terça-feira, 20 de novembro de 2007

julgamento1



A Quimera Oculta



A grande sensação do primeiro dia do julgamento dos acusados de participar dos assassinatos dos irmãos Novelino foram as “revelações” acerca de um esquema de “caixa dois”, para financiamento de campanhas eleitorais, capitaneado pelo empresário João Batista Ferreira Bastos, o Chico Ferreira, mandante confesso dos crimes.

Um esquema que envolveria os gêmeos da política brasileira, PT e PSDB, e que contaria com a participação de dois supostos sócios de Ferreira: Marcelo Gabriel, filho do ex-governador Almir Gabriel, e Carlos Maurício Carpes Ettinger, dono da Clean Service.

Os três, de acordo com denúncia do Ministério Público Federal, pela qual respondem à ação penal, integrantes de uma quadrilha especializada em fraudes licitatórias e previdenciárias.

Falaram sobre o esquema ilegal de financiamento de campanhas eleitorais tanto os mandantes confessos, Chico Ferreira e o radialista Luiz Araújo, quanto um dos executores confesso dos irmãos, o ex-policial civil Sebastião Cardias.

Embora aparentemente divididos, nas estratégias de defesa para tentar atenuar as pesadíssimas sentenças que poderão receber, os três foram unânimes em afirmar que os R$ 4 milhões devidos por Chico Ferreira aos Novelino tiveram origem em recursos carreados para o financiamento de campanhas eleitorais.

Incisivo, o radialista Luiz Araújo não apenas apontou dois operadores desse esquema – o deputado federal Paulo Rocha e o secretário de Transportes, Waldir Ganzer, ambos do PT.

Mas, assim como quem não quer nada, até fez ver a familiaridade de Paulo Rocha com Chico Ferreira: uma irmã do deputado seria namorada de Helder Barbosa da Nóbrega, ex-gerente da Service Brasil e “laranja” de Chico em várias das empresas pertencentes a ele e a outros “sócios ocultos”, conforme apurou a Polícia Federal.

Araújo, que disse atuar como lobista, contou que apresentou Paulo Rocha e Waldir Ganzer a Chico Ferreira e que os três passaram a trabalhar juntos, nesse esquema, desde 2004. E disse que também apresentou a Chico o ex-prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues e o falecido desembargador Geraldo Lima, ex-secretário municipal de Belém, na gestão petista.

Araújo falou, ainda, sobre a proximidade entre os Novelino e Chico Ferreira, antes dos crimes. Disse que outras empresas de Chico ficavam em salas existentes em um posto de gasolina, localizado na 28 de Setembro, de propriedade dos irmãos. E Chico, por sua vez, disse que pretendia abrir uma empresa de empréstimos junto com eles.

Ou seja, cada qual a seu modo – Araújo, Cardias e Chico – apenas levantou a pontinha do véu de uma história que pode ser até mais escabrosa, do ponto de vista social, que os assassinatos dos irmãos Novelino.

Por que resolveram agir assim é uma incógnita. Mas, ao que parece, puseram-se a disparar recados, a quem interessar possa, acerca da alta periculosidade que poderão representar, caso sejam deixados sozinhos a enfrentar os leões.

Alguém já disse, aliás, que se Chico Ferreira resolver, de fato, abrir o bico, não sofrerá pedra sobre pedra na sociedade paraense.

Ele, simplesmente, levará junto, para o quinto dos infernos, políticos, servidores públicos, graúdos empresários e até alguns dos mais sonantes advogados e juízes que o Pará possui.

É possível que Luiz Araújo também conheça um bocado dessa história sórdida. Afinal, foram vários anos de bons serviços ao “magister”, até como testa de ferro.

Custa a crer, porém, que o mesmo possa ser dito acerca de Sebastião Cardias, que parece um oficial de mais baixa patente. Não deixa de ser curioso, porém, que a banquinha que possuiu, no centro comercial de Belém, estivesse ligada a um dos maiores grupos de jogo do bicho – o JB.

E que Chico Ferreira, nos áureos tempos em que era conhecido como “o Rei”, segundo o relato de quem lhe foi próximo, adorasse passar uns tempos a pescar, placidamente, em São João de Pirabas...

Outro detalhe interessante é que, no depoimento ao promotor Paulo Godinho, em 23 de outubro, Cardias também falou sobre um suposto envolvimento dos Novelino com a pistolagem, roubo de carros e adulteração de combustíveis.

Além disso, é preciso juntar a esses ingredientes as relações que Chico Ferreira possuía com uma certa igreja evangélica. E o fato de que teria até inaugurado um “templo” desses, em Belém, conforme uma fonte da Service Brasil – e algumas denominações religiosas, como se sabe, dão excelentes “lavanderias” financeiras.

Quer dizer, só a pontinha do véu já permite vislumbrar um leque de crimes: financiamento ilegal de campanhas eleitorais, por gente ligada a fraudes licitatórias e previdenciárias, que mantinha excelentes relações com suspeitos de pistolagem, roubo de carros e adulteração de combustíveis e com banquinha de jogo do bicho ligada a um dos maiores grupos paraenses do setor. Tudo temperado pelo possível “branqueamento” em nome de Deus...

Ou seja, a nós, cidadãos, resta, apenas, indagar: que monstro, afinal, se oculta debaixo desse véu?

2 comentários:

Anônimo disse...

Ana Célia, conta tudo pra gente. Que bandidagem vergonhosa é essa, minha gente?!

Anônimo disse...

perereks!
escrevo apenas para elogiar vc.
blz de post. blz de blog.

ainda t pego...
;)
alfredão, o grandão.

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