PMDB leva mais de 60% das ambulâncias distribuídas no Pará
No final do mês passado, o Ministério da Saúde entregou o primeiro lote das 2.312 ambulâncias do SAMU/192, que serão repassadas aos municípios brasileiros até agosto deste ano.
Foram 650 ambulâncias novinhas em folha, 58 delas para o Pará – o terceiro estado mais bem aquinhoado com a primeira leva desses veículos, atrás, apenas, de São Paulo e Bahia.
O presentão ensejaria até festa, não fosse um detalhe: mais de 60% dos municípios paraenses contemplados com as novas ambulâncias do SAMU/192 são administrados pelo PMDB.
Pior: segundo informações repassadas na noite de ontem à Perereca, muitas dessas cidades não teriam nem pessoal, nem estrutura, para botar o serviço pra funcionar.
A própria lista dos municípios contemplados atiça a curiosidade em relação aos critérios adotados na escolha.
Na listagem, há municípios grandes, como é o caso de Ananindeua, Castanhal, Parauapebas e Cametá, que são pólos de suas microrregiões e possuem, presume-se, uma rede de saúde capaz de dar suporte ao atendimento emergencial do SAMU.
No entanto, a relação também inclui cidades com menos de 10 mil habitantes, como é o caso de Santarém Novo e Bannach – essa última com exatas 3.947 almas, segundo o IBGE.
Mas o que salta aos olhos é mesmo a concentração do bolo pelo PMDB.
As 58 ambulâncias foram destinadas a 55 municípios paraenses.
E, desses municípios, nada menos que 34 são de prefeitos filiados à legenda – e um deles, Ananindeua, abocanhou quatro veículos.
Outro dado interessante é que o PMDB possui 39 prefeituras no estado.
Em outras palavras, apenas cinco cidades administradas pelo partido foram, a bem dizer, “barradas no baile”: Cachoeira do Piriá, Oeiras do Pará, Peixe-Boi, Senador José Porfírio e Terra Santa.
Tal concentração, por mais que se procure, não possui explicação matemática.
As 39 prefeituras do PMDB representam menos de 30% dos municípios paraenses.
Os 789.814 votos obtidos pelo partido, em 2008, representam menos de 25% dos 3,376 milhões de eleitores que votaram para prefeito, naquele ano
Também não dá para explicar a concentração em termos populacionais: afinal, só a capital possui quase 1,5 milhão de habitantes.
E, a exemplo de Belém, cujo prefeito pertence ao PTB, outras grandes cidades paraenses (Santarém, Marabá, Castanhal) também não são administradas pelo PMDB.
Daí a perguntinha incômoda: qual, afinal, a lógica da distribuição desses veículos?
Segundo o site do Ministério da Saúde (http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=11168
) essas 650 ambulâncias custaram R$ 75,8 milhões – ou mais de R$ 116,6 mil cada uma.
Todas são unidades de suporte básico (USB)
O que quer dizer, segundo publicação daquele ministério sobre o SAMU, que são destinadas “ao transporte inter-hospitalar de pacientes com risco de vida conhecido e ao atendimento pré-hospitalar de pacientes com risco de vida desconhecido, não classificado com potencial de necessitar de intervenção médica no local e/ou durante transporte até o serviço de destino”.
Daí que necessitem, além do motorista, de um técnico ou auxiliar de enfermagem.
Mas não só.
O serviço não se esgota na ambulância: precisa de uma central de regulação, municipal ou regional, com pelo menos um médico e uma telefonista por plantão – e o funcionamento do 192, vale lembrar, é 24 horas por dia, sete dias por semana.
Além disso, toda essa equipe – da ambulância e da central – tem de receber treinamento específico em atendimento emergencial.
Daí a pergunta da fonte que, na noite de ontem, contatou o blog: será que os municípios paraenses contemplados com as ambulâncias do SAMU/192, especialmente os menores, possuem pessoal e estrutura para esse tipo de serviço?
Só para se ter idéia da estrutura de que se está a falar: segundo a portaria 2.657, de 16/12/2004, do Ministério da Saúde, a sala de regulação médica do SAMU tem de ser dimensionada “levando-se em conta o tamanho da equipe e o número de postos de trabalho, conforme recomendações técnicas desta Portaria, considerando que cada posto de trabalho utiliza 2m² de área, projetando-se, além disso, os espaços dos corredores de circulação e recuos, além das portas e janelas”.
