quinta-feira, 29 de junho de 2006

E o bolo desandou...

Eleições perdem a
graça: Jader recuou


Está praticamente fechada a chapa do PMDB: Priante para o Governo, Luiz Otávio para o Senado. Para a vice, o nome pode sair do PTB. E essa é a única dúvida que persistia, nesta noite.

É oficial hoje. Não se sabe se até a convenção. Como gostam de repetir os peemedebistas, a política é muito dinâmica e o futuro a Deus pertence...

A Perereca fica sem entender a decisão de Jader, que retorna à Câmara dos Deputados. Nas pesquisas, ele está bem melhor que o esperado. É vero.

Considera, apesar das argumentações em contrário, que JB é o único em condições reais de derrotar os tucanos. E acha que ele está cometendo um tremendo equívoco - que pode lhe custar bem caro, em futuro não muito distante.

No final de semana, o quadro era bem diferente. Depois, o bolo do PT desandou e JB decidiu recuar.

A decisão, certamente, frustrará o PMDB. E é possível que boa parte dele acabe lançando âncora no porto tucano, uma vez que tem bem mais afinidade – leia-se facilidade de convivência – com o PSDB do que com o PT.

A disputa perdeu a graça. Aliás, nem disso poderá ser chamada...

O próximo pleito, que prometia ser um dos mais empolgantes dos últimos anos, sofrido voto a voto, tem, agora, tudo para dar sono.

Daqui os protestos da Perereca, que acredita expressar a frustração de todos os que gostam, de fato, desse vício.

Pior, só se o Barão resolver, na última hora, sair candidato. Aí vou criar galinha em Quixeramobim...

domingo, 25 de junho de 2006

A Perereca Pensando

Na Carreira


Pintar, vestir
Virar uma aguardente
Para a próxima função
Rezar, cuspir
Surgir repentinamente
Na frente do telão
Mais um dia, mais uma cidade
Pra se apaixonar
Querer casar
Pedir a mão
Saltar, sair
Partir pé ante pé
Antes do povo despertar
Pular, zunir
Como um furtivo amante
Antes do dia clarear
Apagar as pistas de que um dia
Ali já foi feliz
Criar raiz
E se arrancar
Hora de ir embora
Quando o corpo quer ficar
Toda alma de artista quer partir
Arte de deixar algum lugar
Quando não se tem pra onde ir
Chegar, sorrir
Mentir feito um mascate
Quando desce na estação
Parar, ouvir
Sentir que tatibitati
Que bate o coração
Mais um dia, mais uma cidade
Para enlouquecer
O bem-querer
O turbilhão
Bocas, quantas bocas
A cidade vai abrir
Pruma alma de artista se entregar
Palmas pro artista confundir
Pernas pro artista tropeçar
Voar, fugir
Como o rei dos ciganos
Quando junta os cobres seus
Chorar, ganir
Como o mais pobre dos pobres
Dos pobres dos plebeus
Ir deixando a pele em cada palco
E não olhar pra trás
E nem jamais
Jamais dizer
Adeus


(Chico Buarque e Edu Lobo)

terça-feira, 13 de junho de 2006

De volta ao começo

Até 4 de Julho!



A Perereca vai dar um tempo no blog. Tenho duas pilhas de documentos para cruzar e analisar. E não possuo fonte de rendimento que não seja o meu trabalho. Daí a dificuldade de conciliação.

Mas não é apenas a falta de tempo que me leva a esse interregno. São fatores vários.

O primeiro é o desvirtuamento da proposta do blog. Se você, leitor, acessar minhas postagens iniciais, verá que esta página era bem despretensiosa: uma informação de bastidores, um artigo meio desconjuntado, uma incursão poética. E muita bebedeira, que essa é fundamental. Era um diário, uma coisa íntima que só metia a cara na política porque, infelizmente, nunca consegui me livrar desse gosto tremendo pela política.

De repente, no entanto, este blog foi se tornando cada vez mais sisudo e factual. Levando-me a colocar de lado o lirismo, e por vezes, até o humor. O intimismo foi perdendo espaço para as notinhas e até para as reportagens. E reportagens e notinhas eu já faço, para sobreviver.

É claro que o blog traz satisfação ao ego. Principalmente, quando encontro alguém que indaga: “não é você que tem aquele blog...”. Mas, sinceramente, não é isso o que quero da vida. Nem sei direito o que quero. Mas, certamente, não é isso.

Desenvolvi, ao longo dos anos, uma profunda consciência acerca da fugacidade da existência. É uma constatação dolorosa. E, no entanto, essencial, para pensarmos, de fato, aquilo que somos e que buscamos ser.

Não quero prender-me ao imediato, ao hoje, ao agora. Consumir dias e dias nesse vício chamado Internet, em busca de uma atualidade inexistente. Quero o conhecimento – e não, apenas, a informação do cotidiano. Quero o Logos, que está muito além desse devir perpétuo dos sentidos, como bem definiu Heráclito. Quero a Plenitude, nestes parcos anos em que julgo ser.

Nesses dois últimos dias em que deveria atualizar a Perereca – e eu confesso, leitor, me perdoe a desconsideração – meti a cara nos livros e em alguns filmes. Não li jornal, não vi tv, não ouvi rádio, não acessei nenhum blog. Deletei o cotidiano, como de há muito não fazia. Vi o mundo do ponto de vista do processo histórico. Para muito além do aparente.

Não, não estou em mais uma de minhas crises existenciais. Ao contrário: tendo, justamente, recuperar as rédeas de quem sou. Tenho por você, leitor, a maior das considerações. E tenho consciência da qualidade do público deste blog, os formadores de opinião. Além de saber que ele conseguiu ocupar um espaço interessante, num momento pré-eleitoral.

Mas, sinceramente, não sei se quero formar a opinião de quem forma opinião. Nem creio que tenha condições intelectuais para tal. Não quero esse poder, nem poder de qualquer tipo, a não ser o poder de tentar conduzir a minha existência o mais de acordo possível com aquilo que considero justo, certo, íntegro.

A vida é tênue e limitada demais, para se querer mais do que isso. É um alumbramento, não mais que um alumbramento, diante da eternidade.

Assim, agradeço a todos os que me leram, nesses meses em que passamos juntos (foi bom pra você?). Mas, quando retornar, em 4 de julho, será retomando a proposta inicial deste blog: uma conversa de pé de ouvido com o mundo, num sábado bêbado ou num domingo de ressaca.

FUUUUUUUUIIIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!

domingo, 11 de junho de 2006

Para uma semana especial

Os Brasis


Brasil

Não me convidaram

Pra essa festa pobre

Que os homens armaram pra me convencer

A pagar sem ver

Toda essa droga

Que já vem malhada antes de eu nascer

Não me ofereceram

Nem um cigarro

Fiquei na porta estacionando os carros

Não me elegeram

Chefe de nada

O meu cartão de crédito é uma navalha

Brasil

Mostra tua cara

Quero ver quem paga

Pra gente ficar assim

Brasil

Qual é o teu negócio?

O nome do teu sócio?

Confia em mim

Não me sortearam

A garota do Fantástico

Não me subornaram

Será que é o meu fim?

Ver TV a cores

Na taba de um índio

Programada pra só dizer "sim"

Brasil

Mostra a tua cara

Quero ver quem paga

Pra gente ficar assim

Brasil

Qual é o teu negócio?

O nome do teu sócio?

Confia em mim

Grande pátria desimportante

Em nenhum instante

Eu vou te trair

(Não vou te trair)

(Cazuza / Nilo Romero / George Israel)


Macunaíma

Vou-me embora, vou-me embora

Eu aqui volto mais não

Vou morar no infinito

E virar constelação

Portela apresenta

Portela apresenta do folclore tradições

Milagres do sertão à mata virgem

Assombrada com mil tentações

Cy, a rainha mãe do mato

Macunaíma fascinou

E ao luar se fez poema

Mas ao filho encarnado

Toda maldição legou

Macunaíma índio, branco, catimbeiro

Negro, sonso, feiticeiro

Mata a cobra e dá um nó

Cy em forma de estrela

A Macunaíma dá

Um talismã que ele perde e sai a vagar

Canta o uirapuru e encanta

Liberta a magoa do seu triste coração

Negrinho do Pastoreio foi a sua salvação

E derrotando o gigante

Era uma vez piaimã

Macunaíma volta com a muiraquitã

Marupiara na luta e no amor

Quando sua pedra para sempre o monstro levou

O nosso herói assim cantou:

Vou-me embora, vou-me embora

Eu aqui volto mais não

Vou morar no infinito

E virar constelação

( David Correa / Norival Reis)



O Samba do Crioulo Doido


(Este é o samba do crioulo doido. A história de um compositor que, durante muitos anos, obedeceu ao regulamento, e só fez samba sobre a história do Brasil. E tome-lhe Inconfidência, Abolição, Proclamação, Xica da Silva. E o coitado do crioulo tendo de aprender tudo isso, para o enredo da escola. Até que, no ano passado, escolheram um tema complicado: Atual Conjuntura. Aí o crioulo endoidou de vez. E saiu este samba:)


Foi em Diamantina

Onde nasceu JK

Que a princesa Leopoldina

Arresolveu se casá

Mas Xica da Silva

Tinha outros pretendentes

E obrigou a princesa

A se casar com Tiradentes

Lá iá lá iá lá ia

O bode que deu vou te contar

Lá iá lá iá lá iá

O bode que deu vou te contar

Joaquim José

Que também é

Da Silva Xavier

Queria ser dono do mundo

E se elegeu Pedro II

Das estradas de Minas

Seguiu pra São Paulo

E falou com Anchieta

O vigário dos índios

Aliou-se a Dom Pedro

E acabou com a falseta

Da união deles dois

Ficou resolvida a questão

E foi proclamada a escravidão

E foi proclamada a escravidão

Assim se conta essa história

Que é dos dois a maior glória

Da. Leopoldina virou trem

E D. Pedro é uma estação também

O, ô , ô, ô, ô, ô

O trem tá atrasado ou já passou


(Stanislaw Ponte Preta)

quarta-feira, 7 de junho de 2006

Muito justo

A frase da semana:

“Essa casa é do povo, foi construída com o dinheiro do povo, a gente tem que entrar aqui na hora que quiser. Se não deixam entrar por bem, a gente entra por mal. Aqui entram banqueiros, usineiros, empresários, só não pode entrar trabalhador?”

