segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Aliança entre PT e PMDB pode sair até o final de fevereiro




O PT pode fechar, agora em fevereiro, a aliança com o PMDB para a reeleição da governadora Ana Júlia Carepa. Pelo menos é essa a expectativa do deputado federal Paulo Rocha, virtual candidato do PT ao Senado, nas próximas eleições.



Deputado federal do PT mais votado do Pará, ex-presidente estadual da legenda e detentor de sucessivos mandatos na Câmara dos Deputados, Paulo é o principal dirigente da tendência “Unidade na Luta”, que, junto com a corrente “PT Pra Valer”, detém cerca de 80% do comando estadual do partido.



Em entrevista exclusiva à Perereca (e publicada na edição de hoje do ao jornal Público), durante as comemorações dos 30 anos de fundação do PT, ele falou sobre os acertos e desacertos do partido, a nível local e nacional.



Negou a existência do “mensalão” petista. Mas admitiu que o PT ainda paga um alto preço pelo “caixa dois” de 2005.



Disse que faltou “mais habilidade” do PT paraense, nas relações com aliados no governo, como é o caso do PMDB, com o qual os petistas vivem às turras.



Admitiu que muitos desses atritos decorreram do monopólio do poder por uma tendência petista minoritária – a Democracia Socialista (DS), a corrente da governadora.



Falou sobre o recente qüiproquó entre a DS e a “PT Pra Valer”, que até ameaçou reivindicar a realização de prévias partidárias, para escolha do candidato ao Governo.



Confirmou as ofertas do PT ao PMDB – a vice-governadoria e uma das vagas ao Senado (o Pará elegerá dois senadores).



E até revelou que o desejo do PMDB é eleger o deputado federal Jader Barbalho ao Senado.



A seguir, a íntegra da entrevista:





Perereca: Como está a relação do PMDB com o PT, no Pará?
Paulo Rocha:
Estamos resgatando a relação que foi, digamos assim, atritada ao longo dos três anos de governo. Mas acho que tem avançado bastante e que estamos bem próximos de acertar o acordo.




Perereca: Por que os atritos?
Paulo Rocha:
Acho que naturais de dois grandes partidos do Pará. São dois grandes partidos, hoje – o PT governando e o PMDB como um partido que já governou o Pará por muito tempo; que tem experiência, que tem quadros políticos com experiência, e que também quer ocupar o seu espaço de poder, o que é natural. Acho que faltou aqui e acolá alguma habilidade, da nossa parte, talvez. Mas acho que é próprio de dois grandes partidos que estão, digamos assim, no interesse do poder político.




Perereca: Isso não teve muito a ver com o monopólio do poder, dentro do governo, por uma tendência minoritária como a DS?
Paulo Rocha:
Olhe, eu acho que tem. Você sabe que, no partido, nós nos compusemos através da pluralidade partidária, que é através das tendências. Naturalmente que, quando se ganha o governo, uma tendência quer ocupar mais espaço do que a outra. E não só tem o atrito no PT, o que já é uma coisa natural, própria da nossa democracia interna. Agora, talvez esse exercício com uma aliança política e com um grupo de partidos, como foram muitos partidos na aliança, acho que isso, essa idéia de assegurar o monopólio, traz problemas – como trouxe.




Perereca: O senhor ficou muito tempo fora do governo. Por que a sua tendência (a Unidade na Luta), que é uma das maiores do Pará, não foi contemplada?
Paulo Rocha:
É isso o que estou falando: na hora da composição política, naturalmente que um agrupamento quer ficar com maior fatia, essa ou aquela posição das condições melhores. Nós temos a compreensão política e tivemos a compreensão política de que o mais importante era o projeto de governar o estado e fomos, digamos assim, num processo interno – e as outras forças também se convencendo – de que tínhamos de ter um espaço maior no governo.




Perereca: É verdade que houve um momento em que o senhor estava tão irritado com a governadora que até se dispunha, junto com o Jader Barbalho e outras lideranças, a apoiar o tucano Simão Jatene ao Governo do Estado?
Paulo Rocha:
Não, isso nunca existiu. Eu sou, aliás, um dos fundadores do PT e nós temos uma estratégia política, aqui no Pará, que está dando certo. Ganhamos o governo foi com a aliança política, em contraposição ao projeto “vanguardeado” pelo PSDB. Nunca tivemos nenhuma articulação nesse sentido.




Perereca: E agora, como é que estão as relações dentro do PT?
Paulo Rocha:
O PT amadureceu muito, na medida em que governa, ocupa espaços de grande responsabilidade no País. E a gente vai aprendendo as coisas, né?




