terça-feira, 12 de novembro de 2013

O escândalo no TRE: Sábatto Rossetti nega pagamento de propina a juiz e afirma que vai processar Antonio Armando, João Salame e Inocêncio Mártires. “Vou entrar com todas as ações possíveis. Não tolero molecagem”, diz ele, que promete pedir a quebra dos sigilos telefônicos e de emails de todos os envolvidos.


O advogado Sábatto Rosseti: não tenho vocação pra beijoqueiro. Axi! Sou filho de calabrês.



“Isso é mentira, uma loucura. É uma fantasia das mais ignominiosas”. A afirmação foi feita, hoje, pelo advogado Sábatto Rossetti, ao negar as acusações atribuídas ao ex-deputado estadual e ex-prefeito de Marituba, Antonio Armando, no áudio gravado pelo prefeito cassado de Marabá, João Salame.

No áudio, Antonio Armando diz que Sábatto pagou R$ 500 mil a um juiz federal, para que o magistrado votasse contra a cassação do então prefeito de Belém, Duciomar Costa, em julgamento realizado pelo Tribunal Regional do Pará (TRE/PA).

Mas, além de negar as acusações e classificá-las como “indignidades”, Sábatto Rossetti prometeu ajuizar “todas as ações possíveis, cíveis e penais” contra Antonio Armando, João Salame e o advogado dele, Inocêncio Mártires, que teria divulgado a gravação.

E argumentou: “Ele (Antonio Armando) cita fatos como se fosse o maior interlocutor do TRE. No entanto, ele teve o diploma de prefeito de Marituba anulado pelo TRE, em decisão foi unânime. Se ele tivesse toda essa articulação que diz ter, teria usado em benefício próprio”.

Reclamou que Antonio Armando “dispôs do meu nome como se fosse meu corretor” e assinalou: “Ele só teve sucesso em alguns recursos no TRE por perda de prazo dos partidos e até do Ministério Público. Então, que articulação é essa que ele tem?” 


Leia as postagens da Perereca sobre a suposta venda de sentenças por magistrados do TRE: 

7 de novembro de 2013 - “4 juízes citados em gravação que revelaria pagamento de propinas a juízes do TRE. Ouça a gravação feita pelo prefeito cassado de Marabá, João Salame, que teria se recusado a comprar sentença. Venda seria intermediada pelo ex-prefeito de Marituba Antonio Armando. PF abriu inquérito para investigar o escândalo: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/4-juizes-citados-em-gravacao-que.html  E aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/ouca-o-audio-que-revelaria-pagamento-de.html 

7 de novembro de 2013 - “Justiça Federal rebate acusações de Antonio Armando contra magistrado. Juiz federal Ruy Dias de Souza Filho nunca atuou em processos envolvendo Duciomar Costa e só assumiu lugar no TRE em junho de 2013: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/justica-federal-rebate-acusacoes-de.html 

11 de novembro de 2013 – “Meditações sobre a suposta venda de sentenças no TRE (1): prefeito de Marabá vai ao CNJ e promete “novas revelações bombásticas” sobre o escândalo. Ele teria mais um vídeo e um áudio envolvendo Antonio Armando e até o marido da juíza Ezilda Mutran”: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/meditacoes-sobre-suposta-venda-de.html 
 

Quebra de sigilo telefônico e de emails 


Sábatto contou à Perereca que já procurou a Polícia Federal, para depor no inquérito que apura o caso, e que já ajuizou interpelação para que Antonio Armando esclareça as declarações naquele áudio.

No entanto, também se mostrou indignado com João Salame e o advogado dele, Inocêncio Mártires: “Na minha opinião, todos têm participação nessa história: o Antonio Armando, que fala isso; a pessoa que gravou e o advogado, que divulgou”.

Para ele,  a “fantasia” de Antonio Armando “teve o objetivo claro de tirar dinheiro de João Salame”.

Mas, a seu ver, Salame também “induz” Antonio Armando àquelas declarações: “Salame o instiga e me parece até jogo combinado”.

Ele anunciou que pedirá a quebra dos sigilos telefônicos e telemáticos (de email e mensagens) de todos os envolvidos, “para saber quem é quem”.

Disse que o escândalo “interessa ao Salame e ao advogado dele, ainda que amanhã respondam criminalmente por isso”, e que Antonio Armando cita tantos juízes “apenas para atender os interesses dele”.

E avisou: “Todo mundo acha que isso vai acabar bem para o Salame, mas vai acabar é mal para todo mundo, pela lama que jogaram em mim. Vou entrar com todas as ações possíveis, cíveis e penais. Não tolero molecagem ”.

