segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os braços da dona Maria e do seu José


Oito anos mais velho, como ele mesmo lembrou em seu discurso de diplomação, Simão Jatene retorna ao Poder.
E retorna “nos braços do povo”, depois de um “banho de povo” que, certamente, o levou a conhecer mais de perto esse “elemento”.
Há nove anos, quando trocou os bastidores pelo palco, Jatene tinha grande dificuldade em lidar com o povo, que talvez para ele não passasse de uma abstração.
Tinha dificuldade em se chegar, em olhar nos olhos, em entabular uma simples conversa. E talvez até recebesse com reservas o calor desse “elemento”.
Oito anos depois, porém, para retornar ao Poder, Jatene teve de se abrir a toda essa afetividade.
Sem máquina, e contra a máquina, restou-lhe se permitir tocar, cheirar, abraçar, sorrir, se emocionar.
A dona Maria e o seu José ganharam pele, ossos, carne, alma.
E nunca mais serão uma “etiqueta” sociológica, ou um simples número.
É possível que a dona Maria e o seu José tenham feito pelo cidadão Simão Jatene, e num espaço de poucos meses, mais do que fizeram por ele todos os livros que leu.
E não há dúvida que a conquista do coração desse técnico brilhante pode, de fato, ser de grande valia a todos nós.
No entanto, será preciso superar algumas barreiras.
A primeira delas é a dificuldade que Jatene sempre teve – o que é até surpreendente – de separar o público do privado; de perceber que aquilo que é de todos não pode ser tratado como quintal de um particular, por mais ilustre que seja esse particular.
A segunda é esse tatibitati antropológico, tão entranhado na cabeça dele, apesar de tudo o que estudou, e que ainda o leva a dividir o mundo em “eles” e “nós”.
São duas barreiras complicadas porque a superação delas exige um mergulho em si mesmo; na própria forma de ver o mundo.
No entanto, a superação dessas duas barreiras é fundamental para que se concretize aquilo que é o âmago de seu discurso, e será, espera-se, a baliza do novo governo: o pacto pelo povo e pelo Pará.
Um pacto que nos ajude a enterrar no passado todas essas quizílias que têm impedido que o Pará e o nosso povo alcancem o lugar a que têm direito.
Não que se espere que Jatene seja um “Dom Sebastião no tucupi”.
Mas que compreenda que o exemplo vem, sim, de cima: que o comportamento do governante norteia todo o comportamento da “corte”. E que o discurso sem a prática não passa de um mero amontoado de belas palavras.
Um pacto pelo povo e pelo Pará exige tolerância e a capacidade de encarar a Democracia, não como uma idéia, um simples conceito, mas, como os próprios braços da dona Maria e do seu José.
Implica sentir o outro como um igual. Com a mesma ansiedade, os mesmos medos e a mesmíssima esperança.
Quer dizer: não dá para falar em concertar todas as forças sociais e, ao mesmo tempo, dividir o mundo em “saber cívico” e “saber cínico”, porque isso é apenas reeditar o clássico “mim Tarzan, you Chita”.
E a quem agradará ser a “Chita” dessa história?
Um pacto pelo povo e pelo Pará pressupõe respeito.
Respeito à dona Maria e ao seu José, mas, também, a todos os jogadores que se abrigam no PT, no PMDB, no PP, no PDT, no PPS, no PV, no PSOL, no PSTU, no próprio PSDB – e por aí vai.
E isso significa não contar com o silêncio, ou esperar pelo silêncio, mas, reaprender a conviver com a crítica.
Escancarar as portas às instituições – Imprensa, Judiciário, Ministério Público, cortes de contas, Assembléia Legislativa – em vez de tentar simplesmente cooptá-las, a impedir-lhes o funcionamento.
Construir o consenso não na base do tacão, da força. Mas, do debate democrático que faz brotar o interesse comum.
Pacto pelo Pará e pelo povo do Pará implica, no fundo, parceria com o conjunto da sociedade.
E parceria não suporta enganação, aniquilação, cooptação, ou mesmo censura.
Quem gosta de silêncio é cemitério. Não a Democracia.
FUUUIIIIIIII!!!!!!!

9 comentários:

Anônimo disse...

Célia você é sempre coerente em sua visão sobre uma diversidade imensurável que é o universo da informação, porem algumas coisas , localizadas, existe a possibilidade de haver uma outra face , ao colocares que o Jatene passou a conhecer melhor D. Maria e Seu José, pode ser uma delas.

