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O governador Simão Jatene, do Pará, e a família Sarney, do Maranhão: qualquer semelhança não é mera coincidência |
Finalmente, a população paraense começa a tomar
conhecimento de um fato estarrecedor: o extraordinário enriquecimento de
familiares do governador do Pará, Simão Jatene, quase todos eles apenas
funcionários públicos, assim como o próprio governador.
O fato vem sendo denunciado pela Perereca desde 2006. Mas só agora,
depois que virou manchete na grande imprensa, começa a ser investigado pelo
Ministério Público.
O que já se conseguiu rastrear impressiona: por
baixo, mas muito por baixo, a fortuna da família Jatene alcança pelo menos R$ 37,3
milhões, entre postos de gasolina, terrenos, fazendas, empreendimentos
imobiliários e apartamentos de luxo. E olhe que ainda não entraram nessa conta
os carros, rebanhos bovinos e casas
noturnas.
As maiores fortunas são de Alberto Lima da Silva
Jatene, o “Beto Jatene”, filho do governador; e de Eduardo Salles, sobrinho de
Jatene.
A estimativa é que o patrimônio de Beto Jatene
alcance pelo menos R$ 13 milhões. Já o sobrinho do governador possui pelo menos
R$ 14,5 milhões.
O restante está distribuído entre o governador Simão
Jatene, com bens estimados em R$ 3,2 milhões, na declaração que entregou, no
ano passado, à Receita Federal; Izabela Jatene e Ricardo Augusto Garcia de
Souza, filha e genro do governador, com patrimônio de pelo menos R$ 5,6
milhões; e Heliana Lima da Silva Jatene, ex-mulher do governador, cujo
apartamento vale pelo menos R$ 1 milhão.
No entanto, as fortunas de Beto Jatene e Eduardo
Salles são tão significativas que é muito provável que essa estimativa acabe
por ultrapassar, nos próximos dias, os R$ 40 milhões.
É que esse levantamento inicial ainda não inclui o
valor das casas noturnas de Beto Jatene e o rebanho bovino (Nelore) de Eduardo
Salles.
Da conta também ficaram de fora as empresas de
Izabela Jatene, que deteve 50% das quotas do bar Relicário, em Belém, e possui
80% da empresa Manufatura Exportação Indústria e Comércio de Roupas e
Acessórios Ltda (CNPJ: 08.091.497/0001-02). Os 20% restantes pertencem à mãe dela, Heliana.
De
onde veio o dinheiro?
Porém, o que já se conseguiu rastrear impressiona.
Afinal, o governador e todos esses parentes milionários, à exceção de Eduardo
Salles, sempre foram apenas funcionários públicos.
Beto Jatene é assessor de órgãos públicos estaduais
desde 2000 e não há, nos sites do Tribunal de Justiça do Estado (TJE) e do Tribunal
Regional Federal da 1ª Região (TRF), qualquer processo em que tenha atuado como
advogado. A mulher dele, Luciana Lopes Labad, é assessora no TJE, desde 2006.
Izabella Jatene Souza, a outra filha do governador,
é professora da Universidade Federal do Pará, coordenadora do Propaz e foi assessora
especial no primeiro governo do pai. O marido dela, Ricardo, é assessor, há
anos, do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM).
Heliana, a ex-mulher do governador, também é
funcionária pública há décadas.
Idem para Jatene, que foi professor da UFPa,
secretário de Estado, secretário executivo em dois ministérios e governador.
Além disso, Jatene veio de família tão modesta que
teve até de tocar em bares, para pagar os estudos, como ele mesmo já cansou de
afirmar.
Então, é inevitável a pergunta: de onde é que veio
tanto dinheiro?
Uma
recuperação estonteante
É a mesmíssima pergunta que tem de ser feita em
relação a Eduardo Salles, embora ele seja empresário.
Em 1997, o sobrinho do governador havia hipotecado
ou vendido quase tudo o que possuía e foi até processado, pela Caixa Econômica
Federal, porque não pagou um empréstimo.
Mas, a partir de 1997 (por mera coincidência, o ano
em que teve início a privatização da Celpa, comandada pelo então secretário
estadual de Planejamento, Simão Jatene), Eduardo começou a apresentar uma
extraordinária recuperação financeira.
Entre 1997 e 2001, ele comprou 2.700 hectares, nos
municípios de Castanhal e Inhangapi. E toda essa imensidão de terrenos, adquirida
em apenas quatro anos, representou um patrimônio 7 VEZES SUPERIOR a tudo o que
ele registrou, no cartório de Castanhal, nos 17 anos anteriores.
