quarta-feira, 7 de março de 2018

Opinião: Jatene vai fritar o candidato tucano ao Governo.


 
Se eu fosse o deputado estadual Márcio Miranda ou o prefeito Zenaldo Coutinho, pensaria trezentas vezes antes de ser o candidato do governador Simão Jatene, ao Governo do Estado, nas próximas eleições de outubro.
 
Isso porque o candidato de Jatene terminará exatamente como Almir Gabriel, nas eleições de 2006: “pendurado na escada”, sem máquina, sem dinheiro, sem nada e ainda responsabilizado pela derrota.
 
A questão é simples: Jatene não tem o menor interesse na vitória de Márcio, Zenaldo, ou de qualquer de seus aliados, neste momento.
 
O que ele quer é que o PSDB se esfacele, exatamente como aconteceu no day after de 2006.
 
Assim, em 2022, poderá, novamente, ser o “salvador” dos tucanos paraenses, e emplacar a filha, Izabela, como governadora.
 
Daí que o “candidato do coração” do governador, nas próximas eleições, não é nem tucano nem democrata.
 
É um petista ou até um psolista, que Jatene poderá submeter a uma perseguição implacável, durante quatro anos, exatamente como aconteceu com a petista Ana Júlia Carepa.
 
Com isso, a retomada do poder pelos tucanos, em 2022, será muito mais fácil, do que se o eleito for Helder Barbalho, já que o PMDB possui quadros técnicos, capilaridade, trânsito e um poderoso grupo de comunicação, para governar e se defender.
 
O que estou dizendo pode parecer loucura, fantasia.
 
No entanto, qualquer pessoa com um olhar mais atento desse tabuleiro político chegará à conclusão que cheguei.
 
A bem da verdade, a estratégia jatenista é bastante inteligente (do ponto de vista de seu projeto dinástico de poder), e tem razão de ser.
 
São enormes as semelhanças conjunturais entre 2006 e 2018.
 
Há um grande desgaste do tucanato, talvez acelerado pelo fato de o PSDB deter, além do Governo, a prefeitura da capital, com administrações decepcionantes, para a maioria da população.
 
Há escândalos em série, especialmente no Governo.
 
Há a incompatibilidade (cada vez mais visível) entre a milionária propaganda e a realidade das ruas, principalmente na Segurança Pública.
 
Há a enorme possibilidade de as oposições vencerem as próximas eleições, a partir da reunião de um amplo leque de lideranças partidárias, em torno de um candidato com reais expectativas de poder.
 
E creio que nem é preciso dizer que essa máquina de guerra e potência eleitoral que é o PMDB entrará em campo para ganhar ou ganhar.
 
Até porque se trata de uma questão de sobrevivência: o cenário nacional, que desde a redemocratização nunca foi tão nebuloso, poderá, de fato, reconduzir o PSDB à Presidência da República.
 
O governador já percebeu, com certeza, que os ventos sopram a favor das oposições paraenses. E, mais do que isso, quer e precisa manter o controle partidário.
 
Ele nunca permitiu – e nem permitirá – o crescimento de qualquer outra liderança tucana, a não ser que lhe seja ligada por laços sanguíneos.
 
Será sintomático, aliás, se o escolhido para a imolação for o deputado Márcio Miranda.
 
Na pesquisa Ibope de fevereiro deste ano, Márcio aparece com 6%.
 
Isso até nem seria ruim, se resultasse de um desconhecimento pelo eleitorado, o que não parece ser o caso: além de deputado várias vezes reeleito e com atuação em uma das regiões de maior densidade eleitoral (o Nordeste paraense), Márcio também é figura fácil em entrevistas televisivas em municípios estratégicos, até pelo fato de ocupar, há anos, a Presidência da Assembleia Legislativa.
 
No entanto, ele ainda pode crescer bastante, até com o engajamento de prefeitos e militantes do PSDB em sua campanha.
 
E isso nos leva ao verdadeiro xis da questão: o problema de Márcio é o próprio Márcio.
 
Ele é uma “bagagem” pesada, numa eleição dificílima para os tucanos e na qual será preciso, mais do que nunca, domínio do palanque eletrônico (linguagem simples, clara, marcante, concisa, convincente, acompanhada de expressão corporal compatível), além de uma belíssima dose de carisma - coisas que, definitivamente, ele não tem.
 