Além disso, a sala deve ter isolamento acústico, iluminação e temperatura adequadas; sistema de telefonia e de comunicação direta entre os rádio-operadores, as ambulâncias e outras unidades, por exemplo; banheiros, área administrativa, de esterilização de materiais, de guarda de medicamentos controlados, garagem, refeitório, alojamento, etc...
Mais: o SAMU também precisa de “portas de saída” – quer dizer, de uma rede de saúde pronta para receber o paciente que, claro está, não será “hospitalizado” na ambulância, caso necessite de internação; nem poderá ser submetido a determinadas consultas e exames ali mesmo.
É claro que municípios pequenos podem desenvolver “projetos regionalizados”, em parceria com cidades que já possuem o 192, conforme prevê o próprio Ministério da Saúde.
Mas aí fica outra pergunta: quantas cidades paraenses já possuem o SAMU?
Para custear os serviços previstos com a entrega dessas 650 ambulâncias, o MS repassará aos estados e municípios R$ 97,5 milhões por ano.
E a estimativa ministerial é que esses veículos reforcem em mais de 43% a frota nacional de ambulâncias, beneficiando mais de 24 milhões de pessoas.
Ao fim e ao cabo, a idéia é universalizar o SAMU, que, no entanto, como já visto, não é um serviço isolado, mas, parte integrante da rede pública de saúde.
O Ministério, que é cota do PMDB no Governo Federal, garante que priorizou, na entrega desse primeiro lote de ambulâncias, “as cidades que apresentaram projetos avançados para a expansão e implantação de centrais de atendimento do SAMU/192; as áreas beneficiadas pelo Pacto pela Redução da Mortalidade Infantil (região Amazônica e Nordeste); e Territórios de Cidadania, regiões de baixo índice de desenvolvimento, que apresentam agricultura familiar, população quilombola ou indígenas”.
Abaixo, a relação dos municípios paraenses que receberam esses 58 veículos, bem como os partidos que administram essas cidades e os quantitativos populacionais.
Peço, apenas, que os leitores me perdoem se a reportagem não ficou melhor, já que foi realizada em apenas uma noite:
Abaetetuba – PSDB – 139.819 habitantes
Água Azul do Norte – PMDB – 31.216 habitantes
Alenquer – DEM – 57.067 habitantes
Altamira – PSDB – 98.750 habitantes
Ananindeua – PMDB – 505.512 habitantes
Augusto Corrêa – PMDB - 39.317 habitantes
Bannach – PSB – 3.947 habitantes
Bragança – PMDB – 107.060 habitantes
Brejo Grande do Araguaia –PMDB – 7.688 habitantes
Breves – PMDB – 101.094 habitantes
Bujaru – PMDB – 23.654 habitantes
Cachoeira do Ararí – PMDB – 20.401 habitantes
Cametá – DEM – 117.099 habitantes
Castanhal – PR – 161.497 habitantes
Conceição do Araguaia – PT – 47.237 habitantes
Curionópolis – PMDB – 17.944 habitantes
Curuçá – PMDB – 36.748 habitantes
Dom Elizeu – PMDB – 39.088 habitantes
Garrafão do Norte – PMDB – 25.538 habitantes
Goianésia – PMDB – 29.164 habitantes
Inhangapi – PMDB – 10.377 habitantes
Itaituba – PR – 127.848 habitantes
Maracanã – PMDB – 29.417 habitantes
Marapanim – PMDB – 28.011 habitantes
Moju – PMDB – 68.600 habitantes
Monte Alegre – PMDB – 63.941 habitantes
Muaná – PMDB – 30.568 habitantes
Ourém – PMDB – 15.841 habitantes
Ourilândia do Norte – PDT – 21.327 habitantes
Paragominas – PSDB – 97.350 habitantes
Parauapebas – PT – 152.777 habitantes
Pau d’Arco – PDT – 6.522 habitantes
Portel – PMDB – 48.945 habitantes
Prainha – PMDB – 26.570 habitantes
Redenção – PTB – 67.064 habitantes
Rondon do Pará – PMDB – 47.772 habitantes
Rurópolis – PMDB – 36.068 habitantes
Salinópolis – PT – 39.184 habitantes
Santa Izabel do Pará – PMDB – 55.570 habitantes
Santana do Araguaia – PSDB – 55.033 habitantes
Santarém Novo – PMDB – 6.347 habitantes
Santo Antonio do Tauá – PMDB – 26.855 habitantes
São Caetano de Odivelas – PMDB – 16.862 habitantes
São Félix do Xingu – PTB – 67.208 habitantes
São Geraldo do Araguaia – PMDB – 25.027 habitantes
São João de Pirabas – PMDB – 19.900 habitantes
São João do Araguaia – PMDB – 11.923 habitantes
Tomé-Açu – PMDB – 48.607 habitantes
Tracateua** - 27.825 habitantes
Traírão – PMDB – 17.134 habitantes
Tucuruí – PPS – 96.010 habitantes
Uruará – PMDB – 59.881 habitantes
Vigia – PSL – 46.205 habitantes
Viseu – PR – 55.512 habitantes
Xinguara – PT – 40.529 habitantes
**Em Tracateua, o prefeito eleito, Jonas Barros, do PMDB, foi cassado. Waldeth Gomes Costa, do PTB, assumiu o cargo e acabou cassado também. No ano passado, a cidade foi administrada pela presidenta da Câmara, Maria da Glória Silveira da Silva (PMDB). Agora, exerce o cargo o novo presidente da Câmara, Nelson Pinheiro Silva, do PT do B.
