domingo, 31 de dezembro de 2006

A resposta necessária!


Habanera


L'amour est un oiseau rebelle
que nul ne peut apprivoiser
et c'est bien en vain qu'on l'appelle
s'il lui convient de refuser.

Rien n'y fait; menace ou prière,
l'un parle bien, l'autre se tait
et c'est l'autre que je préfère,
il n'a rien dit, mais il me plaît.

L'amour est enfant de Bohême,
il n'a jamais, jamais connu de loi;
si tu ne m'aimes pas, je t'aime;
si je t'aime, prends garde à toi...

L'oiseau que tu croyais surprendre
battit de l'aile et s'envola...
L'amour est loin, tu peux l'attendre
tu ne l'attends plus...il est là...

Tout autour de toi, vite, vite,
il vient, s'en va, puis il revient...

Tu crois le tenir, il t'évite;
tu crois l'éviter, il te tient.

L'amour est enfant de Bohême,
il n'a jamais connu de loi;
si tu ne m'aimes pas, je t'aime;
si je t'aime, prends garde à toi!...

(Bizet)





Não está pronto. Mas é mais ou menos isso.


Tudo o que é vai dar em ti.
Os mundos, os submundos, o universo que há.
A alma que suspira nas sombras.
O começo que se esconde em todo lugar.

E eu retorno aos teus braços, os braços em cruz.
O navegante à procura de um sinal dos céus.

Em ti, as pedras resplandecem.
Transbordam os átomos,
As folhas jamais envelhecem.

O que havia antes de ti?
E depois de ti o que haverá?

Se a voz que escuto é a tua,
se o cheiro que exalo é o teu,
Em que tempo, em que mundo te acharás?

E as muralhas havidas, são muralhas a derrotar.
A estrada que se estende ao peregrino,
O horizonte em que se oculta a face de Deus.

E eu vejo toda a vida como se fosse a tua.

Belém, 30 de dezembro de 2006.

domingo, 24 de dezembro de 2006

Feliz Natal!

Um Natal grandioso a vocês!

Pensei em colocar aqui White Christmas, Adeste Fidelis e tudo o mais. Até Tannhauser pintou, magnífico que é. E o Réquiem, do Mozart, num estilo bem down. O problema é que estou matutando bem mais longe: no suposto em mim. Por isso, leitores de longa data, desculpem se me repito. Mas é que gosto muitíssimo da música abaixo. É a minha cara – talvez, porque me “alembre”, recorrivelmente, de quem sou. Pena que não a compus - foi o Chico, como sempre. De qualquer forma, um feliz Natal a todos vocês! E até a próxima função!!!

Na Carreira

Pintar, vestir
Virar uma aguardente
Para a próxima função
Rezar, cuspir
Surgir repentinamente
Na frente do telão
Mais um dia, mais uma cidade
Pra se apaixonar
Querer casar
Pedir a mão

Saltar, sair
Partir pé ante pé
Antes do povo despertar
Pular, zunir
Como um furtivo amante
Antes do dia clarear
Apagar as pistas de que um dia
Ali já foi feliz
Criar raiz
E se arrancar

Hora de ir embora
Quando o corpo quer ficar
Toda alma de artista quer partir
Arte de deixar algum lugar
Quando não se tem pra onde ir

Chegar, sorrir
Mentir feito um mascate
Quando desce na estação
Parar, ouvir
Sentir que tatibitati
Que bate o coração
Mais um dia, mais uma cidade
Para enlouquecer
O bem-querer
O turbilhão

Bocas, quantas bocas
A cidade vai abrir
Pruma alma de artista se entregar
Palmas pro artista confundir
Pernas pro artista tropeçar

Voar, fugir
Como o rei dos ciganos
Quando junta os cobres seus
Chorar, ganir
Como o mais pobre dos pobres
Dos pobres dos plebeus
Ir deixando a pele em cada palco
E não olhar pra trás
E nem jamais
Jamais dizer
Adeus

(Chico Buarque e Edu Lobo)

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Festa V

Festa no meu Apê V

Abrem-se as cortinas. No salão, estão os convidados – todos em cadeiras de rodas, inclusive a Perereca. Olham para o topo da escada (um hall, uns seis degraus acima). Lá se encontram a Beijoca (em cadeira de rodas), o lorde Sudão (vestido a Obi-Wan Kenobi) e o lorde Ki-Nem (de barba e óculos trotsquistas, mas vestido a Luke Skywalker). O DJ ataca “Guerra nas Estrelas”. De ambos os lados da escada, um coral vestido de anjos entoa:

_“Livre! Agora sou livre! Agora sou livre! Livre eu sou! Livre! Agora sou livre! Agora sou livre! Livre eu sou!”.

