Que ninguém espere de mim “isenção” em um momento como este, quando o Brasil está à beira de um golpe e, quem sabe, até de uma guerra civil.
Eu tenho um lado, sim, senhor! Claro, explícito, sem máscaras ou tergiversações.
O meu lado é o da Democracia, do estado de direito, da legalidade.
É o lado do respeito à decisão das eleições democráticas de 2014.
É o lado do respeito aos direitos e garantias constitucionais, eis que se ninguém está acima da Lei, tampouco podem existir subcidadãos.
Estivesse no poder o PSDB, o PMDB, o PP, o PPS, o PSOL – o raio que o parta – e eu teria essa mesmíssima posição.
Para mim pouco importa simpatia ou antipatia (e, para falar a verdade, nem simpatizo muito com o Governo de Dilma Rousseff, como acho que até já escrevi aqui).
Para mim, o que importa de verdade é o Estado Democrático de Direito.
Aliás, quem acompanha este blog sabe que já defendi desde os direitos de adolescentes pobres em conflito com a Lei, até os direitos do Daniel Dantas.
Porque, se existe um critério, tem de ser para todos, e não apenas para alguns.
É por isso que até estranho alguns coleguinhas que andam, na internet, a querer me enquadrar na categoria de “isentona”.
“Isentona”, eu?!!!
Não, senhor! Eu tenho um lado, e pode escrever aí.
Não vou ficar em cima do muro, não vou lavar as mãos que nem Pôncio Pilatos, enquanto o meu país caminha para o abismo.
Hei de defender a Democracia e a Constituição até o fim – qualquer que seja ele.
Respeito os jornalistas que têm se posicionado a favor dessas manifestações.
Respeito, mas não entendo, já que as liberdades de informação e de expressão (ou seja, as condições essenciais ao Jornalismo) são as primeiras a sofrer nos regimes de exceção. Ou será que alguém já se esqueceu do Estado Novo e seu DIP? Do Regime Militar e seu AI-5? Das receitas de bolo na capa do Estadão e do assassinato do jornalista Wladimir Herzog?
O que abomino, em verdade, são os jornalistas ditos “isentos”, em cima do muro, que apontam o dedão acusador àqueles que se posicionam pela legalidade.
Ingenuidade é uma coisa, HIPOCRISIA é outra.
Temos, sim, grandes jornalistas que de fato acreditam, ingenuamente, na possibilidade de isolar, abstrair, as justíssimas reivindicações contra a corrupção, do conjunto da pauta dessas manifestações.
Uma pauta que pretende não apenas apear do Poder um governo democraticamente eleito, mas, principalmente, suprimir todas as conquistas sociais das últimas décadas.
Tais companheiros ainda não perceberam que, para os organizadores dessas manifestações, o combate à corrupção é apenas um MOTE ÚTIL, já que não têm a coragem de assumir seus verdadeiros propósitos autoritários, golpistas, entreguistas, escravocratas, racistas, sexistas, homofóbicos – e por aí vai.
Basta analisar a “qualidade” dos organizadores dessas manifestações para concluir que eles apenas se utilizam do combate à corrupção para garantir a impunidade dos crimes que cometem – inclusive, a corrupção.
E eu lamento é que haja companheiros jornalistas – grandes jornalistas, sim, senhor - que ainda não perceberam isso.
Mas esses companheiros eu respeito, porque dão a cara à tapa por aquilo que defendem, ainda que de forma equivocada; ainda que marchando, paradoxalmente, até ao lado daqueles que defendem um golpe militar.
O que abomino, em verdade, é a HIPOCRISIA daqueles jornalistas que, até pelos longos anos de militância política, já perceberam os reais propósitos dessas manifestações.
E mesmo assim, assumem um “ar isento”, e passam a recriminar os jornalistas que se posicionam pela legalidade.
Não vejo, da parte dessas pessoas, a mesma postura acusatória em relação aos coleguinhas que até escrevem reportagens mentirosas, nos grandes veículos de comunicação, ou disseminam mentiras nas redes sociais, para justificar um golpe de Estado.
Nunca vi dessas pessoas o mesmo zelo anticorrupção, quanto a escândalos como o projeto Alvorada, que, só no Pará, surripiou R$ 50 milhões dos cofres públicos e lesou mais de um milhão de cidadãos, na maioria tão pobres que não tinham nem sequer um banheiro em casa.
