segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A mobilização dos jornalistas, a falta de visão dos patrões e os ganhos da sociedade paraense com esse movimento.




Bem vistas as coisas, não teria muitos motivos pra me meter na mobilização dos jornalistas paraenses.

Até para obter a minha filiação ao Sindicato, tive de ameaçar processar essa entidade, inclusive, por danos morais e materiais.

É que diretores do Sindicato relutavam em me “conceder” a filiação, já que não possuo diploma de Jornalismo, embora possua mais de 33 anos de profissão, registro na DRT e exista decisão do STF contrária à exigência desse diploma para o exercício profissional.

Também nunca recebi qualquer solidariedade do Sindicato dos Jornalistas, nem mesmo quando este blog foi vítima de vergonhosa censura judicial – um atentado não contra mim, mas contra a Liberdade de Informação.

Além disso, em 2007, uma diretora do Sindicato chegou ao cúmulo de telefonar para o órgão público onde eu trabalhava, para “informar” que eu não possuía registro profissional, e assim obter a minha exoneração.

Entendo, porém, que tudo isso é resultado de um corporativismo exacerbado, que além de revelar profunda despolitização só serve é para dividir a categoria.

É o tipo de visão que interessa ao sistema, porque contribui para que o jornalista não se veja como aquilo que realmente é: trabalhador, operário da Informação – e, portanto, solidário aos trabalhadores de todo o mundo.

E eu espero, sinceramente, que este movimento ajude na politização dos jornalistas: que os ganhos não sejam apenas econômicos, mas, sobretudo, políticos, para que a categoria possa compreender, enfim, o importante papel que possui na luta pela transformação social.

Quero, portanto, manifestar a minha solidariedade aos jornalistas paraenses, da mesma forma que tenho sido solidária a todos os movimentos sociais, aqui e no Facebook.

E quero, também, dividir algumas considerações sobre esse importante movimento. 


I 


No final da década de 1980 (1987, salvo engano), os jornalistas paraenses realizamos um movimento histórico: uma greve geral que conseguiu praticamente parar as redações dos principais veículos de comunicação de Belém.

Organizamos piquetes nas portas das empresas; fomos pras ruas, pros ônibus, pedir que a população não comprasse os jornais (eles continuaram circulando com a ajuda de “fura-greves” e das agências de notícias).

Não me lembro direito, mas creio que obtivemos o maior ganho da Região Norte, entre várias categorias de trabalhadores.

E já naquela época, os salários dos jornalistas eram uma indecência, uma ofensa, e as condições de trabalho, simplesmente, inacreditáveis.

Saíamos vários repórteres (3,4) dentro de uma Kombi caindo aos pedaços.

Aí, esse carro deixava cada repórter  no local onde seria realizada a entrevista.

Mais tarde, ele passava pegando todo mundo de volta, pra deixar novamente em outros locais.

Porque, caro leitor, cada um de nós saía com três, quatro “pautas”, reportagens pra fazer. Sobre os mais diferentes assuntos: da limpeza do Ver-o-Peso aos índices inflacionários. E isso, embora cada pauta merecesse bem mais do que uma simples entrevista.

Além disso, quando enfim voltávamos para a redação do jornal, para escrever essas reportagens, tínhamos de disputar à tapa as poucas máquinas de escrever existentes – e todas igualmente caindo aos pedaços.

Ainda não havia internet e quando precisávamos complementar uma informação, tínhamos de recorrer aos telefones da redação – na verdade,  3 ou 4 aparelhos, só 1 com linha direta.

Assim, a maioria das chamadas tinha de passar pela telefonista - e a espera era longa.

É claro que tudo isso nos deixava estressados, cansados.

Até porque tínhamos de correr contra o tempo, para entregar as matérias ao editor, que ficava nos pressionando porque também tinha um horário a cumprir.

Como você já deve ter deduzido, tudo isso acabava por se refletir na qualidade do que produzíamos. Simplesmente, porque era desumano. 

Aliás, é desumano. 

Por incrível que pareça, pouca coisa mudou. 

Saíram as máquinas de escrever, mas entraram computadores também caindo aos pedaços e disputados à tapa. 

Vários repórteres continuam saindo no mesmo veículo e com uma quantidade absurda de pautas. 

E linha direta de telefone, nas redações, continua a ser uma raridade. 

Ou seja: persistem as deficiências que interferem na qualidade da notícia produzida.

Por isso, as condições de trabalho dos jornalistas interessam, sim, a todos os cidadãos.

As pessoas costumam criticar notícias incorretas ou mal escritas, que veem todos os dias, nos grandes jornais.