Súbito, aparece a correspondente, no meio do salão, que interrompe a entrada triunfal.

_Aparem aí, apodem pará, que vocês não vão entrá agora!
_Ué, ficou maluca, cumadizinha? Como é que você quer expulsar a Beijoca, o lorde Sudão e o lorde Ki-Nem? Tá querendo me ver na rua da amargura?
_Que nada, comadre! Aconfie no meu taco! (virando-se e caminhando na direção da escadaria). Avortem, avortem, que vocês só vão entrar no próximo ato! Até! Até! E alevem os anjos junto! E não empurre a cadeira com muita força, viu, lorde Sudão, que a Beijoca apode caí! Comadre, você nem imagina o que aconteceu!!!
_Imagino sim, animal! Acabo de perder o blog, o emprego e vou vender pupunha no Ver o Peso.
_Mas aooooonnnde! Você é que anda muito estressada, comadre!... Deve de ser a tal da menopausa, ué!...
_Menopausa é o *&^@#+%!
_Credo, comadre! Que palavrões tão feios você tem!
_É pra melhor te xingar, animal!
_Ô comadre, se acalme! Veja pelo lado positivo: assim, a gente acria mais suspense pros leitores!
_ E eu sou algum Conan Doyle, agora? Égua, só pode ser carma!!! Só pode, só pode!...
_Ô comadre, sabia que você fica muito bem de cadeira de rodas?
_(...)
_É sério, comadre! É a nova moda no Brejo! Esgotou tudo: não tem mais imobilizadô, cadeira, andadô...Muleta, então, nem se fala! É todo mundo querendo, comadre! E o conde de Eldorado licitando, licitando...Diz que já tem 20 cadeiras pra cada moradô do Brejo! Só o Barão é que continua, a bem dizê, “de pés”... Pra modo de empurrá a cadeira, quando o lorde Sudão cansá...
_É ‘mermo’!... Eu bem que vi o Barão, todo amável, acenando pra Beijoca...
_É um querubim ungido, comadre!...A imagem do desprendimento...
_Um São Francisco de Assis, perseguido pelas pombas do destino...
_Um esmoléu, comadre, um esmoléu...
_Acho até, cumadizinha, que a gente devia mandar construir uma estátua à humildade do Barão!...
_Com um dispositivo pra fazê: arru, arru...
_O Barão de Cadeados podia ser o grande arquiteto!...
_Vixe Maria, comadre! Aí vai ser o Gold-Kong. Aleva todo o orçamento do Brejo! Até tambor vai ser superfaturado!... E ainda sai correndo no meio da multidão!...
_Podia era dançar um xote, né, cumadizinha?
_Que nada, comadre, você ta é por fora! É valsa. É “Artist’s Life”, regada a Dom Perignon...
_Puxa! E eu pensando em açaí com jabá!...
_É porque você é pobre, comadre! E, pra mais, intelectual! Com uma adoração por esse tal de povo, de deixá urubu do Ver-o-Peso de pena em pé!...Se amire na Maria Antonieta, comadre! A gente aperde a cabeça, mas não aperde a pose!...
_Panis et circensis!
_Tá vendo? Lá vem você com língua morta! O negócio é o biquinho! Arrepita comigo: l’amour, toujour, abat-jour, abrecour!
_Ué, cumadizinha, você também fala francês?
_Oui! Aprendi com o Barão: Pompadú? Zulu. Manjei toa bocú!...
_Isso é João Bosco e Aldir Blanc, animal!
_Bem que adesconfiei que já tinha ouvido isso em algum lado!...
_Mas o que é que você ia me contar, que até expulsou a Beijoca e o lorde Sudão daqui?
_Pois, comadre, e não é que eu já ia me esquecendo...Pois não é que aprenderam o Príncipe Clean!...
_Não brinque, cumadizinha!!!...Mas por que, já?
_Transtorno Obsessivo Compulsivo, comadre!...
_Ué, como assim?
_Pois não é, comadre? O ômi não podia ver escola, que queria alimpá! E era rua, remédio, papel, o que viesse o Príncipe traçava. Aí o Sindicato das Mãos Limpas e da Cara Lavada deu queixa, ué!...
_Mas só por que o coitado sofria, a bem dizer, de excesso de limpeza?
_Mas, comadre, assim não sobra nada pra ninguém! Já pensou no resto dos Mãos Limpas? É concorrência desleal, comadre! O negócio é solidarinosc: migalhas para todos!
_E quando é que ele vai ser solto?
_Ah, já assortaro o ômi, comadre. To até aqui com uma foto dele, na Gazeta de Arribação. Olhe só!
_Égua, mas ele ta muito puto!...
_E com razão, comadre, e com razão!
_É... Encarar o xilindró deve ser barra!...
_Mas aoooooonde!... Ele não gostou foi da produção!
_Quê?!!!
_Pois, veja só, comadre! O Príncipe ta com uma camiseta rasca, um short brega e uma sandália que parece até a do Barão! Esqueceram de chamá o lorde Balloon, pra modo de ajeitá o Clean! Jogá uma pupurina ali, arranjá um smoking acolá! Assim, como é que vão chamá de colarinho branco? É uma vergonha pra catigoria!
_Puxa, coitado do Clean! O pai deposto e, agora, a prisão. Desse jeito, vai acabar “alimpando” a rua da amargura...
_Mas aooooooooonde! Diz que ele já até comprou uma carrada de aspiradô! Abandonô esse negócio de rodo, vassoura, paninho e balde, num sabe? Agora, é a limpeza do milênio! Com self service e tudo...!
_Ué, quer dizer, então, que a prisão dele vai dar em nada?
_E não é, comadre? Diz que o lorde Sombra, que é sócio dele – os dois são assim, ó, ó – tem a corte inteira na mão. Si abrí a boca, com alicença da palavra, avoa merda pra tudo que é lado!
_E a gente aqui, ralando neste blog, né, cumadizinha?
_Mas eu bem que lhe avisei, comadre: acompre uma basculante! Mas você não quis me ouvi...Ficou, aí, toda cheia de luvas...Mas, num si avexe não, que a gente vai abri uma indústria de água sanitária. Apere aí, que eu vô chamá um especialista. Ô seu Barão, ô seu Barão, achegue aqui!