Nunca vi dessas pessoas nem mesmo um ai em relação ao escândalo da Cerpasa; ao tráfico de influência entre o Governo do Estado e o Judiciário paraense; ao sumiço dos bilhões que deveriam ser aplicados em investimentos; ao derrame de verbas públicas em propaganda; aos numerosos escândalos de superfaturamento e direcionamentos licitatórios que envolvem os tucanos; ao enriquecimento extraordinário de familiares do governador Simão Jatene. NUNCA VI NEM MESMO UM AI!
No fundo, tais coleguinhas têm é vergonha de assumir aquilo que de fato defendem: um golpe de Estado.
E imaginam que poderão continuar com suas máscaras indefinidamente, quando, em verdade, a primeira coisa que a História faz é arrancar as máscaras de cada qual.
FUUUIIIIIII!!!!!!!
...............
E
deixo aqui para vocês a bela nota emitida pela Federação Nacional dos
Jornalistas (FENAJ) em defesa da Democracia:
"Em defesa da
democracia, do Estado de Direito e da liberdade de imprensa
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) vem a
público para defender a democracia, as garantias individuais previstas no
Estado de Direito e a liberdade de imprensa e de expressão. A FENAJ dirige-se à
sociedade, e em especial à categoria dos jornalistas, para condenar a
espetacularização midiática, que desinforma em vez de informar, macula o
compromisso ético da profissão, que é a busca da verdade, causando graves
prejuízos ao exercício da cidadania.
A democracia brasileira foi duramente conquistada no
passado recente, com luta e sangue de milhares de brasileiros, entre eles,
centenas de jornalistas. Por isso, a FENAJ afirma que o compromisso com a
democracia deve nortear as posições e ações das instituições nacionais. Lembra
que as liberdades de expressão e de imprensa são fundamentais para sua
constituição e aperfeiçoamento, como forma de organização política social, na
qual o pluralismo de vozes é uma condição, assim como o respeito às decisões da
maioria.
Diante dos acontecimentos do último dia 4 – quando o
ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva foi vítima de um ato de
espetacularização midiática de uma decisão que deveria ter sido judicial, mas
não escondeu seu caráter eminentemente político -, a FENAJ novamente afirma que
a democracia e os verdadeiros interesses da população brasileira estão
ameaçados e que é preciso reagir às tentativas autoritárias de ruptura
democrática que, claramente, caracterizam-se como golpe político.
A Federação dos Jornalistas lembra também que grande
parte da imprensa brasileira tem abdicado do fazer jornalístico para se
comportar como partido de oposição ao governo federal e que, na ânsia de
derrotar o partido do governo, tem se colocado a serviço da construção social
da aceitação do golpe.
Sem fazer a defesa apriorística do Governo Dilma ou
do ex-presidente Lula, a FENAJ reitera que a técnica e a ética jornalísticas
não estão sendo observadas e respeitadas na abordagem dos fatos, o que tem
ocasionado, inclusive, atos de violência contra jornalistas.
A FENAJ condena toda e qualquer forma de violência
contra os profissionais da comunicação, conclama a população brasileira a
respeitar a categoria e, ao mesmo tempo, pede às empresas de comunicação a
retomada do Jornalismo. Ainda que o profissional jornalista não possa ser
confundido com a empresa em que trabalha, inegavelmente, a manipulação da
informação tem contribuído para a perda da credibilidade de parte das empresas
de comunicação e também para o desrespeito aos profissionais.
Entidade máxima de representação dos jornalistas
brasileiros, a FENAJ novamente condena os setores da mídia nacional que
conspiram contra a democracia, ao mesmo tempo em que conclama a categoria a
resistir e defender a responsabilidade e a ética no Jornalismo. Os jornalistas
(voluntariamente ou não) estão no centro da atual crise política, pelo papel
que os meios de comunicação assumiram. Por isso, não podem se furtar a exercer
o seu ofício, que é o de levar informação veraz à sociedade.
A FENAJ lembra que esta crise foi cuidadosamente
planejada e que Poder Judiciário e meios de comunicação têm sido atores
centrais para seu aguçamento. Por isso, a Federação dos Jornalistas conclama as
entidades e todos cidadãos e cidadãs brasileiros que têm apreço pela democracia
e não querem retrocessos políticos e sociais a defender a democracia.
Para essa defesa propomos a valorização da
verdadeira informação jornalística e o amplo debate público sobre o papel do
Judiciário e dos poderes constituídos, dos meios de comunicação, das
instituições e dos movimentos sociais na construção do futuro do país e de seu
povo. Desde já, é preciso dar um basta às ações e movimentos autoritários, de
quem quer que seja, e afirmar que não aceitaremos golpes.
Diretoria da FENAJ.
Brasília, 9 de março de 2016”.
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