O
problema de Belém é que a politicagem domina a tal ponto que a maioria
esmagadora das nossas lideranças políticas prefere é defender partidos e
governantes a defender a cidade.
Até
porque raras são as lideranças que têm por Belém uma genuína sensação de
pertencimento.
Querem é
apenas utilizá-la como trampolim político ou financeiro.
Querem é
pegar umas “lasquinhas”, para depois ir gastá-las no Rio de Janeiro, Europa ou
Estados Unidos, que sempre amaram muito mais.
Daí a
situação em que Belém se encontra: cada vez mais imunda, pobre e
descaracterizada, com apenas migalhas de um patrimônio histórico e cultural que
já foi exuberante.
Um
patrimônio que encantou poetas, impressionou escritores e até serviu de
exemplo, por seu cuidado e beleza, ao resto do país.
Em 2002,
o governo do PSDB derrubou o muro do Forte do Castelo.
Em 2013,
a Secult e a Prefeitura de Belém, ambas sob o comando do PSDB, tentaram aprovar
a construção de um tal “shopping de charme”, em plena Cidade Velha.
Mais
recentemente, a Prefeitura de Belém, ainda sob o comando do PSDB, permitiu a
colocação de um toldo horroroso no Bar do Parque.
Contra
todos esses ataques à cidade gritaram as esquerdas e o MDB, enquanto os simpatizantes
do PSDB permaneciam calados, como se tudo estivesse nos trinques e nos
conformes.
Agora, os
papeis se invertem: é o MDB quem agride a cidade com essa cobertura
horripilante de vidro e metal, na Casa das Onze Janelas, para agradar a um dono
de restaurante e à meia dúzia de abestados.
E agora
gritam os tucanos, enquanto emudecem as esquerdas e os simpatizantes do MDB.
E assim,
mais uma vez, quem perde é Belém, com a qual a maioria das lideranças políticas
só se “importa” quando estão em jogo os seus interesses tribais.
O mesmo
acontece em relação ao lixo, às enchentes, ao sofrimento do nosso povo, em seus
barracos miseráveis, onde crianças, mulheres, idosos sobrevivem pior do que
bicho.
Nada mais
compatível com uma cidade sem memória do que lideranças políticas sem
vergonhas.
O que não
presta para Belém, venha de que partido vier, simplesmente não presta. E ponto.
Ou, para
ser mais clara: se aquele “shopping de charme” e o toldo do Bar do Parque eram
verdadeiras excrescências naquelas paisagens históricas, a cobertura na Casa
das Onze Janelas também o é.
É simples
assim. Ou deveria ser.
Mas em
uma cidade que escorraçou um Antonio Lemos e elegeu, por duas vezes, um
saqueador como o Duciomar, tamanha politicagem nem chega mais a assustar.
Fossem
outras as lideranças, talvez ainda pudéssemos saborear um Guarassuco e uns
doces da Palmeira, na esplanada do Grande Hotel ou no Café da Paz.
Teríamos
a São Jerônimo, a estrada de Nazaré e tantas outras ruas e avenidas tomadas por
casarões portugueses e seus imensos quintais, que também sumiram para dar lugar
a monstrengos de vidro e concreto, fontes de um calor infernal.
Ainda
teríamos o Largo de Nazaré dos arraiais de outubro, antes de aquele espaço
público ser “privatizado” para a igreja católica.
Ainda
teríamos o cine Palácio, que foi dizimado por hordas evangélicas, com as suas
aleluias histéricas.
Ainda
teríamos o antigo prédio da Província do Pará, depois Escola Normal, em todo o
seu esplendor, e não se deteriorando lentamente, até que acabe, quem sabe, vindo
ao chão.
Nem de
longe arriscaríamos a possibilidade de o nosso Ver o Peso, dos nossos
feirantes, ribeirinhos, bêbados e poetas, até arder em chamas, devido às nossas
disputas insanas.
Fossem
outras as lideranças, não teríamos apenas na memória a Belém da nossa infância
e da infância dos nossos avós.
Não
teríamos essa angústia que se agiganta, ao perceber que também vão sumindo a
memória, os avós, as crianças a brincar nas ruas, os casais a namorar nas
praças, os pássaros, as borboletas, as mangueiras, as flores, as estrelas, as
canções...
E que a
Belém restará as águas de rios imundos, repletas de coliformes fecais.
E que a
Belém restará mais e mais edifícios, muitos deles para lavar o dinheiro de
bicheiros, traficantes e políticos de todas as facções.
Restarão
os bairros dominados pelo crime organizado e os nossos jovens mortos à bala.
Serão
apenas os rios de lama, um oceano de lama, para uma cidade cujas lideranças
políticas parecem é sentir prazer em chafurdar na lama.
FUUUIIIII!!!!!!
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