terça-feira, 6 de junho de 2006

Edição 06/06 - Eduardo Salles

A ligação entre Eduardo e
Jatene: o fim do mistério


O elo do parentesco entre o governador Simão Jatene e o empresário Eduardo Salles sempre foi um segredo guardado a sete chaves no coração do poder.

Nos bastidores palacianos, cochicha-se acerca dessa ligação, mas sem saber ao certo qual seria.

Mesmo integrantes do primeiro escalão do governo e jornalistas bem informados não sabem recompor esses laços genealógicos.

E alguns chegam, mesmo, a duvidar dessa ligação, pelo fato de Eduardo não usar o sobrenome do tio ilustre.

Mas a reportagem da Perereca conseguiu comprovar esse parentesco, através de certidões cartorárias e da Justiça Eleitoral. Eduardo é filho de Reny Maria Jatene Salles, de 71 anos, irmã mais velha do governador.

Conforme se pode constatar, através dessas certidões, a filiação de Reny é a mesmíssima do governador.

O pai deles, Simão Abrahão Jatene, e a mãe, Francisca de Oliveira Jatene, foram pioneiros do comércio de Castanhal, na década de 50.

De origem libanesa e com muitos filhos, Abrahão possuía casa e estabelecimento comercial na avenida Barão do Rio Branco, esquina da antiga Lauro Sodré, atual Maximino Porpino. Ainda hoje, uma placa em cima de um prédio, nessa confluência, assinala o local.


Rumo à Política

Sem tradição política, a família só começou a enveredar por esse caminho através de outro irmão de Jatene, Antonio Rivan, que foi genro, secretário de Obras e secretário particular do ex-prefeito Almir Tavares de Lima, que administrou a cidade de 1971 a 1972 e de 1977 a 1982.

Chefe local do antigo PDS, Antonio Rivan chegou a ser suplente de deputado estadual. Acabou por se desligar do partido, após perder a concessão de uma rádio local para um grupo de empresários de Belém.

Segundo consta nos jornais da época, irritou-se com a deputada estadual Maria de Nazaré, da base de sustentação do ex-governador Alacid Nunes, porque foi ela a bancar a vitória do grupo.

Já Eduardo Salles resolveu arriscar a sorte na política, em 1992, quando se candidatou a prefeito de Castanhal, pela coligação “Renovação” (PDC, PSDB, PC, PDT e PST). Perdeu.

Mas continuou batalhando, até tornar-se a liderança do PSDB na região, onde, segundo informações de fontes da Polícia Civil, mantém uma rede de vereadores, que ajudou a eleger.

Por conta de sua marcante atuação, tornou-se, desde a administração do ex-governador Almir Gabriel, o articulador das campanhas eleitorais tucanas, no Nordeste paraense. E seria, mesmo, excelente amigo de empresários que possuem contratos com o Governo Estadual.

Nas últimas eleições municipais, chegou a subir em palanques de candidatos a prefeito, a sinalizar o apoio de seu tio governador.


Tarefa hercúlea

Porém, mesmo com toda essa visibilidade, é tarefa hercúlea seguir os passos desse empresário de 50 anos, nascido em Rio Branco, a capital do Acre.

Primeiro, pela relutância das pessoas bem situadas que o conhecem – que, quando dão alguma informação, é sob a condição de anonimato.

Segundo, pelo comportamento de autoridades de Castanhal, que chegam a tentar impedir o acesso a informações relativas ao sobrinho do governador.

Terceiro porque os próprios documentos de Eduardo não ajudam muito: estranhamente, eles não trazem o sobrenome Jatene.

No CPF 107.392.702-49, que passou a utilizar, a partir de 1980, após o casamento com Selma Maria de Oliveira Salles, consta, apenas, o nome Eduardo Salles.

Além disso, já na década de 90, ele voltou a utilizar o CPF 039.243.862-34, da época de solteiro, em pelo menos duas ocasiões: as confissões de dívida, com garantia hipotecária, realizadas junto ao Banco do Brasil, em 04 de junho de 1990, pelas empresas Agrosalles – Agropecuária Salles Ltda. e Ferccon – Ferro, Comércio e Construção Ltda. e seus sócios cotistas – além de Eduardo, o pai dele, José Salles.

As confissões, que constam das certidões 5.229 e 5.230, do livro 2-Q, do cartório Araújo, de Castanhal, referem-se a dívidas que totalizavam Cr$ 26.000.000,00, em valores da época.

As hipotecas pesavam sobre dois imóveis contíguos, em nome de José Salles: um terreno de 273 metros quadrados, na rua Paes de Carvalho, entre Maximino Porpino e Quintino Bocaiúva, e um terreno edificado com duas casas, na Paes de Carvalho, 2985, esquina da Maximino Porpino.

Esse último é o imóvel que Eduardo aluga, pelo menos desde 1997, à Polícia Civil, para o funcionamento da Superintendência Regional do Salgado. O imóvel, aliás, foi reformado pelo Governo do Estado, incluindo o anexo onde funciona o Instituto de Identificação.

Outra dificuldade é a profusão de endereços fornecidos por Eduardo, em certidões cartorárias, processos judiciais e listas telefônicas – no que é ajudado pela anarquia reinante na numeração das ruas de Castanhal.

Ao longo de uma década, desde 1991 até dezembro 2001 – quando seu tio já havia sido eleito governador – ele fornecerá pelo menos três endereços distintos: a Maximino Porpino, 2986; a rodovia Transapeu, Km-02 (quando tem de fazer constar o endereço da Ferccon na Maximino, 2985); e a Transcastanhal, Km-05.

