O prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, não precisa de
inimigos: a sua incontinência verbal já faz barba, cabelo e bigode.
Em outubro do ano passado, a poucos dias do segundo
turno, quando já estava claro que Helder venceria as eleições, Zenaldo postou no
Facebook três vídeos profundamente ofensivos ao futuro governador.
Assim mesmo, do nada. E com objetivos ininteligíveis
até aos maiores estrategistas políticos.
Ok: o prefeito estava prestes a ficar encalacrado, sem
apoio federal ou estadual.
O problema é que é exatamente essa condição
desesperadora (em campo aberto e sem retaguarda) que exigiria o uso da cabeça,
e não do fígado.
Agora, o prefeito se mete em nova enrascada, ao bater
boca com os taxistas, que resolveram protestar nas ruas de Belém contra os
aplicativos de transporte.
Em vez de simplesmente informar que tem reunião
marcada com a categoria, e até dizer de sua estranheza diante da antecipação
desses protestos, Zenaldo resolveu assumir uma postura agressiva, classificando
as manifestações como “oportunistas” e “partidárias”.
Quis jogar para a plateia? Não deveria. Porque esse é
um problema gravíssimo para os taxistas, para a população como um todo e para o
próprio Poder Público.
É possível que o método escolhido pelos taxistas
(fechar as ruas da caótica Belém) seja equivocado.
Mas o fato é que eles têm razão: os taxistas estão,
sim, sendo vítimas de uma concorrência desleal, que os está reduzindo à miséria
e, com eles, às suas famílias – ou seja, a milhares de pessoas, incluindo
crianças, mulheres e idosos.
É certo que os aplicativos são uma mão na roda para a
maioria da população, que não pode pagar pelos preços dos táxis.
E são uma mão na roda, também, para quem está
desempregado.
Mas é preciso colocar alguma ordem nessa história, em
vez de despir um santo para vestir outro.
O decreto municipal que regulamentou esses aplicativos,
e que foi publicado em setembro do ano passado, é um bom começo:
além de trazer mais garantias, segurança e direitos aos usuários, submete os
trabalhadores desses serviços a muitas das exigências que são colocadas aos
taxistas, o que deverá reduzir a mão de obra.
E a questão é: por que, cargas d’água, esse decreto não
está a ser cumprido?
Penso, no entanto, que a primeira providência deveria ter
sido a de se levantar o impacto desses aplicativos no erário, no trânsito da
cidade, e até informações sobre o perfil e condições de vida dessas pessoas.
Porque os boatos que circulam são estarrecedores: os
aplicativos não deixariam imposto algum à cidade; estariam inundando as ruas
com milhares de veículos; os trabalhadores estariam recebendo uma remuneração
aviltante; e haveria até mesmo grandes locadoras obtendo lucros astronômicos com
a exploração indireta desses serviços.
Sem esse levantamento não há como saber o que existe
de verdade nisso e se os aplicativos são realmente um bom negócio para a cidade.
Ou se os baixos preços que cobram são apenas a cortina de fumaça que nos impede de ver
os problemas que podem estar a gerar.
Um deles é social.
Ao que se diz, as empresas de aplicativos cobram uma alta
taxa dos motoristas, que, quando não têm carro, ainda têm de pagar a diária de
uma locadora. E como o preço das corridas é lá embaixo, os motoristas acabam
ganhando uma mixaria.
E aí, fica a pergunta: vale a pena, para a cidade,
"trocar" milhares de pessoas que hoje sobrevivem dos táxis com uma renda de
classe média, por milhares e milhares de miseráveis, que mal ganham para um
prato de comida?
Qual o impacto dessa “troca” sobre a economia e a rede
pública de Educação e Saúde, por exemplo?
Não seria mais negócio inserir esses motoristas de
aplicativos desempregados em programas de renda mínima ou de geração de emprego
e renda, ao mesmo tempo em que se negocia com os taxistas o barateamento do
serviço, até com a ajuda do Poder Público para a adoção de combustíveis
alternativos?
Então, é preciso parar de jogar para a plateia e ter coragem para começar a resolver esse problemão,
ainda que isso desagrade, inicialmente, os milhares de usuários de aplicativos,
e até aqueles trabalhadores que fazem disso apenas um “bico” ou uma "distração", sem perceber o
mal que estão a causar a milhares de famílias.
Ao contrário do que imagina o prefeito, os
taxistas não estão sendo movidos por “partidarismo” ou “oportunismo”, mas por
puro desespero: têm família para sustentar e, às vezes depois de uma vida
inteira trabalhando “na praça”, estão vendo seus rendimentos caírem de maneira
assustadora, sem que consigam enxergar uma luz no fim do túnel.
A Prefeitura, o Governo do Estado e o Ministério Público
precisam entrar com vontade nessa parada, dadas as muitas questões envolvidas,
que podem até trazer graves prejuízos à coletividade.
Mas precisam fazê-lo com racionalidade, diálogo,
transparência.
E não com bravatas populistas, que não nos levarão a
lado algum.
FUUUIIIII!!!!
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