Na cozinha

(O lorde Balloon está vestido a Darth Vader – tem grandes avisos, no peito e nas costas, com uma setinha indicativa de que é o Balloon. Pode-se colocar até um adesivo na testa da máscara, com a legenda “lorde Balloon” e uma setinha. O lorde Ki-Nem é meio Trotsky, meio Luke Skywalker. Está se empanturrando de salgadinhos, das bandejas colocadas em cima do grande balcão da pia. Toca a música do Darth Vader e o Balloon entra).

_Luke!
_Credo, cruz! Quer dizer, foice! Martelo!...Quem é você?!!!
_(Mas é mesmo um despreparado! Nem infância teve!) Vamos tentar de novo: DJ, BG, por favor!...Luke!
_Camarada! Você é um equivocado! Não sou esse tal de Luke! Eu sou o lorde Ki-Nem!
_Ó exílio, a quanto obrigas!... Mas será que esses neo marqueteiros já nem ensaiar, ensaiam? Cadê o seu script?
_Hem?
_Aquele papelzinho, com as suas falas...
_Ah, espere lá!...Eras, mano, será que eu usei como guardanapo?...Ah, não, ta aqui, ó! Eras, mano, mas ta todo borrado!...
_Por que é que você não tira esses óculos?
_Ah, é!...Eras, ficou bem melhor, mano! Ué, lorde Balloon, é você?
_Não!...Eu sou uma imagem virtual!...
_O que é a natureza!...O que a gente não faz, hoje em dia, com esses efeitos de computador!...Mas, deixa eu ver esse script!...Hum...Hum...Não, não...Aqui diz...Hum, hum...Não, não...Hum, hum...Não, não! Camarada!... Sinto lhe informar, mas não posso encenar isso!...
_E por quê?
_É propaganda de classe, camarada! Busca, claramente, iludir o povo! Quer reduzir a luta de classes a meras ilusões subjetivas, num discurso tipicamente burguês! É claro que esse tal de Darth Vader não passa de um grande capitalista! A máscara e a Estrela da Morte são – claramente - os tentáculos dos grandes conglomerados, nesta fase superior do capitalismo! O Darth Vader é a vanguarda dos interesses do capital! Não sofre qualquer angústia, camarada! E o filho dele não pode ser o herói do proletariado, porque tem interesses de classe - também! Temos é de pregar a revolução entre os operários da Estrela da Morte! Proletários do universo, uni-vos!
_Lorde Ki-Nem, isso está se tornando cansativo. Então, por que não fazemos o seguinte: vamos até um bar e socializamos o whisky. Aí, aproveitamos pra socializar um papo e o tira-gosto. Mas, para isso, temos de terminar, primeiro, a porcaria desta peça! Ou você vai querer que a platéia peça o dinheiro de volta? Aí, camarada, sinto informar, mas a dona Perereca não vai socializar o cachê!...
_E ela faz isso, camarada?
_É claro, camarada! Ela é uma típica representante burguesa! A vanguarda do capitalismo!...
_Então, camarada, pelo bem dos atores proletários e dessa nossa platéia proletária, é melhor socializarmos o script!...
_Com certeza, camarada! Camarada DJ! BG, por favor!... Luke!
_Daddy!