Segundo ele, Antonio Armando “usou meu nome para dar uma 'couraça' para o negócio que estava fazendo. E as pessoas agora estão usando isso para me prejudicar. Mas vou provar que não tenho nada a ver com essa patifaria. E essa molecagem vai sair cara para esses moleques”. 


É preciso apurar 


O advogado considera que é preciso, sim, apurar todo esse escândalo, já que as declarações de Antonio Armando são “gravíssimas”: “Isso tem que ser apurado, e eu só tenho é que falar por mim. Se ele (Antonio Armando) tem sentenças em estoque para oferecer, vai ter que se explicar na Polícia Federal e na Justiça”.

No entanto, garantiu que nesses 35 anos como advogado nunca ouviu falar de venda sentenças na Justiça paraense.

“Das vezes que o Salame me encontrou, muito antes do julgamento dele, e me contou essa história (de venda de sentenças), eu disse pra ele que estou lá há anos e nunca ouvi falar nisso”, lembrou.

Também disse estranhar o fato de, segundo ele, Salame não ter arguido suspeição sobre a relatora do processo, Ezilda Mutran, ou tentado suspender o julgamento.

“Se ele (Salame) já tinha esses dados em mãos, por que só agora acha que ela é suspeita?” – indaga – “E se ele entregou isso no dia 10 ao presidente do TRE, como algumas colunas noticiaram, por que é que não pediu para suspender o julgamento?”

Sábatto Rossetti contou que conhece Antonio Armando “desde 1994 ou 1995, quando ele foi deputado”, mas que desconhecia “essa atividade dele (a venda de sentenças)”.

Informou que foi advogado do ex-prefeito de Marituba desde 2004 e até setembro do ano passado, em ações eleitorais e de improbidade administrativa.

Mas que apesar de matutar e matutar, ainda não conseguiu entender o porquê de ter sido envolvido pelo ex-cliente em toda essa história: “Até hoje estou me perguntando por que ele botou meu nome nisso. Quem me conhece, acha que foi para credibilizar a ‘operação’ que ele tentava fazer junto ao Salame, já que sou um advogado muito conhecido”.

Disse que tomou conhecimento da existência desse áudio no mês passado, na época do Círio de Marabá.

Salame teria mostrado a gravação a algumas pessoas que conheciam Sábatto e o avisaram do fato.

“Mas falei com o Antonio Armando e ele negou”, recorda.

O advogado assegurou que nunca intermediou contatos com qualquer juiz e que mantém com os magistrados relações meramente profissionais: “Pode perguntar a esses quatro ou cinco juízes que ele (Antonio Armando) envolveu nisso, se já fiz contato com eles fora do ambiente do tribunal. Me limito ao contato de advogado para juiz. Nem sei onde eles moram”.

Assinalou que as “fantasias” de Antonio Armando chegam ao ponto de levá-lo a imaginar que ainda tem chances de ser empossado prefeito de Marituba, “quando o recurso que ele apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já até perdeu o objeto, uma vez que até já houve nova eleição para a prefeitura daquele município”.

Negou, ainda, que tenha dado um beijo no ex-prefeito, após a absolvição de Duciomar Costa, para quem ainda advoga:“Não tenho vocação para beijoqueiro. Axi! Sou filho de calabrês!”

E disse, sobre o fato de o advogado de Antonio Armando ter afirmado à imprensa que a voz naquele áudio não é do ex-prefeito de Marituba: “Não posso dizer que a voz não é dele, porque achei muito parecida, mas, também, achei muito fina”. 


Investigações 


A Perereca entrou em contato com o TRE, mas a Assessoria de Comunicação informou que o tribunal só vai se manifestar sobre o caso após o término das investigações.

A Assessoria também lembrou que foi o próprio presidente do tribunal, desembargador Leonardo Tavares, a encaminhar o caso ao Ministério Público Federal (MPF), com pedido de apuração.

O blog entrou em contato, ainda, com a Assessoria de Comunicação do Tribunal de Justiça do Estado (TJE), para que os juizes citados no áudio pudessem se manifestar, mas ainda não obteve resposta.

No MPF, a Assessoria de Comunicação informou que a investigação está nas mãos da procuradora da República Melina Alves Tostes, que atua na área criminal, e que não há prazo de conclusão.