Mas não conseguem perceber que essa quantidade de erros seria infinitamente menor se os jornalistas tivessem melhores condições de trabalho.

E não apenas melhores condições de trabalho: salários realmente dignos, para poderem se dedicar a um só veículo de comunicação, em vez de terem de se dividir entre dois, três empregos.

Assim, poderiam participar bem  mais da confecção do jornal; meter a colher, dar piteco.

Debater com os colegas, com os editores, os cortes, as alterações muitas vezes feitas nessas matérias.

E até explorar melhor as nuances de cada pauta, aprofundando a abordagem.

Ou seja: o grande beneficiário dessa luta dos jornalistas é você, leitor.

É por você, leitor, que os jornalistas paraenses estão, no fundo, a lutar. 


II 

Essa profissão nos consome; consome a nossa juventude, o melhor de nós.

Nos reduz a simples máquinas de processar informação, em tempo integral.

Nos afasta daqueles a quem amamos e até nos rouba o tempo precioso do sorvete, do passeio na praça, com os nossos filhos...

Duvido que exista um só jornalista que já não tenha deixado de ouvir algo importante que o filho lhe dizia, porque estava “alucinado” pra terminar uma reportagem.

Duvido que exista um só jornalista que já não tenha deixado de comparecer a uma comemoração importante, pra um amigo, pra um familiar, simplesmente porque tinha de terminar aquela bendita reportagem.

Duvido que exista um só jornalista que não tenha largado tudo o que estava a fazer, pra atender a um chamado da redação.

Dedicação, portanto, não nos falta.

E muito menos amor a essa profissão.

Embora, é verdade, esse amor nos pareça, por vezes, uma brincadeira de mau gosto de algum espírito de porco, na outra encarnação.

Nascemos meio masoquistas, enlouquecidos por algo que, na verdade, vai é acabando com a gente aos poucos.

Cheios de tesão por uma coisa que nem corpórea é: a informação.

E é esse amor que muitas vezes nos leva a aceitar qualquer coisa pra exercer, ou pra continuar a exercer, essa profissão.

Mas já passa da hora de nós, os jornalistas, começarmos a nos ver, principalmente, como trabalhadores.

Trabalhadores que não podem aceitar qualquer mixaria por sua força de trabalho.

Que não podem se submeter a tudo e mais alguma coisa.

Que não podem simplesmente calar diante do assédio moral, sexual; da censura à reportagem que custou tanto suor e que é tão importante para a sociedade.

O jornalista precisa aprender a se respeitar.

Até porque essa é a condição primeira para que os outros nos respeitem também. 


III 

Não adianta querer modernizar jornal, tornar jornal o maior, o melhor, se as condições de trabalho e os salários dos jornalistas permanecerem na Idade Média.

Investir em modernização é também investir na qualidade da mão de obra.

No entanto, isso não se resume a realizar cursos de qualificação ou de atualização profissional.

É claro que essa é uma atitude louvável.

Mas o melhor investimento que se pode fazer em mão de obra é um salário digno, decente, que permita ao trabalhador um mínimo de tranquilidade na hora de produzir.

É ilusão achar que quatro ou cinco repórteres especiais muito bem pagos resolvem o problema de qualidade de um jornal.

Pelo contrário: se a distância entre a base e o topo for grande demais, você acaba é por colocar em risco um dos maiores motores de crescimento de qualquer empresa: o espírito de equipe.

Repórteres especiais, sozinhos, jamais conseguirão “carregar um jornal nas costas”.

Quem faz a maior parte do trabalho é mesmo a redação; é ela, ao fim e ao cabo, a verdadeira linha de frente de um jornal.

Por isso, lamento que os empresários da comunicação do Pará não consigam enxergar algo tão simples: que é preciso investir nos salários e nas  condições de trabalho das redações.

Porque isso gera lucro - e sob vários aspectos.

Em primeiro lugar, é marketing gratuito.

Trabalhadores satisfeitos tendem a falar bem das empresas onde trabalham. 

E isso ajuda a captar a simpatia dos formadores de opinião, das pessoas mais bem informadas, trazendo dividendos, inclusive, no aspecto político.

Além disso, trabalhadores satisfeitos tendem a permanecer mais anos em tais empresas, o que se traduz em acúmulo de fontes de informação e de notícias exclusivas.

Trabalhadores satisfeitos também significam melhor qualidade dos textos; menos gasto de tempo na edição e, portanto, maior agilidade produtiva. 

Significam, ainda, menos dores de cabeça para as empresas, devido a erros na confecção desses textos, que podem até ensejar processos judiciais.

E mais: acabam até mesmo por evitar desperdício de dinheiro.

