As pessoas que se aproveitam das manifestações #ForaBolsonaro para queimar estátuas deveriam refletir sobre aquilo em que dizem acreditar.
Porque falam à beça em “interesses coletivos”, mas colocam os seus interesses políticos acima dos interesses de toda a sociedade brasileira.
O movimento #ForaBolsonaro não é a antessala de 1917: estamos lutando para tentar salvar vidas, a Democracia, e até o futuro deste país.
O que temos aqui não são bolcheviques ou qualquer outro “ique”: é uma frente política moderada, porque precisa, desesperadamente, ser o mais ampla possível, à esquerda e à direita.
Precisamos de todos os democratas, de todos os legalistas, de todos os liberais, e até daqueles que não possuem qualquer participação política e acreditam que não possuem ideologia.
Porque sem isso não venceremos essa guerra.
E aí milhares e milhares de pessoas continuarão morrendo, de doença ou de fome, e não conseguiremos deter o avanço do fascismo.
Sinceramente: tenho até dificuldade em acreditar que isso tenha sido feito por pessoas de esquerda e que haja comentaristas de esquerda a celebrar uma coisa dessas.
Não consigo entender como alguém pode considerar mais importante queimar estátuas do que agregar apoios para essa luta, que é a mais importante para o Brasil, em várias décadas.
Sim, porque atitudes como essa acabam é afastando as pessoas; acabam é dividindo, em vez de somar.
Ilude-se quem imagina que ações desse tipo empurrarão esse movimento para a esquerda.
Pelo contrário: podem é acabar ajudando lideranças de direita, na medida em que reforçam preconceitos da sociedade brasileira e fornecem artilharia para as redes de fake news da extrema direita.
Diz-se que o que essas correntes pretendem é disseminar um novo olhar social sobre personagens históricos, que hoje sabemos opressores, ou até genocidas.
Mas fico me perguntando sobre tais métodos em si, a eficácia deles, e a própria concepção em que se baseiam.
Se levássemos essa concepção às últimas consequências, deveríamos incendiar não apenas estátuas, mas também prédios públicos, grandes monumentos históricos, quem sabe até o coliseu romano e as pirâmides do Egito.
Aqui em Belém, por exemplo, destruiríamos todos os prédios e todas as ruas da Belle Époque, já que para nós foi uma era de higienismo social, que teria servido até de modelo para o Rio de Janeiro, com o seu “bota-abaixo”.
Iríamos banir do Pará toda a memória do ex-prefeito Antonio Lemos, enxotando-o pela segunda vez, devido à perseguição que moveu contra os pobres trabalhadores urbanos.
Mas e aí? No que é que isso nos ajudaria na compreensão da História, que avança conforme avançamos no conhecimento do mundo e da própria espécie humana?
Será que ao destruirmos tais monumentos não estamos é criando obstáculos a esse conhecimento e à necessária reflexão para que não venhamos a repetir tais crimes?
Fico pensando se não seria muito mais eficaz, muito mais produtivo, colocar uma enorme placa naquela estátua, dizendo mais ou menos assim:
“Naquele tempo esse sujeito era considerado um herói. Mas hoje sabemos que ele foi um assassino, um bandido, que escravizou e matou milhares de negros e índios”.
E aí se colocaria até uma barraquinha ao lado, com uma exposição e palestras sobre a escravidão negra e o genocídio dos povos indígenas.
Criaria um site, no qual você descreveria todo o horror vivido por esses seres humanos, e mostraria que eles continuam vítimas de racismo e de tentativas de extermínio.
Isso, sim, atrairia crianças, jovens e adultos para um maior conhecimento da nossa História, e ajudaria muito, muito mais na luta pelo Respeito a que esses cidadãos têm direito.
Ou seja: “ressignificaria”, esse palavrão horrendo que tantos insistem em usar.
Para concluir, só o seguinte: destruir estátuas e qualquer bem público é crime. E quem faz isso tem, sim, de ser punido.
Se você não concorda com este ou aquele monumento, faça um abaixo-assinado, um projeto de lei, e envie à Assembleia Legislativa ou à Câmara Municipal.
Ajuíze uma Ação Popular, junto com alguma entidade.
Organize protestos na frente da estátua, distribua panfletos contando a história do sujeito, chame a imprensa, promova debates nas redes sociais.
Caminhos legais para tentar a retirada de uma estátua como essa existem em profusão.
Através de caminhos legais, vêm-se tentando, inclusive, mudar os nomes de ruas que homenageiam ex-ditadores militares, e até torturadores.
Tais iniciativas provocam um excelente debate social e ajudam muito mais a disseminar esse novo olhar que se pretende.
Mas não destrua o que pertence a todos, e não apenas a você.
Porque, se o fizer, terá, sim, de arcar com as consequências legais de seus atos.
Seja você de direita, de esquerda, de centro, de cima, ou de baixo.
FUUUIIIII!!!!!