Abaixo, os discursos escritos.
O discurso no Congresso, na cerimônia de posse como presidente da República, que extraí
do site da Agência Câmara de Notícias:
“Pela terceira vez compareço a este Congresso Nacional para
agradecer ao povo brasileiro o voto de confiança que recebemos. Renovo o
juramento de fidelidade à Constituição da República, junto com o
vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros que conosco vão trabalhar pelo
Brasil.
Se estamos aqui, hoje, é graças à consciência política da
sociedade brasileira e à frente democrática que formamos ao longo desta
histórica campanha eleitoral.
Foi a democracia a grande vitoriosa nesta eleição, superando
a maior mobilização de recursos públicos e privados que já se viu; as mais
violentas ameaças à liberdade do voto, a mais abjeta campanha de mentiras e de
ódio tramada para manipular e constranger o eleitorado.
Nunca os recursos do estado foram tão desvirtuados em
proveito de um projeto autoritário de poder. Nunca a máquina pública foi tão
desencaminhada dos controles republicanos. Nunca os eleitores foram tão
constrangidos pelo poder econômico e por mentiras disseminadas em escala
industrial.
Apesar de tudo, a decisão das urnas prevaleceu, graças a um
sistema eleitoral internacionalmente reconhecido por sua eficácia na captação e
apuração dos votos. Foi fundamental a atitude corajosa do Poder Judiciário,
especialmente do Tribunal Superior Eleitoral, para fazer prevalecer a verdade
das urnas sobre a violência de seus detratores.
SENHORAS E SENHORES PARLAMENTARES,
Ao retornar a este plenário da Câmara dos Deputados, onde
participei da Assembleia Constituinte de 1988, recordo com emoção os embates
que travamos aqui, democraticamente, para inscrever na Constituição o mais
amplo conjunto de direitos sociais, individuais e coletivos, em benefício da
população e da soberania nacional.
Vinte anos atrás, quando fui eleito presidente pela primeira
vez, ao lado do companheiro vice-presidente José Alencar, iniciei o discurso de
posse com a palavra “mudança”. A mudança que pretendíamos era simplesmente
concretizar os preceitos constitucionais. A começar pelo direito à vida digna,
sem fome, com acesso ao emprego, saúde e educação.
Disse, naquela ocasião, que a missão de minha vida estaria
cumprida quando cada brasileiro e brasileira pudesse fazer três refeições por
dia.
Ter de repetir este compromisso no dia de hoje – diante do
avanço da miséria e do regresso da fome, que havíamos superado – é o mais grave
sintoma da devastação que se impôs ao país nos anos recentes.
Hoje, nossa mensagem ao Brasil é de esperança e
reconstrução. O grande edifício de direitos, de soberania e de desenvolvimento
que esta Nação levantou, a partir de 1988, vinha sendo sistematicamente
demolido nos anos recentes. É para reerguer este edifício de direitos e valores
nacionais que vamos dirigir todos os nossos esforços.
SENHORAS E SENHORES,
Em 2002, dizíamos que a esperança tinha vencido o medo, no
sentido de superar os temores diante da inédita eleição de um representante da
classe trabalhadora para presidir os destinos do país. Em oito anos de governo
deixamos claro que os temores eram infundados. Do contrário, não estaríamos
aqui novamente.
Ficou demonstrado que um representante da classe
trabalhadora podia, sim, dialogar com a sociedade para promover o crescimento
econômico de forma sustentável e em benefício de todos, especialmente dos mais
necessitados. Ficou demonstrado que era possível, sim, governar este país com a
mais ampla participação social, incluindo os trabalhadores e os mais pobres no
orçamento e nas decisões de governo.
Ao longo desta campanha eleitoral vi a esperança brilhar nos
olhos de um povo sofrido, em decorrência da destruição de políticas públicas
que promoviam a cidadania, os direitos essenciais, a saúde e a educação. Vi o
sonho de uma Pátria generosa, que ofereça oportunidades a seus filhos e filhas,
em que a solidariedade ativa seja mais forte que o individualismo cego.
O diagnóstico que recebemos do Gabinete de Transição de
Governo é estarrecedor. Esvaziaram os recursos da Saúde. Desmontaram a
Educação, a Cultura, Ciência e Tecnologia. Destruíram a proteção ao Meio
Ambiente. Não deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a
segurança pública, a proteção às florestas, a assistência social.
Desorganizaram a governança da economia, dos financiamentos
públicos, do apoio às empresas, aos empreendedores e ao comércio externo.
Dilapidaram as estatais e os bancos públicos; entregaram o patrimônio nacional.
Os recursos do país foram rapinados para saciar a cupidez dos rentistas e de
acionistas privados das empresas públicas.