Marcos Praxedes, 30 anos, da direção do MLST, em São Paulo.

Opinião

Sobre a invasão à
Câmara dos Deputados

A democracia é uma coisa complicada. Porque obriga a uma reflexão permanente. Não, apenas, acerca de deveres. Mas de direitos.

Óbvio que, aos meus olhos, os sem-terra que protagonizaram as cenas de violência, na Câmara dos Deputados, extrapolaram os limites do Estado democrático de direitos. Haja vista os cidadãos feridos. E a depredação de um patrimônio que é de todos.

Mas, antes de condenarmos à fogueira, em rito sumário, os autores desses atos, convém buscarmos o porquê desse episódio. E a pergunta que se impõe é: existe, de fato, democracia no Brasil?

É claro que, ao equilibrista da classe média, ações desse tipo são injustificáveis. Bem ou mal, temos um teto, comida na geladeira, plano de saúde, escola para nossos filhos.

Mas e se, apesar de toda a ginástica que fazemos, ao final de cada mês, não tivéssemos nada disso? E se o dinheiro não chegasse para o aluguel? E se víssemos nossos filhos a chorar, famintos, doentes e sem qualquer perspectiva de futuro?

Pois é essa a condição desses cidadãos (?) que invadiram a Câmara dos Deputados. Nunca é demais lembrar que o Brasil não é a Europa. Aqui, pobre não tem casa e carro na garagem. Passa fome – MESMO!

Já nem se fala em escola ou conforto. Mas de uma coisa básica à possibilidade de se continuar vivo – pelo menos, hoje e amanhã.

Essa relação entre pobreza e violência é inescapável. Não dá mais para continuarmos a apelar ao misticismo – seja na forma de divindades, ou de teorias pseudo-científicas, acerca da índole “pacífica” de pessoas ou povos.

Os avanços da biologia e da psicologia nos obrigam a encarar o animal que somos. Conduzidos, muitas vezes, a ações “incivilizadas”, quer por determinantes puramente fisiológicas, quer por necessidades mentais, específicas do ser humano.

O passo seguinte desse enfrentamento é a clareza acerca da impossibilidade de completa pacificação, entre predadores territoriais.

Mas, também, a compreensão de que, para que essa pacificação permita, ao menos, a convivência societária, é preciso que a comunidade seja minimamente justa. Coisa que, todos sabemos, não é a realidade brasileira.

Pelo contrário: todos os dias assistimos a cenas chocantes acerca da escravidão – sim, é isso mesmo, ES-CRA-VI-DÃO – crudelíssima a que são submetidas as pessoas mais pobres.

Comem restos – quando há restos a comer.

Nascem, vivem e morrem que nem bicho, em barracos infectos – quando há barracos infectos para nascer, viver e morrer.

Não têm água, luz, saneamento - nada do que classificamos nem como “modernidade”, mas como elementar.

Mais cruel, ainda, é que esses neo-escravos estão aprisionados num círculo de perpétua reprodução da miséria.

O filho, o neto, o bisneto do miserável, quando muito, chegará a pobre, uma vez que a escola que lhe é dada freqüentar, pelo Poder Público, é a própria imagem da desolação, por qualquer ângulo que se olhe.

Uma vez que vive em famílias, muitas vezes, desestruturadas. E que lhe falta, na maioria esmagadora dos casos, um mero pedaço de pão.

Os episódios de sucesso advindos das classes mais pobres - e tão festejados pela mídia burguesa - são meras exceções.

Nem poderia ser diferente num sistema iníquo, que busca se perpetuar, justamente, a partir desse casamento perverso entre a pobreza e a desinformação.

Mesmo o capitalismo dos países desenvolvidos, vai se mostrando arcaico, envelhecido, diante das conquistas sociais, na área da ciência e tecnologia. O que dizer, então, desse pré-capitalismo que subsiste em países como o Brasil?

O episódio a que assistimos, escandalizados, hoje, não é diferente do que vemos, todo santo dia, em todas as ruas deste país.

A pedra atirada contra o segurança, pelo sem-terra, só difere da arma que nos é apontada pelo assaltante, pela compreensão da realidade de quem cometeu o ato.

O assaltante imagina que está agindo de moto próprio. O militante que invadiu a Câmara dos Deputados tem consciência de que a sua ação é socialmente determinada.

É claro que se lamenta pelos feridos.

Mas nunca é demais lembrar dos feridos – e dos mortos – que os miseráveis choram, todo santo dia, sem direito à comoção social, ou a uma nota de pé de página do jornal de Quixeramobim.

Para mim, portanto, as ações cometidas, hoje, são injustificáveis. Sou cidadã e respeito o Estado democrático de direitos.

Mas, e quem não é cidadão?

terça-feira, 6 de junho de 2006

Edição 06/06 - Eduardo Salles

A ligação entre Eduardo e
Jatene: o fim do mistério


O elo do parentesco entre o governador Simão Jatene e o empresário Eduardo Salles sempre foi um segredo guardado a sete chaves no coração do poder.

Nos bastidores palacianos, cochicha-se acerca dessa ligação, mas sem saber ao certo qual seria.

Mesmo integrantes do primeiro escalão do governo e jornalistas bem informados não sabem recompor esses laços genealógicos.

E alguns chegam, mesmo, a duvidar dessa ligação, pelo fato de Eduardo não usar o sobrenome do tio ilustre.

Mas a reportagem da Perereca conseguiu comprovar esse parentesco, através de certidões cartorárias e da Justiça Eleitoral. Eduardo é filho de Reny Maria Jatene Salles, de 71 anos, irmã mais velha do governador.

Conforme se pode constatar, através dessas certidões, a filiação de Reny é a mesmíssima do governador.

O pai deles, Simão Abrahão Jatene, e a mãe, Francisca de Oliveira Jatene, foram pioneiros do comércio de Castanhal, na década de 50.

De origem libanesa e com muitos filhos, Abrahão possuía casa e estabelecimento comercial na avenida Barão do Rio Branco, esquina da antiga Lauro Sodré, atual Maximino Porpino. Ainda hoje, uma placa em cima de um prédio, nessa confluência, assinala o local.


Rumo à Política

Sem tradição política, a família só começou a enveredar por esse caminho através de outro irmão de Jatene, Antonio Rivan, que foi genro, secretário de Obras e secretário particular do ex-prefeito Almir Tavares de Lima, que administrou a cidade de 1971 a 1972 e de 1977 a 1982.

Chefe local do antigo PDS, Antonio Rivan chegou a ser suplente de deputado estadual. Acabou por se desligar do partido, após perder a concessão de uma rádio local para um grupo de empresários de Belém.

Segundo consta nos jornais da época, irritou-se com a deputada estadual Maria de Nazaré, da base de sustentação do ex-governador Alacid Nunes, porque foi ela a bancar a vitória do grupo.

Já Eduardo Salles resolveu arriscar a sorte na política, em 1992, quando se candidatou a prefeito de Castanhal, pela coligação “Renovação” (PDC, PSDB, PC, PDT e PST). Perdeu.

Mas continuou batalhando, até tornar-se a liderança do PSDB na região, onde, segundo informações de fontes da Polícia Civil, mantém uma rede de vereadores, que ajudou a eleger.

Por conta de sua marcante atuação, tornou-se, desde a administração do ex-governador Almir Gabriel, o articulador das campanhas eleitorais tucanas, no Nordeste paraense. E seria, mesmo, excelente amigo de empresários que possuem contratos com o Governo Estadual.

Nas últimas eleições municipais, chegou a subir em palanques de candidatos a prefeito, a sinalizar o apoio de seu tio governador.


Tarefa hercúlea

Porém, mesmo com toda essa visibilidade, é tarefa hercúlea seguir os passos desse empresário de 50 anos, nascido em Rio Branco, a capital do Acre.

Primeiro, pela relutância das pessoas bem situadas que o conhecem – que, quando dão alguma informação, é sob a condição de anonimato.

Segundo, pelo comportamento de autoridades de Castanhal, que chegam a tentar impedir o acesso a informações relativas ao sobrinho do governador.

Terceiro porque os próprios documentos de Eduardo não ajudam muito: estranhamente, eles não trazem o sobrenome Jatene.

