quinta-feira, 22 de abril de 2021

Gilberto Martins acusa Manoel Santino de participar de superfaturamento de trailers comprados para a PM. Escândalo envolveria até mesmo lavagem de dinheiro. Leia a coluna “Que fim levou?”, que estreia hoje na Perereca da Vizinha.


 

A Perereca decidiu lançar a coluna “Que fim levou?” para saber, afinal, o que fez ou deixou de fazer o Ministério Público do Pará (MP-PA), em relação às cabeludas denúncias de irregularidades dos 20 anos de governos tucanos, que teriam lesado os cofres públicos em bilhões de reais.

E o escândalo que abre esta coluna é simplesmente extraordinário: a denúncia do promotor Gilberto Valente Martins, ex-Procurador Geral de Justiça do Pará, contra o procurador de Justiça Manoel Santino Nascimento Junior, atual corregedor do MP-PA.

Em 2006, Gilberto investigou a compra de 30 trailers e duas lanchas para a Polícia Militar e encontrou indícios de superfaturamento e até de lavagem de dinheiro.

E nesse mar de irregularidades, segundo Gilberto, estariam envolvidos até o pescoço o então comandante da PM, coronel João Paulo Vieira, e o então secretário especial de Defesa Social, Manoel Santino do Nascimento Junior.

Pois é...

Para quem não se lembra, Santino foi secretário especial, homem de confiança do primeiro governo do ex-governador Simão Jatene, entre 2003 e 2006.  

Não se sabe que fim levou esse caso, que deu origem ao Procedimento Extrajudicial 067/2006, protocolo 14752/2006.

Na noite de hoje, tentei acessar a tramitação, mas consta que não se encontra no sistema.

No entanto, o blog vai solicitar informações ao MP-PA, com base na Constituição Federal e na Lei da Transparência.

É que a sociedade paraense precisa saber quem tinha razão, afinal: Gilberto Martins ou Manoel Santino?

Se Gilberto tinha razão, por que é que Santino não foi punido?

Mas se era Santino quem tinha razão, por que é que nada fez em relação a Gilberto, que lançou contra ele tão graves acusações?

E, principalmente, como é que ficaram os cofres públicos?

É mais um mistério misterioso que prometo desvendar, para este público magnífico que acompanha A Perereca da Vizinha.

Leia a matéria que escrevi sobre o caso para o jornal Diário do Pará, em novembro de 2006.

“Está instalada a polêmica no Ministério Público Estadual. Tudo porque o 2 promotor dos Direitos Constitucionais e do Patrimônio Público, João Gualberto dos Santos Silva, decidiu arquivar o Procedimento Extrajudicial (PE) 067/2006. A investigação foi aberta para apurar possíveis irregularidades na aquisição de 30 trailers e de duas lanchas de ação rápida, pela Polícia Militar do Estado, além da legalidade ou não do contracheque do comandante da PM, o coronel João Paulo Vieira, no qual constam, além do salário da ativa, os proventos da aposentadoria dele.

Três técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que realizaram inspeção extraordinária nesses contratos, produziram um documento de 34 páginas, mostrando a irregularidade e a ilegalidade dessas aquisições. O 1 promotor de Justiça Militar, Gilberto Valente Martins, encontrou, no processo, fortes indícios de práticas criminosas, à luz da Lei das Licitações, a 8.666/93; de atos de improbidade administrativa e até de lavagem de dinheiro. Gualberto, porém, entendeu o oposto: para ele, tudo transcorreu na mais perfeita legalidade.

O arquivamento ainda será submetido ao Conselho Superior do Ministério Público – e o promotor Gilberto Valente já anunciou que vai recorrer da decisão. Mas, se vingar o entendimento inicial, ficam livres de acusações o comandante geral da PM, João Paulo Vieira, e o secretário especial de Defesa Social, Manuel Santino, ex-chefe do Ministério Público Estadual. Santino, aliás, segundo é voz corrente no MPE, possui, ainda, imensa influência na instituição. Tanto assim que teria emplacado a indicação do atual procurador de Justiça, Francisco Barbosa, de quem, hoje, Gualberto é o chefe de gabinete.