É sobre estas terríveis ruínas que assumo o compromisso de,
junto com o povo brasileiro, reconstruir o país e fazer novamente um Brasil de
todos e para todos.
SENHORAS E SENHORES,
Diante do desastre orçamentário que recebemos, apresentei ao
Congresso Nacional propostas que nos permitam apoiar a imensa camada da
população que necessita do estado para, simplesmente, sobreviver.
Agradeço à Câmara e ao Senado pela sensibilidade frente às
urgências do povo brasileiro. Registro a atitude extremamente responsável do
Supremo Tribunal Federal e do Tribunal de Contas da União frente às situações
que distorciam a harmonia dos poderes.
Assim fiz porque não seria justo nem correto pedir paciência
a quem tem fome.
Nenhuma nação se ergueu nem poderá se erguer sobre a miséria
de seu povo.
Os direitos e interesses da população, o fortalecimento da
democracia e a retomada da soberania nacional serão os pilares de nosso
governo.
Este compromisso começa pela garantia de um Programa Bolsa
Família renovado, mais forte e mais justo, para atender a quem mais necessita.
Nossas primeiras ações visam a resgatar da fome 33 milhões de pessoas e
resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros, que
suportaram a mais dura carga do projeto de destruição nacional que hoje se
encerra.
SENHORAS E SENHORES,
Este processo eleitoral também foi caracterizado pelo
contraste entre distintas visões de mundo. A nossa, centrada na solidariedade e
na participação política e social para a definição democrática dos destinos do
país. A outra, no individualismo, na negação da política, na destruição do
estado em nome de supostas liberdades individuais.
A liberdade que sempre defendemos é a de viver com
dignidade, com pleno direito de expressão, manifestação e organização.
A liberdade que eles pregam é a de oprimir o vulnerável,
massacrar o oponente e impor a lei do mais forte acima das leis da civilização.
O nome disso é barbárie.
Compreendi, desde o início da jornada, que deveria ser
candidato por uma frente mais ampla do que o campo político em que me formei,
mantendo o firme compromisso com minhas origens. Esta frente se consolidou para
impedir o retorno do autoritarismo ao país.
A partir de hoje, a Lei de Acesso à Informação voltará a ser
cumprida, o Portal da Transparência voltará a cumprir seu papel, os controles
republicanos voltarão a ser exercidos para defender o interesse público. Não
carregamos nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a Nação a
seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei.
Quem errou responderá por seus erros, com direito amplo de defesa, dentro do
devido processo legal. O mandato que recebemos, frente a adversários inspirados
no fascismo, será defendido com os poderes que a Constituição confere à
democracia.
Ao ódio, responderemos com amor. À mentira, com a verdade.
Ao terror e à violência, responderemos com a Lei e suas mais duras
consequências.
Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca
mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia
para sempre!
Para confirmar estas palavras, teremos de reconstruir em
bases sólidas a democracia em nosso país. A democracia será defendida pelo povo
na medida em que garantir a todos e a todas os direitos inscritos na
Constituição.
SENHORAS E SENHORES,
Hoje mesmo estou assinando medidas para reorganizar as
estruturas do Poder Executivo, de modo que voltem a permitir o funcionamento do
governo de maneira racional, republicana e democrática. Para resgatar o papel
das instituições do estado, bancos públicos e empresas estatais no
desenvolvimento do país. Para planejar os investimentos públicos e privados na
direção de um crescimento econômico sustentável, ambientalmente e socialmente.
Em diálogo com os 27 governadores, vamos definir prioridades
para retomar obras irresponsavelmente paralisadas, que são mais de 14 mil no
país. Vamos retomar o Minha Casa, Minha Vida e estruturar um novo PAC para
gerar empregos na velocidade que o Brasil requer. Buscaremos financiamento e
cooperação – nacional e internacional – para o investimento, para dinamizar e
expandir o mercado interno de consumo, desenvolver o comércio, exportações,
serviços, agricultura e a indústria.
Os bancos públicos, especialmente o BNDES, e as empresas
indutoras do crescimento e inovação, como a Petrobras, terão papel fundamental
neste novo ciclo. Ao mesmo tempo, vamos impulsionar as pequenas e médias
empresas, potencialmente as maiores geradoras de emprego e renda, o
empreendedorismo, o cooperativismo e a economia criativa.
A roda da economia vai voltar a girar e o consumo popular
terá papel central neste processo.
Vamos retomar a política de valorização permanente do
salário-mínimo. E estejam certos de que vamos acabar, mais uma vez, com a
vergonhosa fila do INSS, outra injustiça restabelecida nestes tempos de
destruição. Vamos dialogar, de forma tripartite – governo, centrais sindicais e
empresariais – sobre uma nova legislação trabalhista. Garantir a liberdade de
empreender, ao lado da proteção social, é um grande desafio nos tempos de hoje.
