terça-feira, 16 de março de 2010

A incrível “barriga” dos 900 casos de raiva humana



No último domingo, o jornal Diário do Pará cometeu uma “barriga” como há tempos não se via na imprensa paraense: divulgou que o Pará registrou, no ano passado, 900 casos de raiva humana.


A “informação” provocou um rebuliço no Governo do Estado e, ontem (segunda, 15), a Sespa convocou coletiva de imprensa, para desmentir o jornal e o autor da reportagem - o repórter Ismael Machado.


O coordenador do Departamento de Controle de Endemias da Sespa, Amiraldo Pinheiro, assegurou que não há nenhum registro de raiva humana no Pará, nos últimos quatro anos.


Um só caso da doença – que é fatal – já seria motivo de preocupação da Secretaria, observou Amiraldo. O que dizer, então, de 900?


Quem esteve na coletiva diz que Ismael Machado apanhou mais do que Judas em Sábado de Aleluia, embora a matéria da Agência Pará tenha evitado citar o repórter.


Foi uma decisão acertada.


A Perereca apurou que toda a confusão foi causada, por incrível que pareça, por um release divulgado pelo respeitadíssimo Museu Emílio Goeldi.


E, o que é ainda mais espantoso: um release elaborado a partir de informações que teriam sido fornecidas pelo médico veterinário Alberto Begot, da Sespa.


O release do Goeldi está aqui http://www.museu-goeldi.br/sobre/NOTICIAS/11_02_2010b.html


O texto versa sobre questões debatidas durante o Simpósio sobre a Raiva Humana na Amazônia, que integrou a programação do XXVIII Congresso Brasileiro de Zoologia, realizado no mês passado, em Belém.


E destaca os ataques de morcegos, especialmente a crianças, na Amazônia.


Mas, lá pelas tantas, diz o seguinte:



“Os casos no Pará - Alberto Begot, médico veterinário da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) explica que as agressões de morcegos em crianças também são maioria no Pará. Dados parciais mostram que as agressões por morcegos em humanos teve uma diminuição a partir de 2005. “É importante lembrar que em 2003 não houve nenhum caso de raiva registrado no Pará”, afirma Begot. Em 2005 foram 8.601 casos registrados. Já em 2009 foram 830. Essa quantidade de casos se baseia no número de doses de vacinas aplicadas pelo Estado”.




É claro que Ismael pode ter errado ao não checar informação tão grave.


Mas, da forma como foi redigido, o release gera, sim, confusão.


Pior: como partiu de onde partiu (uma instituição com a credibilidade do Museu Goeldi) e a reproduzir dados atribuídos a um técnico da Sespa, durante um simpósio justamente sobre raiva humana, dificilmente seria questionado por um jornalista que não tivesse domínio do setor. Principalmente, no corre-corre das redações.


A reportagem de Ismael integra a série produzida pelo Diário do Pará acerca da “crise” da Saúde estadual.

Obviamente, foi interpretada como um ataque premeditado do jornal dos Barbalho ao Governo, nestes tempos de guerra aberta entre petistas e peemedebistas.

Mas não há como negar que o Museu Goeldi forneceu o combustível para mais esse incêndio. E, quem sabe, também a própria Sespa, através de Begot.

Falei ao telefone com Ismael Machado e ele atribuiu o episódio a “um equívoco, um erro de semântica”.

Negou que o caso tenha motivações políticas e ficou de me encaminhar o release em que se baseou – embora não fosse necessário, já que ainda hoje a matéria podia ser acessada no site do Museu Goeldi, sob o título “Raiva Humana na Amazônia: crianças são as mais atingidas”.

Também falei com Lilian Baima, da Comunicação Social do Museu.

Ela estranhou a confusão em torno do release do Goeldi, que foi divulgado no início de fevereiro, inclusive pelo próprio Diário.

Estranhou, ainda, “que a pessoa que deu a coletiva (da Sespa) não seja a mesma que deu a informação”.

Disse, no entanto, que o Goeldi só se manifestará após recuperar as informações que originaram o release.

Segundo Lilian, a repórter que produziu o texto possui a apresentação em slides que conteria esses dados.

Resta lamentar que o Diário não tenha dado nem uma linha sequer sobre a coletiva da Sespa.

Não que fosse “rifar” o repórter, como fez, recentemente, a Folha de São Paulo, naquele triste episódio das cotas raciais.

Mas para tentar, ao menos, esclarecer mais esse bafafá.


3 comentários:

André Carim disse...

Quem tem os números corretos, Sespa ou Museu? Acho muito difícil o Goeldi divulgar uma informação tão errada assim, afinal são cientistas respeitados, até internacionalmente. Se foi barrigada, o reporter está desculpado, pois a fonte possui enorme credibilidade, ele reproduziu uma informação praticamente oficial. Agora, barrigada por barrigada, imbatível mesmo foi aquela do pirarucú mamífero descoberto ano passado pelo R70.

Anônimo disse...

Não adianta essa desculpa de erro de semântica. O bom repórter tem obrigação de checar a fonte. E a fonte é a Sespa, o Dr. Amiraldo. O repórter não fez isso não é por conta do corre corre da redação. É por conta do espaço que todos eles têm quando se trata de baixar a porrada no governo Ana Júlia. Até bem pouco tempo Ismael e Cia baixavam o pau no Duciomar. Agora que o Jader fez acordo com o prefeito de Belém, eles podem apresentar a maior denúncia (checada e rechecada) contra a prefeitura que não sai nada. O jornal pratica jornalixo. E tem certos oportunistas, lá dentro, que preferem arriscar sua credibilidade do que contrariar a vontade do patrãozinho. E pior, não têm humildade de reconhecer que pisaram na bola feio. Mais do que atingir o governo estadual, atingem a população com essas notícias alarmistas e mentirosas.

Anônimo disse...

O Diário do Pará é um jornal de campanha. Faz campanha contra e a favor dos interesses do dono. Só isso. Então é uma fonte de notícia desqualificada.

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