No segundo governo de Almir Gabriel, de quem Jatene
foi secretário de Planejamento e braço-direito, e no governo do próprio Jatene,
entre 2003 e 2006, Eduardo também obteve contratos milionários com o Governo do
Estado.
Além de alugar uma casa à Polícia Civil (o que lhe
rendeu pelo menos meio milhão de reais, em valores da época), uma empresa a ele
ligada, a Engecon, faturou quase R$ 3,5 milhões em obras viárias. A Engecon
funcionava dentro de um galpão de uma das fazendas de Eduardo.
Hoje, só duas das fazendas do sobrinho do governador,
em Castanhal e Inhangapi, somam quase 5.500 hectares. E, no mês passado, uma
fazenda de apenas 400 hectares, em Castanhal, cortada por rios, como muitas das
terras de Eduardo, estava sendo vendida, na internet, por R$ 4 milhões.
O sobrinho do governador também exporta gado para o
Líbano e possui vários empreendimentos imobiliários. E só em um deles, o Salles
Jardins, em Castanhal, ele ficou de integralizar R$ 3 milhões, até dezembro do
ano que vem.
Ele também declarou na Justiça, em abril de 2012, que
pagou R$ 1 milhão por um terreno em Ananindeua, na Região Metropolitana de
Belém.
Além disso, até o ano passado, Eduardo possuía pelo
menos 400 hectares (cada hectare tem dez mil metros quadrados) na avenida Barão
do Rio Branco e imediações, no centro de Castanhal.
Naquela avenida, um terreno de 40X40, estava sendo
negociado na internet, no mês passado, a R$ 3,3 milhões.
Leia
as reportagens da Perereca sobre o impressionante enriquecimento do sobrinho do
governador Simão Jatene e confira os documentos – inclusive certidões
cartorárias:
http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2012/04/familia-feliz-projeto-do-governo-do.html
http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/02/sobrinho-de-jatene-enriquece-olhos.html
Veja nos quadrinhos a oferta de uma fazenda em
Castanhal, com fontes de água, como é caso de muitas das terras de Eduardo:
E aqui, os preços de terrenos na avenida Barão do
Rio Branco, naquela cidade:
A
estimativa dos bens da família do governador Simão Jatene.
O blog cotou os 5.500 hectares de Eduardo Salles a apenas mil reais por
hectare, embora as terras dele fiquem à beira de estradas, sejam cortadas por
rios e igarapés e, como você viu acima, haja fazenda de apenas 400 hectares, em
Castanhal, custando R$ 4 milhões.
Também cotou em apenas R$ 3 milhões os 400 hectares
que ele possuía, até o ano passado, no centro de Castanhal (e apesar de só um
terreno de 40X40, naquela área, valer esse preço).
O blog também só incluiu na conta um dos vários
empreendimentos imobiliários de Eduardo. E considerou, apenas, o capital a ser
integralizado (leia as matérias nos links acima). Ou seja, deixou de fora o lucro do empreendimento.
A Perereca
avaliou os três postos de gasolina de Beto Jatene em R$ 5 milhões cada um, já
que essa é média de corretores de imóveis, ouvidos pelo blog, para postos de
combustíveis, em Belém.
O faturamento anual desses três postos é estimado em
R$ 21,6 milhões, segundo documentos do Serasa a que o blog teve acesso.
Mas a Perereca
utilizou apenas 1 ano de faturamento, para calcular as partes de Beto Jatene e Ricardo,
marido de Izabela, embora o primeiro dos três postos de combustíveis do filho
do governador tenha sido adquirido há oito anos.
O blog também preferiu avaliar os apartamentos de
luxo pertencentes a Beto, Izabela e Heliana Jatene em apenas R$ 1 milhão cada
um.
Hoje, Beto, Izabela e Heliana teriam se mudado para
um edifício ainda mais luxuoso, o Neon. Mas, quem sabe, podem alegar que
compraram os novos apartamentos com o dinheiro da venda dos imóveis do Wing...
Como você já deduziu, tudo foi calculado muito, mas
muito por baixo, justamente para evitar erros a maior.
Simão
Jatene:
Bens declarados, no ano passado, à Receita Federal
(a cópia da declaração está no site do Tribunal Superior Eleitoral-TSE): R$ 3,2
milhões.
