Minha querida Rose Gomes:
“Nega”, de certeza que não estou zangada com você.
É preciso muito para me zangar com alguém. Mais ainda com uma pessoa como você, de quem eu gosto muito, aliás.
Já tinha até dito isso a algumas colegas, amigas comuns, pra quem você ligou, que iria colocar alguma coisa neste blog, acerca de todo esse lamentável episódio da Fadesp.
Perdoe-me se não o fiz mais cedo: é que tenho andado meio atarantada a ver o que vou fazer da minha vida.
Não, Rose, não fiquei “desempregada” como você pensou, aflita, com medo de ter me prejudicado a esse ponto.
Graças a Deus, nunca fiquei “desempregada”: quando saio de um lugar, tenho é de ficar remoendo, numa angústia infinita, o que vou fazer afinal; qual a próxima empreitada em que vou me meter.
Feliz ou infelizmente, como já te disse uma amiga nossa, quando saio de um emprego tenho à frente cinco ou seis propostas sobre as quais preciso é meditar.
E, tudo isso, não deixa de ser espécie de “consumição”.
Quer dizer: tenho de pesar os prós e contras do que vou fazer – e logo eu, com essa indecisão enorme, que todo mundo que me conhece sabe bem.
Mas, certamente, não será nada além diante da maioria de nós, que sequer pode ficar se consumindo em relação a “escolhas” desse tipo.
Eu sei, querida, que a barra pesa!...
Daí que nem ouso me tomar, me oferecer para exemplo do que quer que seja, na maioria das vezes.
Só quando se trata de cuidado com o trabalho, porque eu sei que os “coleguinhas” gostam muitíssimo é de sombra e água fresca...
Mas, de resto, querida, não faço isso: sei que alcancei um patamar nesta profissão que não dá simplesmente para dizer: “vem atrás de mim!”.
Até porque tenho uma “retaguarda” de origem, social, que alguns de nós, os melhores de nós (como é o seu caso, querida) simplesmente não têm.
Os melhores dentre os nossos colegas jornalistas vieram, ainda, de lá da Terra Firme e da Pratinha.
E por isso mesmo, “Nega”, seria quase que um escárnio se eu esperasse que tivessem a mesma possibilidade de “jogo”, de movimentação que eu tenho...
Dito isso, minha amiga, minha querida amiga, vamos pensar um pouquinho no que você fez.
Não lhe tenho mal, não penso e nem jamais pensarei que você é mau caráter.
Quem de te conhece, Rose Gomes, sabe que você é uma pessoa linda, bacana à beça!
Uma “negona”, daquelas “negonas” que a gente simplesmente ama, precisa conhecer!
Mas, querida, a verdade é que você meteu o pé na jaca!...
Não adianta, querida: você acionou o Lúcio, a Sílvia, a Hanny – e tantas outras pessoas que nós duas sabemos que são pra lá de bacanas.
Mas, querida, você não vai conseguir me convencer de que não fez o que fez.
E por quê?
Em primeiro lugar, querida, porque, no meio de uma porrada, eu vou preferir confiar nas informações que recebi ANTES da “declaração de guerra”; ANTES que as baterias anti-aéreas estivessem a postos, pra modo de dizer.
Ora, ANTES desse episódio que resultou na minha saída de O Liberal, qual era a informação que eu tinha?
Respondo: a de que a jornalista Rose Gomes ligara para o Ronaldo Maiorana, porque “queria ser ouvida”. (uma informação, aliás, confirmada e “reconfirmada” mesmo depois dessa confusão, diga-se de passagem...)
E eu te digo uma coisa, querida: até estranhei! Porque, como você tem o meu telefone e já tomou comigo nem sei quantas cervejas, eu jamais esperaria que você ligasse para o dono do jornal, ao invés de ligar diretamente para mim, né mermo?
Nem que fosse para dizer (e eu peço licença aos leitores): ó sua fodida, o que é que você tá escrevendo aí?
Porque você, querida, como bem poucas pessoas, tem a possibilidade de falar comigo nos termos que quiser, sem que eu me sinta ofendida.
Simplesmente, porque eu já conheço tanto você que, se você me mandasse pro inferno, pelo telefone, eu saberia distinguir, mesmo que à distância, a intenção disso.
E para mim, Rose, mais que as palavras, importam bem mais as intenções...
Lembro que você até riu, ao telefone, na sexta-feira – como eu disse, aliás, a uma amiga. Mas riu – como eu disse a ela - não com má intenção, mas, para tentar me acalmar, para me fazer “brincar”. Porque eu estava furiosa pelo fato de você ter ligado para o dono do jornal e não para mim.
Que é que isso, Rose?
Nesta categoria fumada, escrota e cheia de “mumunhas”, somos, todos, “bona gente”, né mermo?
Tudo anjo, né mermo?...
Até para sobreviver, né mermo?...
Mas, pera lá!...
Tem um limite, um código não escrito que diz o seguinte, cabocla: patrão pra lá, a gente pra cá!...
Logo, a gente resolve entre a gente as nossas “cagadas”.
E, bem mais que isso, Rose: informação, notícia, é o nosso objetivo primeiro. E ponto.
Não é pra cá chamado o editor, o chefe de reportagem, o editor-chefe e, muito menos – e ponha muito menos nisso – o dono do jornal!
Essa coisa de ligar pro dono do jornal é lamentável, Rose!