No CPF 107.392.702-49, que passou a utilizar, a partir de 1980, após o casamento com Selma Maria de Oliveira Salles, consta, apenas, o nome Eduardo Salles.

Além disso, já na década de 90, ele voltou a utilizar o CPF 039.243.862-34, da época de solteiro, em pelo menos duas ocasiões: as confissões de dívida, com garantia hipotecária, realizadas junto ao Banco do Brasil, em 04 de junho de 1990, pelas empresas Agrosalles – Agropecuária Salles Ltda. e Ferccon – Ferro, Comércio e Construção Ltda. e seus sócios cotistas – além de Eduardo, o pai dele, José Salles.

As confissões, que constam das certidões 5.229 e 5.230, do livro 2-Q, do cartório Araújo, de Castanhal, referem-se a dívidas que totalizavam Cr$ 26.000.000,00, em valores da época.

As hipotecas pesavam sobre dois imóveis contíguos, em nome de José Salles: um terreno de 273 metros quadrados, na rua Paes de Carvalho, entre Maximino Porpino e Quintino Bocaiúva, e um terreno edificado com duas casas, na Paes de Carvalho, 2985, esquina da Maximino Porpino.

Esse último é o imóvel que Eduardo aluga, pelo menos desde 1997, à Polícia Civil, para o funcionamento da Superintendência Regional do Salgado. O imóvel, aliás, foi reformado pelo Governo do Estado, incluindo o anexo onde funciona o Instituto de Identificação.

Outra dificuldade é a profusão de endereços fornecidos por Eduardo, em certidões cartorárias, processos judiciais e listas telefônicas – no que é ajudado pela anarquia reinante na numeração das ruas de Castanhal.

Ao longo de uma década, desde 1991 até dezembro 2001 – quando seu tio já havia sido eleito governador – ele fornecerá pelo menos três endereços distintos: a Maximino Porpino, 2986; a rodovia Transapeu, Km-02 (quando tem de fazer constar o endereço da Ferccon na Maximino, 2985); e a Transcastanhal, Km-05.

Só a partir de 2001 e até o final do ano passado, é que ele assumiu como endereço, de forma mais constante, a avenida Barão do Rio, 1800, no bairro da Titanlândia. Um fazenda aprazível, de onde, afinal, parece nunca ter saído: em um processo da Justiça do Trabalho, datado de 1990, consta que seu endereço é a Transapeu, KM-02, que é a mesmíssima Barão do Rio Branco. Além disso, nos dois casos, a referência é a vizinha subestação da Rede Celpa.


Castanhal: Conjunto da Cohab
também beneficia empresário

Em matéria anterior, a Perereca abordou os milhões investidos pelo Governo do Estado, em Inhangapi, e que se revelaram excelente notícia para o empresário Eduardo Salles, sobrinho do governo Simão Jatene – afinal, Eduardo adquiriu, apenas naquele município, cerca de 2.500 hectares.

Outro investimento do Governo do Estado, desta feita em Castanhal, também foi bem recebido pelo empresário: a construção do conjunto habitacional Jardim dos Tangarás, pela Companhia de Habitação do Pará (Cohab).

Em 19 de outubro de 2004, o Diário Oficial do Estado publicou o Decreto 1.300, para a desapropriação de duas áreas de terra, na rodovia Transcastanhal, no bairro da Fonte Boa.

A primeira confrontava com o loteamento Fonte Boa, o igarapé de mesmo nome e a faixa de servidão do linhão da Eletronorte. A segunda, com o loteamento e o linhão – mas, também, pela esquerda, com “terreno de Eduardo Sales”, conforme o próprio texto do decreto.

Nas matrículas 4249 e 4595, do cartório Araújo, constam, de fato, dois terrenos adquiridos por Eduardo, na Fonte Boa, em transações realizadas com o médico e deputado Márcio Miranda e com o empresário Mairto Magalhães Filho, no ano de 2000.


Decreto confuso

Estranho e mal escrito, o texto do decreto deixa, inclusive, margem a dúvidas quanto ao que foi desapropriado.

Diz, em seu artigo primeiro: “Fica declarado de interesse social, para fins de desapropriação, em favor da Companhia de Habitação do Pará – COHAB – Pará, a área localizada na rua Paes de Carvalho, número 1202, no município de Castanhal, Estado do Pará. As áreas passíveis de desapropriação pelo Governo do Estado do Pará, onde se processa o projeto do Loteamento Jardim dos Tangarás – ÁREA 01, está (sic) localizada na Rodovia Transcastanhal, Rua 1, s/n, Bairro Fonte Boa, no Município de Castanhal, Estado do Pará, apresentando descrição, limites e dimensões, conforme abaixo: (...)”.

Ora, no número 1202 da Paes de Carvalho – que, por coincidência, fica em frente ao prédio alugado por Eduardo Salles a Polícia Civil – funciona uma empresa chamada Meta Empreendimentos Imobiliários (CNPJ 05.147.069/0001-66).

Naquele endereço, até o ano passado, era comercializado o Loteamento Fonte Boa. Com um total de 300 lotes, cada um com dimensão de 10X30, a R$ 2.500,00 – que poderiam ser pagos mediante entrada de R$ 250,00 e 45 prestações de R$ 50,00.

Na Meta, conversei com um corretor, como se estivesse interessada na aquisição. Perguntei se havia água, luz, saneamento. Ele me explicou que os lotes ficavam de frente para o novo conjunto da Cohab e que “todos os conjuntos do Governo vêm com toda a infra-estrutura”. E acrescentou: “Isso aqui tava meio parado, só começou a vender mais depois que o governo anunciou o conjunto. Agora, já vendemos a metade”.

Mais esquisito é que, pela planta que o corretor me apresentou, o loteamento se espalhava pela esquerda – aparentemente, confrontando, mais uma vez, com os terrenos de Eduardo...

Tanto a Meta, quanto a área do loteamento e o terreno desapropriado pelo Governo do Estado pertenceriam à família Kataoka Oyama, que possui bons e antigos laços de amizade com o sobrinho do governador.

Edição 06/06 - Fim da Série

Miserê: série sobre Eduardo chega ao fim


A Perereca é forçada a interromper, aqui, a série de matérias sobre o sobrinho do governador. Por absoluta falta de grana, diga-se de passagem, porque esse tipo de pesquisa demanda tempo e dinheiro.

Considera frustrante não ter ido mais fundo na história da Fonte Boa.

Nem nos contratos da Engecon, empresa ligada a Eduardo.

Na Sectam, por exemplo, há um dado estranhíssimo: à certa altura, contratos mantidos com a Penta Projetos Engenharia e Tecnologia Ltda (CNPJ 05.085.766/0001-30), passam a figurar como sendo tocados por uma certa Engecon, que, no entanto, tem o mesmo CNPJ da Penta. A Penta pertence aos engenheiros Eliezer e José Jayme Levy – esse último, se não estou enganada, é o representante da construtora Paulitec, no Pará.

Além disso, seria preciso esclarecer se não existe ligação entre a Engecon de Eduardo e uma outra empresa, a ENG&CON – Engenharia e Construção Ltda. (CNPJ 01.805.483/0001-64), aberta em 30 de abril de 1997.

É que outras secretarias, além da Sectam e Setran, mantiveram e mantêm contratos com uma empresa chamada Engecon, cujo CNPJ, no entanto, não figura no Diário Oficial. E seria preciso saber a qual das três tais contratos se referem – se a de Eduardo, a do CNPJ da Penta ou a ENG&CON.

O mesmo pode ser dito em relação a prefeituras do interior: no processo 200203244-00, do TCM, conforme publicado no DOE de 30/03/2005, a ex-prefeita Violeta Manfredo Borges Guimarães, de São Sebastião da Boa Vista, foi condenada a devolver mais de R$ 208 mil aos cofres públicos, por pagamentos efetuados, em 2001, a três empresas – entre elas a Engecon Ltda – por obras inconclusas.

Ficam por explicar, ainda, possíveis contratos entre a Ferccon e a Cohab, em 1997, conforme Diário Oficial localizado pela Perereca.

E ainda a feliz coincidência de 10 terrenos de Eduardo terem sido atravessados pela linha de transmissão entre Vila do Conde e Santa Maria, construída pela Empresa Regional de Transmissão de Energia S/A (ERTE, CNPJ 05.321.920/0001-06).

Até porque os projetos originais da obra parecem ter sido modificados, conforme documentação em poder do blog, mas que ainda não foi devidamente analisada, inclusive com o cruzamento de outras informações.

Da mesma forma, não tenho como investigar denúncias que recebi, recentemente, acerca da ligação de empresários que venderam terrenos a Eduardo, com um contador de nome Ladilson Almeida, que se especializou em montar empresas de fachadas, com laranjas de áreas de invasão. Tais empresários teriam negociado imensos débitos junto a Sefa, entre 1998 e 1999.

E fico a dever, também, a nebulosa história do asfaltamento da rodovia que liga Castanhal a Inhangapi, a 136, cujas obras parecem ter sido estendidas até a localidades onde Eduardo adquiriu terrenos.

Ou seja, tenho consciência de que consegui apurar um bom material, ao estabelecer, de forma insofismável, o parentesco entre Jatene e Eduardo e os laços entre Eduardo e a Engecon; os contratos que mantém com o Estado, as terras que adquiriu em Castanhal e Inhangapi, as obras de infra-estrutura realizadas pelo Estado, além do aluguel de um prédio à Polícia Civil.