Eduardo
Salles (sobrinho de Jatene)
5.500 hectares em fazendas, nos municípios de Castanhal
e Inhangapi: R$ 5,5 milhões
400 hectares no centro de Castanhal: R$ 3 milhões
1 terreno em Ananindeua: R$ 1 milhão
Empreendimentos imobiliários: R$ 3 milhões
Alberto
Lima da Silva Jatene, o “Beto Jatene”, filho do governador:
1/3 da propriedade de três postos de gasolina: R$ 5
milhões
1/3 do faturamento anual de três postos de gasolina:
R$ 7 milhões
1 apartamento de luxo: R$ 1 milhão
Izabela
Jatene e o marido, Ricardo Souza:
1/3 da propriedade de um posto de gasolina: R$ 1,6
milhões
1/3 do faturamento anual de um posto de gasolina: R$
3 milhões
1 apartamento de luxo: R$ 1 milhão
Heliana
Lima da Silva Jatene (ex-mulher do governador)
1 apartamento de luxo: R$ 1 milhão
Total
já rastreado: R$ 37,3 milhões
Os
postos de gasolina de Beto Jatene
Veja nos quadrinhos os documentos da Junta Comercial
do Pará (Jucepa) que mostram a aquisição de três postos de gasolina por Beto
Jatene e seus sócios.
Repare que os únicos valores citados são os R$
155.400,00 da transferência das quotas de capital, talvez para induzir o leitor
a acreditar que a compra custou apenas
isso.
Mas o Diário do Pará mostrou (e a Perereca também mostra, nos quadrinhos
extraídos da internet), que postos de combustíveis valem milhões de reais - e
não apenas R$ 155.400,00.
Aqui, o anúncio de um posto de gasolina em “bairro
nobre”, vendido no site Posto à Venda a R$ 3,5 milhões:
Aqui, um posto na Arthur Bernardes, que fatura R$ 3
milhões por ano (menos da metade do que faturam dois dos postos de Beto Jatene)
oferecido a R$ 5 milhões, no mesmo site:
Auto
Posto Verdão
Veja os documentos da Jucepa sobre o primeiro posto
de gasolina comprado pelo filho do governador: o Auto Posto Verdão, na avenida
Doutor Freitas, 1546, no bairro da Pedreira, em Belém.
Ele foi adquirido por Beto Jatene em junho de 2006,
ainda no primeiro governo do pai dele.
A transferência de capital teria ficado em apenas R$
25 mil, apesar de a receita líquida do Verdão ter atingido, naquele ano, R$ 7,9
milhões, e de ele faturar, segundo estimativa do Serasa, R$ 8,9 milhões por ano.
Veja algumas das páginas da alteração do contrato
social do Verdão, em 2006, mostrando a entrada de Beto Jatene na sociedade:
Aqui, o balanço patrimonial do Verdão, também em
2006:
Aqui, nova alteração contratual, em 16 de abril de
2012, quando o Verdão passou a pertencer apenas a Beto Jatene e a Eduardo
Simões Araújo – um advogado que tem o mesmo nome de um assessor especial do
Governo do Estado:
E aqui, o assessor especial do Governo do Estado de
nome Eduardo Simões de Araújo, cujo salário é de R$ 3 mil:
Posto
Umarizal
O Umarizal, na Jerônimo Pimentel, 651, foi o segundo
posto comprado por Beto Jatene.
A transferência das quotas de capital, que ocorreu
em 23 de março de 2007, teria ficado em apenas R$ 80 mil, apesar de esse posto
apresentar um faturamento que o Serasa estima em R$ 8,9 milhões por ano.
Os sócios são Beto Jatene, Eduardo Simões Araújo e
Ricardo Augusto Garcia de Souza, o marido de Izabela Jatene.
Veja nos quadrinhos algumas das páginas:
Posto
Girassol
O terceiro posto comprado por Beto Jatene foi o
Girassol, na Augusto Montenegro, 1800.
A transferência das quotas de capital, que ocorreu
em março de 2011, já neste segundo governo de Simão Jatene, teria ficado em
apenas R$ 50 mil, apesar de o Serasa calcular o faturamento do Girassol em R$
3,8 milhões por ano.
Através de uma alteração contratual, em 16 de
novembro de 2012, o posto passou a pertencer apenas a Beto Jatene e a Eduardo Simões
Araújo.
Veja a documentação do Girassol:
Casas
noturnas
A Perereca
também não incluiu na estimativa dos bens da família Jatene as casas noturnas
que pertenceriam a Beto Jatene, um assunto há muito tempo comentado em Belém.