Sei que tu não fizeste isso por mal. Sei disso!
Mas, querida, a gente, nós todos, jornalistas, temos de discutir isso, porque não é uma coisa “privada” – em verdade, como se trata de notícia veiculada por um jornal, diz respeito a todos nós (e não só a nós, “catiguria”, mas, à sociedade como um todo).
É cruel, isso, Rose!...
Por mais que eu queira acreditar em ti, as evidências, os indícios, os fatos depõem contra ti!...
E o que eu posso pensar, como sei que és uma pessoa linda, bacana, é que não fizeste isso por mal. Mas, naquela ânsia de “resolver” um problema do assessorado.
Compreendo isso; não estou nem com raiva, nem sentida em relação a ti – talvez, é verdade, um pouquinho decepcionada.
Como disse a uma amiga, assessorei a Funcap quando a instituição só levava porrada nas páginas policiais.
Fiquei na Funcap apenas um ano – mas, tirei a Funcap das porradas das páginas policiais para elogios enormes no jornal da Globo, porra!
E sabes quantas vezes, querida, liguei para o dono de um jornal ou, ao menos, para um editor, para tentar “derrubar” matéria?
Nenhuma, querida. Nenhuma!
Podes perguntar por aí!
Lutava era para emplacar uma pauta. Ah, aí, sim, eu virava bicho!...
Ligava para o repórter, o editor, o chefe de reportagem, o pauteiro, a tentar “vender” o meu material; o material da instituição.
São as regras do jogo, Rose: a gente conversa “de pé de ouvido” com o colega; faz com que ache a matéria tão bacana como a gente acha; gasta “cuspe” e convence, “Nega”!...
E eu te digo, querida: muito mais respeito têm pela gente os nossos “coleguinhas” quando agimos assim, apenas na base da “gastação de cuspe”...
Devo a ti, querida, essa reparação: apesar do que fizeste – e nós duas sabemos que fizeste, tanto assim que não ligaste para mim, para “aplicar” essa inocência toda... – essa reparação de saber que não és uma pessoa ruim, mau caráter, nem nada parecido.
És, em verdade, uma pessoa bacana que, simplesmente, meteu o pé na jaca, como todos nós metemos, todos os dias, aliás.
E tu e os “coleguinhas” se surpreenderiam se eu me pusesse cá a falar das vezes em que já meti o pé na jaca, como todos nós – todos! – fazemos todos os dias.
Acho que nós, os jornalistas, precisamos é discutir tudo isso.
Mas, tenha certeza, querida, minha “Negona”, se alguém ousar te amarrar na fogueira, eu vou estar na praça – e não apenas para apagar o fósforo.
Mas, para gritar: se alguém quiser queimar a “Nega Rose”, que queime primeiro a mim!...
FUUUUIIIIIIIII!!!!!!!!
Abaixo reproduzo a mensagem que a minha querida amiga, a “Negona-sem-blog”, me enviou e a algumas pessoas:
“Prezada Ana Célia Pinheiro,
Estou na idade de preservar os amigos e não de perdê-los.
Por isso decidi lhe escrever e esclarecer o que acredito que você no íntimo já saiba: em nenhum momento escrevi e muito menos acrescentei parágrafos na sua matéria.
Não o fiz em primeiro lugar porque a ética deriva do caráter e não sou mau-caráter, você sabe disso.
Quando falei com você não disse que iria mandar nada escrito para o jornal.
Em segundo, porque não tenho esse poder - e nem que tivesse o faria pelo primeiro motivo exposto – junto ao grupo ORM.
Atuei como assessora de imprensa tão-somente. E fui até onde minha consciência permitiu.
Pela minha história familiar, profissional e acadêmica, não poderia agir da forma presumida por você, em seu blog, sob pena de nunca mais dormir.
Da onde a gente se conhece?
Das pautas da vida, não é mesmo?
De mobilizações sindicais por direitos sociais e, particularmente, pelos nossos, os da nossa categoria.
De debates sobre tais direitos, de preocupação com amigos em comum.
Mas, nunca, nunca mesmo de lados diferentes do balcão.
Estou assessora, mas nunca deixei de ser jornalista.
Acredito que dá para conciliar os dois, com sacrifício, é claro.
Sou trabalhadora da área, não empresária.
Formada sim na maior instituição pública de ensino superior da Amazônia, a UFPA; e hoje estou mestranda em uma das maiores particulares da região, a Unama, também com muito sacrifício, diga-se de passagem, pois são parcos o dinheiro e o tempo para isso (isso também você sabe, acredito).
Faço esse investimento, cara Ana, não por causa do simples título, mas porque busco o conhecimento na nossa área.
Porque acredito que, com o apoio dele (conhecimento) posso ajudar na construção de um mundo melhor, frase clichê, mas que traduz o meu sentimento, meu objetivo, o qual não deixa de se assemelhar com o seu quando você escreve uma matéria investigativa.
Talvez minha formação não represente nada pra você.
Mas, acredito que a amizade representa, não é mesmo?
E quando há amizade, há o respeito, há admiração.
Às vezes há equívocos, mas eles devem ser consertados, esclarecidos sempre, em nome do que o jornalismo busca: a verdade.
Como não tenho blog, mandarei com cópias para alguns de nossos muitos amigos.
Um grande abraço, Rose Gomes”