Sim, porque de nada adianta investir em campanhas de marketing para badalar a compra daquele maquinário maravilhoso, ou a obtenção de um importante prêmio editorial, se de repente a sociedade descobre que os trabalhadores da empresa recebem salários aviltantes e são submetidos a condições de trabalho, simplesmente, pavorosas.

De repente, e não mais que de repente, todo o marketing vai por água abaixo – simplesmente, vira pó. Ainda mais nesses tempos de redes sociais...

É preciso, portanto, ultrapassar essa mentalidade do arco da velha, que enxerga o lucro a partir apenas da superexploração e que inclui até mesmo intimidações aos trabalhadores.

Esse tipo de tática (a intimidação) nunca deu resultado diante de categorias extremamente insatisfeitas e mobilizadas. 

E muito menos dará resultado agora, nestes novos tempos da comunicação.

É isso aí.

.................

Pros coleguinhas...

Um comentário:

Anônimo disse...

O Tribunal de Contas dos Municípios - TCM entrou na jogada da terceirização em detrimento dos concursados que esperam ser chamados há 3 anos. No dia 17 de setembro o Diário Oficial publicou o aditamento de um contrato que existe desde 2009, botando terceirizados para fazerem o trabalho de controle externo das prefeituras, sem independência e técnica nenhuma. Olha aí:

TERMO ADITIVO A CONTRATO
NÚMERO DE PUBLICAÇÃO: 584466
TERMO ADITIVO: 4
Data de Assinatura: 01/09/2013
Valor: 505.227,05
Vigência: 01/09/2013 a 31/08/2014
Classificação do Objeto: Outros
Justificativa: Artigo 57, inciso II da Lei nº 8.666/93 e suas
alterações.
Contrato: 2011-006
Exercício: 2013
Orçamento:
Programa de Trabalho Natureza da Despesa Fonte do Recurso
Origem do Recurso
01122129745340000 339039 0101000000
Estadual
01122129745340000 339039 0101000000
Estadual
Contratado: MARCO COELHO SERVIÇOS LTDA-EPP
Endereço: Av Tavares Bastos, Bairro: Marambaia, 808
CEP. 66615-005 - Belém/PA
Telefone: 9132231227
Ordenador: CONSELHEIRO PRESIDENTE JOSÉ CARLOS ARAÚJO

O Ministério Público sabe disso e também do excesso de comissionados na área de controle externo e NADA FAZ, talvez porque o irmão do procurador Nelson Medrado seja diretor adjunto de lá.

Essa empresa “Marco Coelho Comércio e Serviços EPP” , empresa de pequeno porte que abocanhou, no Governo Petista, um contrato no valor total de R$ 25.913.540,16, que vigorou de 13/07/2010 a 12/07/2011. O objeto do contrato: “fornecimento” de agentes de portaria. É importante relembrar que essa empresa caiu de paraquedas na SEDUC, em 2010, por meio de uma dispensa de licitação que deu origem a um contrato no valor de R$ 764.701,87 mensais.
Mudou o Governo e a Marco Coelho-EPP continua firme e forte faturando alto: Em 2011, recebeu da SEDUC o montante de aproximadamente R$ 27.500.000,00 ( Vinte e sete milhões e quinhentos mil reais)!
Para 2012 a festa vai ser ainda mais animada: Foi celebrado Termo aditivo ao contrato aumentando o contrato para R$ 33.124.129,92. Agora olhem a vigência do contrato: De 16/02/2012 a 12/07/2012. Ou seja, em 5 meses a empresa vai faturar esse valor só “fornecendo” agentes de portaria. (confirmem abaixo no extrato de contrato publicado no DOEPA).

TERMO ADITIVO A CONTRATO
NÚMERO DE PUBLICAÇÃO: 344332
Termo Aditivo: 2
Data de Assinatura: 16/02/2012
Valor: 33.124.129,92
Vigência: 16/02/2012 a 12/07/2012
Classifi cação do Objeto: Outros
Justifi cativa: visando alterar os itens 2.1 e 2.2 da cláusula
segunda e termo de referência do contrato original, considerando
o reequilíbrio econômico fi nanceiro.
Contrato: 110
Exercício: 2010
Orçamento:
Programa de Trabalho Natureza da Despesa Fonte do Recurso
Origem do Recurso
12122129745340000 339039 0102000000 Estadual
12361134949630000 339039 0102000000 Estadual
12362134949640000 339039 0102000000 Estadual
Contratado: Marcos Coelho Serviços Ltda EPP
Endereço: Tv Peixe-Boi, Bairro: Marambaia, 95
CEP. 66620-180 - Belém/PA
Telefone: 9132231227
Ordenador: CLAUDIO CAVALCANTI RIBEIRO

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