Perereca: Há mesmo diferenças entre tucanos e petistas, local e nacionalmente? Quais?
Jatene: Acho que o Brasil tem, historicamente, cometido alguns pecados e nós todos, a classe política de um modo geral, temos de nos penitenciar por isso. Uma dessas coisas é a enorme dificuldade em valorizar o que nos aproxima – a gente tem uma tendência é a valorizar o que nos divide. Isso não tem sido positivo porque, no Partido dos Trabalhadores, você tem pessoas que são capazes de ter uma visão mais larga do mundo, e que, sem dúvida alguma, teriam muito mais identidade com a proposta do PSDB – e vice-versa.
O que acho que tem faltado é maturidade para compreender que o Brasil e o Pará são maiores que qualquer partido e que qualquer liderança política.
Para mim, um dos pecados de determinados segmentos do PT é ter se arvorado a se apresentar à sociedade como sendo a expressão da defesa dos interesses dos mais fracos; é ter se arvorado a se apresentar à população como sendo a expressão mais pura e cristalina da ética e da defesa de princípios e conceitos morais.
A realidade é bem mais complexa do que isso.
Há problemas nos partidos, de um modo geral; há pessoas corretas, nos partidos, independentemente das siglas – é claro que, com maiores concentrações aqui e ali; e eu acho que o PSDB é um dos partidos que congrega quadros da melhor qualidade.
Mas, não dá para negar que o PT tem quadros importantes, é claro.
Então, acho que tem, sim, uma diferença de postura.
Acho que a crítica pela crítica, que terminou sendo uma marca do PT, termina não ajudando a construir. O PSDB é até apelidado de “murista” por causa disso, mas, não é “murista”, não: muitas vezes, é que a responsabilidade desse compromisso com a sociedade não permite que você saia por aí com uma metralhadora giratória.
A minha expectativa é que a experiência do PT no Governo – e eu espero que ela termine rapidamente – é que ela leve pelo menos alguns grupos do PT a refletir, a amadurecer.
A perceber que a realidade é mais forte que os discursos e que, se a gente usar a palavra para revelar o que quer dizer; se a gente compreender que a sabedoria é melhor que a esperteza; e se a gente entender que a verdade não pode estar subordinada à conveniência do momento, o diálogo democrático fica muito mais tranqüilo.
Não consigo entender aquela história de que “em campanha a gente diz o que quer e se explica no governo”.
Acho que campanha é hora de assumir compromissos. E o Governo é hora de resgatar compromissos. As diferenças precisam ser apresentadas, mas, não dá para simplificar.
Recordo de alguns motes da campanha passada que, realmente, foram de uma profunda pobreza de espírito.
E gostaria de registrar o seguinte: isso não é um discurso, não!
Quando assumi o governo, lembro que havia uma certa dificuldade na relação com a Prefeitura de Belém, à época, comandada pelo prefeito Edmilson, sobre a questão das unidades de Saúde.
Assumi o governo e convidei o prefeito Edmilson para discutir essa questão – é só pegar os jornais da época.
Disputei o Governo com a atual prefeita de Santarém, Maria do Carmo. Mas, nem por isso deixei de ir a Santarém e de ajudar a Prefeitura.
Lembro, inclusive, de um convênio que fizemos, para a orla de Alter do Chão. E recordo, na época da construção do hospital, até da fala da prefeita Maria do Carmo.
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