Dê uma olhada no quadro acima e me diga se dá para acreditar que tudo foi apenas “mera coincidência”.
Em apenas 74 dias, entre 1 de agosto e 13 de outubro de 2014, o período mais crítico da sua disputa pela reeleição, o governador Simão Jatene distribuiu mais de R$ 56 milhões em cheques-moradia, o que equivale a 43% do total distribuído naquele ano.
Foi tanto dinheiro – e num período tão curto – que esses R$ 56 milhões superaram tudo o que foi gasto em cheques-moradia nos 12 meses de 2013. E, também, nos 12 meses de 2012.
Só em setembro de 2014, ou seja, às vésperas do primeiro turno, Jatene despejou, em todo o Pará, mais de R$ 31 milhões em cheques-moradia. Ou mais do que tudo o que gastou nos 12 meses de 2012. E mais da metade do que gastou nos 12 meses de 2013.
Tem mais.
A abertura de processos pela COHAB, para a concessão futura de cheques-moradia, cresceu 927%, entre o primeiro e o segundo semestre de 2014.
E veja só: quase a metade dos mais de 12 mil processos daquele ano foi aberta em setembro e outubro, ou seja, bem em cima das eleições.
E a atividade gerada pela distribuição desses cheques foi tão grande, que foi preciso até deslocar funcionários de outros órgãos, para reforçar os quadros da COHAB, a Companhia de Habitação do Pará.
Os dados são da própria COHAB e foram fornecidos oficialmente, no processo que levou à cassação do governador Simão Jatene.
Tal processo foi ajuizado pelo Ministério Público, em 2014.
Em outras palavras: não foi nenhum adversário político de Jatene quem forneceu esses dados, da mesma forma que não foi nenhum adversário político dele quem ajuizou esse processo.
A única coisa do quadro acima que foi feita pela Perereca são os percentuais – coisa que, aliás, você também pode calcular.
O link para as alegações finais do MP, já com os números até dezembro de 2014, está aqui: https://drive.google.com/file/d/0B8xdLmqNOJ12RWU0c24zMWkxWTg/view?usp=sharing
E o link para AIJE (Ação de Investigação Judicial Eleitoral) do MP, ainda com números apenas até outubro de 2014, está aqui: https://drive.google.com/file/d/0B8xdLmqNOJ12UUVjRTRlekd5aFU/view?usp=sharing
Ambos os documentos foram extraídos de um local igualmente insuspeito: o blog do Fausto Macedo, do Estadão, em postagem de 30 de março deste ano (http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/tribunal-regional-eleitoral-do-para-cassa-governador-simao-jatene-psdb/).
Então, não acredite em mim, não: veja por você mesmo e forme a sua própria opinião.
É verdade que tenho andado distante deste blog.
Perdoe-me, caro leitor, mas a pindaíba em que vivo tem me obrigado a vender tudo o que é reportagem interessante que consigo cavar, em vez de postar na Perereca.
No entanto, creio que é fundamental que você tome conhecimento desses dados, para não acabar enganado por toda essa campanha midiática que vem tentando transformar o Jatene em “vítima” de alguma “conspiração”.
É robusta a acusação do MP contra o governador.
Aqui não se trata do simples depoimento de algum delator, que quer diminuir a sua própria sentença.
Há, sim, nesse processo, cartas de pessoas beneficiadas pelo cheque-moradia, que garantem que votaram e votarão em Jatene.
Mas o principal é que o MP obteve dados oficiais, números, que demonstram claramente o uso do cheque-moradia, para turbinar a campanha de reeleição de Jatene.
Outra informação que você também precisa ter é que o juiz eleitoral José Alexandre Buchara Araújo, que votou a favor da cassação de Jatene, não foi apenas do PT: ele também pertenceu ao antigo PFL, que originou o DEM.
Buchacra foi eleito prefeito da cidade de Capanema, em 2004, pelo DEM. Veja no quadrinho abaixo:
Buchacra tem sido o alvo preferencial dos jatenistas, que se “esquecem” do fato de ele ter sido, também, de um partido aliado do governador.
É complicado que um juiz eleitoral tenha pertencido a partidos políticos? A meu ver, é sim.
No entanto, as pessoas que hoje condenam Buchacra são as mesmíssimas que não disseram nem mesmo um ai sobre o fato de o ministro Alexandre de Moraes, recentemente escolhido para o Supremo Tribunal Federal (STF), ter sido filiado ao PSDB até pouco antes de assumir esse cargo (ele se desfiliou do PSDB em fevereiro deste ano e foi empossado, no STF, em março).
Mas que agora, como lhes convêm, condenam apenas Buchacra. E além de se “esquecerem” do passado dele como integrante do PFL/DEM, também se “esquecem” de que Jatene foi cassado por decisão de 4 dos 6 juízes que participaram daquele julgamento – ou seja, Buchacra foi apenas 1 dos 4 que condenaram o governador.
