em “pintou um clima”, para qualquer tipo de coisa.

Mas o Estadão descobriu que ele nunca usou essa expressão, nas 128 lives que realizou, entre 2019 e 2022:  https://www.estadao.com.br/politica/mania-de-falar-pintou-um-clima-em-128-lives-bolsonaro-nao-usou-a-expressao-uma-unica-vez/

Por fim, o casal gravou um vídeo, no qual Bolsonaro pede desculpas às venezuelanas, por ter dito que estavam se prostituindo.

Aqui: https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/10/18/bolsonaro-pede-desculpas-a-venezuelanas-apos-polemica-com-pintou-um-clima.htm

E aqui: https://noticias.uol.com.br/colunas/chico-alves/2022/10/18/sem-provas-bolsonaro-disse-que-venezuelanas-iriam-fazer-programa.htm

Donde se conclui que toda a interpretação de sentido sexual, para o fato daquelas “menininhas bonitas” estarem “arrumadinhas”, além do “clima” que teria pintado, só existiram na cabeça dele.

Isso se estivermos diante do mesmo episódio.

O fato é tão grave que gerou vários pedidos de investigação e, também, de proteção às meninas venezuelanas.

O senador Randolfe Rodrigues (Rede) pediu que o Supremo Tribunal Federal (STF) investigue Bolsonaro pelo crime de prevaricação, já que ele não teria comunicado, aos órgãos competentes, que aquelas adolescentes estariam a se prostituir.

Também pediu providências urgentes, para proteger as meninas, e que Bolsonaro seja investigado, ainda, pelos supostos crimes de estupro de vulnerável e de favorecimento da exploração sexual de adolescentes.

O Grupo Prerrogativas, que reúne advogados e juristas, pediu que o STF apure o caso, devido ao teor “aparentemente criminoso” das declarações de Bolsonaro e à possível prevaricação: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/10/16/senador-pede-ao-stf-investigacao-de-bolsonaro-apos-fala-sobre-meninas-venezuelanas.ghtml

O deputado distrital Leandro Grass (PV), do Distrito Federal (DF), denunciou o caso à Procuradoria Geral da República (PGR), também por causa da possível prevaricação.

E disse que é preciso apurar o que realmente ocorreu após “pintar um clima”, e se de fato há atividades ilícitas naquela casa: https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/10/15/deputado-do-pv-pede-que-pgr-investigue-conduta-de-bolsonaro-apos-fala-sobre-meninas-venezuelanas.ghtml

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal pediu proteção às meninas, junto à Promotoria da Infância e Adolescência: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2022/10/17/comissao-de-direitos-humanos-da-camara-legislativa-do-df-pede-protecao-para-adolescentes-venezuelanas-apos-fala-de-bolsonaro.ghtml

Então, é preciso, sim, investigar Bolsonaro, apesar de seu pedido de desculpas.

Afinal, só o fato de um presidente da República afirmar que “pintou um clima” com adolescentes já é extremamente grave, uma vez que sinaliza possíveis tendências pedófilas.

Além disso, as suas declarações podem até ser encaradas como um estímulo à pedofilia, tendo em vista o cargo que ocupa.

Isso sem falar na possibilidade, que é preciso esclarecer, de ter ocorrido assédio às meninas, ou até a consumação de ato sexual.

A sociedade brasileira tem o direito de saber, sem sombra de dúvida, se o presidente da República possui ou não inclinações pedófilas e o que fez ou faz a respeito disso.

Espera-se que a polícia e o MP vão fundo nas investigações.

Isso, é claro, se Bolsonaro não decretar mais um dos seus sigilos de 100 anos.

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