A batata quente rolou por várias mãos, no MP. O procedimento 067/2006 foi aberto, em junho deste ano, a partir de ofício de Gilberto Valente, que encaminhou o caso às Promotorias dos Direitos Constitucionais e do Patrimônio Público, por detectar indícios de irregularidades na esfera de competência delas, mas não na área militar. Foi, então, distribuído ao promotor Albertino Soares Moreira Júnior, que alegou suspeição. Depois, foi parar na mesa do promotor José Vicente Miranda Filho, que, também, pediu a redistribuição dos autos. Sobrou para Gualberto, que atua na área cível – não na criminal.

Ele, então, resolveu dividir o caso em três: despachou a investigação sobre a compra das lanchas, no valor de R$ 490 mil, para o Ministério Público Federal, por envolver uma empresa ligada à Marinha do Brasil; e encaminhou o exame da remuneração de João Paulo Vieira ao procurador-geral de Justiça, a quem compete, por lei, a eventual adoção de medidas judiciais contra o comandante-geral da PM. Nas mãos de Gualberto sobrou, apenas, a compra dos 30 trailers, ao custo de R$ 1,860 milhões – ou R$ 62 mil a unidade.

O relatório dos técnicos do TCE sobre a transação é, simplesmente, demolidor. A irregularidade mais gritante é o fato de a compra dos trailers, junto à Moto Trailer do Brasil Ltda. ter sido acertada (incluindo os preços) antes mesmo de formalizado o processo de aquisição. Tudo com inexigibilidade de licitação. E apesar de a Lei 8666/93 proibir o Poder Público de direcionar a aquisição de bens ou serviços, para uma determinada empresa.

O processo foi iniciado em 1 de dezembro de 2005 e o contrato de compra só foi firmado no dia 19. Mas, os técnicos localizaram um documento, encaminhado a Manuel Santino em 1 de dezembro, no qual a empresa escreveu: “Informamos, através desta, conforme o acertado em reunião do dia 24 de novembro de 2005, que entregaremos, durante o mês de dezembro de 2005, nove unidades móveis trailer modelo Andorinha Base Comunitária e vinte e uma unidades móveis trailer modelo Andorinha Base Comunitária até o dia 31 de março de 2006. Sendo que o preço certo e ajustado de R$ 62.000,00 por unidade entregue na capital de Belém, estado do Pará, é de R$ 62.000,00, deverá o pagamento ser efetuado contra-entrega. Estando com a remessa de três unidades programadas para o dia 09 de dezembro de 2005, esperamos que nos envie dados para o faturamento e a indicação do local de entrega, assim como nota de empenho dos trailers acima mencionados”.

Só esse fato, de acordo com os técnicos do TCE, já seria suficiente para invalidar o processo de inexigibilidade 010/05-CPL/PMPA, bem como o contrato que originou. Mas eles ainda detectaram várias outras irregularidades. Como o fato de, ainda em 1 de dezembro, na abertura do processo, a Diretoria de Apoio Logístico da PM ter antecipado, ao Comando Geral, que os trailers seriam comprados junto a Moto Trailer do Brasil – inclusive, referindo o valor da proposta da empresa. Pior: sequer existe prova de que ela seja a única fabricante, no Brasil ou no exterior, de unidades móveis de segurança – e a Lei das Licitações só admite a inexigibilidade quando o produto é exclusivo.

Nesse sentido, tudo o que os técnicos encontraram foi um atestado do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre). Nele, consta que a empresa “é fabricante exclusiva, no Brasil, de trailers, da marca Moto-Trailer”. Ou seja, como observa um promotor, é como se alguém dissesse que só quem fabrica um Mercedes é a Mercedes Benz – o que não significa a inexistência de outros automóveis. E, em se tratando de dinheiro público, a lei proíbe a preferência por marcas.

Além disso, os técnicos não encontraram qualquer estudo sobre as especificações do tipo de trailer de que a PM necessitaria. Mas, também, não encontraram nada de especial nos trailers fornecidos pela empresa. Pelo contrário: eles constataram que tais “unidades móveis de segurança” não dispõem, sequer, de blindagem – ou de banheiro ou pia. Vai daí a dificuldade de alguns promotores entenderem como é que essas “caixas” – que também não possuem motor – podem ter custado R$ 62 mil, ou o mesmo que um automóvel de luxo. E de a PM não ter realizado qualquer pesquisa de preço.