SENHORAS E SENHORES,
O Brasil é grande demais para renunciar a seu potencial
produtivo. Não faz sentido importar combustíveis, fertilizantes, plataformas de
petróleo, microprocessadores, aeronaves e satélites. Temos capacitação técnica,
capitais e mercado em grau suficiente para retomar a industrialização e a
oferta de serviços em nível competitivo.
O Brasil pode e deve figurar na primeira linha da economia
global.
Caberá ao estado articular a transição digital e trazer a
indústria brasileira para o Século XXI, com uma política industrial que apoie a
inovação, estimule a cooperação público-privada, fortaleça a ciência e a
tecnologia e garanta acesso a financiamentos com custos adequados.
O futuro pertencerá a quem investir na indústria do
conhecimento, que será objeto de uma estratégia nacional, planejada em diálogo
com o setor produtivo, centros de pesquisa e universidades, junto com o
Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, os bancos públicos, estatais e
agências de fomento à pesquisa.
Nenhum outro país tem as condições do Brasil para se tornar
uma grande potência ambiental, a partir da criatividade da bioeconomia e dos
empreendimentos da socio-biodiversidade. Vamos iniciar a transição energética e
ecológica para uma agropecuária e uma mineração sustentáveis, uma agricultura
familiar mais forte, uma indústria mais verde.
Nossa meta é alcançar desmatamento zero na Amazônia e
emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica, além de estimular o
reaproveitamento de pastagens degradadas. O Brasil não precisa desmatar para
manter e ampliar sua estratégica fronteira agrícola.
Incentivaremos, sim, a prosperidade na terra. Liberdade e
oportunidade de criar, plantar e colher continuará sendo nosso objetivo. O que
não podemos admitir é que seja uma terra sem lei. Não vamos tolerar a violência
contra os pequenos, o desmatamento e a degradação do ambiente, que tanto mal já
fizeram ao país.
Esta é uma das razões, não a única, da criação do Ministério
dos Povos Indígenas. Ninguém conhece melhor nossas florestas nem é mais capaz
de defendê-las do que os que estavam aqui desde tempos imemoriais. Cada terra
demarcada é uma nova área de proteção ambiental. A estes brasileiros e
brasileiras devemos respeito e com eles temos uma dívida histórica.
Vamos revogar todas as injustiças cometidas contra os povos
indígenas.
SENHORAS E SENHORES,
Uma nação não se mede apenas por estatísticas, por mais
impressionantes que sejam. Assim como um ser humano, uma nação se expressa
verdadeiramente pela alma de seu povo. A alma do Brasil reside na diversidade
inigualável da nossa gente e das nossas manifestações culturais.
Estamos refundando o Ministério da Cultura, com a ambição de
retomar mais intensamente as políticas de incentivo e de acesso aos bens
culturais, interrompidas pelo obscurantismo nos últimos anos.
Uma política cultural democrática não pode temer a crítica
nem eleger favoritos. Que brotem todas as flores e sejam colhidos todos os
frutos da nossa criatividade, Que todos possam dela usufruir, sem censura nem
discriminações.
Não é admissível que negros e pardos continuem sendo a
maioria pobre e oprimida de um país construído com o suor e o sangue de seus
ascendentes africanos. Criamos o Ministério da Promoção da Igualdade Racial
para ampliar a política de cotas nas universidades e no serviço público, além
de retomar as políticas voltadas para o povo negro e pardo na saúde, educação e
cultura.
É inadmissível que as mulheres recebam menos que os homens,
realizando a mesma função. Que não sejam reconhecidas em um mundo político
machista. Que sejam assediadas impunemente nas ruas e no trabalho. Que sejam
vítimas da violência dentro e fora de casa. Estamos refundando também o
Ministério das Mulheres para demolir este castelo secular de desigualdade e preconceito.
Não existirá verdadeira justiça num país em que um só ser
humano seja injustiçado. Caberá ao Ministério dos Direitos Humanos zelar e agir
para que cada cidadão e cidadã tenha seus direitos respeitados, no acesso aos
serviços públicos e particulares, na proteção frente ao preconceito ou diante
da autoridade pública. Cidadania é o outro nome da democracia.
O Ministério da Justiça e da Segurança Pública atuará para
harmonizar os Poderes e entes federados no objetivo de promover a paz onde ela
é mais urgente: nas comunidades pobres, no seio das famílias vulneráveis ao
crime organizado, às milícias e à violência, venha ela de onde vier.