Em Agosto de 1982, 28 anos atrás Jatene foi um dos escolhidos para lecionar no Curso de Especialização em Planejamento do Desenvolvimento, com o enfoque “Amazônia Maranhense”, Curso este de uma parceria entre a UFMA e a UFPA a disciplina que ficou sob sua responsabilidade foi “ Sociedade, Economia e Política” , será que a matéria Sociedade que ele estava apto para ensinar naquela época não estava incluído D. Maria e Seu José? Será que a Economia que ele foi ensinar excluía D. Maria e Seu José? Será que a Política que ele tinha conhecimento não incluía D. Maria e Seu José?

A velha guarda não da Portela, mas do Quemzão, deve lembrar de quando ele chegou no fim de um semestre atrasado pois tinha ido a casa de um aluno na Tavares Bastos comer um bolinho que “ D. Maria e Seu José” pais de um aluno seu tinham feito para ele em agradecimento aos livros que ele emprestara ao filho deles durante todo o curso, que eles D. Maria e Seu José não tinha condições de comprar.( Família fez a festa de formatura do filho na rua em frente a casa)

A turma da pesca também sabe que depois de pegar o peixe deve encostar o barco na casa da D. Maria e do Seu José, pois lá o peixe por ser frito na lenha tem mais sabor, principalmente se a água for de igarapé servida em lata cortada, isso da uma visão do cotidiano de quem vive no limite de conforto ou não, o Jatene não é pescador!

Quem freqüentou uma feira sabe na pele o que é D. Maria e Seu José !

Perereca um mandato de um bom governador é feito em dois acordos, uma para conseguir o cargo outro para poder realmente governar, Jatene esta até o momento só no primeiro acordo , o segundo passara pela presidência da assembléia e as outras secretarias não ocupadas até o momento.

Tenho sem peias nem restrições uma visão na qual se convidadas as chamadas as forças contrarias ao PSDB para ocuparem lugar de destaque em seu governo elas aceitariam, mesmo que fosse para saltarem antes da próxima eleição e tentarem mostrar que o lugar que ocuparam foi dinâmico enquanto os outros ficaram estáticos.


Isto seria ótimo para a imprensa, para D. Maria e Seu José, a imprensa seria a única talhada a elogiar ou fazer criticas, enquanto para D. Maria e Seu José ter em um átimo, um superlativo relativo das capacidades partidárias desrespeitando a tradição de governo e oposição, cujo âmago é todos estarem dentro do mesmo orçamento, seria fantástico !

Agora tal ato iria contra as religiões que acompanham a Bíblia, elas acharia que com este comportamento o Jatene estava querendo ser melhor que Cristo, afinal ele teve antagonistas!


MCB

Ana Célia Pinheiro disse...

Olha, MCB:

Não estou dizendo que o Jatene era um alienado, que desconhecia a miséria de boa parte da nossa população.
Ou que fosse até um sujeito preconceituoso, incapaz de perceber essa Humanidade visceral da nossa gente, que é simplesmente belíssima.
Creio, porém, que uma coisa é a leitura acerca das dificuldades em que sobrevive a nossa gente e até sobre essa riqueza afetiva da nossa população.
Outra é o impacto emocional de se ver diante disso. Tanto dessa pobreza, quanto dessa generosidade que a nossa população, apesar de tudo o que sofre, traz dentro dela.
Penso que uma campanha como a feita pelo Jatene é quase que um “intensivão” no sentido dessa percepção e aprendizagem.
Uma coisa é conhecer uma pessoa ou duas, que não têm roupas, livros, ou dinheiro para comprar um medicamento. Ou até saber, através dos livros, que xis pessoas sobrevivem em condições miseráveis.
Mas uma coisa bem diferente é ver, todo santo dia, diante de mim, centenas, milhares de pessoas que padecem dessa mesmíssima carência. E que me vêem como uma pessoa, uma cidadã capaz de ajudar a mudar tudo isso. E que traduzem toda essa esperança num sorriso aberto ou num abraço caloroso.
Penso que isso não tem muito a ver com a simplicidade de hábitos, como a de um pescador eventual que come um peixe no casebre de um ribeirinho.
É claro que essa simplicidade ajuda a que você não veja essas pessoas de cima pra baixo, ou com um olhar simplesmente assistencialista, mas, com a solidariedade de um ser humano que vê outro ser humano, igualzinho a você, em condições muitas vezes dramáticas.
Quer dizer, essa simplicidade é uma “abertura”, né?
Mas uma coisa é estar aberto, predisposto – ter alguma coisa em potência, digamos assim.
Outra coisa é o impacto emocional de uma experiência massiva e cotidiana como a que a o Jatene experimentou.
Lembro do impacto que eu mesma senti, há uns trinta anos, quando comecei em jornal.
Na época eu era uma pessoa um bocado alienada, vinda de uma família “boa”, de classe média. E só conhecia a miséria através das pessoas que batiam na porta de casa, a pedir comida.
E lembro do impacto que sofri ao ser escalada, dezenas, centenas de vezes, para matérias nas baixadas de Belém e no interior do estado.
Nunca mais me esqueci do que vi e ouvi. E nunca mais me esqueci da esperança daquelas pessoas, quando viam chegar um repórter; alguém que ia, afinal, fazer com os outros soubessem o que elas estavam a passar.
Quanto aos acordos políticos, que, no fundo, garantem a governabilidade e que, necessariamente, contemplam, em primeiro lugar, os aliados em uma batalha que se venceu, penso que isso é absolutamente normal.
Mas não foi a isso que me referi quando falei na necessidade de unir, em vez de desagregar; na necessidade de respeitar os demais jogadores e debater à exaustão, para encontrar o interesse comum.
É claro que haverá oposição – e é salutar, aliás, que haja oposição. Governo sem oposição, fica cego, doido, com mania de onipotência.
O que me referi é à necessidade de você respeitar todos os atores políticos – inclusive os de oposição.
Parar com essa história de que “eu sou bom, eles são maus”. Ou “mim Humano, eles, demônios”.
Perceber que há bons propósitos em todos os lados; que a angústia e a esperança são as mesmas.
E que todos têm o direito, sim, de expressar aquilo que pensam.
Buscar o interesse comum, a defesa do estado do Pará e da população, o mais possível através do debate democrático, da discussão de idéias – e não, simplesmente, através da força ou da cooptação.
E permitir – democraticamente – que as instituições cumpram o seu papel, para o qual, aliás, são regiamente pagas pelo contribuinte.
Justamente para que a sociedade, que se pretende parceira, não seja simplesmente uma morta-viva, uma figurante, mas, essa força, essa riqueza, que é capaz, sim, de escrever a própria história.
O tacão deseduca. A participação, a cumplicidade, é que faz avançar.
Muito obrigada por todas as suas visitas, que têm abrilhantado em muito este blog.
Volte sempre, MCB.
Ana Célia Pinheiro