Em verdade, quem teve participação decisiva na cassação de Jatene pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral), no último 30 de março, foi a juíza federal Luciana Daibes.
Em 2015, a relatora do processo, a desembargadora Célia Regina de Lima Pinheiro, apresentou um voto contrário à cassação de Jatene.
Ocorre que Luciana pediu para dar uma olhada no processo. E depois de passar meses e meses examinando toda aquela papelada, concluiu que a meritíssima relatora não tinha razão.
A juíza, então, escreveu um robusto voto contrário ao da meritíssima relatora.
E aí, 3 outros juízes eleitorais concordaram com Luciana.
Democraticamente e simples assim.
Ao lado da meritíssima relatora acabou apenas o juiz Amilcar Guimarães.
O doutor Amilcar é aquele mesmo que, em 2012, esculhambou o jornalista Lúcio Flávio Pinto, nas redes sociais, e foi classificado por Lúcio como “indigno da toga que veste, do salário que recebe e dos poderes que a sociedade lhe conferiu”.
Ainda segundo o Lúcio, o doutor Amilcar livrou-se de um PAD (Processo Administrativo Disciplinar) com uma ajudinha do digníssimo desembargador Milton Nobre. Leia aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2012/03/um-juiz-indigno-da-toga-que-veste-do.html
Já a meritíssima relatora Célia Regina de Lima Pinheiro é aquela que teria sido guindada ao Desembargo por ser “protegida” do digníssimo desembargador Milton Nobre, segundo afirmou a então juíza (e hoje desembargadora) Rosileide Filomeno, em um diálogo grampeado pela Polícia Federal.
Na época do grampo, 2006, a PF investigava Marcelo Gabriel, filho do ex-governador Almir Gabriel, e o empresário Chico Ferreira, que hoje puxa uma cana de 80 anos, como mandante do assassinato dos irmãos Novelino. A suspeita da PF era que Chico e Marcelo comandavam uma organização criminosa, especializada em fraudes licitatórias.
E um belo dia, Chico Ferreira estava no gabinete de Rosileide e ela resolveu conversar, por telefone, com Marcelo, para que ele intercedesse por ela junto ao doutor Almir, que havia sido indicado para concorrer novamente ao Governo do Estado, pelo PSDB.
O desembargador Milton Nobre era, então, presidente do Tribunal de Justiça do Pará.
Rosileide queria que Almir mandasse Milton Nobre escolhê-la para a vaga de desembargadora, já que suspeitava que o digníssimo meritíssimo pretendia proteger Célia Regina, com quem mantinha profundas relações de amizade. Célia era, então, “mulher do Humberto de Castro”, desembargador que viria a falecer em maio de 2010.
E, como previsto por Rosileide, foi Célia Regina quem acabou ascendendo ao Desembargo, em novembro de 2006.
Clique no quadrinho abaixo, para ler o pedagógico diálogo grampeado pela PF:
E foi isso o que aconteceu, caro leitor: a meritíssima relatora não conseguiu convencer os seus pares sobre a “inocência” do governador. E o voto da juíza Luciana Daibes acabou fazendo com que prevalecesse a robusta denúncia do Ministério Público.
Quanto ao crime de que é acusado o governador, não é “pouca coisa”, não, como ele vem tentando fazer crer.
Uso da máquina, abuso de poder (como é o caso da farta distribuição de cheque-moradia, em 2014) é tentativa de fraudar as eleições.
É corrupção, compra de votos.
É desvio de dinheiro público.
É o uso do seu suado dinheirinho de impostos, para pagar campanha eleitoral.
E quanto aos chiliques do governador por causa da decisão do TRE, isso é puro desespero de quem sempre acreditou na própria “intocabilidade”, por haver atrelado ou amordaçado boa parte das instituições e seus integrantes.
É, em suma, o desespero de quem sabe que se aproxima a hora de pagar por todos os crimes que cometeu.
FUUUIIIII!!!!!!
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Confira nos quadrinhos.
Os mais de 9 mil cheques distribuídos entre junho e
dezembro de 2014 (81,25% do total do ano):
O recorde de cheques-moradia distribuídos em
setembro de 2014:
A concessão mês a mês de cheques-moradia, entre 1 de
janeiro e 13 de outubro de 2014:
Depoimentos de contemplados pelo cheque-moradia
afirmando que são eleitores de Jatene:
O crescimento mês a mês dos processos abertos em
2014, para concessão futura de cheques-moradia: aumento de 927% no segundo
semestre:
Os servidores de outros órgãos deslocados para a
COHAB, em 2014, devido à farra do cheque-moradia:
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