Mas o promotor João Gualberto garante que tudo aconteceu dentro da legalidade. Depois de solicitar informações a Manuel Santino e ao Comando da PM, assinou embaixo das justificativas da corporação. Segundo a PM, esses trailers são “um equipamento incomum, impossível de licitar, face não existir no mercado similares que tenham características aproximadas (...)”. Da mesma forma, Gualberto afirma ter concluído que “o tipo específico de trailer adquirido pela Polícia Militar não encontra similar no mercado (...)”.

Estranhamente, porém, o promotor lista nada menos que cinco fabricantes de trailers passíveis de utilização como unidades móveis de segurança. E dois deles (a R$ 45.000,00 e a R$ 33.960,00) com preços inferiores aos R$ 62 mil pagos pela PM. Afirma, porém, que todos acabariam saindo mais caro, devido a diferenças estruturais, como o uso de materiais diversos, falta de sistema hidráulico (embora os trailers da PM não possuam nem pia) e até pela entrega do produto ocorrer em outros estados. O problema, porém, como observa um promotor, é que o processo licitatório existe, justamente, para baratear os preços. Daí não passar de mera ilação – e contrária à lógica, aliás - a afirmativa de que esses custos seriam mais elevados, apesar da concorrência.

Mais: Gualberto também vai buscar amparo no atestado do Simefre – detonado pelos técnicos do TCE – para afirmar a exclusividade da Moto Trailer do Brasil. Diz da impossibilidade de sustentação jurídica de acerto anterior entre a empresa e Manuel Santino, “posto que a proposta da Motor Trailer foi anexada ao processo licitatório, em razão da inequívoca exclusividade do fabricante”. E que a decisão da PM de não realizar licitação é explicada pela capacitação técnica da empresa, que já forneceu trailers às polícias de São Paulo e do Maranhão. Ou seja, como brinca um promotor, a partir de agora, também a PM do Pará pode atestar a capacidade técnica da Moto Trailer”.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Conselho Superior do MP-PA sepulta investigação contra Gilberto Martins e a mulher dele. Teria sido Alberto um mero boi de piranha dos “rigores da Lei”?

 

 

Em dezembro de 2007, este blog publicou uma reportagem sensacional: a história do primeiro paraense condenado, em definitivo, por improbidade administrativa, talvez em toda a história recente do Pará, até então. 

Alberto (e o nome é fictício, porque ele me pediu que não o identificasse) era um dentista de 38 anos, casado, pai de dois filhos.

Segundo o processo, ele foi condenado a devolver R$ 11.428,00 aos cofres públicos, o que daria R$ 23.869,33 atualizados, pelo IPCA-E do mês passado.

Mas como o oficial de Justiça não encontrou, na casa dele, nada que valesse tanto dinheiro, a dívida teve de ser parcelada.

(Pausa para gargalhar)

O juiz ficou indignado com o comportamento de Alberto, que teria causado prejuízos à sociedade e à moralidade administrativa, e até mesmo à imagem do serviço público.

Daí que a sentença foi duríssima.

Ele teve de devolver o dinheiro aos cofres públicos e pagar multa de igual valor, além de honorários.

Perdeu a função pública, de agente administrativo.

Teve suspensos os direitos políticos por 5 anos, mesmo período em que ficou impedido de firmar contratos com o Poder Público e de receber benefícios fiscais.

Tudo porque recebeu vencimentos sem trabalhar, e sem justificar a ausência ao batente, nos meses de novembro e dezembro do ano 2000.

Mas agora, passados 14 anos daquela reportagem, uma história parecida, embora muito mais grave, teve um desfecho completamente diferente.

Na última sexta-feira, 16 de abril, o Conselho Superior do Ministério Público do Pará (MP-PA) homologou o arquivamento de uma acusação de improbidade administrativa contra o ex-Procurador Geral de Justiça (PGJ), Gilberto Valente Martins, e a esposa dele, Ana Rosa Figueiredo Martins.

Durante pelo menos 6 meses, entre os anos de 2009 e 2010, Ana Rosa recebeu salários sem trabalhar.

Além disso, não se sabe exatamente onde esteve e o que fez, ao longo de um ano, entre 2010 e 2011.

Ela é concursada da Secretaria de Urbanismo de Belém (SEURB), desde 2003.

