domingo, 25 de julho de 2021

Sobre monumentos, Democracia e vidas humanas.


 

As pessoas que se aproveitam das manifestações #ForaBolsonaro para queimar estátuas deveriam refletir sobre aquilo em que dizem acreditar.

Porque falam à beça em “interesses coletivos”, mas colocam os seus interesses políticos acima dos interesses de toda a sociedade brasileira.

O movimento #ForaBolsonaro não é a antessala de 1917: estamos lutando para tentar salvar vidas, a Democracia, e até o futuro deste país.

O que temos aqui não são bolcheviques ou qualquer outro “ique”: é uma frente política moderada, porque precisa, desesperadamente, ser o mais ampla possível, à esquerda e à direita.

Precisamos de todos os democratas, de todos os legalistas, de todos os liberais, e até daqueles que não possuem qualquer participação política e acreditam que não possuem ideologia.

Porque sem isso não venceremos essa guerra.

E aí milhares e milhares de pessoas continuarão morrendo, de doença ou de fome, e não conseguiremos deter o avanço do fascismo.

Sinceramente: tenho até dificuldade em acreditar que isso tenha sido feito por pessoas de esquerda e que haja comentaristas de esquerda a celebrar uma coisa dessas.

Não consigo entender como alguém pode considerar mais importante queimar estátuas do que agregar apoios para essa luta, que é a mais importante para o Brasil, em várias décadas.

Sim, porque atitudes como essa acabam é afastando as pessoas; acabam é dividindo, em vez de somar.

Ilude-se quem imagina que ações desse tipo empurrarão esse movimento para a esquerda.

Pelo contrário: podem é acabar ajudando lideranças de direita, na medida em que reforçam preconceitos da sociedade brasileira e fornecem artilharia para as redes de fake news da extrema direita.

Diz-se que o que essas correntes pretendem é disseminar um novo olhar social sobre personagens históricos, que hoje sabemos opressores, ou até genocidas.

Mas fico me perguntando sobre tais métodos em si, a eficácia deles, e a própria concepção em que se baseiam.

Se levássemos essa concepção às últimas consequências, deveríamos incendiar não apenas estátuas, mas também prédios públicos, grandes monumentos históricos, quem sabe até o coliseu romano e as pirâmides do Egito.

Aqui em Belém, por exemplo, destruiríamos todos os prédios e todas as ruas da Belle Époque, já que para nós foi uma era de higienismo social, que teria servido até de modelo para o Rio de Janeiro, com o seu “bota-abaixo”.

Iríamos banir do Pará toda a memória do ex-prefeito Antonio Lemos, enxotando-o pela segunda vez, devido à perseguição que moveu contra os pobres trabalhadores urbanos.

Mas e aí? No que é que isso nos ajudaria na compreensão da História, que avança conforme avançamos no conhecimento do mundo e da própria espécie humana?

Será que ao destruirmos tais monumentos não estamos é criando obstáculos a esse conhecimento e à necessária reflexão para que não venhamos a repetir tais crimes?

Fico pensando se não seria muito mais eficaz, muito mais produtivo, colocar uma enorme placa naquela estátua, dizendo mais ou menos assim:

“Naquele tempo esse sujeito era considerado um herói. Mas hoje sabemos que ele foi um assassino, um bandido, que escravizou e matou milhares de negros e índios”.

E aí se colocaria até uma barraquinha ao lado, com uma exposição e palestras sobre a escravidão negra e o genocídio dos povos indígenas.

Criaria um site, no qual você descreveria todo o horror vivido por esses seres humanos, e mostraria que eles continuam vítimas de racismo e de tentativas de extermínio.

Isso, sim, atrairia crianças, jovens e adultos para um maior conhecimento da nossa História, e ajudaria muito, muito mais na luta pelo Respeito a que esses cidadãos têm direito.

Ou seja: “ressignificaria”, esse palavrão horrendo que tantos insistem em usar.

Para concluir, só o seguinte: destruir estátuas e qualquer bem público é crime. E quem faz isso tem, sim, de ser punido.

Se você não concorda com este ou aquele monumento, faça um abaixo-assinado, um projeto de lei, e envie à Assembleia Legislativa ou à Câmara Municipal.

Ajuíze uma Ação Popular, junto com alguma entidade.

Organize protestos na frente da estátua, distribua panfletos contando a história do sujeito, chame a imprensa, promova debates nas redes sociais.

Caminhos legais para tentar a retirada de uma estátua como essa existem em profusão.

Através de caminhos legais, vêm-se tentando, inclusive, mudar os nomes de ruas que homenageiam ex-ditadores militares, e até torturadores.

Tais iniciativas provocam um excelente debate social e ajudam muito mais a disseminar esse novo olhar que se pretende.

Mas não destrua o que pertence a todos, e não apenas a você.

Porque, se o fizer, terá, sim, de arcar com as consequências legais de seus atos.

Seja você de direita, de esquerda, de centro, de cima, ou de baixo.

FUUUIIIII!!!!!

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