(Os dois se abraçam. As luzes mudam. O DJ ataca “Pai Herói”, do Fábio Junior. O Filho Pródigo canta: Pai, pode ser que daqui a algum tempo/
Haja tempo pra gente ser mais/ Muito mais que dois grandes amigos, pai e filho talvez/ Pai, pode ser que daí você sinta, qualquer coisa entre esses vinte ou trinta/ Longos anos em busca de paz..../Pai, pode crer, eu tô bem eu vou indo, tô tentando vivendo e pedindo/ Com loucura pra você renascer.../ Pai, eu não faço questão de ser tudo, só não quero e não vou ficar mudo/Pra falar de amor pra você/ Pai, me perdoa essa insegurança, é que eu não sou mais aquela criança/Que um dia morrendo de medo, nos teus braços você fez segredo/ Nos teus passos você foi mais eu/ Pai, você foi meu herói meu bandido, hoje é mais muito mais que um amigo/ Nem você nem ninguém tá sozinho, você faz parte desse caminho, que hoje eu sigo em paz !).
_Pai!!!
_Filhinho!!!

(Os dois se abraçam, novamente. As luzes se apagam. De volta à sala. Lá, estão o Inri de Indaial, vestido de drag queen (em pé, no meio), e umas dez crianças em cadeiras de rodas. Eles cantam e dançam (elas nas cadeiras, empurradas por outras pessoas) A Noviça Rebelde:

Let's start at the very beginning
A very good place to start
When you read you begin with A-B-C
When you sing you begin with do-re-mi

Do-re-mi, do-re-mi
The first three notes just happen to be
Do-re-mi, do-re-mi

Do-re-mi-fa-so-la-ti
(Let's see if I can make it easy)

Doe, a deer, a female deer
Ray, a drop of golden sun
Me, a name I call myself
Far, a long, long way to run
Sew, a needle pulling thread
La, a note to follow Sew
Tea, a drink with jam and bread
That will bring us back to Do (oh-oh-oh)

(Os dois juntos; depois só as crianças, como no filme)

Doe, a deer, a female deer
Ray, a drop of golden sun
Me, a name I call myself
Far, a long, long way to run
Sew, a needle pulling thread
La, a note to follow Sew
Tea, a drink with jam and bread
That will bring us back to Do

Do-re-mi-fa-so-la-ti-do
So, Do

(Continua)

sábado, 16 de dezembro de 2006

Nélio

Vamos boicotar
o blog do Barata!

Tenho imensas divergências com o Nélio – e ele sabe disso muito bem. Aliás, nem nos falar, falamos. Mas, garanto o direito de ele se manifestar nessa polêmica.

Por deferência ao Paulo, tentei tolerar o Nélio. Também sei que ele é marido de uma pessoa maravilhosa, a quem prezo muito - a Ritinha (Queridinha!) Mas, o fato, é que nossos espíritos nunca se cruzaram.

Entendo, porém, que o Nélio é um cidadão. Por isso, tem direito líquido e certo a manifestar opiniões. E fico-lhe grata, sinceramente, por escolher este espaço.