Mas já conseguiu um forte indício ligando o filho do
governador a pelo menos dois bares: os Ventura.
E quem forneceu esse indício foi o advogado Paulo
Sérgio Mota Pereira Filho, que é primo de Beto Jatene.
Em entrevista à Revista Troppo, do jornal O Liberal,
em 5 de dezembro de 2010, Paulo contou que era sócio de Alberto Jatene e
Ricardo Souza (possivelmente, o marido de Izabela) em um concorrido bar de
Belém, aberto, então, há três anos e com filial no bairro do Marco.
As informações são compatíveis com o bar Ventura,
que é o nome de fantasia da empresa Paulo S M Pereira Filho Bar e Restaurante
–EPP (repare nas iniciais), com CNPJ: 09.165.733/0001-50, aberta em setembro de
2007, na travessa Almirante Wandenkolk, 727, segundo a Receita Federal. Em
2010, o Ventura também já possuía filial na avenida Duque de Caxias, no bairro do
Marco.
No entanto, há informações ainda não confirmadas de
que também a casa de espetáculos Cangalha, no Km 1 da BR 316, pertenceria ao
filho do governador e a Marquinhos Klautau.
Além disso, já se conseguiu identificar, através de
blogs e jornais, uma rede de bares que estariam em nome de parentes da mulher
de Beto Jatene.
A rede inclui o bar Baronesa, que substituiu o
Ventura, além do Maricotinha, Favela Chic, Boteco Modesto e Cortiço Pub.
Eles pertenceriam ao empresário Albert Farid Soares
Labad, pai de Luciana Lopes Labad, a mulher de Beto; e à decoradora Milene do
Socorro Fonseca Franco, que foi sócia de Izabela Jatene no bar Relicário, e
figura como administradora da empresa Manufatura Exportação Indústria e
Comércio de Roupas e Acessórios Ltda, que pertence à Izabela e à mãe dela.
Veja aqui a entrevista de Paulo Sérgio Mota Pereira
Filho à Revista Troppo:
Aqui, os bares que pertenceriam a parentes da mulher
de Beto Jatene:
A trajetória de Beto Jatene como funcionário público estadual
Aqui, a nomeação do filho do governador para o TCM, no Diário Oficial do
Estado de 15 de setembro de 2004:
Aqui, no Diário Oficial de 11 de janeiro de 2005,
averbação de tempo de serviço mostrando que Beto Jatene já trabalhara como assessor de várias
instituições públicas paraenses (Arcon, Tribunal de Contas do Estado (TCE) e
Tribunal de Justiça do Estado –TJE):
Aqui, reportagem da Folha de São Paulo, de 3 de
março do ano passado, mostrando que Beto Jatene é hoje assessor do Ministério
Público junto ao TCM:
Aqui, o registro de Beto Jatene na OAB e as buscas
nos sites do TJE e TRF da 1ª Região que não retornaram qualquer resultado, para
processos em que ele tenha atuado como advogado.
O registro da OAB:
Sem resultados no Primeiro Grau do TJE:
Sem resultado nos Juizados Especiais do TJE:
Sem resultado
nas Turmas Recursais do TJE:
Sem resultado na Justiça Militar:
Sem resultado no TRF:
Aqui, anúncios de apartamentos à venda no edifício
Wing, em 2011, onde Beto, Izabela e Heliana Jatene possuíam imóveis:
Aqui, o filho de Eduardo Salles, o sobrinho de
Jatene, tenta obter licença da Sectam para criação de gado em uma fazenda de
quase 200 hectares em Inhangapi:
Aqui, outra fazenda de Eduardo Salles, a Santa Rita,
na rodovia Castanhal/Inhangapi, além daquelas que a Perereca já conseguira encontrar nas reportagens anteriores (leia
nos links acima):
Aqui, outro empreendimento imobiliário de Eduardo
Salles – o Parque Paraíso:
Abaixo, a nomeação de Izabela Jatene, para assessora
da Sectam, em 2001, e para assessora especial, pelo próprio pai, Simão Jatene,
em 2003:
Aqui, a nomeação de Ricardo Augusto Garcia de Souza,
marido de Izabela, para chefe de Gabinete do TCM, pelo presidente do Tribunal e
ex-vereador do PSDB, Zeca Araújo, em fevereiro de 2011, logo no início deste
segundo Governo Jatene. Até então, Ricardo era assessor especial: