segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Paradeiro incerto de R$ 43 milhões repassados pelo Banpará faz AGE suspender a Griffo Comunicação das licitações estaduais. Caso agita as redes sociais: a empresa pertence ao marqueteiro tucano Orly Bezerra e só em 4 anos recebeu do Governo Jatene mais de R$ 147 milhões, o que daria para construir 24 UPAs. Durante 20 anos, Griffo ganhou todas as licitações de propaganda dos governadores e prefeitos do PSDB que tiveram as suas campanhas eleitorais comandadas pelo abençoado marqueteiro. Égua desses bois, que só avoam no Pará!





Desde a semana passada, as redes sociais paraenses estão agitadas e o auditor-geral do Estado, Giussepp Mendes, virou, mais uma vez, saco de pancadas nas mãos dos tucanos.

Tudo porque a AGE começou a apertar o cerco em torno do marqueteiro Orly Bezerra e da sua empresa de propaganda, a Griffo Comunicação. 

Em uma decisão publicada no Diário Oficial do Estado do último 16 de janeiro, páginas 11,12 e 13, a AGE suspendeu a Griffo das licitações estaduais, devido às irregularidades na execução do contrato da empresa, para a propaganda do Banco do Estado do Pará (Banpará). 

Em entrevista exclusiva à Perereca, Giussepp revelou que essas irregularidades são tão graves que já permitem até que o Banpará rescinda esse contrato unilateralmente, por inexecução. 

Segundo ele, nem o Banpará nem a AGE estão conseguindo localizar documentos que comprovem como a Griffo gastou, e com base em que critérios, o dinheiro que recebeu daquele banco. 

Foram quase R$ 43,5 milhões (em valores corrigidos pela Perereca com base no IPCA-E do mês passado), que caíram nas contas bancárias da empresa, entre março de 2014 e março de 2019, para a propaganda do Banpará, mas que ninguém sabe ao certo aonde é que foram parar. 

Não há prestações de contas, mapas de mídia, cotações de preços de serviços, entre outros documentos, disse o auditor-geral. 

Ainda mais grave é a possibilidade de que o banco não tenha essa documentação devido a um arranjo, provavelmente, ilegal: todo o controle da verba de propaganda do Banpará, desde a licitação até a fiscalização desse contrato, ficou a cargo da Secretaria de Comunicação (SECOM) do ex-governador Simão Jatene. 

O problema é que o Banpará não é um simples órgão público: ele é regido pelas regras do mercado financeiro, está estruturado até como uma Sociedade Anônima e não recebe verbas do Governo, ou repassa para ele. 

Então, como é que a SECOM poderia controlar recursos daquele banco? 

“Não há convênios, decretos ou coisa alguma, do ponto de vista jurídico, que pudesse permitir algo assim, simplesmente porque o Banpará é uma empresa privada, que não recebe dinheiro do governo”, disse Giussepp. 

“O Banpará é uma Pessoa Jurídica de direito privado, que integra a administração indireta. É uma sociedade de economia mista que possui orçamento próprio: ele não recebe recursos para as suas despesas de custeio, pessoal ou de capital. O Estado é sócio dele, mas não é ordenador de despesas”, explicou. 

Segundo ele, o controle das verbas de propaganda do Banpará pela SECOM é semelhante à situação de um ente privado que resolvesse administrar um contrato público: “Simplesmente, não há base legal para isso”.  


Só em 4 anos, Griffo levou R$ 147 milhões do Governo Jatene e Banpará 


Para quem não se lembra, a Griffo é aquela agência que venceu todas as licitações realizadas pelos governadores e prefeitos do PSDB que o Orly Bezerra ajudou a eleger. 

Ou seja, o Orly coordenava a campanha do sujeito, e o sujeito, depois de eleito, fazia uma licitação milionária para a propaganda da sua administração. 

E aí quem vencia a licitação era a...Griffo! Ela mesma, e sempre ela, a empresa do abençoado marqueteiro. 

Por incrível que pareça, essa “coincidência” se repetiu durante 20 anos, fazendo com que o dinheiro público jorrasse nas contas bancárias da Griffo e de Orly. 

Segundo números coletados pela AGE, no Banpará e no SIAFEM, o sistema de administração financeira de Estados e Municípios, e que foram atualizados pela Perereca, a Griffo recebeu mais de R$ 147 milhões, do Governo do Estado e do Banpará, só entre 2014 e março de 2019. 

É dinheiro suficiente para construir 24 UPAs como a da Terra Firme, em Belém, que tem capacidade para atender até 400 pessoas por dia. 

No entanto, é apenas uma fração da montanha de dinheiro carreada pelos tucanos para essa empresa, desde meados da década de 1990. 

Foi Orly quem comandou as campanhas eleitorais dos ex-governadores Almir Gabriel (já falecido) e Simão Jatene. 

E foi a Griffo quem ganhou todas as licitações milionárias para a propaganda dos governos deles. 