Mas como atesta a Polícia Federal, saiu do Brasil em 28 de outubro de 2008, e só retornou em 03 de fevereiro de 2010.

Na época, ela residia em Portugal, junto com o marido, que realizava um curso naquele país.

Ocorre que, em 1 de abril de 2009, quando já se encontrava há meses no exterior, Ana Rosa foi colocada à disposição da Câmara Municipal de Belém, pelo então prefeito, Duciomar Costa.

Na Câmara, ela foi lotada no gabinete do então vereador Pio Netto, que atestou a frequência dela ao batente, de segunda à sexta-feira, das 8 às 13 horas, num total de 25 horas semanais, mesmo com ela se encontrando do outro lado do Oceano Atlântico.

E ao devolvê-la à SEURB, em 23 de março de 2011, o então presidente da Câmara, vereador Raimundo Castro, ainda afirmou que, durante o tempo em que esteve cedida àquela Casa, Ana Rosa teve um comportamento “exemplar e proveitoso”, como você lê na imagem que abre esta postagem.

Mas, ao contrário do que ocorreu com Alberto, que experimentou os “rigores da Lei”, apenas porque recebeu dois meses de salários sem trabalhar, integrantes do Ministério Público e do Judiciário afirmam que, no caso de Ana Rosa, não houve dolo, improbidade, rigorosamente nada. E, se houve, já prescreveu.

Aliás, Ana Rosa não poderia nem mesmo ser considerada funcionária fantasma, naquele período, afirmam também.

Porque, para isso, teria de ter sido contratada já com uma finalidade fantasmagórica...

E quanto ao crime de peculato? Bem, os salários lhe pertenciam, era servidora pública e tinha direito a eles. Daí que não teria havido peculato também...

O caso só foi descoberto e denunciado em 2018, ou seja, 10 anos depois, pelo procurador de Justiça Marco Antônio Ferreira das Neves, adversário de Gilberto Martins, no MP-PA.

Nem Ana Rosa nem a Câmara negam o pagamento desses salários.

Ela e Gilberto até devolveram ao erário aquilo que seria o dinheiro correspondente ao que ela recebeu sem trabalhar.

A devolução ocorreu na mesma época em que Marco Antônio Ferreira das Neves protocolou uma denúncia sobre o caso, no MP-PA, além de ajuizar uma ação penal contra Duciomar, Pio Netto e o casal.

Ana Rosa alega que possuía férias e licenças-prêmio a usufruir, além de ter solicitado licença sem vencimentos.

Já a Câmara diz que tudo não passou de um erro, só descoberto em 2018, quando ela pediu a contagem do tempo de serviço, para a sua aposentadoria.

Mas o procurador de Justiça Nelson Medrado, o único que votou contra o sepultamento da denúncia, na última sexta-feira, garante que não existe, nos autos da investigação, qualquer documento comprovando que Ana Rosa realmente pediu licença sem vencimentos.

E um ofício da SEURB, datado de 16 de abril de 2019, afirma justamente isto: não há registro, nos arquivos da Secretaria, de qualquer ato reconhecendo o afastamento dela sem remuneração, ou de que ela usufruiu de licença sem vencimentos, entre 01 de agosto de 2009 e 03 de fevereiro de 2010, o período que ficou a descoberto, após as férias e licenças-prêmio a que teria direito.

Quanto ao ex-vereador Pio Netto, ele também alega que tudo não passou de um equívoco da sua chefia de gabinete, que controlava a frequência dos servidores.

Afinal, ele nem sempre aparecia na Câmara, porque também realizava trabalhos externos.

Além disso, o seu gabinete só tinha espaço para 5 funcionários, mas a Câmara permitia contratar 20, e requisitar, sabe-se lá quantos, a outros órgãos públicos.

Assim, era preciso alguma “flexibilização” no comparecimento desse batalhão àquele espaço tão diminuto...

(Nova pausa para gargalhar)

Ao fim e ao cabo, ficou assim: nem Ana Rosa, nem a Câmara perceberam, durante meses, o pagamento desses salários, e nem Pio Netto percebeu a prolongada ausência de sua funcionária...

E no entanto, fica ainda mais grave.