Sigamos conversando, debatendo, discutindo democraticamente. Racionalizemos o coração. Só assim, quem sabe, conseguiremos nos ver - e ao mundo – de forma mais equilibrada.

Obrigada, Nélio, pela sua importante participação neste debate. Até porque, a par das nossas divergências, reconheço em você um intelectual de fôlego:


“Tenho boas razões para somar meus comentários aos muitos que estão circulando contra o blog desse rapaz. Tenho bons motivos para engrossar a campanha contra o acesso ao blog do tal barata, o qual nunca visitei. E muito menos, agora, vou visitar.

Nunca fiz nada para esse rapaz; não lembro ter dito uma vírgula. Nem contra, nem a favor ao tal. Mas ele vive também me maltratando, segundo o que me contam, talvez só porque ocupo um cargo público.

Não me importo que me critiquem, mas não posso aceitar a ofensa, a humilhação e as acusações gratuitas.

O blog do tal barata é uma espécie de bate-pau de aluguel para os mais diversos interesses, onde se abrigam, também, desafetos que a gente nem sabe que existem, ou interesses políticos inconfessáveis. Barata (o bicho) presta-se para isso, para conduzir porcaria de um lado para o outro e contaminar tudo. Enfim, trabalho de inseto.

Maltratar o Paulo é mexer comigo também. Mais do que um companheiro de profissão, o Paulo é um irmão com quem firmei, sem palavras, um pacto de saudabilíssima convivência, fundada no que de mais sagrado pode construir uma sólida amizade: a ética.

Mais do que isso, minha relação com o Paulo é de irmão que permite o choro mútuo no ombro. Só a ética e a decência, a humildade e a sabedoria aprendidas na simplicidade da vida permitem isso.

Então, mexer com o Paulo Roberto Ferreira é mexer com o Nélio Palheta também. Principalmente porque no mesmo balde de maldades o tal barata inclui nós dois. Logo, sou a favor de uma campanha para que, pelo menos os jornalistas que se dão respeito, deixem de visitar esse blog.

Nélio Palheta"

In Memoriam

Luto de sanfoneiro



Diz que Gonzagão e Sivuca se encontraram no Céu. Rolou o maior arrasta-pé. Foi anjo dançando xote, baião. Flocos de nuvens, se alevantando ao infinito. Até São Pedro resfolegou no cangote de Santa Maria Carolina. E Jesus, cansado dessa cruz que é o mundo, gritou à sanfona e sanfoneiro: Fiat Forrus!

Aliás, diz que nunca se viu melhor forrozeiro que Jesus. Vai de par em par, dum lado a outro do salão. Ta raquítico. Não de sofrer, mas de dançar...

Bandeira largou de mão a sua Pasárgada, que era, a bem dizer, uma mosca morta. Juntou-se a Pessoa e foram baforar na tabacaria do beco. Aí compraram um retrato de Drumond. Que o retirara da parede, pra modo de pendurar uma sanfona. Oswald disse que era um gesto antropofágico. O Sardinha reclamou: quem entende de antropofagia sou eu, ó pá!...

Deram que faltava mulher. Aí chamaram a Tarsila, a Pagu, a Berta, a Clarice, a Clara, que chegou toda vestida de maré cheia... “Mulher não paga, mulher não paga!”, gritava Santo Agostinho. Até a Marília apareceu. Mesmo que suspirosa. E sem gostar de tais festanças.

Nós, cá embaixo, sofrendo à beça. Eles, lá em riba, se divertindo.
Vamos dançar! Luto de sanfoneiro é forró... E égua do forró arretado! Alevanta, defunto!!!!!!!!!!!!


Feira de Mangaio


Fumo de rolo arreio de cangalha
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Bolo de milho, broa e cocada
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pé de moleque, alecrim, canela
Moleque sai daqui me deixa trabalhar
E Zé saiu correndo pra feira de pássaros
E foi pássaro voando em todo lugar

Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaieiro ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Joá

Tinha uma vendinha no canto da rua
Onde o mangaiero ia se animar
Tomar uma bicada com lambu assado
E olhar pra Maria do Joá

Cabresto de cavalo e rabichola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Farinha rapadura e graviola
Eu tenho pra vender, quem quer comprar
Pavio de candeeiro panela de barro
Menino vou me embora tenho que voltar
Xaxar o meu roçado que nem boi de carro
Alpargata de arrasto não quer me levar

