segunda-feira, 14 de abril de 2008

charles4

A Saída de Charles4





I



Alta fonte petista me pede para fazer alguns reparos aos posts que publiquei, sobre a saída de Charles Alcântara da Casa Civil do Governo do Estado.


Em primeiro lugar, garante a fonte, não foi a Democracia Socialista (DS), a corrente à qual pertence a governadora Ana Júlia Carepa, quem pediu a substituição do chefe da Casa Civil.


“O Charles e a Edilza (Fontes) são os principais dirigentes da DS no estado. A DS local tem uma executiva de 11 pessoas, mas nem o Marcílio, nem o Puty fazem parte da direção – apenas o Maurílio. E o Botelho sequer é do PT. Existe, inclusive, uma insatisfação muito grande, na DS, em relação à forma como essa substituição foi conduzida. Ninguém sabia de nada, fomos surpreendidos. E estamos, inclusive, pedindo calma aos companheiros, para evitar uma crise interna”, confidencia.


Segundo a fonte, o que aconteceu “foi uma avaliação, uma posição de um grupo, que tem uma relação antiga e que resolveu se reaproximar”. E é esse grupo - do Governo, e não da DS – que seria integrado por Puty, Botelho e os irmãos Maurílio e Marcílio Monteiro, todos artífices da substituição de Charles Alcântara.


“Então” – prossegue – “o que aconteceu foi, justamente, o oposto: a tendência é que se curvou às decisões do governo”. E completa: “O governo toma as decisões e muita gente imagina que é a DS que está decidindo. Mas, na verdade, a DS está subsumida no governo. Até porque a tendência pode se posicionar, mas não para o governo, nessa questão da estratégia eleitoral. Porque nem é o governo o fórum para a discussão dessa estratégia. Quem tem de debater e decidir sobre isso é o partido, o PT”.


A fonte diz, ainda, que não se sabe se Ana Júlia queria, de fato, a saída de Charles. “Creio que ela foi convencida disso. Acho que ela resistiu o quanto pôde e ele (Charles) só permaneceu mais tempo por causa dela, que foi segurando tudo isso, devido à importância do contraponto que ele representava a esse grupo. Isso aconteceu durante cinco ou seis meses, mas, agora, ela foi instada a fazer uma escolha”.


Pergunto se o fato de a governadora ter sido “instada” a isso não significa, ao fim e ao cabo, que ela teve de obedecer a uma decisão da tendência, da qual esse grupo teria, em verdade, o controle.


A fonte afirma: “Não, isso não significa que ela tenha obedecido a uma ordem. Ela fez uma escolha. E ela pode ter decidido, por exemplo, que não ia passar todo o governo administrando essa tensão interna”.



II



A fonte acentua a necessidade de respeito à pluralidade social. Observa que o pensamento médio dos petistas não “combina” com o pensamento médio da sociedade.



E que, se o PT não é hegemônico na sociedade, muito menos a DS.



“Não ganhamos as eleições sozinhos e não conseguiremos governar sozinhos” – pondera – “Há uma diferença em se procurar ampliar o espaço na sociedade. Isso é um processo gradativo. Você não pode, simplesmente, impor o seu pensamento. A Assembléia Legislativa, aliás, é um exemplo dessa diversidade social”.



A fonte salienta que, ao contrário do que é dito por setores da imprensa, Charles Alcântara não “defendia” o PMDB: “O que ele (Charles) defendia era o respeito aos acordos políticos, até porque isso é uma base ética de vida. Não podemos fazer um acordo para ganhar as eleições e depois dizer: ‘agora, vai ser do nosso jeito’. E o acordo que foi feito pelo PT, e do qual o Charles foi, apenas, testemunha, foi de que o PMDB teria um terço do governo. Então, por que queremos, agora, solapar esse acordo?”.



E acrescenta: “Não tem por que se atrapalhar. Temos um programa de governo que não é preciso negociar e todos os secretários que tocam o governo – Fazenda, Planejamento, Casa Civil, Educação, Banpará... E até mesmo a Sespa é compartilhada”.



A fonte critica, ainda, “esse discurso de combater a corrupção, apontando apenas para o outro, mas sem olhar para si próprio. Só há de se falar em combater a corrupção, em relação ao PMDB como se fala – e eu nem concordo com essa visão – se o PT puder olhar para dentro e dizer: isso não existe aqui”.



III



Na avaliação da fonte, a governadora Ana Júlia Carepa cometerá um erro, caso se envolva nas disputas eleitorais dos municípios: “Toda eleição municipal gera traumas. E é, apenas, um rito de passagem para a eleição seguinte – para presidente da República, governador, deputado – que é muito mais importante. Nós governamos o Pará e não há coisa mais importante que isso. Portanto, não precisamos nos envolver no próximo pleito. Temos de ser respeitadores, elegantes, porque isso ajuda o governo”.




Mas, se houver a intervenção do governo nas municipais, repisa, “corremos o risco de ganhar nesse ou naquele município, mas, daqui a dois anos, acabarmos derrotados para o Governo. O candidato a prefeito que ajudarmos a derrotar terá todo o direito de nos negar apoio. Além disso, temos de ter em mente que nem há como compreender as idiossincrasias dessas disputas locais”.