Só a partir de 2001 e até o final do ano passado, é que ele assumiu como endereço, de forma mais constante, a avenida Barão do Rio, 1800, no bairro da Titanlândia. Um fazenda aprazível, de onde, afinal, parece nunca ter saído: em um processo da Justiça do Trabalho, datado de 1990, consta que seu endereço é a Transapeu, KM-02, que é a mesmíssima Barão do Rio Branco. Além disso, nos dois casos, a referência é a vizinha subestação da Rede Celpa.


Castanhal: Conjunto da Cohab
também beneficia empresário

Em matéria anterior, a Perereca abordou os milhões investidos pelo Governo do Estado, em Inhangapi, e que se revelaram excelente notícia para o empresário Eduardo Salles, sobrinho do governo Simão Jatene – afinal, Eduardo adquiriu, apenas naquele município, cerca de 2.500 hectares.

Outro investimento do Governo do Estado, desta feita em Castanhal, também foi bem recebido pelo empresário: a construção do conjunto habitacional Jardim dos Tangarás, pela Companhia de Habitação do Pará (Cohab).

Em 19 de outubro de 2004, o Diário Oficial do Estado publicou o Decreto 1.300, para a desapropriação de duas áreas de terra, na rodovia Transcastanhal, no bairro da Fonte Boa.

A primeira confrontava com o loteamento Fonte Boa, o igarapé de mesmo nome e a faixa de servidão do linhão da Eletronorte. A segunda, com o loteamento e o linhão – mas, também, pela esquerda, com “terreno de Eduardo Sales”, conforme o próprio texto do decreto.

Nas matrículas 4249 e 4595, do cartório Araújo, constam, de fato, dois terrenos adquiridos por Eduardo, na Fonte Boa, em transações realizadas com o médico e deputado Márcio Miranda e com o empresário Mairto Magalhães Filho, no ano de 2000.


Decreto confuso

Estranho e mal escrito, o texto do decreto deixa, inclusive, margem a dúvidas quanto ao que foi desapropriado.

Diz, em seu artigo primeiro: “Fica declarado de interesse social, para fins de desapropriação, em favor da Companhia de Habitação do Pará – COHAB – Pará, a área localizada na rua Paes de Carvalho, número 1202, no município de Castanhal, Estado do Pará. As áreas passíveis de desapropriação pelo Governo do Estado do Pará, onde se processa o projeto do Loteamento Jardim dos Tangarás – ÁREA 01, está (sic) localizada na Rodovia Transcastanhal, Rua 1, s/n, Bairro Fonte Boa, no Município de Castanhal, Estado do Pará, apresentando descrição, limites e dimensões, conforme abaixo: (...)”.

Ora, no número 1202 da Paes de Carvalho – que, por coincidência, fica em frente ao prédio alugado por Eduardo Salles a Polícia Civil – funciona uma empresa chamada Meta Empreendimentos Imobiliários (CNPJ 05.147.069/0001-66).

Naquele endereço, até o ano passado, era comercializado o Loteamento Fonte Boa. Com um total de 300 lotes, cada um com dimensão de 10X30, a R$ 2.500,00 – que poderiam ser pagos mediante entrada de R$ 250,00 e 45 prestações de R$ 50,00.

Na Meta, conversei com um corretor, como se estivesse interessada na aquisição. Perguntei se havia água, luz, saneamento. Ele me explicou que os lotes ficavam de frente para o novo conjunto da Cohab e que “todos os conjuntos do Governo vêm com toda a infra-estrutura”. E acrescentou: “Isso aqui tava meio parado, só começou a vender mais depois que o governo anunciou o conjunto. Agora, já vendemos a metade”.

Mais esquisito é que, pela planta que o corretor me apresentou, o loteamento se espalhava pela esquerda – aparentemente, confrontando, mais uma vez, com os terrenos de Eduardo...

Tanto a Meta, quanto a área do loteamento e o terreno desapropriado pelo Governo do Estado pertenceriam à família Kataoka Oyama, que possui bons e antigos laços de amizade com o sobrinho do governador.

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa noite
1º Antonio Rivan Jatene nunca foi genro do sr. Almir Tavares de Lima
2º o Sr Eduardo Salles, já trabalhava com os outros governos que ai passaram, propriamente desde 1982, busque um pouco mais de historia pra fundamentar melhor, o tio é apenas mais um "parceiro

Ana Célia Pinheiro disse...

Muito obrigada pela participação, anônimo. Volte sempre!
Sustento, porém, a informação de que Antonio Rivan foi genro desse ex-prefeito: a notícia, aliás, consta de jornais da época, daquele município, e de um livro sobre a história de Castanhal.
Quanto a Eduardo Salles haver trabalhado com outros governos, não é essa a questão que se põe - mas sim, a ascensão dele, mediante contratos com o Governo do Estado, a partir de 1997, quando seu tio era a eminência parda da administração estadual.
Aliás, basta verificar as certidões cartorárias de Castanhal, para constatar que a situação financeira de Eduardo melhorou - e muito - em relação ao início da década de 90.
Aconselho que você leia as primeiras matérias da série.
E sinto não poder realizar a busca que você sugere: como esclareci, no post desse dia que você comenta, não disponho de recursos financeiros, para continuar essa investigação, que deveria, como também já disse, servir de ponto de partida para as autoridades constituídas.
Beijinhos, Ana Célia