Estamos revogando os criminosos decretos de ampliação do
acesso a armas e munições, que tanta insegurança e tanto mal causaram às
famílias brasileiras. O Brasil não quer mais armas; quer paz e segurança para
seu povo.
Sob a proteção de Deus, inauguro este mandato reafirmando
que no Brasil a fé pode estar presente em todas as moradas, nos diversos
templos, igrejas e cultos. Neste país todos poderão exercer livremente sua
religiosidade.
SENHORAS E SENHORES,
O período que se encerra foi marcado por uma das maiores
tragédias da história: a pandemia de Covid-19. Em nenhum outro país a
quantidade de vítimas fatais foi tão alta proporcionalmente à população quanto
no Brasil, um dos países mais preparados para enfrentar emergências sanitárias,
graças à competência do nosso Sistema Único de Saúde.
Este paradoxo só se explica pela atitude criminosa de um
governo negacionista, obscurantista e insensível à vida. As responsabilidades
por este genocídio hão de ser apuradas e não devem ficar impunes.
O que nos cabe, no momento, é prestar solidariedade aos
familiares, pais, órfãos, irmãos e irmãs de quase 700 mil vítimas da pandemia.
O SUS é provavelmente a mais democrática das instituições
criadas pela Constituição de 1988. Certamente por isso foi a mais perseguida
desde então, e foi, também, a mais prejudicada por uma estupidez chamada Teto
de Gastos, que haveremos de revogar.
Vamos recompor os orçamentos da Saúde para garantir a
assistência básica, a Farmácia Popular, promover o acesso à medicina especializada.
Vamos recompor os orçamentos da Educação, investir em mais universidades, no
ensino técnico, na universalização do acesso à internet, na ampliação das
creches e no ensino público em tempo integral. Este é o investimento que
verdadeiramente levará ao desenvolvimento do país.
O modelo que propomos, aprovado nas urnas, exige, sim,
compromisso com a responsabilidade, a credibilidade e a previsibilidade; e
disso não vamos abrir mão. Foi com realismo orçamentário, fiscal e monetário,
buscando a estabilidade, controlando a inflação e respeitando contratos que
governamos este país.
Não podemos fazer diferente. Teremos de fazer melhor.
SENHORAS E SENHORES,
Os olhos do mundo estiveram voltados para o Brasil nestas
eleições. O mundo espera que o Brasil volte a ser um líder no enfrentamento à
crise climática e um exemplo de país social e ambientalmente responsável, capaz
de promover o crescimento econômico com distribuição de renda, combater a fome
e a pobreza, dentro do processo democrático.
Nosso protagonismo se concretizará pela retomada da
integração sul-americana, a partir do Mercosul, da revitalização da Unasul e
demais instâncias de articulação soberana da região. Sobre esta base poderemos
reconstruir o diálogo altivo e ativo com os Estados Unidos, a Comunidade
Europeia, a China, os países do Oriente e outros atores globais; fortalecendo
os BRICS, a cooperação com os países da África e rompendo o isolamento a que o
país foi relegado.
O Brasil tem de ser dono de si mesmo, dono de seu destino.
Tem de voltar a ser um país soberano. Somos responsáveis pela maior parte da
Amazônia e por vastos biomas, grandes aquíferos, jazidas de minérios, petróleo
e fontes de energia limpa. Com soberania e responsabilidade seremos respeitados
para compartilhar essa grandeza com a humanidade – solidariamente, jamais com
subordinação.
A relevância da eleição no Brasil refere-se, por fim, às
ameaças que o modelo democrático vem enfrentando. Ao redor do planeta,
articula-se uma onda de extremismo autoritário que dissemina o ódio e a mentira
por meios tecnológicos que não se submetem a controles transparentes.
Defendemos a plena liberdade de expressão, cientes de que é
urgente criarmos instâncias democráticas de acesso à informação confiável e de
responsabilização dos meios pelos quais o veneno do ódio e da mentira são
inoculados. Este é um desafio civilizatório, da mesma forma que a superação das
guerras, da crise climática, da fome e da desigualdade no planeta.
Reafirmo, para o Brasil e para o mundo, a convicção de que a
Política, em seu mais elevado sentido – e apesar de todas as suas limitações –
é o melhor caminho para o diálogo entre interesses divergentes, para a
construção pacífica de consensos. Negar a política, desvalorizá-la e
criminalizá-la é o caminho das tiranias.
Minha mais importante missão, a partir de hoje, será honrar
a confiança recebida e corresponder às esperanças de um povo sofrido, que
jamais perdeu a fé no futuro nem em sua capacidade de superar os desafios. Com
a força do povo e as bênçãos de Deus, haveremos der reconstruir este país.
Viva a democracia!