O próprio perfil meio zen, diplomático, de Márcio deverá pesar contra ele, nos debates eleitorais: é difícil imaginá-lo sendo incisivo, e até um pouco agressivo ou irônico nas respostas e indagações, em caso de necessidade.
 
No entanto, Márcio candidato ao Governo cairia como uma luva nos planos de Jatene, que poderia encaçapar várias bolas com uma só tacada.
 
Por um lado, a derrota de Márcio aquietaria, por longo tempo, o assanhamento do DEM de querer encabeçar chapa, em aliança com os tucanos.
 
Por outro, um Márcio sem mandato, durante quatro anos, turbinaria o controle do Nordeste paraense por Eduardo Salles, o sobrinho testa-de-ferro de Jatene.
 
E para quem acha que Jatene jamais trairia o fidelíssimo DEM, basta lembrar o que aconteceu com Valéria, quando ela concorreu à Prefeitura de Belém, contra a “cria” e queridinho do governador, o ex-prefeito Duciomar Costa.
 
A queda ali foi feia. Mas agora será bem pior.
 
Outro “cordeiro” que cairia como uma luva na imolação planejada por Jatene seria o prefeito Zenaldo Coutinho.
 
Não há dúvida de que ele é um candidato muito superior a Márcio.
 
Zenaldo tem carisma; um grupo político forte e azeitado e um impressionante domínio do palanque eletrônico.
 
O problema, além da péssima administração que realiza em Belém (o maior colégio eleitoral do estado) é o fato de ter sido a “cara” do Não, no plebiscito sobre a divisão do Pará.
 
Vale salientar: o que foi espezinhado naquele plebiscito não foi um suposto “conluio de lideranças partidárias”.
 
Em verdade, foram os sonhos, as esperanças, de milhares de cidadãos, do Sul e Sudeste e do Oeste do Pará, que foram espezinhados.
 
Trata-se, portanto, de um “fator emocional”, complicadíssimo até para o sapateado de catita do prefeito de Belém, e mais ainda, pela dificuldade das próximas eleições para o tucanato.
 
Mas a derrota de Zenaldo também seria muito interessante para Jatene.
 
Se permanecer prefeito, ele poderá aglutinar os derrotados tucanos e se cacifar às eleições ao Governo, se o desejar, em 2022.
 
Isso levaria a uma grande disputa interna no PSDB e dificultaria a ascensão de Izabela, especialmente se os tucanos, ao juntarem os cacos, conseguissem perceber a traição do governador.
 
Mas em caso de disputar a eleição ao Governo e perder, Zenaldo carregará a culpa pela derrota.
 
O grupo político que o sustenta, como é muito forte, evitará que amargue o ostracismo.
 
Mas ele não mais representará qualquer ameaça aos planos de Jatene, até pelo seu fraco desempenho no Executivo municipal.
 
Essa, aliás, não seria a primeira rasteira que Zenaldo levaria de Jatene.
 
A primeira foi quando concorreu à Prefeitura de Belém, contra Edmilson e Duciomar, e acabou transformado no “garoto do Bombril”, o que o fez perder o bonde da história (ele poderia ter sido o sucessor de Almir).
 
A segunda foi quando recebeu “de presente” a prefeitura de Belém, após a passagem do “furacão” Duciomar.
 
Há outros nomes aventados como possíveis candidatos à sucessão de Jatene, como é o caso do prefeito de Ananindeua, Manoel Pioneiro, o eterno “patinho feio” do PSDB, um pouco melhor do que Márcio, mas inferior a Zenaldo.
 
No entanto, considero que Márcio e o prefeito de Belém são os mais prováveis à imolação, justamente porque, com a derrota, deixarão de representar problemas, presentes e futuros.
 
A meu ver, os tucanos paraenses e seus aliados estão é em um mato sem cachorro.
 
Porque, para alcançar o seu projeto dinástico de poder, o governador não hesitará em atirar às feras quem quer que seja, como tem feito, aliás, ao longo de toda a sua trajetória política.
 
FUUUIIIIIII!!!!!!

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