Perereca: Mas houve, na semana passada, esse qüiproquó entre a DS e a tendência “PT Pra Valer”, dos deputados Zé Geraldo e Bernadete Ten Caten...
Paulo Rocha:
Produto daquilo que você levantou. Quer dizer: a partir de espaços de governo, quer ocupar outros espaços onde já tem um trabalho político de um agrupamento, naturalmente que tromba. É natural. E o partido sabe trombar, criar atrito, ir para a disputa política. Mas o PT também sabe resolver seus problemas internos com democracia e transparência, o que é bom para a educação partidária, inclusive. O partido já aprendeu isso: se ele não estiver unido, vai para a derrota. Já fizemos um processo assim.




Perereca: Vocês acham que dá para recompor com o PMDB; que dá para ter o Jader Barbalho novamente junto com o PT, aqui no Pará?
Paulo Rocha:
Eu acho. Estamos fazendo todo esse esforço porque entendemos que o PMDB é um partido que define a maioria política. É um partido que o lado em que estiver, ele define, faz a diferença. Então, dentro da nossa estratégia política, é ter o PMDB como parceiro principal, numa coalizão política maior, envolvendo outros partidos, também. Daí entendermos que a estratégia seria a reeleição da Ana e a eleição de um candidato a senador do PT e um candidato a senador do PMDB.




Perereca: Mas a Vice-Governadoria também vai para o PMDB?
Paulo Rocha:
É, agora está no processo de negociação, que também a própria governadora já colocou a Vice na mesa, para propor ao PMDB.




Perereca: Por que eles pediram?
Paulo Rocha:
Não sei se eles pediram; não tenho essa informação bem segura. Acho que foi a governadora que colocou na mesa.




Perereca: Eles pediram o Senado?
Paulo Rocha:
Há muito tempo, a estratégia do PMDB é eleger o Jader como senador.




Perereca: Mas o senhor acha que os petistas votarão no Jader para o Senado?
Paulo Rocha:
Olhe, é um compromisso do partido - claro! Por isso é que defendemos, na estratégia política, ter, na chapa ao Senado, um candidato do PT e um do PMDB, que é para poder fazer com que os dois partidos se unam em torno de eleger os dois senadores. E é compromisso, naturalmente, do PT elegê-lo.




Perereca: Mas o Jader tem limpado o terreno para ser candidato sozinho ao Senado. O senhor poderá abrir mão da sua candidatura ao Senado, para beneficiar um acordo com o Jader?
Paulo Rocha:
Não, não tem isso. O Jader sabe que é preciso ter alguém do PT na chapa, para movimentar o PT a fazer campanha para ele. Então, acho que não tem essa coisa na mesa.




Perereca: Mas é possível eleger dois candidatos do mesmo lado? Tradicionalmente, não se elege um da situação e outro da oposição?
Paulo Rocha:
Na política, a tradição é importante, mas, o importante é a coalizão política. Acho que as condições hoje no Pará e a conjuntura política nos levam a crer que essa seria uma chapa forte, que pode eleger os dois.




Perereca: O senhor foi acusado de envolvimento no mensalão. Isso não pode prejudicar a sua campanha?
Público:
Não, porque está claro – e nós assumimos isso – que o PT errou ao fazer o caixa dois, em 2005, que apelidaram de mensalão. Não existe mensalão. Nós não cometemos um ato de corrupção. Foi um erro coletivo da direção do partido, ao pagar dívida de campanha, em período fora de campanha – o chamado caixa dois. Esse foi o nosso erro – e nós já pagamos por isso. Eu próprio tive de renunciar, mas o povo devolveu o meu mandato.




Perereca: O senhor se arrepende de ter participado disso?
Paulo Rocha:
O problema não é de arrependimento: foi um erro político que cometemos. Mas eu era dirigente do partido e assumi, como todos os outros dirigentes. E estamos pagando por isso, porque o desgaste que tem... Eu próprio fui obrigado a renunciar, o companheiro Zé Dirceu foi cassado. Mas não há provas de nada e de qualquer ato de corrupção ou de qualquer ato em que usamos dinheiro público. Pelo contrário: foram empréstimos bancários em que tivemos de bancar as dívidas que o partido tinha. Então, estamos inclusive sendo investigados pelo Supremo Tribunal Federal. A nossa conta, já estamos pagando. E eu não tenho nenhum problema em enfrentar esse debate, como já enfrentei, na época da campanha, para a minha eleição a deputado federal. E voltei de novo, e bem, como o mais votado do partido. Tranqüilo, como vou enfrentar esse debate na candidatura de senador, com a cabeça erguida. E o que nos move é que o PT tem mais acertos no país. Nós é que estamos colocando este país no rumo certo do desenvolvimento, do crescimento, das políticas públicas que estão chegando ao cidadão. Então, cometemos um erro. Mas temos a consciência de que estamos no caminho certo. Acertamos muito mais no país.