A fonte comenta que era isso que Charles Alcântara queria: “Fundamentalmente, respeito e coerência com as coisas defendidas pelo PT. E não essa coisa de ficar encolhendo ou aumentando os espaços dos partidos”.



Aponta o exemplo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, “que apanha e apanha da imprensa e não cai; e faz alianças e respeita essas alianças e enfrenta brigas no Congresso... Então, como podemos querer fazer diferente, aqui?”.



E alfineta: “Não há comportamento revolucionário em pensar diferente disso. E revolucionário não trai, não é antiético, não fica conspirando, dando golpe... O diabo mora é no detalhe”.




IV


A fonte também comenta as críticas feitas pelo blog aos intelectuais da esquerda, como Puty.



Que, apesar das toneladas de livros que leram, não têm nem idéia de onde fica a Vila da Barca – e a Perereca repete a expressão em homenagem ao mano Bemê (o Bemerguy do Espaço Aberto) que parece tê-la adorado...




“Assim como quem não tem diploma sofre preconceito” – observa a fonte – “quem é doutor sofre também. Temos de evitar isso. Porque, na verdade, o que complica é quando só se tem isso; não se tem militância. Então, a preocupação não é, necessariamente, a Academia, mas o distanciamento da vida, do cotidiano. É preciso aliar os dois elementos: aprofundar a teoria e a conectividade. E o que nós estamos percebendo, nesse episódio, é uma preocupação do PT em relação a isso. Há uma aflição com o distanciamento do partido. O Governo não se basta. Há uma teia complexa de relações. E é preciso dialogar com todo mundo, inclusive com a oposição. E é claro que há um risco em se colocar numa tarefa como essa alguém sem vivência política. Em geral, você coloca na coordenação política alguém experiente”.



E aconselha: “Há categorias que é preciso ter cuidado para não confundir. Exemplo: firmeza com arrogância, humildade com fraqueza, autoridade com autoritarismo”.



V



A fonte acredita, porém, que a saída de Charles não desembocará em uma guinada “à esquerda” do governo, como vem sendo previsto – na verdade, um fechamento aos partidos aliados, na administração estadual e nas alianças municipais, com a preponderância da DS e do PT e de outros aliados históricos do petismo, como é o caso do PC do B e do PSB.



“Acho que os sinais emitidos, nesse processo de substituição, assustaram e nem deve haver mais essa guinada do governo. É um risco; pode gerar muitos problemas institucionais. Em 15 meses, nunca tivemos crise na Assembléia Legislativa. Isso costuma custar caro e nós conseguimos evitar isso”, observa.




A fonte acredita, também, que a falta de experiência de Puty, até pode ser compensada, de início, pelo poder que acumulou.



Mas, pondera, “esse tipo de coisa só funciona no curto prazo. Ele tem força, tem poder, para mandar um secretário de Estado atender esse ou aquele pedido de um deputado, por exemplo. E hoje, o secretário atende, mas, com o tempo, esse tipo de coisa tende a se enfraquecer, porque as demandas vão ficando cada vez mais complexas”.



VI



Publico essas retificações porque tenho o maior prazer em acolher o contraditório – é bacana, é democrático.



Mas, mantenho tudo o que escrevi.



Acho complicada essa coisa de um grupo “instar” uma governadora, a “detentora da caneta”, a fazer alguma coisa.



A não ser que, por trás desse grupo, exista, na verdade, uma tendência que preza a “disciplina” de seus militantes – e esse é o caso da DS – e uma governadora que, por convicção ideológica, se submeta a essa disciplina.



Não creio que isso deponha tanto assim contra a minha xará. Afinal, essa é apenas uma forma de encarar o mundo e a militância e a luta política.




E pode até gerar admiração, porque, apesar de todo o poder que efetivamente detém, ela ainda se submete às decisões dos companheiros de ideal societário.



Porque seria muito fácil para Ana Júlia, agora que é governadora, simplesmente mandar a DS às favas e mudar-se de mala cuia para o PT pra Valer ou a Unidade na Luta, as duas correntes petistas que, de fato, comandam o partido no estado.



Mas, ao mesmo tempo, considero complexa essa coisa de a DS cobrar essa ou aquela postura da governadora.



Porque a eleita por nós, cidadãos, foi a cidadã Ana Júlia Carepa.



E não o “mandatário” de plantão de sua corrente política, como me parece ser o caso de Puty.



Além disso, a informação de que a substituição de Charles foi decidida pela DS me foi passada por alguém que acompanhou, muito de perto, tudo isso. E nem foi uma coisa que quisesse revelar – simplesmente, soltou.



Peço desculpas à fonte, porém, por somente hoje estar publicando essas declarações, que me foram feitas na sexta-feira.



É que fui encher a cara com um amigo. E só hoje me encontro razoavelmente recuperada.



Aliás, queridinho(a) você também está me devendo uns vinhos...



FUUUUIIIIIII!!!!!

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