A Assessoria disse, ainda, que não pode confirmar se o áudio que circula na internet (e pode ser ouvido também neste blog) é o mesmo que foi encaminhado pelo TRE ao MPF, já que a investigação corre em segredo de justiça.

MPF participa de debate sobre Belo Monte no Parlamento Europeu


Da Ascom MPF/PA: O Ministério Público Federal terá representante no debate sobre Belo Monte promovido pelo Parlamento Europeu, em Bruxelas, Bélgica, no próximo dia 14 de novembro.

A Conferência “A mega-usina de Belo Monte: Amazônia à venda?” foi organizada pela Eurocâmara, que em julho enviou três deputadas para conhecer os impactos e discutir o projeto de Belo Monte com setores do governo, do judiciário e da sociedade civil.

De acordo com as eurodeputadas Eva Joly (França), Ulricke Lunacek (Áustria) e Catherine Grèze (França), organizadoras do evento, a Conferência deverá apresentar as conclusões da missão e discutir aspectos técnicos, econômicos, ambientais, sociais e legais (sob as legislações nacional e internacional) da hidrelétrica, bem como a co-responsabilidade de empresas européias envolvidas no empreendimento como acionistas, fornecedoras de equipamentos ou seguradoras/resseguradoras.

O representante do MPF no evento será o procurador da República Felício Pontes Jr.

O evento contará ainda com a participação da Professora Dra. Janice Muriel Cunha, da Universidade Federal do Pará, e do Professor Dr. Francisco de Moral Hernández, da Unicamp, ambos membros e pesquisadores do Painel de Especialistas sobre Belo Monte; Olivier Petitjean, co-fundador do “Observatoire des Multinationales”; Valérie Cabanes, advogada especializada em direito internacional e porta-voz do European Citizens’ Initiative “End Ecocide in Europe”; Alfredo Pena-Vega, sociólogo e professor do Edgar Morin Centre/EHESS-CNRS; Antonia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre; Christian Russau, jornalista e pesquisador da ONG GegenStrömung; e Iury Paulino, MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens). 


Serviço

Evento: Conferência “A mega-usina de Belo Monte: Amazônia à venda?” 
Quando: 14 de novembro de 2013, das 15h às 18:30h 
Onde: Parlamento Europeu, Sala ASP 1G3, 60 Rue Wiertz, 1047 Bruxelas. Contatos (português, inglês e francês): Dr. Gaby Küppers, Greens/EFA Advisor on International Trade (INTA) and on Latin American issues. Tel : 0032-2-284 3392, Mobile: 0032-475-586250. E-mail: gabriele.kueppers@europarl.europa.eu 

Mais informações e programação completa no site do evento (em inglês): http://www.greens-efa.eu/belo-monte-mega-dam-10580.htmlhttp://

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Meditações sobre a suposta venda de sentenças no TRE (1): prefeito de Marabá vai ao CNJ e promete “novas revelações bombásticas” sobre o escândalo. “Não vou me acalmar”, diz ele, que teria mais um vídeo e um áudio envolvendo Antonio Armando e até o marido ou namorado da juíza Ezilda Mutran.


(Ilustração do blog Folha de Tucuruí)




O advogado Inocêncio Mártires confirma: o prefeito cassado de Marabá, João Salame, ainda possui mais um vídeo e um áudio sobre a suposta venda de sentenças no Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE).

O próprio Salame disse à Perereca que vêm por aí “novas revelações bombásticas”.

E afiançou: “não estou disposto a recuar, a fazer qualquer tipo de composição. Vou até o fim. Não quero me acalmar”.

Ele planeja, inclusive, uma entrevista coletiva para esta semana.

E já se sabe que amanhã(12), ele estará no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília, para falar sobre o caso.

O CNJ, que é o órgão de controle da Magistratura, já abriu investigação sobre a suposta venda de sentenças no TRE.

Mas Salame garantiu  ao blog que irá além: vai denunciar, também, a “promiscuidade” entre o Executivo e o Judiciário no Pará.

“Pode ter isenção uma magistrada cujo marido é assessor do governador, segundo afirma o Antonio Armando?”, indaga o prefeito de Marabá.

Além disso, ao que se comenta, dois outros prefeitos também já estariam dispostos a dar com a língua nos dentes.

E os atingidos pelas denúncias já começam a se movimentar: no último dia 8, o advogado Sábato Rossetti protolocou interpelação contra Antonio Armando na Justiça Estadual, em Marituba.

Segundo Rossetti, as afirmações de Armando são “fantasiosas”.