Viva o povo brasileiro!
Muito obrigado”.
O discurso de Lula no Parlatório, após receber a faixa de
presidente, que extraí do site da Revista Forum:
"Quero começar fazendo uma saudação especial a cada um
e a cada uma de vocês. Uma forma de lembrar e retribuir o carinho e a força que
recebia todos os dias do povo brasileiro – representado pela Vigília Lula Livre
–, num dos momentos mais difíceis da minha vida.
Hoje, neste que é um dos dias mais felizes da minha vida, a
saudação que eu faço a vocês não poderia ser outra, tão singela e ao mesmo
tempo tão cheia de significado:
Boa tarde, povo brasileiro!
Minha gratidão a vocês, que enfrentaram a violência política
antes, durante e depois da campanha eleitoral. Que ocuparam as redes sociais, e
que tomaram as ruas, debaixo de sol e chuva, nem que fosse para conquistar um
único e precioso voto.
Que tiveram a coragem de vestir a nossa camisa e, ao mesmo
tempo, agitar a bandeira do Brasil – quando uma minoria violenta e
antidemocrática tentava censurar nossas cores e se apropriar do verde- amarelo,
que pertence a todo o povo brasileiro.
A vocês, que vieram de todos os cantos deste país – de perto
ou de muito longe, de avião, de ônibus, de carro ou na boleia de caminhão. De
moto, bicicleta e até mesmo a pé, numa verdadeira caravana da esperança, para
esta festa da democracia.
Mas quero me dirigir também aos que optaram por outros
candidatos. Vou governar para os 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e
não apenas para quem votou em mim.
Vou governar para todas e todos, olhando para o nosso
luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado de divisão e intolerância.
A ninguém interessa um país em permanente pé de guerra, ou
uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com amigos e
familiares, rompidos pelo discurso de ódio e pela disseminação de tantas
mentiras.
O povo brasileiro rejeita a violência de uma pequena minoria
radicalizada que se recusa a viver num regime democrático.
Chega de ódio, fake news, armas e bombas. Nosso povo quer
paz para trabalhar, estudar, cuidar da família e ser feliz.
A disputa eleitoral acabou. Repito o que disse no meu
pronunciamento após a vitória em 30 de outubro, sobre a necessidade de unir o
nosso país.
“Não existem dois brasis. Somos um único país, um único
povo, uma grande nação.”
Somos todos brasileiros e brasileiras, e compartilhamos uma
mesma virtude: nós não desistimos nunca.
Ainda que nos arranquem todas as flores, uma por uma, pétala
por pétala, nós sabemos que é sempre tempo de replantio, e que a primavera há
de chegar. E a primavera chegou.
Hoje, a alegria toma posse do Brasil, de braços dados com a
esperança.
Minhas queridas amigas e meus amigos.
Recentemente, reli o discurso da minha primeira posse na
Presidência, em 2003. E o que li tornou ainda mais evidente o quanto o Brasil
andou para trás.
Naquele 1º de janeiro de 2003, aqui nesta mesma praça, eu e
meu querido vice José Alencar assumimos o compromisso de recuperar a dignidade
e a autoestima do povo brasileiro – e recuperamos. De investir para melhorar as
condições de vida de quem mais necessita – e investimos. De cuidar com muito
carinho da saúde e da educação – e cuidamos.
Mas o principal compromisso que assumimos em 2003 foi o de
lutar contra a desigualdade e a extrema pobreza, e garantir a cada pessoa deste
país o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar todo santo dia – e nós
cumprimos esse compromisso: acabamos com a fome e a miséria, e reduzimos
fortemente a desigualdade.
Infelizmente hoje, 20 anos depois, voltamos a um passado que
julgávamos enterrado. Muito do que fizemos foi desfeito de forma irresponsável
e criminosa.
A desigualdade e a extrema pobreza voltaram a crescer. A
fome está de volta – e não por força do destino, não por obra da natureza, nem
por vontade divina.
A volta da fome é um crime, o mais grave de todos, cometido
contra o povo brasileiro.
A fome é filha da desigualdade, que é mãe dos grandes males
que atrasam o desenvolvimento do Brasil. A desigualdade apequena este nosso
país de dimensões continentais, ao dividi-lo em partes que não se reconhecem.
De um lado, uma pequena parcela da população que tudo tem.
Do outro lado, uma multidão a quem tudo falta, e uma classe média que vem
empobrecendo ano após ano.
Juntos, somos fortes. Divididos, seremos sempre o país do
futuro que nunca chega, e que vive em dívida permanente com o seu povo.
Se queremos construir hoje o nosso futuro, se queremos viver
num país plenamente desenvolvido para todos e todas, não pode haver lugar para
tanta desigualdade.
