Quero agradecer, do fundo do coração, as manifestações de solidariedade de amigos e leitores, em decorrência do falecimento de minha irmã.
Peço desculpas se não agradeci antes: era pra ter feito isso na semana passada, como primeira postagem de retorno do blog. No entanto, essa questão que envolve o deputado federal Arnaldo Jordy acabou me atropelando.
Também peço que vocês me perdoem pelo fato de o blog ainda permanecer em ritmo lento. O problema é que estou com uma série de trabalhos para entregar e que atrasaram muito devido a uma série de questões pessoais.
Mas vou, sim, continuar com este blog. Não que isso me traga a satisfação que antes trazia. Mas porque tenho consciência de que a Perereca da Vizinha é um dos poucos espaços que ainda resiste ao silêncio imposto pelo Governo do Estado a toda a imprensa paraense.
E eu até pensava um dia desses: vejam só a que ponto chegamos!... Estamos quase que dependentes de um blog pequeno, e ainda por cima chamado A Perereca da Vizinha, pra termos um conhecimento mínimo de algumas das irregularidades cometidas pelo Governo do Estado...
Que infeliz é este nosso Pará, não é mesmo?
Um Pará onde a informação não é vista como um bem coletivo, que é fundamental para o amadurecimento democrático da sociedade, a fim de que ela possa fiscalizar cada vez mais e melhor os seus próprios interesses, que são, enfim, os interesses de todos nós.
Não: aqui a informação é vista como coisa nociva, que tem de ser escondida, sonegada, trapaceada, para que possam subtrair “com mais tranquilidade” as enormes riquezas que possuímos...
Pior: a luta que essas pessoas travam contra a informação é um autêntico vale-tudo, “sem lei nem rei”; sem ética, sem pudor, sem nada.
E a impressão que dá é que, se pudessem, queimariam vivos, salgariam o terreno e amaldiçoariam até a quarta geração a todos aqueles que lhes fazem frente...
Confesso que essa tem sido a batalha mais difícil que já travei nestes 52 anos de vida, 32 deles como jornalista.
Lutar para dar um mínimo de transparência a um poder que se baseia na corrupção das pessoas e das instituições é tarefa bem mais complicada do que alguma vez imaginei.
Por isso, não foram poucas as vezes que senti vontade de simplesmente ir-me embora, tratar da minha vida, ganhar algum dinheiro.
Mas também a mim, como já disse aqui, esse silêncio tenebroso, ensurdecedor, atordoa profundamente.
De sorte que a vida continua. E bola pra frente, não é mesmo?
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Tita
Minha irmã foi uma vencedora, em tudo filha da dona Zenaide, a primeira dama de Anajás...
Tita sobreviveu 22 anos ao câncer, essa doença terrível que por vezes mata em seis meses, um ano, dois.
A primeira vez que soube que estava com câncer, na tiroide, um câncer agressivo, com mais de uma dezena de tumores, foi em 1988 ou 1989.
O diagnóstico (quando, enfim, encontrou um médico que lhe disse acertadamente a razão do inexplicável cansaço que sentia) foi desolador: ela teria três meses de vida, se não se operasse de urgência.
E o prognóstico, mesmo com a cirurgia, não era lá grande coisa: mais uns cinco anos de vida.
Mas Tita tinha muita Fé em Deus e enorme força.
Contra todos os prognósticos sobreviveu - e sobreviveu sem manifestação de câncer até há quatro anos, quando a doença voltou, talvez até mais agressiva, resultado, segundo os médicos, de uma célula doente que migrou da tiroide para um osso da perna.
Foram vários tratamentos, caros e complicados, e uma nova cirurgia, agora para a retirada do osso da perna e colocação de uma prótese.
No entanto, minha irmã nunca desanimou, nem se queixou de nada.
E só a senti meio abalada umas três semanas antes de seu falecimento, porque teria de se submeter a uma longa internação hospitalar, e os exames, para pesquisa medular, seriam cada vez mais tenebrosos.
O problema foi uma súbita e acelerada queda de glóbulos brancos e plaquetas, o que levou, inclusive, à suspeita de leucemia e ao medo de que viesse a contrair alguma doença oportunista – daí a internação.
E no Hospital Adventista de Belém, talvez o mais caro desta cidade, Tita recebeu um tratamento que faria até o SUS corar de vergonha.
Conforme ela mesma me contou, apesar de internada há dias não recebia qualquer medicamento para conter o colapso de seu sistema imunológico.
O hospital nem mesmo marcava o exame que permitiria saber o porquê dessa queda de glóbulos brancos e plaquetas: aparentemente, havia uma espécie de “fila de espera”...
Só quando começaram a aparecer manchas arroxeadas, hematomas, no corpo de minha irmã, e depois que ela escreveu uma carta a um diretor do Hospital Belém, é que teriam resolvido lhe administrar plaquetas.
Mas, ao que parece, já era tarde demais: na sexta-feira, deram-lhe alta e, no dia seguinte, ela voltou ao hospital em estado ainda mais grave.
No domingo de manhã, 22 de abril, foi levada ao CTI com um quadro que seria de pneumonia e pressão alta.
Uma hora depois, veio a falecer de parada cardíaca, em pleno CTI do Hospital Adventista de Belém.
E só na segunda-feira, no dia de seu sepultamento, é que o hospital ligou para a casa dela, para “marcar o exame” que teria permitido saber a razão do colapso de seu sistema imunológico...
Quer dizer, minha irmã, que resistiu bravamente ao câncer durante 22 anos, não resistiu a esta verdade tenebrosa: cada vez mais, para médicos e hospitais, a vida e a saúde humanas não passam de simples mercadorias.
Dela restou a imensa saudade, a falta que faz a todos aqueles que conviveram com o seu espírito luminoso.
É isso aí.
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Pra vocês! Pra todos nós!
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