Mas como não tenho aonde cair morta – e, se não me cuidar, acabo tendo e “de grátis” – sou obrigada a interromper tais investigações, apesar de saber que apenas comecei a levantar o véu da extraordinária história de sucesso de Eduardo Salles.

Gostaria de imaginar que tais investigações podem servir de ponto de partida às autoridades competentes, pagas para fazer esse tipo de trabalho: Receita Federal, Polícia Federal, Tribunal de Contas, Assembléia Legislativa, Ministério Público - Estadual e Federal.

Mas, como já sou bem crescidinha, também me reservo o direito de não acreditar em contos de fadas...

Edição 06/06 - Notas

Pererecando


Pesquisa

Pesquisa não registrada no TRE e feita para consumo interno indica que, se a eleição fosse hoje, Almir teria 33% dos votos, contra 31% de Jader, 21% de Ana Júlia e 7% de Edmilson.


Daqui pra frente...

Estranho, muito estranho o festival de críticas à Companhia Vale do Rio Doce, por cinco deputados estaduais da base governista, em sessão da Assembléia Legislativa, na semana passada. De repente, os parlamentares descobriram, como disse o tucano Faisal Salmen, que a empresa, há 20 anos no Pará, tem investimentos irrisórios por estas plagas, especialmente na área social. E a deputada Tetê Santos, quase afilhada do ex-governador Almir Gabriel, deixou no ar até uma ameaça: segundo ela, o pré-candidato do PSDB já afiançou, em reunião com os deputados, que dará um tratamento “diferente” a CVRD.


...tudo vai ser diferente?

A Perereca não quer melar a festa eleitoral de ninguém, mas lembra aos tucanos a dificuldade prática de pressionar a Vale. E se ela resolver abrir o bico e contar quem foram os grandes contribuintes da campanha que elegeu o governador Simão Jatene? Aliás, conforme os documentos que o blog tem em mãos, a campanha foi financiada, em 99%, com dinheiro de empresas que ou detiveram incentivos do Governo do Estado – até o fim da farra decretada pelo STF – ou executaram importantes obras públicas, como a Alça Viária.


Disputa acirrada

Vai ser quentura a eleição para a Associação do Ministério Público do Estado do Pará (Ampep). Duas chapas estão inscritas. A primeira, “Ampep em defesa da classe”, é encabeçada por Nélson Pereira Medrado e Domingos Sávio de Campos e conta com o apoio do atual presidente da entidade, Wilson Néri. A segunda, a “União”, é comandada por César Bechara Mattar Jr. e Wilson Corrêa de Sá. Nos corredores do MPE, consta que foi articulada com a ajuda do procurador geral de Justiça. As eleições acontecem no próximo dia 23 e um dos eixos da campanha de Medrado será a necessidade de maior autonomia do MP, frente a denúncias que envolvam o Executivo. “O que nós queremos é trazer a classe para uma discussão sobre tudo isso” – afirma.


Wolgran

Falando no MPE: nesta terça, o major Walber Wolgrand protocola mais um pedido de informações, junto à instituição. Quer, em suma, que o procurador geral, Francisco Barbosa, esclareça os trâmites seguidos pelas denúncias que fez, contra o Governo do Estado e o Comando da Polícia Militar – entre elas, a de fraude em concurso público para a corporação. Para quem não se recorda, o militar protocolou, há duas semanas, pedido de destituição de Barbosa, pela não apuração dessas denúncias.


Convenções

A deputada Aracelli Lemos, do PSOL, informa que vai solicitar, nesta semana, providências do Ministério Público sobre o Centro de Convenções. A obra, que o Governo do Estado promete entregar até o final do ano, tem o custo por metro quadrado mais alto do País: R$ 3.400,00, contra os poucos mais de R$ 600,00 registrados nos 27 estados e Distrito Federal. A deputada desistiu de um pedido de CPI, que já estava pronto, depois da aprovação da Emenda da Mordaça, do pefelista Luiz Seffer, que aumentou, de 9 para 13, as assinaturas necessárias a esse tipo de iniciativa.


Alckmin

Recebo de Ruy Nogueira um artigo imperdível sobre Gabriel Chalita, secretário de Educação do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Com a deliciosa habilidade de sempre, Ruy traça um retrato demolidor dessa figura sui generis, que, a exemplo de Duzinho, possui incrível capacidade multiplicadora: em dois anos, entre 2000 e 2002, Chalita mais que dobrou o patrimônio declarado. É pra ficar de queixo caído. Leia o artigo “O precioso ridículo” no endereço
www.ruynogueira.blogspot.com


Cassação I

A Perereca acredita que o Ministério Público Federal está mais perdido que cego em tiroteio, quando o assunto é o Recurso Ordinário 904, que pede a cassação do governador Simão Jatene, por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2002. Nas várias ocasiões em que o blog procurou pessoa muito bem posta no MPF, a informação foi a de que Almir Gabriel ficaria inelegível, caso o TSE acolhesse o pedido de cassação do atual governador. No entanto, na última sexta-feira, o procurador eleitoral José Potiguar afiançou que Almir não é parte no processo – ou seja, não será alcançado pela decisão.


Cassação II

A Perereca entende que o MPF tem muito trabalho e coisa e tal. Mas acredita que, ainda assim, deveria ter mais cuidado com as informações que repassa, mesmo em off, aos meios de comunicação. Por conta dessa incorreção, me vejo obrigada a pedir desculpas aos leitores. Mas o pior é que esse fato impediu um raciocínio mais claro do tabuleiro político, até em relação à desistência de Jatene, em concorrer à reeleição.


Cassação III

O blog prefere, então, deletar o MPF e dar uma de cacique Juruna: informação, agora, só oficialmente e gravada - ou por escrito. Vai recorrer, exclusivamente, ao advogado Inocêncio Mártires, bem mais inteirado sobre o caso. Inocêncio, aliás, confirma que Almir não sofrerá nada, qualquer que seja a decisão do TSE. Isso porque o relator do processo, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Ricardo Nunes, então juiz e hoje desembargador, excluiu Almir da ação - e o MPF não recorreu.


Cassação IV

Inocêncio espera que o RO 904 seja julgado no próximo dia 20, mas só confirmará a data na quinta-feira. Já não há mais pedidos de vistas que possam ser concedidos aos réus: o prazo da última solicitação nesse sentido, feita pelo deputado Raimundo Santos, acabou nesta segunda. E na pauta do TSE só há 15 processos, entre eles o RO 904 e o Recurso Contra Expedição de Diploma (RCED) 657, que também pede a cassação do governador. O RO 904 já tem parecer favorável da Procuradoria Geral Eleitoral e o seu relator é o ministro José Delgado.


Curió

O ministro Marcelo Ribeiro, do TSE, concedeu liminar ao prefeito de Curionópolis, Sebastião Curió, que reassume o cargo nesta terça. Curió havia sido afastado pelo TRE, em processo que o acusa de compra de votos, nas últimas eleições municipais.


Tucanos

Almir levou Mário Couto a tiracolo, no último final de semana, a oito municípios do Sul e Sudeste do Pará. A parceria deve prosseguir na semana que vem e se intensificará com a aproximação do 3 de outubro. Até agora, Couto, que é amicíssimo de Almir, é o nome mais cotado para concorrer ao Senado, pelo tucanato.


Namoro I

Encontro casual em Muaná, neste final de semana, entre a senadora Ana Júlia e o deputado José Priante, dá a medida de como anda o namoro das oposições. Priante disse a Ana que o PMDB está decidido a enfrentar Almir, mas que isso só acontecerá se ela for a candidata do PT ao Governo do Estado. Ana, porém, esclareceu ao deputado que não fará nenhum movimento nessa direção, até porque o partido já tem candidato – o deputado estadual Mário Cardoso – de quem ela promete ser cabo eleitoral.


Namoro II

A pessoas próximas, a senadora tem dito que só aceita concorrer ao cargo se essa for uma decisão partidária – e desde que o apelo, nesse sentido, parta do próprio Lula. Isso porque a convicção dela é quanto à prioridade da estratégia nacional do PT, ou seja, a necessidade da reeleição de Lula, para evitar “retrocessos” no cenário político. Ela tem repetido que “nada é estático na vida”. Mas também não quer voltar a enfrentar campanhas “problemáticas”, semelhantes à última para a Prefeitura de Belém.


Governo

Fonte do blog garante que Priante está bem cotado para ser o candidato do PMDB ao Governo do Estado. Em tal cenário, Jader seria candidato a senador e a aliança com o PT aconteceria, apenas, no segundo turno. Segundo a mesma fonte, é remota a possibilidade de Jader recuar para a Câmara, com Elcione para o Senado.


Bastidores

Nos bastidores, a expectativa é que a eventual aliança entre o PT e o PMDB esteja definida ou descartada até o próximo dia 15. Na noite desta segunda-feira, o PMDB nacional esteve reunido com o presidente Lula e outras lideranças petistas. No encontro foi feito um relato da situação política em cada estado. É esperar para ver como é que ficou.