Esses, em suma, os últimos e próximos capítulos de uma novela que possui todos os ingredientes para eletrizar o distinto público: intrigas, dinheiro, poder - e até algumas pitadas de sexo... 

Leia a reportagem da Perereca “4 juízes citados em gravação que revelaria pagamento de propinas a juízes do TRE Pará. Ouça a gravação feita pelo prefeito cassado de Marabá, João Salame, que teria se recusado a comprar sentença favorável naquele tribunal. Venda seria intermediada pelo ex-prefeito de Marituba Antonio Armando. Propinas pagas por Duciomar teriam custado R$ 800 mil. PF abriu inquérito para investigar o escândalo: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/4-juizes-citados-em-gravacao-que.html 

E leia também: “Justiça Federal rebate acusações de Antonio Armando contra magistrado. Juiz federal Ruy Dias de Souza Filho nunca atuou em processos envolvendo ex-prefeito de Belém Duciomar Costa e só assumiu lugar no TRE em junho de 2013, diz nota enviada ao blog. Ofício comprova que Ruy Dias só foi eleito membro efetivo do TRE em maio deste ano”: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/justica-federal-rebate-acusacoes-de.html 


O que é a verdade? 


No entanto, caro leitor, o terreno é pantanoso, por envolver algumas das categorias mais complicadas do Planeta: políticos, juízes, advogados e jornalistas, todas habituadas a lidar com as matérias-primas do poder moderno – a informação e as leis.

Tudo gente boa, com cartão Gold da Yamada...

Além disso, Marabá é um município estratégico para as eleições ao Governo do Estado, no ano que vem.

Daí que todo o cuidado é pouco, para não acabar manipulado.

E a primeira providência contra isso é esquecer o simplismo maniqueísta que divide as criaturas em “boas” e “más”e repetir, feito um mantra, a frase atribuída a Pôncio Pilatos: “O que é a verdade?” 


Quem vende o quê? 


Não é de hoje que se ouvem histórias tenebrosas acerca de um suposto esquema de venda de sentenças nos tribunais paraenses.

Fala-se até mesmo de um filho de desembargador (a) que ficava sentado, no plenário de um tribunal, à espera das ofertas de políticos enrolados com a Justiça.

Em várias ocasiões, notas cifradas em colunas de jornal e comentários de bastidores atribuíram valores milionários a esta ou aquela sentença.

Poucas vezes, no entanto, alguém ousou vir a público, para escancarar essa possibilidade.

E em nenhuma ocasião tantos juízes foram envolvidos em tais suspeitas ao mesmo tempo.

No entanto, é preciso perguntar: estariam, de fato, os juízes paraenses a vender sentenças, ou haveria cidadãos, e até quadrilhas, a enganar pessoas, dizendo “vender” sentenças em nome de magistrados?

Além disso, se existirem juízes paraenses que vendem sentenças, os magistrados citados por Antonio Armando estão, de fato, entre eles?

Quer dizer: são muitas e graves as perguntas existentes nesse caso.

Mas, justamente por serem tantas, elas já nos trazem pelo menos duas certezas. 


Benefício da dúvida 


A primeira é que é preciso garantir o benefício da dúvida aos magistrados paraenses, e em especial, aos quatro juízes citados naquele áudio.

Por mais decepcionados, e até enojados, que estejamos em relação ao Judiciário paraense; por piores que sejam as histórias que já tenhamos ouvido, há, sim, que garantir aos acusados o benefício da dúvida.

Um deles, aliás, já comprovou que não tem nada a ver com essa história: o juiz federal Ruy Dias não atuou em qualquer processo contra o ex-prefeito Duciomar Costa. Aliás, nem estava no TRE naquela época (veja aqui: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/justica-federal-rebate-acusacoes-de.html).

No entanto, isso significa que todo o conteúdo daquele áudio é mentiroso?

Não. Até porque o sujeito identificado como Antonio Armando diz, acerca do juiz federal: PARECE que foi o Rui, já que teria sido o advogado Sábato Rossetti a repassar o dinheiro ao magistrado.

Mas, de igual forma, as simples declarações de Antonio Armando podem ser consideradas verdadeiras?

Também não.

Até porque Antonio Armando pode ser apenas um espertalhão, a tentar vender uma coisa que não possui, mas cuja não-entrega jamais será denunciada, já que envolve o cometimento de um crime.

É por isso que até mesmo o áudio e o vídeo que Salame possuiria, a corroborar o conteúdo da gravação já divulgada, têm de ser olhados com muita cautela. 