Como já visto, Ana Rosa retornou ao Brasil em 03 de fevereiro de 2010. Mas só foi devolvida à SEURB em 23 de março de 2011, ou seja, um ano depois.

Porém, afirma Nelson Medrado, não existe, nos autos da investigação, nada que esclareça onde ela esteve e o que fez, ao longo daquele ano, em que já estava no Brasil, mas permaneceu cedida à Câmara.

Segundo Medrado, a SEURB não possui a frequência de Ana Rosa, naquele período, “que deveria ser atestada por memorando mensalmente”.

E ela mesma “não explica onde trabalhou ou o que fez nesse período, mesmo recebendo vencimentos integrais”.

Medrado também sustenta que não houve o ressarcimento integral do prejuízo aos cofres públicos.

Entre outros motivos, porque os meses que ela passou sem trabalhar não foram excluídos da contagem para a obtenção de férias, licenças, tempo de serviço. Além disso, funcionários da Câmara não recebem apenas os salários, mas, também, vales e cestas básicas.

No entanto, ainda que tivesse ocorrido ressarcimento integral ao erário, afirma Medrado, ela deveria sofrer algum tipo de punição.

“(...)Há de se ter como certo que o ressarcimento ao erário constitui a mais elementar consequência jurídica do ato de improbidade que causa prejuízo. O ressarcimento não se equipara a uma sanção e, portanto, não é suficiente para atender ao espírito da LIA (Lei de Improbidade Administrativa), devendo ser cumulada com, ao menos, alguma outra das medidas previstas em seu artigo 12, pois é assim que o Ministério Público atua regularmente contra outros servidores na mesma situação”, escreveu ele, no Voto-Vista em que se opôs ao parecer do relator, o procurador de Justiça Francisco Barbosa, que defendeu a homologação do arquivamento.

Infinitamente mais explosivo, porém, é outro fato citado por Medrado: segundo ele, o MP-PA não investigou, como deveria, a possibilidade de que as cessões de Ana Rosa a vários órgãos públicos tenham decorrido de uma troca de favores entre Duciomar e o marido dela. 

“Com efeito, a notícia de fato (denúncia) narra que os atos praticados pelo ex prefeito (Duciomar) nas sucessivas cessões são creditados a uma indevida omissão do marido da servidora Ana Rosa, o então Coordenador do GAECO, Promotor Gilberto Martins, na investigação das várias notícias de ilicitudes praticadas na gestão do ex-prefeito. Não se pode adotar essa ilação como verdadeira, mas ela deve ser devidamente sindicada. O que não se pode fazer é desqualificar o denunciante e ignorar uma ‘notícia de fato’ rica de elementos e de conclusões factíveis”, escreveu.

Em abril de 2011, pouco depois de Ana Rosa ter sido devolvida à SEURB, Duciomar colocou-a à disposição do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), onde ela permanece até hoje.

No portal da Transparência, consta que exerce função gratificada e recebe R$ 8.642,44 mensais.

Na internet, a Perereca só conseguiu localizar, até agora, 5 publicações do TCM e da Prefeitura de Belém que citam Ana Rosa.

Uma, de 2015, cessa os efeitos de quatro portarias de 2011, para designá-la assessora de gabinete, a contar de fevereiro daquele ano.

Outras duas são de 2017, dos meses de fevereiro e março. Na primeira, ela é lotada na Diretoria de Administração, a contar de 31 de janeiro. Na segunda, é autorizada a se afastar do trabalho, entre 13 e 27 de fevereiro, devido à doença de um familiar.

A quarta é de dezembro de 2019, quando a SEURB lhe concede férias, de 03 de fevereiro a 3 de março de 2020.

A última é de 28 de outubro do ano passado, quando foi designada como fiscal de dois contratos do TCM.

No julgamento da última sexta-feira, o novo Procurador Geral de Justiça, César Mattar, se absteve de votar, porque não acompanhou a sessão anterior, em 31 de março, quando teve início o processo decisório.

Todos os demais procuradores, à exceção de Medrado, seguiram o voto do relator, Francisco Barbosa, que defendeu, basicamente, que o caso já prescreveu.