O Brasil é grande, mas a real grandeza de um país reside na
felicidade de seu povo. E ninguém é feliz de fato em meio a tanta desigualdade.
Minhas amigas e meus amigos,
Quando digo “governar”, eu quero dizer “cuidar”. Mais do que
governar, vou cuidar com muito carinho deste país e do povo brasileiro.
Nestes últimos anos, o Brasil voltou a ser um dos países
mais desiguais do mundo. Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento
nas ruas.
Mães garimpando lixo, em busca do alimento para seus filhos.
Famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a
chuva e o medo.
Crianças vendendo bala ou pedindo esmola, quando deveriam
estar na escola, vivendo plenamente a infância a que têm direito.
Trabalhadoras e trabalhadores desempregados exibindo, nos
semáforos, cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: “Por
favor, me ajuda”.
Fila na porta dos açougues, em busca de ossos para aliviar a
fome. E, ao mesmo tempo, filas de espera para a compra de automóveis importados
e jatinhos particulares.
Tamanho abismo social é um obstáculo à construção de uma
sociedade verdadeiramente justa e democrática, e de uma economia próspera e
moderna.
Por isso, eu e meu vice Geraldo Alckmin assumimos hoje,
diante de vocês e de todo o povo brasileiro, o compromisso de combater dia e
noite todas as formas de desigualdade.
Desigualdade de renda, de gênero e de raça. Desigualdade no
mercado de trabalho, na representação política, nas carreiras do Estado.
Desigualdade no acesso a saúde, educação e demais serviços públicos.
Desigualdade entre a criança que frequenta a melhor escola
particular, e a criança que engraxa sapato na rodoviária, sem escola e sem
futuro. Entre a criança feliz com o brinquedo que acabou de ganhar de presente,
e a criança que chora de fome na noite de Natal.
Desigualdade entre quem joga comida fora, e quem só se
alimenta das sobras.
É inadmissível que os 5% mais ricos deste país detenham a
mesma fatia de renda que os demais 95%.
Que seis bilionários brasileiros tenham uma riqueza
equivalente ao patrimônio dos 100 milhões mais pobres do país.
Que um trabalhador ou trabalhadora que ganha um salário
mínimo mensal leve 19 anos para receber o equivalente ao que um super rico
recebe em um único mês.
E não adianta subir o vidro do automóvel de luxo, para não
ver nossos irmãos que se amontoam debaixo dos viadutos, carentes de tudo – a
realidade salta aos olhos em cada esquina.
Minhas amigas e meus amigos.
É inaceitável que continuemos a conviver com o preconceito,
a discriminação e o racismo. Somos um povo de muitas cores, e todas devem ter
os mesmos direitos e oportunidades.
Ninguém será cidadão ou cidadã de segunda classe, ninguém
terá mais ou menos amparo do Estado, ninguém será obrigado a enfrentar mais ou
menos obstáculos apenas pela cor de sua pele.
Por isso estamos recriando o Ministério da Igualdade Racial,
para enterrar a trágica herança do nosso passado escravista.
Os povos indígenas precisam ter suas terras demarcadas e livres
das ameaças das atividades econômicas ilegais e predatórias. Precisam ter sua
cultura preservada, sua dignidade respeitada e sua sustentabilidade garantida.
Eles não são obstáculos ao desenvolvimento – são guardiões
de nossos rios e florestas, e parte fundamental da nossa grandeza enquanto
nação. Por isso estamos criando o Ministério dos Povos Indígenas, para combater
500 anos de desigualdade.
Não podemos continuar a conviver com a odiosa opressão
imposta às mulheres, submetidas diariamente à violência nas ruas e dentro de
suas próprias casas.
É inadmissível que continuem a receber salários inferiores
ao dos homens, quando no exercício de uma mesma função. Elas precisam
conquistar cada vez mais espaço nas instâncias decisórias deste país – na
política, na economia, em todas as áreas estratégicas.
As mulheres devem ser o que elas quiserem ser, devem estar
onde quiserem estar. Por isso, estamos trazendo de volta o Ministério das
Mulheres.
Foi para combater a desigualdade e suas sequelas que nós
vencemos a eleição. E esta será a grande marca do nosso governo.
Dessa luta fundamental surgirá um país transformado. Um país
grande, próspero, forte e justo. Um país de todos, por todos e para todos. Um
país generoso e solidário, que não deixará ninguém para trás.
Minhas queridas companheiras e meus queridos companheiros.
Reassumo o compromisso de cuidar de todos os brasileiros e
brasileiras, sobretudo daqueles que mais necessitam. De acabar outra vez com a
fome neste país. De tirar o pobre da fila do osso para colocá-lo novamente no
Orçamento.