Porque tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem o Zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar

Mas é que tem um sanfoneiro no canto da rua
Fazendo floreio pra gente dançar
Tem o Zefa de purcina fazendo renda
E o ronco do fole sem parar

(Sivuca/Glorinha Gadelha)

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Rosaly

Publico o recado que recebi via e-mail, sem possibilidade de publicação na janelinha. Um comentário importantíssimo, diga-se de passagem:


Caros amigos,

Apóio inteiramente a campanha contra o blog do Barata. Quem militou no sindicato dos jornalistas nos anos 80 conhece muito bem os métodos inescrupulosos deste senhor, que já deveria ter se rendido ao ostracismo a que a história lhe relegou.

Também reforço a idéia de que não devemos lê-lo - para que perder tempo com infâmias de quem não tem a mínima autoridade moral?

Quanto ao Paulo Roberto, este sim, tem autoridade moral, ética e profissional que lhes são conferidas pela sua trajetória impecável em defesa dos interesses maiores da sociedade.

Todo apoio ao Paulo e toda a indiferença a Augusto Barata.

Grande abraço,

Rosaly Brito

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Em defesa do jornalismo!

Vamos boicotar o
blog do Barata!



Assino embaixo da sugestão da Simone Romero. Acho que chegou a hora de reagirmos a esse Silas de Assis da blogosfera. Divulguem este manifesto. E vamos, também, fazer uma grande corrente de solidariedade ao Paulo Roberto, um dos jornalistas mais respeitados deste estado. Justamente, a antítese do editor do Jornal Popular dos blogs.


Caros,


Até agora vinha adotando a – cômoda - atitude de simplesmente acompanhar o desenrolar dos fatos ligados à sucessão governamental na mídia. Mas acho que chegou o momento de todos falarmos, porque a omissão também é um crime.

A troca de governo e todo o burburinho, falso e verdadeiro, que a envolve têm sido material farto para alimentar os blogs.

A dança de cadeiras também serviu para fazer aflorar o que há de pior na natureza humana. É triste ver no que se transformaram os blogs.

Depósitos de todo o tipo de acusações, veículos de concretização de vinganças pessoais, abrigo para toda espécie de covardes que se escondem no anonimato para destilar venenos e mentiras.

Para esses anônimos, ou não, deve ter algum valor chamar as pessoas do que quiserem. Talvez renda uma vaga no próximo governo. Talvez reduza a raiva de saber de sua própria incompetência para falar qualquer coisa que seja levada a sério.

Soube pelo manifesto da Ana Célia Pinheiro que o jornalista e, antes de qualquer coisa, meu amigo, Paulo Roberto Ferreira, foi caluniado no blog do senhor Barata.

Não sei o que ele escreveu, nem me interessa saber. Não corri para saber o que aquele senhor escreveu sobre meu amigo. Tenho ética, me valorizo. Meu tempo é precioso demais.

Simplesmente não leio este senhor. Não lhe dou respaldo nem audiência. Porque é disso que ele precisa. Não alimento cobras.

Penso que devemos iniciar uma campanha de boicote ao Blog do Barata. As empresas de comunicação deste estado já o empurraram para o ostracismo! Vamos nós agora, como cidadãos, fazer o mesmo. Vamos relegá-lo ao esquecimento.

Apelo principalmente aos colegas jornalistas. Vamos colocar em prática a idéia de controle social da mídia. Se ninguém ler o blog ele simplesmente perderá força.

Não tenho medo de retaliações. Simplesmente não leio aquele senhor e tudo que ele disser sobre mim, realmente, não me interessa.

Vamos levar adiante a campanha de boicote ao Blog do Barata!

Divulguem a campanha para o máximo de pessoas que puderem.

Simone Romero
Jornalista

Desafio à mentira!

Basta!


Conheço Paulo Roberto Ferreira há muitos anos. É uma as pessoas mais dignas que já encontrei ao longo da minha vida – e olha que isso não é pouca coisa, não. É um intelectual extraordinário. Um jornalista brilhante que angariou credibilidade e respeito, por onde passou.

Foi, aliás, Paulo quem me despertou para a política, quando nos conhecemos, nos idos de 1981. Eu não sabia necas de pitibiriba. Ele me ajudou a ver o País e o mundo desigual em que vivemos. Devo a ele, enfim, a melhor parte da minha visão de mundo.

