Como sempre faz com os aliados que caem em desgraça, o presidente Jair Bolsonaro tenta se distanciar do ex-deputado Roberto Jefferson.
Bolsonaro chegou a afirmar que nem sequer existiriam fotografias deles juntos.
Mas está difícil disfarçar as evidências.
Em agosto do ano passado, Bolsonaro até ameaçou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e a Democracia, após a prisão do amigo-de-fé-irmão-camarada, por ataques àquele tribunal: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/08/4943746-bolsonaro-ameaca-ministros-do-stf-apos-prisao-de-roberto-jefferson.html
Na época, não estávamos no período eleitoral, com Bolsonaro tentando se reeleger.
Não era preciso esconder a identidade política que os une, no desejo de destruição da Democracia, para a implantação de uma ditadura nazifascista (link ao final).
Ou o fato de serem tão chegados que, em 2003, Jefferson até indicou Eduardo, filho de Bolsonaro, para uma assessoria de R$ 10 mil por mês (atualizados), na Câmara dos Deputados, em Brasília, apesar do rapaz, então com 18 anos, estudar no Rio de Janeiro: https://revistaforum.com.br/politica/2022/10/24/roberto-jefferson-nomeou-eduardo-bolsonaro-aos-18-anos-com-salario-de-r-98-mil-125356.html?fbclid=IwAR3bvcYwQzwBwnKcS8uGehyFuDuah1fipLiMW-9PBip3xPIBO5miWsDBmWk
Mas a camaradagem não para aí.
Quando foi preso, no ano passado, Jefferson era investigado por suspeita de pertencer a uma milícia digital, que busca destruir a Democracia, através de ataques às instituições e da disseminação de mentiras (fake news), nas redes sociais.
Que seria comandada, aliás, por um dos filhos do presidente.
Na época, Jefferson já xingara e ameaçara autoridades, até exibindo armas, em vídeos que gravara para a internet.
Já pregara a invasão do Senado Federal, para acabar, na base do “pescoção”, com a CPI que investigava possíveis crimes do governo de Bolsonaro, durante a pandemia.
Mas o seu ato terrorista mais impressionante havia sido um vídeo, de abril daquele ano.
Nele, incitara os “cristãos” a baterem em policiais com cabo de enxada, taco de beisebol e chicote.
E até a colocarem os policiais "fora de combate", com tiros de revólver, caso tentassem fechar as igrejas, como determinado por governadores e prefeitos (e criticado por Bolsonaro), para deter o avanço do coronavírus: https://www.youtube.com/watch?v=56G6Kb63hLY
Até onde se sabe, Jefferson nunca recebeu nenhuma crítica do amigo-presidente, por causa de tais crimes.
Pelo contrário: Bolsonaro até o defendeu, aquando da prisão.
Mais recentemente, nova camaradagem.
O ex-deputado teve impugnada a sua candidatura à Presidência da República, pelo PTB.
E escolheu como substituto o cidadão Kelmon Luís da Silva Souza, que se diz “padre”, mas não é reconhecido pelas igrejas católica e ortodoxa: https://pererecadavizinha.blogspot.com/2022/09/estranho-padre-nao-demonstra-compaixao.html.
Nos debates televisivos do primeiro turno, vestido com uma batina que lhe conferia “autoridade sacerdotal”, Kelmon elogiou Bolsonaro e atacou Lula, até que ele acabou revidando os ataques.
O objetivo da armação seria evitar a vitória do petista no primeiro turno, o que de fato ocorreu: https://piaui.folha.uol.com.br/eleicoes-2022/padre-kelmon-e-o-conto-do-vigario
A tentativa de Bolsonaro de negar as aparências e disfarçar as evidências, acerca da sua proximidade com Jefferson, só começou a se configurar no último domingo (23).
Quando, a 8 dias do segundo turno das eleições, Jefferson disparou 60 tiros de fuzil e lançou 3 granadas contra os policiais federais que foram prendê-lo, em sua casa no Rio de Janeiro, ferindo dois deles.
O ex-deputado se encontrava em prisão domiciliar, mas a PF descobrira que ele descumpria, constantemente, várias das exigências para a manutenção desse benefício.