Quantidade de ambulâncias por partido e quantidade de prefeitos eleitos, em 2008.
PMDB – 34 ambulâncias (de 39 prefeitos eleitos)
PSDB – 4 ambulâncias (de 12 prefeitos)
DEM – 2 (de 6 prefeitos eleitos)
PSB – 1 (de 4 prefeitos eleitos)
PDT – 2 (de 9 eleitos)
PR – 3 (de 17 prefeitos eleitos)
PT – 4 (de 27 prefeitos eleitos)
PTB – 2 (de 13 prefeitos eleitos)
PSL – 1 (de 1 prefeito eleito)
PPS – 1 (de 3 prefeitos eleitos)
Na relação acima não foi incluída Tracateua.
Os cinco prefeitos do PMDB paraense que não ganharam ambulâncias do SAMU:
Albenor Bezerra Pontes – Cachoeira do Piriá – 18.777 habitantes
Edivaldo Nabiça Leão – Oeiras do Pará 26.796 habitantes
Elia Jacques Rodrigues – Peixe-Boi – 7.916 habitantes
Cleito José Alves da Silva – Senador José Porfírio – 14.434 habitantes
Marcílio Costa Picanço – Terra Santa – 10.580 habitantes.
6 comentários:
Os pleitos ao Ministério da Saúde são feitos por intermédio de um sistema informatizado, com bastante antecedência, em um período específico.
Os prefeitos do PMDB foram mais ageis e competentes e colocaram seus pleitos, tenho conhecimento que muitos nem pleitearam.
Mas o eleitor pode ver que, entre outras coisas, é melhor votar no PMDB,
Parabéns aos Deputados que receberam votos nesses Município, pois estão honrando os compromissos assumidos com o povo, levando recursos e insumos para elevar as condições de saúde da população. O PMDB, que levou a maior fatia, merece os maiores aplausos pela competência nas ações e principalmente pela preocupação com a saúde dos nossos interioranos.
Pelo visto veremos muitos furgões com sirenes estridentes e a toda velocidade cortando as estradas do nosso grandioso estado, portando quebrados, atirados, acidentados e doentes afins, em direção aos grandes "centros hospitalares" e consequentemente à capital em busca de atendimento. Ao menos uma melhora aparente, os doentes terão mais conforto no transpote intermunicipal.
Querida perereca, analise o que foi publicado pela professora Edilza Fontes:
"A relação das cidades paraenses que receberão ambulâncias foi acertada junto a SAMU nacional, pela FAMEP e pela coordenação de Urgência e Emergência da SESPA"
Isso prova que a escolha foi a mão livre.
Nos corredores do poder e nas prefeituras, diz-se que o sr. Josenir, funcionário da FAMEP cobrou a título de "ajuda partidária" a bagatela de 10 mil reais por prefeito do PMDB que recebeu a unidade do SAMU.
Ao contrário do que prega o Osorio Pacheco, nao existe sistema para cadastrar previamente e receber a unidade.
Prove o que fala, osório!
Esta foi a mais irresponsável distribuição de unidades móveis.
E tudo patrocinado pela FAMEP, cm justificativa de levantar fundos para a campanha estadual.
Hum, este tal de Caixa2....
perereca, só em relação a marabá o prefeito lá não é do PR?
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