Jamais me colocaria contra um governo que ajudei a gestar.
Isso seria declaração de incapacidade, de incompetência. E quem anda, há tanto tempo, na política, não pode se dar a tais “desfrutes”: a condição de formar opinião implica, necessariamente, antevisão.
Ao mesmo tempo, não abro mão da minha “essência” tucana. Afinal, como diz aquela música belíssima, dos Rappa, “paz sem voz, não é paz, é medo”.
Creio que chegamos até aqui por um aglomerado de vontades, que se insurgiam contra o que estava posto no Estado: a imoralidade no trato da coisa pública; a hipocrisia das “vestais” que satanizavam deus e o mundo, mas que abençoavam o enraizamento do crime organizado na máquina pública ; a continuidade de um poder que corrompia as instituições; a destrutividade de quem não consegue ver a política como um jogo entre adversários eventuais, mas como um verdadeiro auto de fé...
Creio, ainda hoje, que nos insurgimos em prol da decência, da liberdade e do respeito ao outro – pois, que todos temos defeitos, afinal. Nenhum de nós é a Pureza ou a Bondade, ou puros ou bons.
Mas, nenhum de nós, com um neurônio a mais, aceitará que o outro, com iguais imperfeições, se pretenda um deus.
Isso fica para os imbecis. Mas, graças a Deus, nenhum de nós, que sobrevive nesta grande arena que é a política, padece de tal doença.
No entanto, creio que precisamos acertar as passadas.
É certo que não faz nem um ano que estamos a comandar o Estado – um Estado que encontramos do jeito que encontramos, aliás.
Encantado pela propaganda enganosa que o fazia se sentir um príncipe, quando é, na realidade, um mendigo.
Um Estado que, para manter-se no propagandístico equilíbrio da Lei de Responsabilidade Fiscal, não podia investir em nada de real interesse da sociedade, como é o caso da Saúde, da Educação e da Segurança.
Um Estado que nos deixou como herança a necessidade de pagarmos dívidas e mais dívidas de uns dinheiros que engordaram uns poucos, enquanto o nosso povo morre nas ruas, a doenças, à fome, à bala.
Mas, ainda assim, precisamos acertar as passadas.
Vencemos as eleições, o PT, o PMDB, os tucanos e os esquerdistas desiludidos, e os independentes.
Mas, para que isso não se transforme numa vitória de Pirro, é preciso que o PT e o PMDB – ou seja, a nossa linha de frente – aprendam a conviver e a comandar.
Isso não é exatamente um encontro de namorados, numa pracinha aconchegante, com um banquinho bacana e um lampião que só ilumina o que se quer.
É uma aliança política. Com todos os senões e desvãos de uma aliança política.
O PT precisa compreender isso. E o PMDB também.
Do contrário, continuarão falando merda e dando munição ao adversário.
É certo que, talvez, não estejamos na companhia de quem, realmente, gostaríamos.
É certo que algumas práticas, ou algumas não-práticas, nos deixam e deixarão de cabelo em pé.
É certo que não conseguiremos, jamais, entender, realmente, como pensa essa pessoa que está ao nosso lado.
E essa estranheza, por mais que não consigamos entender agora, é uma profunda aprendizagem...
Mas, neste momento, precisamos atiçar a capacidade de conviver.
Precisamos juntar a cachaça e o vinho; a feijoada e o caviar.
E é isso que, de certa forma, embatuca: nenhum de nós está, exatamente, para o champagne; somos todos farofeiros.
Então, qual a dificuldade?
O PT precisa aprender a ceder; o PMDB, a compreender o custo dessa cessão.
É um acordo, uma aliança eventual. E ponto.
Não significa que estaremos todos juntos, lá na frente...
Sim, vou consentir: temos de conviver, o que implica, até certo ponto, confiança, respeito, mútuo. E até estimar, gostar, que isso é profundamente humano.
Mas, o fato, é que não estamos aqui para confiar, gostar, etc e tal.
Podemos respeitar – e isso é o que se exige de qualquer jogo.
Mas, jamais, poderemos “estimar” e transformar o outro num parceiro permanente.
Querermos que o outro veja o mundo pelos nossos olhos...
É custosa essa convivência, como são custosas todas as convivências do mundo.
O PT tem um compromisso, o PMDB tem outro. E é isso que temos de compreender.
Se compreendermos isso, conviveremos bem, da base ao topo.
Aprenderemos a negociar desde as pequenas coisas – como a cadeira para sentar ou a tabuleta na mesa do chefe – até às grandes, que dizem respeito à sociedade.
Não casamos. Fizemos uma aliança política.
Isso implica que o parceiro, por mais descabelado que se apresente, seja sempre, publicamente, um ser extraordinário, inigualável, maravilhoso...
domingo, 11 de novembro de 2007
Os pingos
Os pingos nos is
3 comentários:
Você já me pareceu mais inteligente ou está mentindo. Você realmente acredita nesse "nós" aí no texto. Fala sério né!
Na minha modesta opinião é um grande texto.
Discordo de algumas inflexões, respeitando-as.
Seu estilo é muito bom.
Curada, penso, de outros aborrecimentos recentes...sei lá se é isso. Só agora acho que você retoma o prumo do blog.
É apenas uma modesta opinião de um leitor que respeita e admira o teu trabalho.
Dá notícia!!
Concordo com o Mutran,Ana.
Tudo de bom no seu caminho.
Postar um comentário