Entre elas, ficar longe das redes sociais, não conceder entrevistas, não receber visitas sem autorização: https://www.conjur.com.br/2022-out-23/violacao-cautelares-determinou-retorno-jefferson-prisao
A gota d’água foi um vídeo que ele divulgou, na sexta-feira (21), no qual ofendeu a ministra do TSE, Carmen Lúcia, chamando-a de “prostituta”, entre outros xingamentos.
Uma violação ostensiva das exigências da prisão domiciliar, até com novos crimes (calúnia e difamação), como se quisesse ser preso.
Com isso, o ministro do STF Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito das milícias digitais, revogou a domiciliar e determinou que Jefferson voltasse ao regime fechado.
E foi aí que o ex-deputado resolveu atirar na polícia, em uma atitude típica de traficantes, milicianos e outros criminosos barra pesada.
Mesmo assim, em um primeiro momento, Bolsonaro ainda tentou “passar pano” para o amigo, embora negue que agiu assim.
Ele repudiou “as falas” de Jefferson contra a ministra Carmen Lúcia e a “ação armada” contra os policiais.
Mas repudiou, também, o inquérito das milícias digitais, que afirmou não ter respaldo constitucional (em outras palavras, o inquérito, segundo ele, seria ilegal, o que tornaria ilegal a prisão do ex-deputado).
De quebra, mandou o ministro da Justiça ao Rio de Janeiro, para acompanhar a situação.
Tamanha deferência a um bandido que atacara policiais, gerou uma enxurrada de críticas.
Afinal, qual o cidadão que, ao ser acusado de um crime, tem a sua situação acompanhada pelo próprio ministro da Justiça, que, aliás, é o chefão da PF?
No entanto, tudo piorou ainda mais, após um vídeo que circulou nas redes sociais.
O vídeo mostrava o bate-papo entre um agente da PF e o ex-deputado, para negociar a rendição dele.
Um bate-papo com direito a cafezinho, críticas à atuação dos policiais recebidos à bala, e até a risadas.
Para completar, nem algemado Jefferson foi.
Tais imagens desmentiram a afirmação de Bolsonaro, de que o seu amigo recebera o mesmo tratamento dado aos bandidos, que atiram em policiais.
Além disso, a “negociação” se estendeu por horas.
E enquanto isso, lideranças bolsonaristas defendiam Jefferson, nas redes sociais, apontando-o como vítima de uma “prisão ilegal”.
O deputado federal Daniel Silveira, que foi indultado por Bolsonaro, após ser condenado pelo STF a quase 10 anos de prisão, chegou a pedir que os bolsonaristas ajudassem o ex-deputado a resistir à prisão.
Mas a tentativa de rebelião Tabajara foi cedendo, conforme crescia a indignação nas redes sociais, na imprensa, e até entre aliados do presidente, no Congresso Nacional.
E acabou de vez, no início da noite de domingo, quando o ministro Alexandre de Moraes emitiu uma nova ordem de prisão contra Jefferson.
Nela, Alexandre ordenou que ele fosse preso em flagrante, por tentativa de homicídio, e proibiu que concedesse entrevistas, antes, durante ou depois da prisão.
Além disso, o ministro observou (com a sutileza de um elefante de patins em telhado de zinco) que a intervenção de qualquer autoridade, para impedir ou retardar aquela prisão, seria considerada delito de prevaricação, que dá até um ano de cadeia: https://www.conjur.com.br/2022-out-23/roberto-jefferson-preso-determinacao-alexandre
Não fosse isso, talvez a baderna tivesse se estendido, como acreditam alguns, até a última terça-feira (25), quando entrou em vigor a proibição da prisão de eleitores.
Isso permitiria que Jefferson permanecesse naquela casa, compartilhando vídeos na internet, concedendo entrevistas, apresentando-se como vítima, xingando o STF, o TSE e as oposições, para incitar outros bolsonaristas a atos terroristas, criar o caos e forçar o adiamento das eleições.
A repercussão negativa do episódio, às vésperas do segundo turno, levou Bolsonaro a tentar se livrar do amigo-de-fé-irmão-camarada, até fazendo de conta que nunca foram tão chegados assim.
O problema é que são muitas as aparências para negar, e as evidências, para disfarçar.
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Veja as ligações do bolsonarismo ao neonazismo: https://pererecadavizinha.blogspot.com/2022/10/bolsonaro-tem-ligacoes-com-neonazistas.html
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