Não vi, e
só soube à noite, depois que cheguei do supermercado, de um quiproquó que teria
ocorrido no Palácio do Governo, envolvendo os jornalistas Carlos Mendes e
Franssinete Florenzano, pouco antes de um almoço com o governador Helder
Barbalho.
De acordo
com o que circula nas redes sociais, os dois teriam protestado veementemente,
diante de uma ordem para que entregassem os seus celulares.
Quando
cheguei a esse almoço, fui colocada em uma sala junto com a Rita Soares, a
Layse Santos e um repórter do DOL, que não me recordo o nome.
Pouco depois, a Rita e o rapaz saíram e ficamos apenas eu e a Layse.
E aí, chegou uma funcionária, que imagino que era da Assessoria de Comunicação.
Ela solicitou que entregássemos os nossos celulares.
Educadamente, protestei e perguntei o porquê daquilo. Ela afirmou que era uma
regra de segurança, já que o governador também participaria daquele almoço.
Acabei
entregando o meu celular, porque não vou discutir com um funcionário que diz
que está a cumprir uma regra de segurança. A não ser, é claro, que ele me mande
ficar nua e dançar um mambo.
No
entanto, quando estávamos todos sentados à mesa e o governador convidou a que
nos servíssemos, solicitei que ele mandasse devolver os nossos celulares.
Estávamos praticamente um em frente ao outro, olhando na cara um do outro, o
Helder e eu.
Mesmo assim, falei suficientemente alto para que todos naquela sala pudessem
ouvir.
E, pelo
silêncio que se fez, creio que havia a concordância de meus colegas com o que
estava a dizer.
Disse ao governador que, pelas suas declarações iniciais, aquela seria uma
reunião de trabalho e que, nós, jornalistas, precisávamos dos nossos celulares,
para eventualmente gravar as declarações dele, o que nos ajudaria na hora de
escrever.
Ao que parece, Helder queria um encontro descontraído com os jornalistas, para falar
sobre o que vem fazendo para combater a criminalidade, numa espécie de
prestação de contas. E havia o receio de que alguém gravasse às escondidas esse
bate-papo, para distorcê-lo.
Mas aí, argumentei
que, embora não falasse em nome de todos, não acreditava que alguém viesse a
cometer algo assim (ou seja, gravar uma conversa às escondidas, o que seria
profundamente antiético da parte de um jornalista). E acrescentei que, no
momento em que ele, governador, permitisse, aí sim, colocaríamos os nossos
celulares diante dele, para gravar.
Helder, então, mandou devolver os nossos celulares. E não se falou mais nisso.
Outra
coisa que é preciso esclarecer: essa recolha dos celulares não atingiu apenas
os jornalistas. Até as autoridades presentes (todas elas da área da Segurança
Pública) também tiveram os seus celulares recolhidos. Pelo menos foi isso o que
me confidenciou uma delas.
E mais: à tarde, contei a um amigo o que havia ocorrido. E ele me disse que,
embora conheça o Helder desde criança, também ele teve de entregar o seu
celular, antes de conversar com o governador, no Palácio do Governo. Mais tarde,
uma autoridade do governo também me confirmou que essa é uma regra geral da
segurança do novo governador.
Ou seja,
esse negócio não tem nada a ver com “cerceamento” à liberdade de imprensa, como
se está a tentar “vender” nas redes sociais.
Mas o que é que penso sobre isso?
Penso que essa é uma medida excessiva, antipática e rigorosamente inútil.
Porque o cara que teve o celular “requisitado” pode muito bem estar com um
gravador escondido – é o que mais se vende na internet, aliás.
E tão ou mais importante: a profilaxia disso é justamente o oposto. Ou seja: é
deixar todo mundo gravar, principalmente, a assessoria do governador. Porque se
alguém tentar manipular o áudio, será imediata e profusamente desmentido.
Creio que há um equívoco da assessoria de segurança do governador, mas também
compreendo a preocupação desses servidores.
Afinal, o Pará se encontra dominado por milícias e traficantes, devido à
irresponsabilidade e à incompetência do ex-governador Simão Jatene, que não
“confiscava” celulares, é verdade: “confiscava” era a esperança de milhões de
cidadãos.
O fato de Helder vir demonstrando que não dará trégua a essas quadrilhas, pode,
é claro, fazer com que ele acabe se tornando um alvo.
Mas é
preciso bom-senso, equilíbrio, na aplicação dessas medidas de segurança: não se
pode pura e simplesmente transpô-las para um encontro com jornalistas, ou até
com autoridades.
Todas as pessoas que estão nesses encontros, presume-se, estão perfeitamente
identificadas pelas forças de segurança e pela assessoria do governador.
Então, o risco da presença de um maluco em um encontro desses, é infinitamente
menor do que de um incidente, desnecessário e grave para o governo, provocado
por essas medidas excessivas.
Mas há outra questão que é preciso compreender.
O MDB agora é vidraça. E tem de aprender a administrar esse papel. Simplesmente
porque serão 4 ou 8 anos como vidraça, e não há como escapar disso.
Não há como impedir que os jatenistas ataquem – é da guerra, é da política, que
seja assim.
Os
ataques serão acanalhados? Os jatenistas vão mentir, distorcer, enganar?
Vão
manipular áudios, fotos, vídeos, números, porque estão desesperados para voltar
a saquear os cofres públicos?
É claro que tais possibilidades exigem que o novo governo seja estratégico,
tenha capacidade de se antecipar.
Mas isso é muito diferente de criar zonas desnecessárias de conflito, que podem
até funcionar como flancos a uma ação orquestrada pela Griffo.
É preciso
não esquecer que a ação orquestrada da Griffo já derrotou candidato ao governo
simplesmente por causa do preço de uma passagem de ônibus.
É preciso não esquecer do que aconteceu com a Ana Júlia e o Hélio Gueiros.
Então, muita cabeça fria, bom senso e caldo de galinha nessa hora.
FUUUUIII!!!!
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