Nunca esquecerei da coragem de Paulo, aquando das primeiras eleições que este País viveu, em 1982, após a longa abstinência imposta pela ditadura. Lembro dos enfrentamentos que tivemos com o Sá Leal (um jornalista extraordinário!). E que, a par desses enfrentamentos, nunca deixou de nos respeitar. Justamente, porque nos fazíamos respeitar.

Porque se fazer respeitar implica não ser lambão; não render toda sorte de mesuras ao “senhor” que paga o osso; não desvirtuar a realidade, com toda sorte de mentiras, para alcançar uma sinecura qualquer.

Jornalismo não é destilar veneno. Isso, as víboras fazem com bem mais competência e precisão. Aliás, até rastejam melhor.

Fazer-se respeitar, jornalisticamente falando, quer dizer o oposto: é ser competente, doutor, não em puxa-saquismo, mas no ofício de reportar.

Paulo, sempre mais inflexível que eu, nunca transigiu em relação a isso. Eu, mais catita, sempre deixei claro que a servidão só existe, enquanto for conveniente ao “servo”, também.

Lembro de uma vez que Paulo, intransigente como ele só, me disse que eu nunca seria uma revolucionária de fato, devido a minha origem burguesa. Na cabeça dele, a dominação tinha a ver com genética e criação. É um direito dele pensar assim – ou ter pensado assim – como é um direito meu morrer de rir de tamanha simplificação.

Mas, apesar de tantas diferenças, seguimos amigos por todos estes anos. E eu prezo a amizade dele, mais do que a maioria das coisas que prezo neste mundo. Porque me orgulho de ser amiga de alguém tão íntegro. Faz-me bem saber que alguém dessa magnitude tem amizade a mim.

É por isso que, puxar briga com o Paulo, é puxar briga comigo. E eu não tenho a comiseração dele. Nem as papas na língua que ele tem. Para mim, como diria um político paraense, da cintura pra baixo tudo é canela.

Não acredito nem em céu, nem em inferno. Faço o que se pede, a quem necessitar. É barba, cabelo e bigode.

Ando meio irritada com essa coisa de estarem tentando acertá-lo. Tentei não me meter. Mas é impossível. Gosto do Paulo Roberto tanto quanto gosto de mim.

Nunca conheci um petista mais petista que ele – um petista, de fato, digno desse nome. Assim como nunca conheci tucana mais tucana que eu...

Mas, Paulo é da paz, enquanto eu vivo para a guerra. Venham quantas vierem. Quantos forem os exércitos que necessitarem disso.

Já combati mais de 50, sozinha. Pois, que venham três – isso é fichinha.

Não me importo, minimamente, de revirar os podres alheios. Até porque tenho treinando as minhas moscas para isso, a vida inteira. Sorrindo, revelo os bêbados, os canalhas, os lambe-botas. E o que disserem de mim, é sobejamente conhecido. Tal as moscas, educadíssima, sei quem sou e onde me é dado assentar.

De há muito, Paulo deveria integrar um governo do PT. Defendo-o, fervorosamente, para a Assessoria de Comunicação. Tal cargo, enfim, teria a dignidade que merece. Com um técnico competente e honesto que não viveria de propinas, para jogar na primeira máquina disponível, nem do ódio patológico que algumas pessoas (pessoas?) guardam em relação ao mundo.

Essas pessoas que, quando morrerem, é verdade, acharão quem lhes jogue, por cima, carradas de terra. Mas, pela certeza que querem ter de que uma abjeção como essa, tão cedo, não tornará ao mundo.

Paulo tem a capacidade de lidar com os Maiorana e com os Barbalho. E de aproveitar a estrutura existente para montar um sistema alternativo de comunicação de massa, independente dos jornalões.

Não deveria dizer isso, porque sobrevivo dos jornalões. Mas, enquanto os governos que vêm do povo (como a DS pretende ser) não conseguirem construir essa terceira via, vão penar, com certeza, nas mãos de quem detém o poder econômico e a capacidade de mobilização social.

É preciso um sistema de comunicação alternativo, ideologicamente comprometido, massivo e direto.

Mais não digo, nem me foi perguntado.

Neste momento solene, prefiro aguardar pelos leões. Que maravilha! Vou poder matar e esfolar novamente!