As novas gravações 


O vídeo, de acordo com informações fornecidas à Perereca, é das câmeras de segurança do prédio onde mora Salame.

Ele mostraria Antonio Armando entrando (ou saindo) naquele local (e até descendo no andar do apartamento de Salame) em companhia de um cidadão de nome Francisco, que seria o marido ou namorado da juíza Ezilda Pastana Mutran, a relatora do processo de cassação do prefeito de Marabá.

Já o áudio seria de uma conversa entre Antonio Armando e uma pessoa ligada a Salame, que teria sido procurada para ajudar a convencê-lo a pagar a propina.

Esse segundo áudio, aliás, conteria ainda mais detalhes do que o primeiro, sobre a transação.

E a ordem para gravar a conversa teria partido de Salame, ao ser informado previamente daquele encontro.

Não há dúvida que, se de fato existirem, essas novas gravações são elementos de peso.

Em primeiro lugar, o que é que o marido ou namorado da juíza relatora de um processo contra Salame foi fazer no apartamento dele e, ainda por cima, em companhia de um sujeito que garante intermediar a venda de votos e sentenças produzidas por ela?

Dá o que pensar, não é?

Mas essas novas gravações, se de fato existirem, são provas suficientes do envolvimento da juíza nessa transação?

Não. Não são.

Ouça novamente o áudio, leitor.

Repare na maneira jocosa como Antonio Armando se refere ao relacionamento entre Ezilda Mutran e esse rapaz de nome Francisco.

A ideia que passa é que não se trata de um marido de verdade, mas, de um amante ou namorado.

E relações prazerosas, que não envolvem necessariamente confiança, eu mesma já tive muitas – e creio que você também.

Além disso, quantas vezes já não confiamos em alguém que simplesmente nos atraiçoou?

E veja bem: tantas perguntas já partindo do suposto de que existe esse vídeo e de que o rapaz do vídeo é mesmo marido ou namorado da juíza – coisa que, também, será necessário provar.

Então, é preciso juntar elementos mais consistentes a essas declarações e gravações.

E isso nos leva à segunda certeza desse mar de indagações. 


Doa a quem doer 


No último dia 8, a Associação dos Magistrados do Pará (Amepa) divulgou uma nota simplesmente lamentável sobre todo esse episódio (Veja em Nota de Repúdio, no site http://www.amepa.com.br/).

Em nenhum momento, em nenhuma só linha, a Amepa reclama a apuração de denúncias tão graves: a suposta venda de sentenças por magistrados do TRE.

É como se os nossos meritíssimos estivessem se lixando para os cidadãos que lhes pagam os salários e até para a própria Dignidade da Magistratura (sim, porque são os crimes perpetrados por bandidos togados, se de fato existirem, a emporcalhar a Dignidade da Magistratura).

Ora, o conteúdo do áudio já divulgado é gravíssimo.

Os fatos ali narrados, se verdadeiros, significam um atentado ao próprio estado democrático, porque solapam elementos básicos, como o direito à Justiça e à vontade dos cidadãos.

Ele envolve não um, mas vários magistrados; aponta sentenças supostamente vendidas, valores envolvidos e até a atuação do “marido” da juíza Ezilda Mutran, em transações comerciais.

É claro, como já dito, que tudo o que está naquele áudio tem de ser visto com muito cuidado.

Mas daí a ignorar tal conteúdo vai enorme distância.

E é isso o que faz a Amepa.

A entidade se limita a defender a juíza Ezilda Mutran e a atacar o prefeito João Salame, por ter divulgado a suposta tentativa de extorsão.

Pergunta-se: o que é que têm a ver as motivações de Salame, e até a conduta dele e da juíza Ezilda Mutran, com a veracidade ou não de tais denúncias?

Acaso tais motivações e condutas comprovam ou negam taxativamente a venda de sentenças por magistrados paraenses?

É claro que não.

O objeto da apuração não é se Salame e Ezilda são ou não são padrões de moralidade, ou até candidatos a miss ou mister simpatia.

O que está em causa é: são verdadeiras ou não as declarações de Antonio Armando naquele áudio? Há ou não há venda de sentenças nos tribunais paraenses e, sobretudo, nesse caso específico?

Então o que vem a ser a nota da Amepa? Nada além de falácias, ameaças veladas e corporavitismo.

A entidade chega a afirmar: “Permitir que tal imputação absurda grasse os meios de comunicação é por demais temerária. Apenas por ilustração, se dois presos mantiverem semelhante diálogo no cárcere, poder-se-á creditar veracidade e macular a honra de um magistrado?”