 

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Leia a matéria que fiz sobre o caso de Alberto, em 2007: https://pererecadavizinha.blogspot.com/2007/12/extra-extra.html?m=1

Leia a decisão de arquivamento do caso de Gilberto Martins e Ana Rosa, datada de 18 de dezembro do ano passado, e assinada pelo promotor de Justiça Domingos Sávio Alves de Campos, da 3° Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa. É a decisão homologada na última sexta-feira: https://drive.google.com/file/d/1V9K9f4F9AtupmnuxFWXn5ZLqLOENC6Ys/view?usp=sharing

Leia o Voto-Vista do procurador de Justiça Nelson Medrado, que obtive junto a uma fonte do MP-PA: https://drive.google.com/file/d/1M05Me_kc5hnrDkTkOqSOYYTozZ8HFX4E/view?usp=sharing

Infelizmente, não consegui o voto do procurador Francisco Barbosa, porque o MP-PA, que cobra tanta transparência dos outros, não atualizou, até a noite de hoje, a movimentação processual desse caso (a última que está lá é de 14 de janeiro). Mas você mesmo poderá baixar o voto de Barbosa (aliás, um documento público) quando já estiver lá. Entre no site do MP-PA (http://www.mppa.mp.br/) e, na aba “Consultas”, clique em “Consulta Processual”. Aí, aparecerá a página do SIMP e você vai clicar em “Procedimentos MP”. Aparecerá, então, uma página que vai lhe pedir o número SIMP, que, neste caso, é o 000404-151/2018

Veja a sessão extraordinária do Conselho Superior do MP-PA, do último 31 de março, quando iniciou o julgamento e foi decretado o sigilo da sessão, o que levou, após alguns minutos, à interrupção da transmissão online: https://www.youtube.com/watch?v=l86YvNCX3wc&list=PLup7oYimKnOsva4THgJhC4Zf7My7tVK6_&index=5

E aqui a sessão do último 16 de abril, quando foi concluído o julgamento, já agora sem o tal sigilo: https://www.youtube.com/watch?v=ewIYuh4Mxww&list=PLup7oYimKnOsva4THgJhC4Zf7My7tVK6_&index=6

terça-feira, 30 de março de 2021

Bolsonaro planeja um golpe?



É grande a preocupação, nas redes sociais, com a possibilidade de Bolsonaro estar planejando um golpe de Estado.

É possível? É.

Até porque ele sempre sonhou com isso.

A questão é se as circunstâncias lhe permitiriam não apenas dar um golpe, mas, sobretudo, mantê-lo.

E se o troca-troca que vimos no governo é realmente indicativo da preparação de um golpe, ou, pelo contrário, uma sinalização ainda mais forte do esvaziamento desse genocida.

Aparentemente, o ministro da Defesa, um general, e os chefes das Forças Armadas não toparam a proposta que lhes foi apresentada, qualquer que tenha sido.

Ao que se diz na imprensa, não querem a politização dos quarteis e defendem o respeito à Constituição.

Isso revela, no mínimo, uma divisão entre os militares.

Porque esses militares, embora “moderados”, integram ou integravam o governo.

E se nem eles toparam um golpe, então o que dizer daqueles que nem do governo quiseram participar?

Além disso, nesse troca-troca, Bolsonaro teve de ceder muito mais do que gostaria.

Não conseguiu segurar Ernesto Araújo, no Ministério das Relações Exteriores.

Também teve de colocar, na Secretaria de Governo, uma representante do Centrão.

Como se isso não bastasse, quase assistiu a uma “rebelião” inédita, com a saída dos três chefes das Forças Armadas, devido à demissão do ministro da Defesa.

Na verdade, Bolsonaro parece mais é estar derretendo.

Perdeu o apoio dos ricos, viu o STF reabilitar Lula, engoliu ameaças do Centrão acerca de um impeachment, a maioria dos governadores já não o suporta.

Para completar, não consegue nem mesmo garantir umas forças armadas para chamar de suas...

É certo que assistimos, nos últimos dias, a sinais preocupantes, como o vídeo daqueles bolsonaristas armados, ameaçando os defensores do impeachment.

Ou, o que é muito pior, à politização da morte do soldado Wesley Goés, com os bolsonaristas jogando a polícia contra os governadores e o lockdown.

O fato pode significar uma tentativa de juntar policiais e milicianos, para a efetivação de um golpe, mesmo diante da reação de parte dos militares.

Também pode ser uma tentativa de levar os policiais a não  ajudarem mais a combater a pandemia.