Programa

Como já era esperado, o PMDB desceu a ripa no tucanato, no programa partidário veiculado nesta segunda. Críticas, especialmente, à atuação do PSDB nas áreas de Saúde e Segurança e aos escândalos envolvendo o perdão fiscal a Cerpasa – em troca de recursos para a campanha de Jatene –, a venda da Celpa e os vultosos gastos em propaganda do atual governo. Boa parte do programa foi dedicada a comparações entre as obras realizadas pelo PMDB e pelo PSDB. Mas faltou uma pimentinha no pronunciamento final de Jader, que, para desgosto da platéia, não deixou pistas sobre o seu futuro político. Ou seja: o programa foi, francamente, de oposição, a sepultar esperanças de possível aliança com o PSDB. Mas daí a tirar outras conclusões vai enooooorme distância.


Ademir

O ex-senador e ex-presidente da CDP, Ademir Andrade, reúne, nesta terça, com advogados e lideranças do PSB para avaliar as medidas que adotará diante da liberação de diálogos gravados, pela Polícia Federal, a emissoras de TV. Ademir estuda a possibilidade de representar contra a delegada responsável pelo inquérito, junto à Justiça Federal e ao Ministério da Justiça. Ele sustenta que não fez nada ilegal e que está sendo vítima de uma campanha para destruí-lo. Na quarta-feira, Ademir levará o caso à reunião nacional do PSB.


Luto

Não poderia deixar de registrar a imensa perda causada pelo falecimento da médica Elisa Viana Sá, à sociedade brasileira. Técnica extraordinária, profundamente comprometida com a melhoria da qualidade de vida da população, Elisa teve uma atuação marcante na saúde pública. Foi tucana da melhor estirpe, porque cidadã até o tutano. Pena que Deus teime em levar gente como Elisa tão cedo – certamente, para bem juntinho do coração Dele.

Edição 06/06 Entrevista com o Barão

Entrevista com o Barão



Após apartar-se da vida mundana, Barão de Inhangapi começou a ter espasmos criativos. Diz que inspirados diretamente pelo Inri de Indaial, com quem anda mentalmente sintonizado.

Resolveu, então, diversificar a produção artística, com o lançamento do autobiográfico “A Arte da Velhacaria – 99 leis, em 99 páginas, para conquistar e manter o Poder”.

Novamente à frente de seus concorrentes, a Perereca traz, em primeira mão, entrevista com o Barão sobre esse grandioso evento literário. Certamente, o best-seller do milênio - em Inhangapi. Ei-la:

Perereca: Por que o senhor desistiu de tudo?
Barão: Por uma razão muito simples: nunca fui apegado a nada – terras, dinheiro, poder. Até hoje, aliás, minha bebida predileta é uma boa e velha Cerpa. E meus hábitos, muito simples: nos finais de semana, vôo até São Benedito, em companhia de parentes e amigos. Como a senhora pode ver, uma existência frugal, principalmente no trabalho, que me consome, apenas, umas três horas por dia.

Perereca: E no entanto, Barão, o senhor enriqueceu. Como explicar esse paradoxo?
Barão: Veja, minha senhora: trata-se de um paradoxo aparente. Como tudo na vida, aliás. Ao olhar uma árvore a senhora dirá: marrom, com folhas verdes. Mas de onde vêm o verde e o marrom? São, apenas, fenômenos produzidos pela luz! E que dependem, além disso, do ângulo do observador. Se eu fosse um defunto, por exemplo, as folhas talvez não parecessem verdes, pela dor que isso provocaria em meu ser. Então, tudo, minha senhora, é muito relativo. Nada fiz além de dar sustentatibilidade ao meu projeto de vida.

Perereca: Mas não foi com dinheiro público?
Barão: Mas dinheiro público quer dizer isso mesmo: dinheiro de todos! Vão me acusar de que, afinal? De sacar, antecipadamente, meu FTGS? Doei a Inhangapi os melhores anos da minha vida. Até fiquei careca de tanto pensar no seu desenvolvimento! Por causa disso, tenho problemas com as mulheres até hoje. Veja quantos tônicos capilares existem no mercado. Se isso não fosse problema, por que haveria tantos?

Perereca: Mas, Barão, não estamos falando de tônicos capilares...
Barão: Estamos sim, é claro que estamos! Some aí: dois mais três, mais quatro, igual a 10. Não é? Pois é esse o problema da careca, minha senhora, todo mundo sabe que não é, mas todas supõem a inter-relação. Ando até traumatizado com isso. Já passei sabonete da salvação, óleo de santa unção, terra de Jericó, lama do rio Jordão – e nada. A senhora acha que fica bem um implante?

Perereca: Bom, pra campanha, sempre dá pra usar o Photoshop...
Barão: Não estamos falando em campanha, esqueça a campanha. Estou pensando em pintar os brancos e encher de fios pretos, aqui pelo meio, dá pra ver, não é? A senhora acha que ruivo fica exagerado?

Perereca: Voltemos, por favor, ao seu livro: “A Arte da Velhacaria – 99 leis, em 99 páginas, para conquistar e manter o Poder”. Não é um título estranho para a autobiografia de alguém tão desprendido?
Barão: Esse nome me veio justamente do último tônico capilar que usei: “99 fios a cada manhã”. Mas, veja a senhora, nada aconteceu. Até pensei em processar o fabricante. Mas acabei compondo uma canção. A senhora quer ouvir? (pega o violão e ataca: um só fio/ meio vazio/ assim é o mundo/ por que não tudo?/Por que não tuuuuuuudooooo).

Perereca: É, como direi, de antitética sublimidade... Mas voltando a sua conversão. Qual o peso do Inri de Indaial na sua decisão de largar tudo?
Barão: Quando encontrei o Inri, foi como se encontrasse a minha alma gêmea: percebi que não estava sozinho; que, afinal, existe mais gente como eu. E ele, com aquele cabelo comprido. Tufos e tufos deslizando pelos ombros. Não, ele é mais que alma gêmea: é o meu ideal! E aquele discurso...

Perereca: Messiânico.
Barão: É! Fez-me lembrar da missão que sempre tive. Desse grande projeto de um novo Inhangapi, com cadeias produtivas...

Perereca: Bem, infelizmente, Barão, nosso tempo acabou.
Barão: Mas isso não é Tv! É um blog!

Perereca: Pois é, mas pode ficar maçante. E depois, aparece aí algum anúncio e vão pensar que a entrevista foi encomendada pelo Lord Balloon. Não fica bem, né?
Barão: Ah, é claro! A senhora tem de parecer acima do bem e do mal...

Perereca: Não é nada disso, Barão, se acalme, as pessoas vão ler...
Barão: Que leiam, minha senhora! Quem sabe, assim, eu consiga um tônico que preste!

Perereca: Bem, muito obrigada, Barão...
Barão: A senhora pode me fazer um último favor?

Perereca: É pra dar teco em outra cor de implante?
Barão: Não...Me quebre um galho...Escreva meu livro...

Perereca: Mas não está escrito?!!!
Barão: Não. Até agora só me ocorreu o título...

Perereca: Mas por que o senhor não pede ao Barão dos Cadeados? Ele vive doido pra puxar o saco de todo mundo...
Barão: É que a minha família tem verdadeira adoração pela senhora...

Perereca: Mas como é que eu faço isso?
Barão: Eu lhe entrego as fitas gravadas com as minhas memórias.

Perereca: E o senhor confia em mim, é?
Barão: De olhos fechados. Por quê? Haveria algum motivo pra não confiar? A senhora também despreza os carecas, é?

domingo, 4 de junho de 2006

Sábado ou domingo, sei lá!

Poema em linha reta


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


(Fernando Pessoa)


Poema em Curva

(a Fernando Pessoa)

Esta será a última vez que rirão de minha cara.
Este será o último dia que caminharei pelas ruas feito um criminoso,
Em que me cobrirei de luto em homenagem a mim mesma.
Esta será a última vez que abrirei as mesmas portas,
para recontar às mesmas gentes as mesmas histórias.
Estas serão as últimas lágrimas
pela dor de não saber a razão de tanta dor...

Quem ouvirá as minhas preces?
Quem sabe um deus cercado de pudores?
Mas esta será a última vez que minha mãe baterá à porta de meu quarto e perguntará:
_Não desejas comer?

Esta será a última noite que olharei minha cama feito um cadafalso,
que suportarei pontapés sem um gemido, cuidadosamente dentro das etiquetas.
A última, sim a última, em que esmurrarei a porta do banheiro
para não quebrar a cara de alguém.

Eu dormirei, enfim.
Mas ficarei nas terras verdes, retintas de morte.
Eu serei o silêncio das bocas amordaçadas, no desejo de tornar-me um grito.
A mão que se levanta para o soco. A faca na mão do suicida.

(Não, não lerás as minhas entrelinhas,
porque elas se acham perdidas até de mim mesma...
Parto, tão silenciosamente como nasci.
Já nem consigo recordar meus últimos passos,
tão distantes como o dia em que comecei a engatinhar...)

E eu, que tenho sido uma fortaleza imbatível,
Um prado de cortantes ironias,
temo, hoje, olhar-me ao espelho.

Meu coração é um nervo exposto.
Nunca as paredes foram tão vivas e exatas.
Morro, me contorcendo de dor.
Mas rindo da miséria do mundo.

Belém, 1986.