Pergunta-se: quer dizer, então, que se amanhã um homicida condenado denunciar que está sendo vítima de tortura não se deve apurar, já que ele é um criminoso e o diretor do presídio é um cidadão “acima de qualquer suspeita”?

Quer dizer que a única providência será atacar (ou até retirar do ar) o áudio no qual o homicida fez tal acusação -  e deixar tudo por isso mesmo?

Ou será que só não devem ser apuradas as denúncias que envolvam os nossos doutos magistrados? 

Que é mais importante: a honra (minha, sua, de 100, mil cidadãos ou juízes) ou o interesse social?

Por que é que a sociedade não tem direito de tomar conhecimento de denúncias tão graves, que dizem respeito a supostos crimes de servidores públicos?

A Amepa também diz ser “evidente” que Ezilda Mutran “sequer tinha conhecimento de que terceira pessoal alegava exercer influência sobre seus votos”.

Que me perdoe a Amepa, mas isso é uma inverdade.

Não nada de “evidente” nesse caso – ainda.

Como já dito, é preciso dar o benefício da dúvida à juíza e receber com cautela até o suposto vídeo que mostraria o namorado ou marido dela a entrar no prédio em que reside João Salame.

Mas, é só.

Não dá para afirmar ou negar a priori que houve ou não houve essa tentativa de venda de sentença e, muito menos, se a magistrada conhecia ou ignorava a transação.

Só o que poderá evidenciar o que quer que seja são as investigações.

E é esta a segunda certeza desse mar de perguntas: é preciso apurar, e apurar com rigor. 

........... 


Em tempo: A Advocacia Geral da União (AGU) no Pará, por meio do procurador-chefe, Leonardo Sirotheau, também já entrou com interpelação contra Antonio Armando e João Salame, para que prestem esclarecimentos sobre o teor da gravação encaminhada pelo TRE.

O processo foi autuado no último dia 5, tem o número 0030939-78.2013.4.01.3900 e está nas mãos do juiz federal Rafael Lima da Costa.

Falta um: Polícia Civil prende ex-prefeito de Tomé-Açu, Carlos Vinícius, acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Jorge Pimentel. Mas pai de Vinícius, também acusado de encomendar o crime, ainda se encontra foragido.

No portal das ORM: 

"Mandante de duplo homicídio em Tomé-Açu é preso.Ex-prefeito é acusado das mortes de advogado e empresário 


A Polícia Civil prendeu o ex-prefeito de Tomé-Açu, Carlos Vinícius de Melo Vieira, acusado de ser o mandante das mortes do advogado Jorge Pimentel e do empresário Luciano Capácio, em março deste ano, no município. Vieira teve mandado de prisão decretado pela justiça do Pará.

O outro indiciado como mandante do crime é o pai do preso, Carlos Antônio Vieira, que também está com ordem de prisão decretada e permanece foragido. Carlos Vinícius foi localizado na capital federal como resultado do trabalho de investigação realizada por uma equipe de policiais civis coordenados pelo delegado Christiam Rocha.

Dois dos três executores das vítimas permanecem presos. Outra pessoa apontada por dar fuga aos pistoleiros também está presa. Outra pessoa, indicada como intermediário da contratação dos criminosos, também está com mandado de prisão decretado.

Wellington Ribeiro Marques, 37 anos, de apelidos 'Teco' ou 'Neném', e Carlos André Silva Magalhães, 27, de apelidos 'Tico' ou 'Andrezinho', indiciados como executores das vítimas, foram presos em 17 de março deste ano, por policiais civis, que os abordaram em uma barreira de fiscalização na rodovia BR-316, em Gurupi, na divisa do Pará com o Maranhão.

Ambos já eram foragidos de Justiça e respondem por diversos crimes, a maioria, homicídios. Wellington é apontado como pistoleiro profissional, com atuação na região de Paragominas, no nordeste paraense, onde é acusado da autoria de, pelo menos, seis homicídios".

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Neste momento, o presidente da OAB/PA, Jarbas Vasconcelos, concede coletiva à imprensa sobre o fato.

Leia a reportagem da Perereca “Conselho da OAB deve aprovar Representação contra Jatene por crime de responsabilidade na próxima terça. Denúncia contra o Estado do Pará à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e deslocamento do Processo Jorge Pimentel para a Justiça Federal também estão na pauta da reunião. Faixas de luto são afixadas em todos os prédios da entidade, em repúdio à violência que assola o Pará”: http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/11/conselho-da-oab-deve-aprovar.html