Isso seria devastador: além de agravar a disseminação dessa doença, também poderia gerar uma recusa à repressão de quebra-quebras, decorrentes da fome e do desemprego, ou até ensaiados.

Seria o caos, a proporcionar, quem sabe, apoio popular a uma ditadura.

E até a permitir, em uma janela temporal ainda que breve, a eliminação de lideranças oposicionistas.

(É sempre bom lembrar que não lidamos com pessoas normais, mas com fanáticos).

O grande problema, do ponto de vista de Bolsonaro, é que a derrota de Trump levou embora qualquer possibilidade de apoio internacional a um golpe, principalmente pela extrema-direita, no Brasil.

O que o genocida e os cérebros de minhoca que o apoiam não conseguem entender é que o Brasil não é uma republiqueta qualquer.  

Este país possui imensos recursos estratégicos e peso determinante na América Latina, e até mesmo para o futuro mundial.

Só isso já seria motivo para uma intervenção, pelos Estados Unidos e outros países, no caso de um golpe fascista, dada a necessidade de conter o avanço obscurantista.

Mas há outra circunstância muito importante: o Brasil já é uma ameaça sanitária global, o que se tornaria ainda mais perigoso, até incontrolável, se manietado por esse bando de lunáticos negacionistas.

Talvez seja a impossibilidade de apoio internacional, aliás, a verdadeira razão da relutância dos militares à uma ditadura, que poderia até mesmo prescindir de Bolsonaro.

Eles deram um golpe, em 1964, e participaram ativamente dos golpes de 2016 e 2018.

Aliás, são golpistas desde a proclamação da República...

Assim, é difícil acreditar que a relutância se deva a um repentino apreço pela Constituição.

Bem mais provável é que saibam que podem até “colocar os urutus nas ruas”.

Mas mantê-los ali é que são elas.

Sem vocês, policiais, nós não conseguiremos vencer essa guerra.


 

Lamentável a politização da morte desse pobre soldado, Wesley Goés.

Custa a crer que a nossa polícia, tão hábil em reconhecer as mentiras das "crianças" que enfrenta, se deixe levar tão facilmente pelas mentiras dos bolsonaristas, que caíram feito um bando de urubus em cima do cadáver desse rapaz.

Ao multar ou deter pessoas que desrespeitam o lockdown; ao acabar com festas clandestinas e aglomerações, a polícia não está "perseguindo" trabalhadores.

Está, na verdade, é ajudando a salvar a vida de milhares de seres humanos.

Quem sabe, até mesmo a vida daqueles que estão sendo detidos e multados.

Querem função mais nobre do que essa?

Querem função mais heroica do que salvar vidas, e apesar de todas as dificuldades que o Brasil enfrenta?

Essa doença mata.

E quando não mata, deixa a pessoa com graves sequelas.

Ela está destruindo famílias  inteiras.

Está matando até mesmo bebezinhos e mulheres que acabaram de dar à luz.

Muito me admira que vocês, policiais, embarquem nas mentiras sobre o baixo risco dessa doença.

Vocês estão, todos os dias, se expondo a ela, para tentar proteger a nossa população.

Por causa disso, quantos colegas  vocês já viram adoecer e morrer?

Quantos amigos e familiares vocês já perderam, nessa guerra contra esse inimigo invisível?

Não se deixem manipular pelos bolsonaristas.

Esse pobre soldado que morreu na Bahia estava claramente doente.

E não são poucos os soldados que adoecem mentalmente, e até fisicamente, porque essa profissão de vocês é simplesmente terrível.

Todos os dias, vocês lidam com o pior lado do ser humano: aquele que é capaz de matar por qualquer vinte reais.

Vocês lidam com o pesadelo das drogas.

Com o submundo, com todo tipo de violência.

E todo santo dia, quando saem de casa, nunca sabem se conseguirão voltar para os braços da família que amam.

Esse rapaz da Bahia sucumbiu a todas essas pressões da vida de um policial.

A impressão que dá é que ele queria morrer, mas não tinha coragem de se matar.

Daí abrir fogo contra os próprios colegas, porque sabia que eles revidariam.

E é bem difícil imaginar quem não revidaria, em uma situação assim.

Que Deus conceda paz à sua alma, e consolo aos seus familiares.