Anônimo disse...

Criatura do outro mundo, vai parir um filho para canalizar tua energia para o bem.

Anônimo disse...

Democracia. Discussão com o povo?
Os tucanos fazem isso é?

Anônimo disse...

Acho que isso tudo seria muito bom se Ana Julia tivesse ganhado. O discurso dele não correspondeu com seus atos. Um povo que ela só atendeu em livros.
PS: Concerto (com C) é de música.
Conserto (com s) é do verbo consertar. Abraços.

Anônimo disse...

Expondo a Regra



Esclerose incandescente
Criada pelo tema absoluto
Tenta me tornar mudo
Ao me querer dormente
O que me faz ter só sonho
E assim eu me imponho
Falando sem me importar
A quem possa interessar
Aquilo que acho que sei
Sem a duvida do talvez
Com isso não sou discreto
Nada mantenho secreto
Ao colocar pra quem acha ser
O sentido da razão
Se um caráter queres conhecer
De ao dono poder de decisão


Mestre Chico Barão Livro "Delirios e Lirios"

Anônimo disse...

O primeiro pacto que tem que ter com o povo é ser honesto, o segundo, não fazer do governo o quintal da sua casa, contratando toda parentela.

O povo não tolera esse tipo de prática.

Ana Célia Pinheiro disse...

Oi, anônimo das 7:31:
Concertar também é verbo. E significa, entre outras coisas, harmonizar, conciliar.
De qualquer forma, muito obrigada pela preocupação em corrigir o que lhe pareceu incorreto. Valeu!
Abraços,
Ana Célia

Vicente Cidade disse...

Cara Ana,

Sua análise é muito precisa, de fato, dos tantos anos que Jatene serviu a Jader, depois a Almir, até finalmente governar o estado pela primeira vez em 2002, em nenhum momento ele teve o "povo" como sua prioridade.

Ao longo de toda sua carreira o Jatene perseguiu números, não porque goste deles, mas, como Economista, ele gosta mesmo é da comparação, assim, a friesa dos números é quebrada por uma pretensa humanização, que, em verdade, não existe.

É o caso por exemplo do IDEB estadual que quando Jatene era governador era bem menor do que é hoje, mas, de forma habilidosa, Jatene disse que o incremento do índice alcançado pela governadora não era nada porque, segundo ele, o Pará havia caído no ranking entre os estados. Ora, no IDEB o que vale é o índice e não o tanking.

Por isso Ana, concordo contigo, essa foi mesmo a primeira vez em que Jatene se comprometeu com o povo, olhou em seus olhos e prometeu diretamente a eles, se colocou como a mudança que a sociedade queria, por isso, mesmo que o seu discurso de campanha não conversasse muito com o seu "mote", extremamente enraizado no populismo, isso faz muita diferença.

É esperar para conferir !!