Temos um imenso legado, ainda vivo na memória de cada
brasileiro e cada brasileira, beneficiário ou não das políticas públicas que
fizeram uma revolução neste país.
Mas não nos interessa viver do passado. Por isso, longe de
qualquer saudosismo, nosso legado será sempre o espelho do futuro que vamos
construir para este país.
Em nossos governos, o Brasil conciliou crescimento econômico
recorde com a maior inclusão social da história. E se tornou a sexta maior
economia do mundo, ao mesmo tempo em que 36 milhões de brasileiras e brasileiros
saíram da extrema pobreza.
Geramos mais de 20 milhões de empregos com carteira assinada
e todos os direitos assegurados. Reajustamos o salário mínimo sempre acima de
inflação.
Batemos recorde de investimentos em educação – da creche à
universidade –, para fazer do Brasil um exportador também de inteligência e
conhecimento, e não apenas de commodities e matéria-prima.
Nós mais que dobramos o número de estudantes no ensino
superior, e abrimos as portas das universidades para a juventude pobre deste país.
Jovens brancos, negros e indígenas, para quem o diploma universitário era um
sonho inalcançável, tornaram-se doutores.
Combatemos um dos grandes focos de desigualdade – o acesso à
saúde. Porque o direito à vida não pode ser refém da quantidade de dinheiro que
se tem no banco.
Fizermos o Farmácia Popular, que forneceu medicamentos a
quem mais precisava, e o Mais Médicos, que levou atendimento a cerca de 60
milhões de brasileiros e brasileiras, nas periferias das grandes cidades e nos
pontos mais remotos do Brasil.
Criamos o Brasil Sorridente, para cuidar da saúde bucal de
todos os brasileiros e brasileiras.
Fortalecemos o nosso Sistema Único de Saúde. E quero
aproveitar para fazer um agradecimento especial aos profissionais do SUS, pela
grandiosidade do trabalho durante a pandemia. Enfrentaram bravamente, ao mesmo
tempo, um vírus letal e um governo irresponsável e desumano.
Nos nossos governos, investimos na agricultura familiar e
nos pequenos e médios agricultores, responsáveis por 70% dos alimentos que
chegam à nossa mesa. E fizemos isso sem descuidar do agronegócio, que obteve
investimentos e safras recordes, ano após ano.
Tomamos medidas concretas para conter as mudanças
climáticas, e reduzimos o desmatamento da Amazônia em mais de 80%.
O Brasil consolidou-se como referência mundial no combate à
desigualdade e à fome, e passou a ser internacionalmente respeitado, pela sua
política externa ativa e altiva
Fomos capazes de realizar tudo isso cuidando com total
responsabilidade das finanças do país. Nunca fomos irresponsáveis com o
dinheiro público.
Fizemos superávit fiscal todos os anos, eliminamos a dívida
externa, acumulamos reservas de cerca de 370 bilhões de dólares e reduzimos a
dívida interna a quase metade do que era anteriormente.
Nos nossos governos, nunca houve nem haverá gastança alguma.
Sempre investimos, e voltaremos a investir, em nosso bem mais precioso: o povo
brasileiro.
Infelizmente, muito do que construímos em 13 anos foi
destruído em menos da metade desse tempo. Primeiro, pelo golpe de 2016 contra a
presidenta Dilma. E na sequência, pelos quatro anos de um governo de destruição
nacional cujo legado a História jamais perdoará:
700 mil brasileiros e brasileiras mortos pela Covid.
125 milhões sofrendo algum grau de insegurança alimentar, de
moderada a muito grave.
33 milhões passando fome.
Estes são apenas alguns números. Que na verdade não são
apenas números, estatísticas, indicadores – são pessoas. Homens, mulheres e
crianças, vítimas de um desgoverno afinal derrotado pelo povo, no histórico 30
de outubro de 2022.
Os Grupos Técnicos do Gabinete de Transição, que por dois
meses mergulharam nas entranhas do governo anterior, trouxeram a público a real
dimensão da tragédia.
O que o povo brasileiro sofreu nestes últimos anos foi a
lenta e progressiva construção de um genocídio.
Quero citar, a título de exemplo, um pequeno trecho das 100
páginas desse verdadeiro relatório do caos produzido pelo Gabinete de
Transição. Diz o relatório:
“O Brasil bateu recordes de feminicídios, as políticas de
igualdade racial sofreram severos retrocessos, produziu-se um desmonte das
políticas de juventude, e os direitos indígenas nunca foram tão ultrajados na
história recente do país.
Os livros didáticos que deverão ser usados no ano letivo de
2023 ainda não começaram a ser editados; faltam remédios no Farmácia Popular;
não há estoques de vacinas para o enfrentamento das novas variantes da
COVID-19.