Mas precisamos que esse triste episódio sirva de alerta, e ajude a garantir maior apoio psicológico às nossas polícias.

E não só isso: também melhores salários e condições de trabalho.

Vocês prestam um serviço extraordinário à sociedade.

E muitas vezes, não são reconhecidos.

Nunca permitam que alguém, em nome de qualquer partido ou ideologia que seja, faça com que vocês se sintam menos importantes do que realmente são.

Nós dependemos desesperadamente de vocês, no dia a dia, para a nossa segurança.

E hoje isso é ainda mais verdade, porque não temos como vencer essa doença sem a participação de vocês.

O pessoal da área da Saúde, vocês, policiais, nós, os jornalistas, e várias  outras categorias, estamos na linha de frente dessa guerra.

E atrás de nós, creiam, não há mais ninguém.

Somos apenas nós, entre esse vírus e a nossa população.

Não se deixem levar por mentiras. Ajudem-nos. Permaneçam firmes.

Do contrário, assistiremos a uma carnificina como nunca imaginamos, no nosso amado Brasil.

segunda-feira, 1 de março de 2021

E aí, mano, já compraste o teu caixão?

 

Mano, já compraste um caixão pra ti?

Não? Então, aconselho que compres.

Porque se continuares fazendo pouco dessa Covid, logo, logo podes precisar de um.

E não só tu, mas as pessoas que dizes que amas: teus pais, avós, marido, esposa, filhos.

E eu falei “dizes que amas”, porque esse teu amor parece que é só da boca pra fora.

Tu nem ao menos proteges os teus “amados”.

Tu nem ao menos usas máscara, uma coisa tão simples.

Basta um amigo te convidar pra tomar uma, que já vais te meter numa festa ou num bar cheio de gente.

Então, que amor é esse que dizes que sentes pela tua família?

Mano, essa doença MATA.

E MATA até jovens e crianças.

E quando não mata, deixa a pessoa muitas vezes com problema no coração, pulmão, rins, cabeça.

Tem gente que tá há meses sem poder trabalhar, porque ficou com a saúde abalada, por causa da Covid.

Tem gente que não consegue nem andar direito, porque fica logo cansado e com falta de ar.

E o pior é que os médicos não sabem se a pessoa não vai é ficar assim pro resto da vida.

Já pensaste se isso acontecer contigo?

Quem é que vai cuidar da tua família?

Mano, para de acreditar nesse presidente mentiroso!

O Bolsonaro diz pra gente tomar cloroquina e que vacina faz virar jacaré.

Mas sabes o que foi que ele fez? Mandou é vacinar a mãe dele!

Por que é que ele não deu cloroquina pra ela, já que ele diz que esse remédio é tão bom?

A verdade é que não tem remédio pra essa doença.

E ela agora tá se espalhando muito mais rápido.

Todos os hospitais do Brasil estão à beira de um “colapso”.

Sabes o que é que isso quer dizer?

Quer dizer que não vai ter médico, UTI, cama, nem lugar pra botar tanto doente. Não vai ter nem mesmo corredor de PSM!

Vai morrer gente na porta do hospital, ou em casa, ou até pela rua.

É isso o que queres pro nosso Pará?

É isso o que queres pro teu pai, pra tua mãe, pro teu filho?

Mano, a gente precisa se unir pra evitar todo esse sofrimento.

Ainda dá tempo.

Mas cada um de nós tem de fazer a sua parte.

Fica em casa, evita sair.

Se tens de trabalhar, ir no supermercado, na farmácia, vai de máscara, com ela cobrindo bem o nariz, a boca e o queixo.

Fica 2 metros longe das outras pessoas e não pega no teu rosto com as mãos sujas.

Lava bem as mãos, várias vezes por dia, com água e sabão, ou usa álcool em gel.

E depois que acabares de trabalhar, ou de fazeres tuas compras, volta direto pra casa.

Deixa esse negócio de bar, festa, praia, shopping, restaurante pra depois que a gente tudo se vacinar.

Tu não vais morrer se esperares um pouco mais pra teres tudo isso de volta.

Mas se não esperares, podes é acabar matando as pessoas que mais amas.

E aí, não vai adiantar choro nem desespero.

Porque lágrima, mano, infelizmente, não traz ninguém de volta.