Na Carreira

Pintar, vestir
Virar uma aguardente
Para a próxima função
Rezar, cuspir
Surgir repentinamente
Na frente do telão
Mais um dia, mais uma cidade
Pra se apaixonar
Querer casar
Pedir a mão
Saltar, sair
Partir pé ante pé
Antes do povo despertar
Pular, zunir
Como um furtivo amante
Antes do dia clarear
Apagar as pistas de que um dia
Ali já foi feliz
Criar raiz
E se arrancar
Hora de ir embora
Quando o corpo quer ficar
Toda alma de artista quer partir
Arte de deixar algum lugar
Quando não se tem pra onde ir
Chegar, sorrir
Mentir feito um mascate
Quando desce na estação
Parar, ouvir
Sentir que tatibitati
Que bate o coração
Mais um dia, mais uma cidade
Para enlouquecer
O bem-querer
O turbilhão
Bocas, quantas bocas
A cidade vai abrir
Pruma alma de artista se entregar
Palmas pro artista confundir
Pernas pro artista tropeçar
Voar, fugir
Como o rei dos ciganos
Quando junta os cobres seus
Chorar, ganir
Como o mais pobre dos pobres
Dos pobres dos plebeus
Ir deixando a pele em cada palco
E não olhar pra trás
E nem jamais
Jamais dizer
Adeus
(Chico Buarque e Edu Lobo)

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Edição 29, Maio - Eleições

A dança das cadeiras

Visita do articulador de Lula
não resolve divisão das oposições



Até que ponto a visita do ministro Tarso Genro altera a articulação das oposições, ao próximo pleito, no estado do Pará? Provavelmente, em nada. PT e PMDB, os dois principais blocos oposicionistas, continuarão separados por um abismo de divergências, que inclui a própria concepção do funcionamento partidário.

Mesmo informalmente, a aliança vai se tornando cada vez mais difícil. E o mais provável é que se confirme a tendência de que Lula tenha dois palanques no Pará, caso Jader resolva sair candidato a governador. A candidatura do deputado Mário Cardoso, ao que parece, tornou-se um pomo da discórdia de dificílima superação.

A posição oficial do PT é clara: Cardoso foi escolhido pré-candidato ao Governo por aclamação, em encontro estadual que reuniu trezentos delegados, de todo o Pará.

É, portanto, decisão massiva e respaldada no Estatuto partidário. Por isso, o alinhavo de outros nomes – Jader ou mesmo Ana Júlia – dependeria de intervenção nacional. De altíssimo custo político e lucro incerto, haja vista a rebeldia das bases petistas, pouco afeitas ao caciquismo que permeia as demais agremiações.


Rasgar o Estatuto

A única possibilidade de recuo admitida pelo PT é no caso da cassação de Jatene, pelo TSE, e eventual ascensão de Maria do Carmo, ao Governo do Estado.

“Se alguém quiser mudar a decisão do partido, que rasgue o estatuto. Até porque, na nossa leitura, o nome do Mário Cardoso é o que reúne as melhores condições para a disputa” – diz um dirigente petista.

Outra fonte adianta que, dificilmente, as bases engolirão o nome de Jader, mesmo para o Senado. Elcione seria bem mais palatável. Mas o PMDB não vê com bons olhos tal articulação. Não quer arriscar Elcione em aventura desgastante. Até porque, se tiver fôlego financeiro, Jader se elege ao Senado com fatia própria do eleitorado, sem necessitar do beneplácito de gregos ou troianos.

Por baixo do pano, mesmo o grupo de Ana Júlia se mostra reticente em enfrentar o blocão que comanda o PT estadual.

Mário Cardoso tem trânsito infinitamente maior nas correntes comandadas de Paulo Rocha, Waldir Ganzer e Zé Geraldo. E também empolga a militância, porque, além de ser um soldado do partido, corporifica o ideal político petista.

Além disso, o próprio grupo da senadora (e ela passou o final de semana viajando com Cardoso, pelo Sul do Pará), sinaliza que Ana só toparia a parada a pedido do próprio Lula - e desde que fossem atendidas determinadas “condições”.

Uma improbabilidade, tendo em vista a forma como isso mexeria na divisão do bolo do poder, entre os segmentos do PT local.

Assim, se Tarso Genro insistir, é possível que Paulo Rocha até chame Ana Júlia para uma conversa de pé de ouvido. Mas, apenas, para constar.

Mesmo porque tanto a senadora, quanto outras lideranças – Waldir Ganzer, por exemplo – foram consultadas, no encontro estadual, acerca da disposição de concorrerem ao Executivo.

Ninguém topou a parada – só Cardoso. E outros nomes, de legendas diversas – Ademir Andrade e até Hildegardo Nunes – também foram cogitados, nas articulações que precederam a decisão.


PMDB tem esperança

Embora Paulo Rocha nunca descarte nada, quando se trata de aglutinar forças para uma batalha que se antevê duríssima, levará, certamente, tudo isso em consideração, no encontro que manterá com Tarso Genro.

No PMDB, no entanto, a expectativa é que Paulo bata o martelo, em prol de candidatura com maior densidade eleitoral. Talvez porque o PMDB, com o seu comando personalista, tenha dificuldade em compreender a lógica vermelha.

“Ninguém tem de pensar em ‘gente’, mas em uma candidatura viável” – diz pessoa bem situada no PMDB, ainda esperançosa na revisão da escolha petista.

A fonte assegura que Jader, embora bem colocado nas pesquisas, não tenta impor o próprio nome e considera politicamente viável uma eventual candidatura de Ana Júlia. O que não aceita é que as oposições partam para a guerra divididas e sem um nome de peso ao Executivo.

“As oposições têm de agir com responsabilidade” – diz a fonte – “O objetivo é tirar o PSDB do Governo: é esse o projeto maior. Então, as pessoas têm de ter juízo. Sozinhas, as oposições perdem. Mas, unidas, ganham a guerra. Aliás, a tendência é que as eleições, no Pará, sejam decididas já no primeiro turno, mesmo com um nome forte das oposições, em função da polarização que deverá ocorrer”.

Difícil é acreditar que tais considerações encontrem eco no PT local. Primeiro pelo parco entusiasmo partidário que Ana Júlia enseja. Segundo, porque Jader, apesar de absolvido em boa parte dos processos a que respondia, continua a ser encarado com enorme desconfiança pelas bases petistas.

Uma eventual intervenção em favor de Jader cindiria o PT. Boa parte acabaria ou anulando o voto ou apoiando o PSOL. Ou até descarregando votos em Almir Gabriel, como já aconteceu em pleito anterior.

No plano nacional, é improvável que o pragmático Lula resolva optar pelo amargo remédio da intervenção, em um estado como o Pará, de baixíssimo peso em sua reeleição.

Por isso, a hipótese mais viável é a do palanque duplo. Com ar refrigerado, para ambos os nomes.

Mas, a grande dúvida é se Jader, o único nome em condições reais de derrotar os tucanos, topará a parada – ou se trocará o duvidoso pelo certo: a reeleição para a Câmara dos Deputados ou a candidatura ao Senado.

Se recuar, porém, o PMDB sairá em frangalhos, na disputa pelas cadeiras da Assembléia Legislativa, além de mirrar ainda mais. E Jader, da mesma forma que Cardoso, é um soldado do partido. Sempre foi, aliás.

Edição 29, Maio - Eduardo Salles

Especial

Sobrinho de Jatene aluga imóvel
ao Governo e fatura meio milhão



A mais estranha das transações do empresário Eduardo Salles, sobrinho do governador Simão Jatene, com o Governo do Estado é o aluguel do prédio onde funciona, em Castanhal, a Superintendência da Polícia Civil na região do Salgado, na confluência da Maximino Porpino com a Paes de Carvalho.

De 2000 até 2005, o Governo do Estado pagou, pelos dois contratos de locação do imóvel, cerca de meio milhão de reais. Além de gastar R$ 82 mil, para reformar um anexo, também de Eduardo, onde hoje funciona o Instituto de Identificação.

Em 2002, sem afetar as condições do aluguel, o prédio foi vendido a Ferccon – Ferro, Comércio e Construção Ltda, uma das empresas de Eduardo. Valor da transação: R$ 70 mil - ou 7 vezes menos que o montante já gasto pelo Governo com a locação.

Os contratos têm os números 002/2000 – PCE e 004/2001-PCE.

O primeiro, no valor inicial de R$ 3.800,00 mensais – e que, no ano passado, já se encontra em R$ 4.821,75 - foi publicado no Diário Oficial de 12 de maio de 2000 e se refere a um imóvel situado à rua Paes de Carvalho, 1215, “onde funcionará um Posto de Identificação, uma Delegacia de Defesa do Consumidor, uma Seção do Instituto de Metrologia e uma Seção do Centro Integrado de Operações”.

O segundo, no valor inicial de R$ 5.000,00 mensais – e que, em 2005, já se encontrava em R$ 6.643,30 – foi publicado no Diário Oficial de 10 de outubro de 2001 e se refere a um prédio “localizado na Av. Maximino Porpino com a rua Paes de Carvalho, para funcionamento da Superintendência Regional do Salgado”.

Ocorre que o único prédio das imediações que abriga atividades da Polícia Civil é exatamente esse, da esquina da Maximino Porpino com a Paes de Carvalho, onde funcionam, além da Superintendência do Salgado, o Centro Integrado de Operações (CIOP) e o Procon - em Castanhal, pelo menos até o ano passado, não existia nem Delegacia do Consumidor, nem seção do Instituto de Metrologia.