O mesmo aconteceu com o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho: Orly comandou a campanha dele e a Griffo venceu as licitações. 

Tão ou mais instigante é que a Griffo não vence sozinha essas licitações, mas abocanha uma fatia contratual de fazer inveja, digamos assim, a um bando de leões famintos. 

Funciona assim: o Governo do Estado ou a Prefeitura de Belém realiza uma licitação para contratar 5 ou 6 agências, que irão produzir os anúncios de propaganda e tratar da veiculação desses materiais, nos meios de comunicação. 

O certo seria, então, que todas essas agências recebessem fatias semelhantes, já que também venceram a licitação.  

Mas o que é que acontecia (e ainda acontece) nos governos e prefeituras comandados pelo PSDB? 

Apenas entre 2014 e 2018, dizem os números coletados pela AGE que a Perereca atualizou, o ex-governador Simão Jatene pagou em propaganda, a 7 agências, mais de R$ 211 milhões.  

Desse total, a Griffo recebeu quase R$104 milhões - ou mais de 49%! 

O mesmo teria ocorrido no Banpará, onde a Griffo levou quase R$ 43,5 milhões, e a outra agência, também contratada, e segundo informações ainda não confirmadas, teria ficado com cerca de R$ 8 milhões.  

Idem para a Prefeitura de Belém: segundo o último levantamento que fiz para o jornal Diário do Pará, no portal municipal da Transparência, a Griffo recebeu, do prefeito Zenaldo Coutinho, cerca de R$ 29 milhões, entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2016, em valores corrigidos naquela época. 

A bolada representou quase 55% dos R$ 53 milhões pagos por Zenaldo a todas as agências de propaganda que receberam dinheiro da prefeitura, naquele período.  

Feitas as contas, a Griffo recebeu, comprovadamente, do Governo do Estado, Banpará e Prefeitura de Belém, mais de R$ 176 milhões, apenas nos anos mais recentes, e em um levantamento incompleto e muito por baixo. 

É 17 vezes os R$ 10,3 milhões que Zenaldo gastou para reformar o PSM da 14 de Março, que atende a milhares de paraenses. 

É mais de 3 vezes o que o Governo do Estado pagou na construção do Hospital Metropolitano, que ficou em menos de R$ 26 milhões, em 2006, ou pouco mais de R$ 53 milhões atualizados. 


Uma caixa preta e um derrame sem fim de verbas públicas 


Mas além do Governo do Estado e Banpará, a Griffo também detinha o contrato de propaganda da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), na época comandada pelo então deputado Márcio Miranda (DEM), desde sempre aliado do PSDB e que foi até candidato ao Governo, em 2018, com o apoio de Jatene. 

E além de Belém, também deteve os contratos de propaganda das prefeituras de Ananindeua e Santarém, ambas comandadas pelos tucanos. 

Ou seja: quanto a Griffo e o marqueteiro Orly Bezerra receberam de dinheiro do Governo, prefeituras e outras instituições públicas, ao longo de duas décadas, é algo que ninguém sabe e, provavelmente, nunca saberá. 

Em tese, a Griffo ficava apenas com um percentual dessa montanha de dinheiro e repassava o restante aos meios de comunicação que divulgavam a propaganda tucana.  

Mas a verdade é que ninguém sabe exatamente o que acontecia com esse dinheiro depois que ele entrava nos cofres da empresa, já que os critérios e gastos de propaganda sempre foram uma das caixas pretas do PSDB. 

Além disso, como começam a mostrar as investigações da AGE no Banpará, tudo era centralizado na SECOM.  

E a SECOM, por incrível que pareça, sempre foi comandada por profissionais de confiança de Orly, que trabalharam nas campanhas eleitorais que ele coordenou, como mostrou a série de reportagens “Griffo, a Insaciável”, publicada pela Perereca e cujos links estão no final desta postagem. 

Quer dizer: bem vistas as coisas, é como se o abençoado marqueteiro atuasse, ao mesmo tempo, nos dois lados do caixa. 

O mundo de dinheiro e de cargos públicos que Orly controlava até 2018, quando o PSDB perdeu as eleições ao Governo do Estado, fez dele quase que um “polvo”, com tentáculos gigantescos, em suas relações com a imprensa paraense e as instituições. 

Daí a grita que se vê, nas redes sociais, quando a AGE, o principal órgão de fiscalização do governo, começa, finalmente, a abrir essa caixa preta, com o seu mar de verbas públicas e de beneficiários. 


Ex-presidente do Banpará teria admitido interferência indevida da SECOM 

O auditor-geral do Estado, Giussepp Mendes, explica que o direcionamento que é dado ao Banpará pelo Governo, que é o seu principal acionista, não tem nada a ver com interferências em atividades do cotidiano da instituição, como é caso dos gastos em propaganda. 

Trata-se apenas de propor diretrizes de ação, para que as aplicações financeiras do banco atinjam determinadas áreas.

Nem poderia ser diferente, já que o Banpará possui um conselho administrativo, que é quem dá as cartas por lá. 

