sábado, 27 de novembro de 2010

Ping-pong Jader II: o que fica do poder é o que se conseguiu realizar




Perereca: No Governo, você tem mais poder, tem a caneta na mão. No Senado, você está mais livre para articular. Qual a diferença, em termos pessoais, entre o Senado e o Governo?
Jader: Em termos pessoais, sou um político que no exercício tanto do Executivo quanto do Legislativo sempre me senti muito confortável. Não sou daqueles que precisa ter caneta na mão para se sentir confortavelmente no exercício da atividade política. Não me sinto deslocado no Parlamento: gosto do debate e da articulação política. Considero que a elaboração legislativa é fantástica, porque algumas pessoas ficam imaginando que o parlamentar constrói ou altera uma lei da cabeça dele - e não é assim. Quer dizer: você tem um universo imenso de contribuição, seja através da imprensa, seja através dos grupos organizados, que pressionam. Então, a vida parlamentar é profundamente dinâmica, rica. A construção legislativa não é uma construção isolada, do parlamentar. Então, a atividade parlamentar tem todo um apelo, principalmente para quem abomina a rotina.

Perereca: Mas não é melhor ter o poder do Executivo? O poder de nomear e exonerar; de colocar aqui uma pessoa ou mandar para acolá?
Jader: Se algum dia tive isso na cabeça, superei. Até porque fui duas vezes governador. Não é o confeito do poder, esse exercício menor do poder, que me empolga. E principalmente hoje.

Perereca: O que é que lhe empolga, então?
Jader: É efetivamente contribuir. Quer dizer: tive participação em determinados projetos, valeu a pena participar, porque consegui contribuir e, com a minha contribuição, alterar. Mas esse confeito do poder, pelo contrário: para um homem como eu, com 44 anos de vida pública, ele chega, às vezes, até a ser incômodo.

Perereca: Por quê?
Jader: Quando você se refere a ter que nomear fulano, ter que aceitar determinadas pressões, ter de administrá-las, isso eu vejo sob um ângulo, hoje... Não diria que estou farto de poder, mas, não é isso, hoje, que motiva a minha cabeça, as minhas aspirações; não é esse tipo de exercício do poder que me empolga. Talvez pelo fato de ter exercido duas vezes o governo, ministérios da República; ter passado pela Presidência do Congresso, de ter tido a influência política que você tem... Porque você não consegue nomear, exercer o poder apenas sendo o chefe do Executivo: você consegue exercer o poder tendo influência política, trânsito, respeito, acatamento; sendo levado em consideração por uma série de condições, circunstâncias, atributos. Não é isso, absolutamente... Não voltaria ao Governo para colocar como primordial o privilégio - se é que isso pode ser considerado privilégio – de nomear pessoas. Quando relembro a minha passagem pelo Governo, não relembro essa questão do exercício fisiológico do poder. O que me recordo, com grata satisfação, é de obras como a PA-150. Me sinto realizado por ter construído uma rodovia de 1.140 quilômetros, que não tinha só o sentido do transporte, mas até de integração do estado. Para quem tem noção exata da utilização do poder... Quer dizer: eu fiz, eu deixei e isso foi importante para o conjunto da comunidade - e ninguém pode retirar esse dado. Quando me recordo do serviço de abastecimento de água de Belém, o projeto Belém 2000, que agora no governo da Ana Júlia foi duplicada a estação de tratamento. Imagine se eu não tivesse tido condições de fazer aquilo; aquilo levaria Belém a um colapso no abastecimento de água. Quando me recordo que, quando assumi pela primeira vez o governo, a energia de Tucuruí era só em Belém e Barcarena, por causa do projeto da Albras; nem os municípios do entorno de Tucuruí recebiam a energia da hidrelétrica. Quando me recordo que promovi o maior projeto de expansão de energia elétrica no estado, levando até Conceição do Araguaia, espalhando por todo o Nordeste, substituindo todo o sistema a diesel e sabendo que aquilo representava não só bem estar para a população, energia domiciliar, mas a perspectiva da industrialização e da eletrificação rural. Quer dizer, são essas coisas que contam como fundamentais. Não vou ficar me lembrando do delegado de polícia que nomeei a pedido do deputado fulano de tal para um determinado município. O que conta é o que você conseguiu fazer. Quando me recordo do meu segundo governo, que foi muito difícil (porque o Pará padece de muita dificuldade; é muito vinculado ao Governo Federal; é muito dependente). Era o período Collor, e depois Itamar, com todas as dificuldades de negociação. E eu tinha uma idéia fixa, que era viabilizar o programa de macrodrenagem de Belém. E apostei tudo nisso. Inclusive, no sentido de pagar todas as dívidas do Estado, porque a União não daria o seu aval ao Estado, se ele não estivesse com as contas regularizadas. E me recordo da felicidade quando fui a Washington, para assinar o contrato com o BID. E me recordo, sentado no batente da casa da Elcione, na Cidade Velha; namorando com ela, no batente lá da Joaquim Távora...; me recordo do discurso do Stélio Maroja, eleito prefeito de Belém, falando das baixadas de Belém...  
       

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