Perereca: Mas não é complicado esse tipo de esquema num partido que quer mudar o Brasil? Não é complicada essa opção da esquerda, muitas vezes, pela ilegalidade, para poder se equiparar à direita numa eleição?
Paulo Rocha:
Não, esse foi um erro político. Como estou dizendo, o partido pagou um preço muito caro; está pagando. Mas nós estamos demonstrando ao país – governando no Pará, governando no Brasil - que a nossa prática e o nosso comportamento político no país é outro, que não é apenas avaliado num momento de erro.




Perereca: Dá para reeleger a Ana Júlia?
Paulo Rocha:
Esse é o nosso esforço. Achamos que o governo precisa melhorar e o central da questão é a política acertada da aliança. Por isso é que estamos perseguindo a aliança com o PMDB.




Perereca: Qual o prazo fatal para vocês fecharem com o Jader ou irem procurar outro caminho?
Paulo Rocha:
Por todo o mês de fevereiro acho que vamos fechar.




Perereca: Qual a alternativa: o bloco PR/PTB?
Paulo Rocha:
É claro que o PT, como é um partido já com experiência e tal, vamos ter que construir planos outros, né?




Perereca: Isso inclui o bloco PR/PTB?
Paulo Rocha:
Todos os partidos da base aliada que estão no governo, tanto a nível federal, quanto estadual. O nosso esforço é manter todo mundo junto.




Perereca: Para ganhar no primeiro turno?
Paulo Rocha:
Ganhar no primeiro turno é um objetivo. Agora, vai depender da campanha. Temos adversários, também, que respeitamos e que é o processo da campanha que vai nos dizer.




Perereca: O senhor, à semelhança do Lula, diria que, aqui no Pará, há dois bons candidatos ao Governo: Jatene e Ana Júlia?
Paulo Rocha:
O Jatene é um bom candidato, claro, nós respeitamos. Agora, o mais importante aí é a estratégia política de quem acerta melhor para poder ganhar.


4 comentários:

Anônimo disse...

Os petistas não votam em Jáder. Que papo é esse do Paulo Rocha de dizer que é um compromisso do partido. Voto é do eleitor e não do partido. Jader sabe disso e desconfia.. Quando Paulo Rocha pelegava nos gráficos, Jader num dia se aliou a Alacid e no outro a Passarinho. Pra ganhar eleição. Com segurança de que não haveria defecções. Mas Ana, Paulo, e outros do PT não garantem a mesma coisa que Jader garantiu a Alacid e Passarinho e estes dois, a Jader. Os PTistas não agem daquele forma. Daí...

MARCIO VASCONCELOS disse...

JADER VEM PARA O GOVERNO, E TERÁ COMO VICE ALGUÉM DO PDT, QUE DEVE SER O GIOVANNI QUEIROZ, UMA VAGA DO SENADO VEM PARA O DEM, COM A VALÉRIA, E A SEGUNDA VAGA DO SENADO VEM COM DUCIOMAR (PTB), E O ACORDO ABRANGE O PR, POIS, O ANIVALDO ASSUME A PREFEITURA.
É MINHA OPINIÃO

Anônimo disse...

Márcio Vasconcelos, essa tua chapa é a dos sonhos da direita. Mas isso me faz lembrar a pergunta do o garricha: combinaram com os russos?

ANDERSONNBELEM disse...

FALA SÉRIO,JADER BARBALHO GOVERNADOR DE NOVO, PENSSO QUE ISTO É IMPOSSÍVEL E O PRÓPIO BARBALHO SABE DISTO,POIS ALÉM DO FRACASSO QUE FORAM OS SEUS GOVERNOS O JADER SERIA UMA ESPÉCIE DE TIRO AO ALVO, POIS O POVO NÃO É BOBO E NINGUÉM ESQUECEU OS MUITOS ESCANDALOS DESTE CORONEL COMO POR EXEMPLO O CASSO SUDAM. ACREDITO SINCERAMENTE QUE PARA O BARBALHÃO CONTINUAR MANTENDO A SUA IMUNIDADE A ALIANÇA COM O PT AINDA É O MELHOR CAMINHO.

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