No entanto, diz Giussepp, o próprio ex-presidente do Banpará teria admitido a interferência indevida da SECOM nos gastos em propaganda daquele banco.  

O documento assinado pelo ex-presidente foi apresentado em resposta a um mandado de segurança ajuizado pelo MDB, em 2018, no qual eram solicitadas várias informações, entre elas, sobre o contrato de propaganda da Griffo. 

No último 7 de janeiro, foi encaminhado à AGE pela nova administração do Banpará, em resposta a um ofício. 

Nesse documento, diz Giussepp, o ex-presidente informa que o Banpará nunca recebera qualquer prestação de contas da Griffo, desde a assinatura daquele contrato, em 2014, e que todos os documentos da execução contratual (mapas e autorizações de mídia, cotações de preço, orçamentos, notas fiscais) estavam em poder da SECOM. 

No entanto, o próprio contrato prevê que a Griffo deveria entregar ao Banpará relatórios mensais dos anúncios produzidos e veiculados.  

Mas nem antes nem agora há sinais de que isso tenha ocorrido, já que o Banpará informou à AGE que não possui tais documentos. 

“A Griffo tinha o dever de prestar contas à sua contratante, no caso, o Banpará, e não à SECOM, que apenas fez a licitação”, salienta Giussepp.  

“O Banpará também não tem o domínio das informações de cotações prévias dos serviços, realizadas pela Griffo, o que, por si só, é uma grande lacuna e possibilita que peçamos informações a essa empresa sobre as cotações de preços, para que saibamos se são compatíveis com o mercado”. 

Só assim, acrescenta, “poderemos saber se há ou não superfaturamento ou sobrepreço nesses serviços”. 

Segundo ele, o contrato também prevê que a Griffo deveria ter autorização prévia e expressa do Banpará para a produção e veiculação desses anúncios, mas o banco também não possui tais documentos. 

Giussepp não diz, mas a suspeita, nos corredores da AGE e nos bastidores do novo governo, é que a manipulação dos recursos da propaganda do Banpará objetivou atender aos interesses do ex-governador e de seu partido político, o PSDB. 

Também há rumores de que o Banpará se prepara para suspender o contrato e abrir uma investigação sobre o caso, o que poderá complicar ainda mais a situação do abençoado marqueteiro.




Veja os ganhos da Griffo, no Banpará e no Governo do Estado, apenas entre 2014 e o começo de 2019 (em valores atualizados pelo IPCA-E de Dezembro/2019):


Governo do Estado

2014

Todas as agências: R$ 47.154.601,96

Só a Griffo: R$ 23.747.268,18

% da Griffo: 50,36%


2015

Todas as agências: R$ 39.306.589,28

Só a Griffo: R$ 18.634.371,94

% da Griffo: 47,40%


2016

Todas as agências: R$ 47.679.277,59

Só a Griffo: R$ 23.235.270,64

% da Griffo: 48,73%


2017

Todas as agências: R$ 42.871.948,83

Só a Griffo: R$ 21.472.715,88

% da Griffo: 50,08%


2018

Todas as agências: R$ 34.246.564,83

Só a Griffo: R$ 16.701.809,40

% da Griffo: 48,76%


Total

Todas as agências: R$ 211.258.982,49

Só a Griffo: R$ 103.791.436,04

% da Griffo: 49,12%




Banpará (pagamentos de março do ano anterior até março do ano em questão)


2015: R$ 9.596.780,94

2016: R$ 8.631.479,76

2017: R$ 9.824.957,99

2018: R$ 8.617.485,70

2019: R$ 6.735.899,23

Total: R$ 43.406.603,62




TOTAL RECEBIDO PELA GRIFFO DO GOVERNO E DO BANPARÁ: R$ 147.198.039,66



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E leia a série de reportagens “Griffo, a Insaciável”.



23 de maio de 2013 – Parte 1: “Há quase 20 anos, Griffo Comunicação ganha todas as licitações de propaganda dos governos que ajuda a eleger. Nas duas últimas licitações, jornalistas que trabalharam para a empresa integraram as comissões técnicas dos certames.”: https://pererecadavizinha.blogspot.com/2013/05/griffo-insaciavel-parte-1-ha-quase-20.html



29 de maio de 2013 – Parte 2: “Secretário de Comunicação do Pará trabalhou em campanhas comandadas por Orly e prestou serviços à Griffo, para a qual libera milionárias verbas de propaganda. Integrantes das comissões técnicas de licitações vencidas pela Griffo também trabalharam sob o comando de Orly”: https://pererecadavizinha.blogspot.com/2013/05/secretario-de-comunicacao-do-para.html



7 de junho de 2013 – Parte 3: “Griffo Comunicação, que vence todas as licitações milionárias para a propaganda tucana, oculta campanhas que realiza, doa dinheiro ao PSDB e até já “pagou” para trabalhar para o partido” : https://pererecadavizinha.blogspot.com/2013/06/incrivel-griffo-comunicacao-que-vence.html

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