Além disso, o Instituto de Identificação só passou a funcionar no anexo da Superintendência do Salgado em 2002 – até então, ficava no prédio do Instituto de Perícia Científica Renato Chaves, na rua Major Wilson, 54, em frente ao Cristo Redentor.

Mais: segundo depoimentos colhidos pela reportagem da Perereca, o anexo que hoje abriga o Instituto de Identificação estava tão deteriorado que servia, apenas, como depósito de veículos roubados, apreendidos em operações policiais.


Três números e um destino

“É o mesmo dono e um prédio só” – disse, à repórter, um escrivão, de nome Antonio. “Isso aqui é um prédio só” – confirmou um papiloscopista, Joel José de Souza Monteiro, que trabalhava no Instituto de Identificação.

“Lá, no Eduardo Salles, eram três lojas: a Ferccon, uma de material elétrico e outra que não estou me lembrando. Eram uns três números que, quando ele alugou para o Governo, ele juntou e fez um só”– explicou o chefe, à época, da seção de IPTU da Prefeitura de Castanhal, Carlos Monteiro, que ainda acrescentou: “aqui, na Prefeitura, só constam dois imóveis no nome do Eduardo. Um é a fazenda Betânia, na Barão do Rio Branco, S/N. O outro é esse da Maximino Porpino com a Paes de Carvalho”.

Segundo também Carlos Monteiro, tanto o número 1215 da Paes de Carvalho, quanto o número 2985 da Maximino Porpino (que era o antigo endereço da Ferccon) acabaram engolidos pela nova numeração, que passou a ser a Paes de Carvalho, 2986 - que constava, inclusive, no site do Governo do Estado, como a sede da Superintendência do Salgado.

Outro detalhe interessante: mesmo o contrato 002/2000, em aditivo publicado no Diário Oficial de 02 de março de 2002, se refere ao aluguel de um prédio na Maximino Porpino com a Paes de Carvalho – ou seja, ao mesmo endereço do contrato 004/2001.

No Registro de Imóveis de Castanhal consta que o terreno, com 22x13 metros e duas casas coletadas sob o número 2985, da Paes de Carvalho, e 2.183, da Maximino Porpino, foi adquirido pelo pai de Eduardo, José Salles, em 02 de janeiro de 1964.

Mas o registro cartorário da transação só foi efetivado em 16 de julho de 1986, na mesma data em que a Ferccon e seus sócios, José e Eduardo Salles, hipotecaram o prédio ao Banco do Brasil.

Renovadas ora pela Ferccon, ora pela Agrosalles – Agropecuária Salles Ltda., as hipotecas acabaram resultando em uma confissão de dívida, ao Banco do Brasil, em 04 de junho de 1990.

Só em 09 de janeiro de 1998 foi registrada a baixa da hipoteca. E, em 18 de dezembro de 2002, José Salles e sua mulher, Reny, irmã do governador, efetivaram a venda do imóvel, por R$ 70 mil, a Ferccon.

Toda a transação está registrada no cartório Araújo, na matrícula 5.229, do livro 2-Q.

Contrato de aluguel também
liga Eduardo à Engecon


Os estranhos contratos e aditivos em nome de Eduardo Salles, sobrinho do governador Simão Jatene, foram assinados, sucessivamente, pelos delegados gerais João Moraes, Lauriston Góes e Luiz Fernandes Rocha e por um diretor da DAP, de nome Alan Dionísio Souza Leão de Sales.

O de número 002/2000-PCE, no valor de R$ 3.800,00/mês, teve o extrato publicado no Diário Oficial de 12 de maio de 2000, com vigência de um ano, a contar de 01 de fevereiro – embora tenha sido assinado apenas em 2 de maio.

A locação seria feita pela Engecon – Construções Ltda, através de seu representante legal, o empresário Washington Luiz Antunes da Nóbrega. Mas, em 18 de setembro de 2000, o Diário Oficial retificou o contrato, substituindo a Engecon por Eduardo Salles.

Embora Eduardo não apareça na constituição societária registrada na Jucepa, a verdade é que a Engecon tem fortes ligações com o sobrinho do governador. A empresa, aliás, já recebeu cerca de R$ 3,5 milhões do Governo do Estado, em contratos para a recuperação de rodovias e a execução de microssistemas de abastecimento de água (leia as reportagens anteriores).

Por outro lado, não consta, em cartório, qualquer ligação entre o empresário Washington da Nóbrega e aquele imóvel, que pertence, desde a década de 60, à família de Eduardo.


No aditivo, o endereço é o mesmo


Em 10 de outubro de 2001, o Diário Oficial publicou outro extrato de contrato, de número 004/2001-PCE, entre a Polícia Civil e o sobrinho do governador. O valor era de R$ 5.000,00 mensais e a vigência de 12 meses, a contar de 17 de fevereiro de 2001 – embora, segundo o mesmo DOE, só tenha sido assinado em 30 de setembro de 2001.

A maior surpresa, porém, viria no Diário Oficial de 06 de março de 2002, na página 3 do segundo caderno, com a publicação do primeiro aditivo ao contrato 004/2001-PCE e o segundo ao contrato 002/2000-PCE.

Lá, consta que ambos se referem a imóveis na Maximino Porpino com a Paes de Carvalho, uma confluência onde, além da Superintendência do Salgado, só existem prédios comerciais. Nos aditivos posteriores, o endereço, aliás, simplesmente desaparece.

Publicados nos Diários Oficiais de 6 de fevereiro de 2003 e 10 de fevereiro de 2004, tais aditivos, além de prorrogarem os prazos contratuais, elevaram o valor do contrato 004 para R$ 6.200,00 e R$ 6.643,30, sucessivamente; e o do contrato 002 para R$ 4.500,00 e R$ 4.821,75.

E isso apesar dos R$ 82.698,70 gastos, na reforma do anexo do prédio, pelo Governo Estadual.

Feitas as contas, chega-se à conclusão que o contrato 002 já custou ao erário, até o ano passado, R$ 203.061,00. Já o contrato 004 consumiu R$ 274.119,60. Total da despesa: R$ 477.180,60, até fevereiro de 2005.


Contrato 002/2000

De 01/02/2000 a 27/02/2003: R$ 3.800,00 por mês
De 27/02/2003 a 27/02/2004: R$ 4.500,00 por mês
De 27/02/2004 a 27/02/2005: R$ 4.821,75 por mês

Total: R$ 203.061,00


Contrato 004/2001

De 17/02/2001 a 18/02/2003: R$ 5.000,00
De 18/02/2003 a 18/02/2004: R$ 6.200,00
De 05/02/2004 a 05/02/2005: R$ 6.643,30

Total: R$ 274.119,60

Contrato anterior com nome falso


Ao que parece, o aluguel do prédio do sobrinho do governador à Polícia Civil data dos idos de 1997. Pelo menos é isso que se pode depreender de um aditivo, publicado no Diário Oficial do Estado de 28 de novembro de 2000. O aditivo (o terceiro) se refere a um contrato de número 014/97-PCE. E está assinado pelo então delegado geral da Polícia Civil, João Nazareno Nascimento Moraes, e por um certo “Rui Sales”, cujo CPF, de número 107.392.702-49, é o mesmo de Eduardo Salles.

O aditivo prorroga o contrato 014/97 por 60 dias, a contar de 17 de novembro de 2000. Consta que o imóvel a que se refere está localizado na Maximino Porpino com a Paes de Carvalho, “onde se encontra instalada a Superintendência Regional do Salgado”.

O valor global do aditamento é de R$ 10 mil – ou R$ 5.000,00 mensais. E a justificativa da prorrogação é interessantíssima: “devido à necessidade da continuidade dos serviços da Polícia Judiciária, ora em desenvolvimento naquela regional, aliada à localização estratégica e instalações físicas, cujo preço de locação encontra-se com o preço do mercado, segundo avaliação mercadológica”.

Ou seja: quando o contrato 002/2000 foi assinado, ainda havia um outro contrato em vigor, o de número 014/97-PCE, uma situação que se prolongou até 17 de janeiro de 2001 - no dia 17 do mês seguinte, entrou em vigor o contrato 004/2001.

Assim, é bem possível que o aluguel daquele imóvel, que experimenta hoje uma majoração de mais de 100% em relação a 1997, já tenha custado, aos cofres públicos, mais de R$ 800 mil, com dispensa de licitação.

Edição 29, Maio - Notas

Pererecando

Propaganda I

O Governo do Estado acabou confirmando que o Pará gasta mais em propaganda do que São Paulo. A informação consta no infeliz desmentido encaminhado ao jornal Diário do Pará, a duas matérias sobre os espantosos gastos do tucanato paraense, nessa rubrica. No documento, redigido pela Coordenadoria de Comunicação Social (CCS), consta que o gasto per capita do Pará, em publicidade, foi de R$ 3,30, em 2005. O que, embora a CCS omita, é três vezes a per capita de R$ 1,11 de São Paulo, no mesmo período.