Faltam recursos para a compra de merenda escolar; as
universidades corriam o risco de não concluir o ano letivo; não existem
recursos para a Defesa Civil e a prevenção de acidentes e desastres. Quem está
pagando a conta deste apagão é o povo brasileiro.”
Meus amigos e minhas amigas.
Nesses últimos anos, vivemos, sem dúvida, um dos piores
períodos da nossa história. Uma era de sombras, de incertezas e de muito
sofrimento. Mas esse pesadelo chegou ao fim, pelo voto soberano, na eleição
mais importante desde a redemocratização do país.
Uma eleição que demonstrou o compromisso do povo brasileiro
com a democracia e suas instituições.
Essa extraordinária vitória da democracia nos obriga a olhar
para a frente e a esquecer nossas diferenças, que são muito menores que aquilo
que nos une para sempre: o amor pelo Brasil e a fé inquebrantável em nosso
povo.
Agora, é hora de reacendermos a chama da esperança, da
solidariedade e do amor ao próximo.
Agora é hora de voltar a cuidar do Brasil e do povo
brasileiro. Gerar empregos, reajustar o salário mínimo acima da inflação,
baratear o preço dos alimentos.
Criar ainda mais vagas nas universidades, investir
fortemente na saúde, na educação, na ciência e na cultura.
Retomar as obras de infraestrutura e do Minha Casa Minha
Vida, abandonadas pelo descaso do governo que se foi.
É hora de trazer investimentos e reindustrializar o Brasil.
Combater outra vez as mudanças climáticas e acabar de uma vez por todas com a
devastação de nossos biomas, sobretudo a Amazônia.
Romper com o isolamento internacional e voltar a se
relacionar com todos os países do mundo.
Não é hora para ressentimentos estéreis. Agora é hora de o
Brasil olhar para a frente e voltar a sorrir.
Vamos virar essa página e escrever, em conjunto, um novo e
decisivo capítulo da nossa história.
Nosso desafio comum é o da criação de um país justo,
inclusivo, sustentável, criativo, democrático e soberano, para todos os
brasileiros e brasileiras.
Fiz questão de dizer ao longo de toda a campanha: o Brasil
tem jeito. E volto a dizer com toda convicção, mesmo diante do quadro de
destruição revelado pelo Gabinete de Transição: o Brasil tem jeito. Depende de
nós, de todos nós.
Em meus quatro anos de mandato, vamos trabalhar todos os
dias para o Brasil vencer o atraso de mais de 350 anos de escravidão. Para
recuperar o tempo e as oportunidades perdidas nesses últimos anos. Para
reconquistar seu lugar de destaque no mundo. E para que cada brasileiro e cada
brasileira tenha o direito de voltar a sonhar, e as oportunidades para realizar
aquilo que sonha.
Precisamos, todos juntos, reconstruir e transformar o
Brasil.
Mas só reconstruiremos e transformaremos de fato este país
se lutarmos com todas as forças contra tudo aquilo que o torna tão desigual.
Essa tarefa não pode ser de apenas um presidente ou mesmo de
um governo. É urgente e necessária a formação de uma frente ampla contra a
desigualdade, que envolva a sociedade como um todo:
trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais,
governadores, prefeitos, deputados, senadores, sindicatos, movimentos sociais,
associações de classe, servidores públicos, profissionais liberais, líderes
religiosos, cidadãos e cidadãs comuns.
É tempo de união e reconstrução.
Por isso, faço este chamamento a todos os brasileiros e
brasileiras que desejam um Brasil mais justo, solidário e democrático:
juntem-se a nós num grande mutirão contra a desigualdade.
Quero terminar pedindo a cada um e a cada uma de vocês: que
a alegria de hoje seja a matéria-prima da luta de amanhã e de todos os dias que
virão. Que a esperança de hoje fermente o pão que há de ser repartido entre
todos.
E que estejamos sempre prontos a reagir, em paz e em ordem,
a quaisquer ataques de extremistas que queiram sabotar e destruir a nossa
democracia.
Na luta pelo bem do Brasil, usaremos as armas que nossos
adversários mais temem: a verdade, que se sobrepôs à mentira; a esperança, que
venceu o medo; e o amor, que derrotou o ódio.
Viva o Brasil. E viva o povo brasileiro!"
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E veja aqui quem são os cidadãos que acompanharam Lula na subida da rampa do Planalto e quem lhe entregou a faixa de presidente: https://www.brasildefato.com.br/2023/01/01/posse-presidencial-saiba-quem-subiu-a-rampa-e-passou-a-faixa-para-lula