Propaganda II

Além disso, os R$ 45 milhões gastos em propaganda, pelo estado de São Paulo, representaram uma participação de apenas 0,07%, num orçamento superior a R$ 62,2 bilhões. Já no Pará – a se acreditar nos números da CCS – a participação dos R$ 23 milhões em publicidade, para um orçamento de R$ 6,1 bilhões, foi de 0,37%. Ou seja, mais de cinco vezes superior ao registrado no mais rico estado da Federação.


Propaganda III

No documento, a que a Perereca teve acesso, a CCS dá uma informação tragicômica ao contribuinte paraense. Na página 18, na qual estão listadas as 40 revistas alvo da mídia oficial, constam – pasmem, leitores! – a Ana Maria, Contigo e Tititi. As três revistas, imagina a redatora, devem ser leitura de cabeceira do empresariado brasileiro.


Protesto I

Está cada vez pior o inferno astral do procurador geral de Justiça, Francisco Barbosa. A Perereca obteve cópia do ofício a ele encaminhado, em 21 de outubro do ano passado, pela Associação do Ministério Público do Estado do Pará (AMPEP). No documento, a entidade repele “trechos do discurso” proferido por Barbosa, em 13 de outubro daquele ano. Seria a fatídica reunião em que o procurador confessou, com todas as letras, que não agirá contra o Governo do Estado.


Protesto II

À certa altura, diz o ofício da Ampep: “Conforme presenciado por vários colegas que se encontravam no auditório do edifício-sede, na data acima referida, Vossa Excelência – ao, legitimamente, defender-se de acusações veiculadas na imprensa local, acerca de fatos que envolveram os chamados casos “Cerpasa” e “Ação Popular Climério Mendonça X Governo do Estado” – acabou por colocar em xeque a viabilidade da atuação do Ministério Público, em questões referentes a supostos atos de improbidade administrativa, envolvendo o Poder Executivo Estadual, sob a justificativa de uma possível represália por parte do poder público, que poderia, em tais casos, prejudicar o Ministério Público com retaliações”.


Protesto III

Promotores afirmam que, na reunião, Barbosa disse que o caso Cerpasa não iria adiante, porque, nos estados em que brigou com o Executivo, o Ministério Público acabou ficando à míngua. Na reunião, Barbosa teria se referido, também, a um desconto feito a maior, pelo Ipasep, nos contra-cheques dos promotores – e que acabou sendo devolvido, pelo Executivo, após o sobrestamento do caso Cerpasa.


Eduardo

Fonte do MP, que leu as matérias sobre o enriquecimento do empresário Eduardo Salles, informa: pelo menos três empresários que venderam terrenos ao sobrinho do governador possuíam grandes débitos junto a Sefa, negociados entre os anos de 1998 e 1999. Os três estiveram envolvidos com esquema de sonegação fiscal, a partir de empresas de fachada, montadas com “laranjas” recrutados em áreas de invasão.


Cassação I

O advogado Inocêncio Mártires informa que o RO 904, que pede a cassação do mandato do governador Simão Jatene, não foi julgado, na semana passada, pelo TSE, devido ao pedido de vistas ao processo – que só foi devolvido, pelos advogados dos réus, na última quarta-feira. Mas, garante, a expectativa é que o julgamento aconteça ainda no começo de junho – a partir do dia 6. O advogado Antonio Villas Boas é a estrela da defesa.


Cassação II

Ao contrário do que afirmou, na semana passada, fonte do MP Eleitoral, Inocêncio continua a sustentar que, em caso de cassação de Jatene, quem assume é Maria. Isso porque, salienta, a ação de impugnação de mandato eletivo não anula os votos do pleito – apenas cassa o diploma do empossado. Além disso, assegura, a nova eleição, prevista na Constituição, não se aplica a causas de natureza eleitoral. “Se o governador e o vice morressem ou renunciassem, ou se fossem cassados, por exemplo, em resultado de uma investigação, aí sim teria de haver novo pleito” – explica.


Cassação III

Inocêncio observa, ainda, que no caso do ex-governador Mão Santa, ao contrário do que diz o MP, não se levou em conta o número de votos. Segundo ele, o ministro Nelson Jobim, em decisão monocrática a recurso de Mão Santa – que alegou, justamente, ter sido eleito com mais de 50% dos votos - fez alentado histórico sobre a impugnação de mandato eletivo, mostrando que ela apenas cassa o diploma. E recorda que, em Capitão Poço, assumiu o segundo colocado, após a cassação do mandato do prefeito, eleito com 50,05% dos votos.


Cassação IV

Nos bastidores, a informação corrente é que o ministro José Delgado, relator do RO-904, dará um voto técnico, ou seja, pela cassação de Jatene. E a expectativa é que o julgamento não acabe encruado, por eventual pedido de vistas de ministro do TSE, uma vez que o processo terá de ser devolvido na sessão seguinte do Tribunal.


Caixa Dois

O MP Eleitoral tem de ficar de olhos bem abertos. Empresários que, costumeiramente, ganham dinheiro com as eleições, já começaram a bolar arrojado esquema para que os partidos possam burlar o aperto da mini-reforma eleitoral – especialmente a obrigatoriedade de doações em cheque, por cidadãos ou empresas perfeitamente identificados, ao contrário dos “desvãos” das ONGs. O esforço é para que gregos e troianos possam continuar, descansadamente, com adubado caixa 2. E os corruptores, nunca incomodados, a lucrar com isso.


Casal 20

Fonte do blog desconfia que as matérias produzidas pelas ORM contra a Assembléia Legislativa tenham como alvo a possível candidatura, ao Senado, do tucano Mário Couto. Seria a forma de fortalecer as pretensões de Valéria, ao mesmo cargo. Valéria e Vic estariam, assim, apostando tanto no Senado, quanto na Vice (talvez até para o maridão), para ver o que é que sobra, no final das contas. É preparação às eleições para o Governo do Estado, em 2010.


Assembléia I

Se a Emenda da Mordaça não for votada amanhã – e retirada de pauta, conforme o prometido – será bem feito para o deputado Luiz Seffer, por tentar ser mais realista que o rei. Segundo fonte que bate ponto na AL, a votação da emenda já foi adiada seis vezes, não apenas pela baixa freqüência da Casa, nesse período pré-eleitoral. Mas até pela obstrução de parlamentares da base governista, que se retiram do plenário, antes da votação. É que muitos só estariam dispostos a pagar o mico, em caso de ordem unida do Palácio dos Despachos. Além do que, ninguém sabe como ficará a configuração política, em 2007.


Assembléia II

Informante da AL também salienta que o esvaziamento da Casa tem a ver com a disputa renhida às próximas eleições. Das atuais 11 vagas, o PSDB, por exemplo, deve reconquistar, no máximo, oito. Assim, já sobram bicudas entre os próprios integrantes do partido e agremiações aliadas. Já, no PMBD, reduzido a quatro deputados, a situação é mais confortável: com um bom nome ao Governo, o partido tem tudo para conquistar oito ou nove cadeiras, a exemplo de pleitos anteriores.

Sem acordo

Fonte do PMDB assegura: não há qualquer possibilidade de acordo com o PSDB, em decorrência da “postura imperial” dos tucanos, que insistem em mandar em tudo e todos. O objetivo do partido será, então, detonar o tucanato.


Cardoso

Mário Cardoso está empolgado com a receptividade das bases petistas a sua candidatura. No final da semana, rodou o Sul do Pará e reuniu, em Conceição do Araguaia, com mais de cem lideranças, de 15 municípios da região. O deputado, que toma café amanhã com o ministro Tarso Genro, desafia: “quero é ver quem tem perna pra me segurar”. No entanto, acha que é cedo para encomendar pesquisa eleitoral. “Pesquisa boa, só lá para julho” – sustenta.

Na foto

Bido, amigão do peito, tem belas fotos na Internet, que podem ser acessadas no endereço
http://osmarinosouza.nafoto.net.


Forças Ocultas

A Perereca divisa no horizonte arregimentação de forças contrárias. Sinceramente, está morrendo de medo. Beijões e até segunda.

domingo, 28 de maio de 2006

O Mar Além

Foi Deus
Não sei, não sabe ninguém
Por que canto o Fado
Neste tom magoado
De dor e de pranto
E neste tormento
Todo o sofrimento
Eu sinto que a alma
Cá dentro se acalma
Nos versos que canto

Foi Deus
Que deu luz aos olhos
Perfumou as rosas
Deu oiro ao sol
E prata ao luar
Foi Deus que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando
E choro a cantar
E pôs as estrelas no céu
E fez o espaço sem fim
Deu o luto às andorinhas
Ai, e deu-me esta voz a mim

Se canto
Não sei o que canto
Misto de ventura
Saudade ternura
E talvez amor
Mas sei que cantando
Sinto o mesmo quando
Se tem um desgosto
E o pranto no rosto
Nos deixa melhor
Foi Deus
Que deu voz ao vento
Luz ao firmamento
E deu o azul às ondas do mar
Foi Deus
Que me pôs no peito
Um rosário de penas
Que vou desfiando
E choro a cantar
Fez poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu as flores à primavera
Ai, e deu-me esta voz a mim.

(Alberto Janes)


II. OS TEMPOS
PRIMEIRO / NOITE

A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.

Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.

Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o vêem, vêem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.

Senhor, os dois irmãos do nosso Nome
— O Poder e o Renome —

Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não dá licença que partamos.


TABACARIA

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.

(Fernando Pessoa)